Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
Na véspera da sua saída, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, recebeu más notícias do Tribunal de Contas da União (TCU). Com relatório do ministro Bruno Dantas, que até o ano passado presidia o tribunal, o plenário julgou a estratégia de saúde digital do país. E o relatório de Bruno Dantas ficou bem longe de ser bom, acrescentando mais notícias negativas à gestão da Saúde. A Estratégia de Saúde Digital do ministério é um plano iniciado em 2020 para seguir até 2028. Visa fazer uma integração dos sistemas informatizados nos vários níveis da saúde pública, de modo a dotar tanto os pacientes quanto os profissionais de informações integradas. O relatório de Bruno Dantas verificou diversas fragilidades no sistema.
Pontos críticos
O acórdão do TCU identifica seis pontos críticos. Os principais: inoperância do Comitê Interno de Governança, com comitês digitais descontinuados, ausência de plano estratégico institucional para 2024/2027, e falta de pessoal especializado em segurança da informação.
Rede
Segundo o relatório, em 2023 somente 11% das unidades básicas estavam conectadas à Rede Nacional de Dados de Saúde. Embora 50,9% já estarem informatizadas. O relatório aponta, porém, avanço na Atenção Primária, com mais de 90% das equipes informatizadas.
Giancarlo e Bormevet: nem da Abin mesmo eles eram
Nem Bolsonaro escapou de ser alvo da arapongagem | Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) entrou em contato com o Correio Político para comunicar que a dupla de “buddy cops” Giancarlo Gomes Rodrigues e Marcelo Araújo Bormevet não pertencia aos quadros da agência. Lembra a Abin que o primeiro é militar, e o segundo da Polícia Federal (PF). Estavam cedidos à Abin na época em que a agência era comandada pelo hoje deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), por sinal também oriundo da PF. O contato da Abin é reflexo do desconforto da agência com a atuação da dupla, que atuava, segundo Paulo Gonet, no tipo mais rasteiro de bisbilhotagem, comum no antigo SNI.
Inteligência
A atual Abin tenta a todo custo extinguir essa antiga imagem, para cumprir de fato a sua função institucional, que é contribuir com análises de inteligência e de conjuntura para o governo. Os relatos sobra a dupla Giancarlo e Bormevet constrange o quadro funcional da agência.
Exército
No fundo, é o mesmo tipo de constrangimento que a coluna já ouviu de representantes do Exército. A ação dos militares envolvidos na trama golpista não é da instituição. Nesse sentido, a Abin segue linha semelhante: que sejam punidos os CPFs, mas preservados os CNPJs.
Arapongas
A atividade da dupla de “buddy cops” levados para a Abin se assemelha de fato ao que fazia o SNI. Reportagem que foi publicada pelo Congresso em Foco no ano passado mostrou, por exemplo, como ainda no governo Sarney o SNI monitorava mais de 300 jornalistas.
Bolsonaro
O curioso é que nem o próprio Jair Bolsonaro escapou da arapongagem. Na década de 1980, início da sua carreira política, ele era um dos alvos da arapongagem determinada pelo SNI. O agente que monitorou Bolsonaro se identificou mais tarde a este colunista.
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congresso em Foco e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade
Publicado originalmente no Correio da Manhã.
Foto de capa: Perto da saída de Nísia, estratégia criticada pelo TCU | Jose Cruz/Agência Brasil