De ROGÉRIO PORTO*
De forma recorrente, o Rio Grande do Sul enfrenta crises na produção agropecuária e agroindustrial provocadas pelas estiagens. No ano passado, Antonio Sartori (Diretor da Brasoja) estimou as perdas, em soja, em 43 bilhões de reais, e em 115 bilhões as perdas totais do setor. Neste ano, ele estimou as perdas, em soja e milho, em 31 bilhões de reais, e as totais em mais de 100 bilhões.
Isso significa insegurança, intranquilidade, perdas expressivas de arrecadação, redução drástica das demandas por bens e serviços e perda de competitividade.
A solução óbvia é fugir da dependência das chuvas de verão, tradicionalmente escassas e adotar a irrigação como técnica de produção.
Além da iniciativa de introduzir essa técnica, é necessário criar uma política de Estado de acumulação de água em reservatórios construídos, seja em drenagens perenes e intermitentes (barragens), seja em drenagens efêmeras (açudes).
Durante muito tempo, prevaleceu a opinião de que a água era um bem escasso e, portanto, o seu uso tinha que ser evitado e, quando fosse impossível de impedir o seu uso, ele tinha que ser pago.
A água não é um bem escasso porque o cilco hidrológico é fechado e se estima que, pelo menos nos últimos trinta milhões de anos, ela é a mesma sobre a superfície da Terra.
O Brasil conta cm pouco mais de 7% da área territorial da Terra, mas conta com 15% de suas águas superficiais, com três dos cinco maiores aqüíferos do Mundo, inclusive com o maior deles, O Rio Grande do Sul apresenta a maior densidade hidrográfica das Américas (talvez do Mundo), com rios, arroios, sangas, lajeados, restingas, de todo o tipo. Falar em escassez de água é, nessas condições, ridículo.
Acumular água, mesmo afetando Áreas de Preservação Ambiental, é ambientalmente recomendável, recuperando a cobertura vegetal no entorno dos alagues, e ofertando água abundante para a manutenção e proliferação da vida silvestre e a promoção da produção agro silvo pastoril.
Dada a conformação geomorfológica do Rio Grande do Sul pela qual a maior parte das drenagens nascem em terras altas e a agricultura se desenvolve em coxilhas onduladas a suave onduladas ou em várzeas, é possível associar a política de geração hidrelétrica com a política de irrigação.
Um zoneamento de possíveis alternativas, de acumulação de água em reservatórios, é necessária.
Assim, em todas as zonas de drenagens muito encaixadas e de produção agrícola familiar, deve-se preferenciar a acumulação de água em reservatórios de pequeno porte.
Na zona de coxilhas onduladas e suave onduladas, deve-se adotar uma política de reservatórios pequenos associados a reservatórios de maior porte.
Nas zonas de agricultura em várzeas devem ser considerados todos os tipos de reservatórios, incluindo barragens de maior porte..
A associação entre geração de energia, com reservatórios de maior porte nas terras altas, e irrigação, pode ser feita criando derivações, à jusante, nas terras baixas.
De qualquer modo, é necessário criar uma política de Estado e chamar a participação da iniciativa privada.
Acumulando água abundante (as chuvas são escassas de dezembro a março no Estado), é possível adotar uma política de produção irrigada que aumenta a produtividade de todos os recursos produtivos envolvidos, integra as cadeias produtivas, cria segurança e aumenta a competitividade.
*Geólogo, professor universitário e consultor.
Foto: Divulgação Sema/RS (Secretaria Estadual do Meio Ambiente).
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