O reaparecimento do terrorismo de extrema direita no Brasil

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De JORGE BRANCO*

À época, o iminente fim da Ditadura Militar no Brasil (1964-1985) fez com que a extrema direita brasileira entrasse em um surto ativista para tentar frear aquela derrocada. A respeito disso, o site Metrópoles tornou público um relatório do Serviço Nacional de Informações – datado de 1984 – que listava 187 ataques terroristas promovidos por grupos de extrema direita entre os anos de 1978 e 1983. Entre os atentados terroristas listados estão casos conhecidos como o Rio Centro, em 1981. A matéria seleciona outros 13 episódios para demonstrar o quanto estavam ativos os grupos de extrema direita no período.

Grupos anticomunistas, contrários à democracia e dispostos a defender a tortura e a eliminação física de adversários, vinculados aos porões da ditadura, se responsabilizaram por aquela infinidade de atentados. Vanguarda de Caça aos Comunistas (VCC), Comando de Caça aos Comunistas (CCC) e Falange Pátria Nova (FPN) eram alguns dos grupos identificados e nominados pelo relatório do SNI, órgão responsável pela perseguição e eliminação dos opositores da ditadura. Os atentados contra lideranças de esquerda, livrarias e entidades de defesa da democracia e direitos humanos tinham por objetivo frear as negociações que tratavam de alinhavar uma transição de regime, mesmo com garantias aos militares envolvidos.

O mesmo método e os mesmos objetivos – frear as manifestações de caráter progressista ou de esquerda – voltaram a acontecer no Brasil do período bolsonarista. Em dezembro de 2019 a produtora do Porta dos Fundos foi atacada com artefatos incendiários. Uma organização de extrema direita se declarou responsável pelo ataque e um dos autores está envolvido no processo desde então, tendo sido preso por algum período inclusive.

No final de novembro, um outro caso de atentado terrorista aflorou no país. Um jovem, carregando um símbolo nazista, matou quatro pessoas e feriu mais de 10, em duas escolas do município de Aracruz, no Espírito Santo. Neste mesmo estado, mas no município de Vila Velha, uma granada foi desarmada pela polícia. O atentado terrorista de Aracruz acompanha um tipo de violência política muito presente nos Estados Unidos, o atentado cometido por um único indivíduo. Ainda que a mídia dos EUA prefira dar ampla divulgação aos episódios envolvendo não brancos, este tipo de violência tem sido farta e miseravelmente cometido por indivíduos vinculados a ideologias de extrema direita.

Estes episódios ocorridos no Brasil estão contidos na onda de aumento dos atos de intolerância política, desencadeada pelas manifestações golpistas da extrema direita e da direita radical. São inúmeros os relatos de constrangimento, violência e agressões perpetrados pelos direitistas nos bloqueios em estradas e acampamentos em frente de quarteis.

Será preciso encarar o problema do golpismo e do terrorismo de direita no país. A Constituição Federal, em específico, e a democracia, no geral, necessitam de mais instrumentos legais para sua autodefesa. Será preciso criminalizar o golpismo e a violência política para que não continue a crescer a chaga da extrema direita no país.


*Sociólogo, mestre e doutorando em Ciência Política. Diretor executivo da Democracia e Direitos Fundamentais.

Imagem em Pixabay.

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