Por JEFERSON MIOLA*
O ministro Augusto Nardes tem motivos de sobra para ficar eternamente grato pelo espírito compreensivo da Corregedoria e da Presidência do Tribunal de Contas da União/TCU.
Em resposta à denúncia apresentada contra Nardes pelo áudio de 20 de novembro de 2022 transmitido a golpistas do agronegócio e que se mostrou profético, o TCU endossou a explicação do ministro e determinou o arquivamento da denúncia.
No despacho de 10/4/2025, o presidente Vital do Rêgo reiterou entendimento do Corregedor do Tribunal, para quem a mensagem de Nardes para a horda golpista “revela meras opiniões acerca de possíveis desdobramentos que poderiam acontecer naquele momento no País, de acordo com sua percepção pessoal, sem qualquer indício de incitação ou chamamento ao cometimento de supostos crimes”.
O presidente do TCU ainda endossou a cândida versão de Nardes, que explicou tratar-se de “um áudio despretensioso gravado apressadamente e dirigido a um grupo de amigos”.
É difícil encontrar alguém –de fora do TCU, claro– que acredite que aquele áudio dele para apoiadores do golpe de Estado fosse, de fato, “despretensioso [e] gravado apressadamente”.
A mensagem de 8 minutos e 22 segundos, que pode ser escutada aqui, mostra um Nardes falando calma e pausadamente, com toda a tranquilidade do mundo, e repassando informações coerentes sobre os acontecimentos anteriores e posteriores ao dia 20/11/2022.
Logo de saída Nardes explicou aos ruralistas a fonte do seu conhecimento sobre a trama golpista: “falei longamente com o time do Bolsonaro essa semana”.
E então comunicou que “está acontecendo um movimento muito forte nas casernas. Eu acho que é questão de horas, dias, no máximo uma semana ou duas, ou talvez menos que isso, que vai acontecer um desenlace bastante forte na nação. [De consequências] imprevisíveis” [transcrição aqui].
Nardes demonstrou conhecer a gravidade do que estava por acontecer: – “os próximos dias serão nebulosos, o que vai acontecer de desdobramentos não se sabe, mas certamente teremos desdobramentos muito fortes nos próximos dias”; o “pior momento que a nação vai viver”, afirmou.
Oito dias antes da transmissão deste áudio aconteceu a reunião na casa do general Braga Netto para planejar os assassinatos de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes. E em 12 de dezembro de 2022, dia da diplomação de Lula e Alckmin, terroristas incendiaram Brasília.
Depois, no dia 24 de dezembro, outros terroristas bolsonaristas fracassaram na tentativa de explodir o aeroporto da capital federal com um caminhão tanque – último atentado antes do 8 de janeiro de 2023.
Ao invés de acreditar no conto da carochinha e mandar arquivar a denúncia contra Nardes, o TCU deveria acionar a PF para investigar seu ministro, que evidenciou ter conhecimento pormenorizado sobre a conspiração tramada pelo Exército e o Planalto.
Nardes poderia ajudar a esclarecer, por exemplo, a origem do dinheiro do “time do agro” entregue ao general Braga Netto, assim como a ligação do agronegócio com o empreendimento golpista.
Originalmente publicado em seu blog.
*Jeferson Miola é jornalista.
Respostas de 5
O Nardes foi deputado da Arena e depois PDS. Partidos de sustentação do Regime militar. Quando foi indicado para o TCU teve seu nome rejeitado por um de seus pares da Arena. Ex- deputado Carlos Chiarelli (RS). Por que? O Chiarelli expôs os motivos na época. Precisam pesquisar.
Vc tem toda razão, esse Nardes é um velho conhecido, que acusou a a presidente Dilma, acusação falsa…e ele é protegido pela justiça…
Isso deveria, sem dúvida, ter sido encaminhado a polícia federal, mas como tbem deve ter gente com o rabo preso no TCU, arquivaram o processo. lamentável que os grandes sempre acabam escapando da papuda, quando condenados, o máximo que acontece a eles, é ir pra casa com tornozeleira eletrônica, como aconteceu com Color de Mello
Contra golpista não pode ter atenuantes nem “um deixa prá lá”, é necessário reavivar a chama da punição desses que atentaram ou foram coniventes, principalmente aqueles que a época detinham, muitos ainda detém, cargos públicos. Nardes é um deles!
Safou-se, o safado