Fragmentação da sociedade brasileira: reflexões a partir do bolsonarismo e do filme “The Collini Case”

translate

texture-7710530_1280

De ALEXANDRE CRUZ*

Na madrugada de domingo surge a insônia. Escolho um filme alemão: “O Caso Collini”. Sabe-se pouco sobre esse longa-metragem… Poucas pistas sobre esta obra audiovisual, mas não houve arrependimento, pois nos convida à reflexão. A sociedade é um caleidoscópio complexo de ideias, valores e vozes. No entanto, em tempos modernos, essa tapeçaria colorida muitas vezes é rasgada pelo ódio que gera fragmentação. Do cenário político brasileiro à tela do streaming, observamos reflexos intrigantes desse fenômeno… O bolsonarismo e o filme “The Collini Case” assombram e iluminam, cada um à sua maneira, as fissuras que desafiam a coesão social.

O bolsonarismo, com seu slogan “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, construiu uma narrativa vigorosa de nacionalismo (que os fatos comprovam ser mais um entreguismo ao capital internacional), religião e convicções morais – ou por que não afirmarmos, amorais? Essa retórica incendiária alimentou o tecido social brasileiro, dividindo a sociedade. Esse tecido nacional se desgasta quando costurado com linhas de ódio que fere o código civilizatório. Enquanto isso, “The Collini Case” nos transporta para a tela do notebook, mergulhando-nos em um mundo de justiça, moralidade e história. O filme destaca que eventos passados não se dissipam facilmente; suas sombras podem ecoar através das décadas, afetando gerações presentes. A história é um fio que costura passado e presente, tecendo uma tapeçaria complexa de responsabilidade e reconciliação.

Entre os dois contextos, emerge um tema unificador: a herança maldita. No Brasil, as cicatrizes da ditadura militar, somadas à continuidade dos ratos que saíram dos porões dos anos de chumbo para a presidência de Jair Bolsonaro e às desigualdades históricas, influenciam o presente, moldando opiniões e perspectivas. Em “The Collini Case”, a herança de uma execução do passado revela-se como uma chama ardente que ilumina a escuridão do presente. Ambos os cenários são lembranças de que o passado não é um capítulo encerrado, mas sim um impacto duradouro. E cabe a pergunta: quando iremos sentir com mais intensidade o impacto nefasto da gestão Bolsonaro?

A identidade nacional e a justiça são conceitos centrais que os dois contextos nos instigam a considerar. O bolsonarismo nos faz questionar o que significa ser brasileiro em meio a tamanha fragmentação. Qual é o nosso valor? Generosos, cordiais, com fome de cultura, ou cruéis, racistas, misóginos, homofóbicos e com total desprezo pelas vidas? Enquanto isso, “The Collini Case” nos coloca diante do espelho da justiça, nos fazendo questionar se os sistemas jurídicos são capazes de enfrentar a herança maldita do passado.

O bolsonarismo e o filme são dois lados de uma moeda que lançam luz sobre as complexidades da sociedade contemporânea. Ambos nos convidam a refletir sobre nossas próprias posições, a questionar a cadeia de comando, da qual a Hannah Arendt escreveu tão bem na obra “Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a Banalidade do Mal”.

Em um mundo em que as narrativas se entrelaçam e as ideias divergentes muitas vezes se chocam, somos desafiados a costurar novamente o tecido social, talvez com linhas de empatia, compreensão e um anseio por uma unidade que seja acolhedora, não excludente. Isso será possível sem punição? O obstáculo é grande, mas é através desse desafio que podemos moldar um futuro onde a pluralidade seja a força que nos une e a fragmentação seja superada pelo diálogo, mas sem anistia, com erradicação do bolsonarismo que se associa ao ódio.


*Jornalista.

Imagem em Pixabay.

Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia..

Gostou do texto? Tem críticas, correções ou complementações a fazer? Quer elogiar?

Deixe aqui o seu comentário.

Os comentários não representam a opinião da RED. A responsabilidade é do comentador.

plugins premium WordPress

Gostou do Conteúdo?

Considere apoiar o trabalho da RED para que possamos continuar produzindo

Toda ajuda é bem vinda! Faça uma contribuição única ou doe um valor mensalmente

Informação, Análise e Diálogo no Campo Democrático

Faça Parte do Nosso Grupo de Whatsapp

Fique por dentro das notícias e do debate democrático