O silêncio que consome Mauro Cid

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Foto: Divulgação/PR

De MOISÉS MENDES*

A prisão do coronel Mauro Cid, em 3 de maio, foi o último fato de impacto envolvendo um personagem da tentativa de golpe de 8 de janeiro.

Mas é preciso lembrar que Cid não foi preso pelas investigações sobre o golpismo, mas pela suspeita de participação no caso da fraude do cartão de vacina de Bolsonaro.

Com as investigações da fraude, apareceram para a Polícia Federal, no celular do sujeito, provas dos casos das joias das arábias e do golpe. E desde então nada de relevante aconteceu.

Nesses dois meses, mais de mil manés foram transformados em réus, o coronel Jean Lawand Júnior foi ouvido pela CPI sobre sua participação na turma de Mauro Cid, e só.

E a condenação pelo TSE, em 30 de junho, que tornou Bolsonaro inelegível? A condenação foi por abuso de poder político, por ilícito eleitoral cometido em julho de 2021. Os inquéritos do golpe mesmo ainda estão fermentando.

O que se tem hoje são os manés que viraram réus como exércitos anônimos e brancaleones do golpe. São anônimos e desimportantes no histórico golpista também os financiadores presos, que não estão e nunca estiveram na ponta do esquema.

Manés e financiadores são de grupos subalternos ou intermediários do bolsonarismo, os primeiros em maioria induzidos a algo que nem entendiam direito, e os segundos acionados, como pequenos e médios empresários, para custear despesas com ônibus, alimentação e banheiros químicos.

Os financiadores presos são, com certeza, mais importantes para que as investigações cheguem a gente com algum protagonismo no golpe. Alguns deles podem ser ricos, mas não são eles os grandões que investiram no golpe.

Pois nessa terça-feira Mauro Cid depõe na CPI Mista do Golpe e o que estão prevendo é que ele não dirá nada.

Como é um sujeito aparentemente mais frágil e mais exposto do que o coronel valentão Jean Lawand, deve ser orientado a não falar para não se perder e dizer bobagem.

Lawand, flagrado em conversas criminosas com o colega, disse no depoimento que era Cid quem sabia o que Augusto Heleno fazia no entorno de Bolsonaro.

Quando perguntaram por que Heleno era citado nas mensagens trocadas entre os coronéis, Lawand afirmou que Cid é quem deveria saber, porque ele é quem falava do general.

Mauro Cid se metia em tudo. Era quem coordenava as tentativas de recuperar as joias, geria os pagamentos das continhas de Michelle, informava-se sobre o cartão de vacina do chefe e agregava os que se movimentavam em direção ao golpe.

Ele é que municiava Bolsonaro com todas as informações que considerava importantes para as decisões do líder dos golpistas.

É improvável que tenha existido, mesmo na ditadura, um militar de alta patente que tenha se dedicado tanto a um governo atuando como mandalete da ajudência de ordens em várias frentes ao mesmo tempo.

Nunca existiu antes um faz-tudo tão prestativo e múltiplo como Mauro Cid. Ele sabe o que poucos devem saber. Mas o que irá contar e quando?

A ministra Cármen Lúcia determinou que o coronel deponha, mas permitiu que fique em silêncio. É o silêncio, desde que foi preso, que protege e consome Mauro Cid.

Quanto mais se prolonga o silêncio de Cid, mais se aprofunda seu sofrimento. Bolsonaro destruiu a vida do seu ajudante de ordens e o condenou a não ter voz nem vontades.

O coronel era um robô auxiliar do golpe que pifou por saber demais e não ter controle algum sobre o que sabia.


*Jornalista em Porto Alegre. Foi colunista e editor especial de Zero Hora. Escreve também para os jornais Extra Classe, Jornalistas pela Democracia e Brasil 247. É autor do livro de crônicas ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim).

Publicado no Blog do Moisés Mendes.

Foto: Divulgação/PR.

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