Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
O mesmo experiente advogado que na semana passada conversou com o Correio Político sobre o julgamento da ação sobre o golpe na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) voltou a fazer observações, depois dos momentos desastrosos ocorridos na sexta-feira (23), quando depôs como testemunha o secretário de Relações Internacionais do governo de São Paulo e ex-ministro da Defesa, Aldo Rebelo. Para esse advogado, os ministros do Supremo e o procurador-geral da República, Paulo Gonet, deveriam ouvir mais e prestar mais atenção à canção de Cazuza e pedir “a Deus um pouco de malandragem”. Do contrário, podem acabar sucumbindo na impressão, que já os fustiga, de parcialidade e viés político.
“Fiz c…”
Tudo começou com o constrangimento de Paulo Gonet. Ao inquirir Aldo, Gonet começa com “o senhor acredita…”. Erro crasso. Testemunhas relatam fatos. Não interpretam. Ao perceber o erro, Gonet comenta sem perceber que seu microfone estava aberto: “Fiz c…”
Interpretação
A “c…” de Gonet, segundo ele mesmo, abriu espaço para que Aldo fizesse, então, uma interpretação do que disse o ex-comandante da Marinha Almir Garnier, na famosa reunião com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Levando Alexandre de Moraes a ameaçá-lo de prisão.
Exageros como os de sexta comprometem o Supremo
Ameaça de prisão de Moraes a Aldo: exagero | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Na avaliação desse advogado, mais um evidente exagero na lista de exageros de “Xandão”, como o chamam seus desafetos (mas apelido do qual, desconfia-se, no fundo ele gosta). Se Aldo interpretou o que Garnier disse, foi Gonet quem deu a brecha. Dando a Aldo, talvez, a chance mesmo de dizer que não deveria haver “censura” à sua percepção. O que, então, não parecia ser motivo suficiente para ser ameaçado de prisão por desacato. Uma sucessão de erros, portanto, que levam o advogado ouvido pelo Correio Político a sugerir que todos ali peçam “a Deus um pouco de malandragem”. Mesmo antes do episódio, essa já era a impressão.
Figueiredo
Caso da demora quando ao julgamento de Paulo Figueiredo, neto do ex-presidente da ditadura João Figueiredo, o núcleo de uma pessoa só na denúncia. Ele mora nos Estados Unidos. Não fez defesa prévia. Não há data para a Primeira Turma julgar se o torna réu ou não.
Erro
Discute-se julgar Paulo Figueiredo à revelia. Talvez novo erro. Ele mesmo diz que recentemente foi comunicado pela Justiça do Rio de Janeiro a respeito de um processo de ordem tributária. Da mesma forma, o STF poderia chegar a ele no exterior e permitir sua notificação.
Rio
Alexandre de Moraes tinha determinado que a intimação a Figueiredo fosse entregue a ele no seu antigo endereço no Rio de Janeiro. O oficial de Justiça foi lá e, naturalmente, não o encontrou. Por que julgá-lo à revelia quando se sabe que não mora no Rio?
Dino
Para esse advogado, o restante da turma deveria se espelhar em Flávio Dino na ação sobre as emendas ao Orçamento. Com o traquejo de político, Dino tem conseguido fazer com que todo o desgaste pela insistência na falta de transparência fique com o Congresso ou o Executivo.
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congreso e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade.
Publicado originalmente no Correio da Manhã.
Foto de capa: Sincericídio de Gonet ao microfone: “Fiz c…” | Marcelo Camargo/Agência Brasil
Uma resposta
Jornalista do Correio da Manhã, quem se interessa pelo que eles pensam…