Por TARCISIO ZIMMERMANN*
Caro amigo e presidente Romildo Bolzan
Caros membros da Direção do Partido Democrático Trabalhista
Estimadas filiadas e filiados
Prezadas e prezados,
Por meio desta, comunico meu afastamento definitivo de atividades político-partidárias, o que inclui minha desfiliação do Partido Democrático Trabalhista (PDT) e a renúncia à presidência da Comissão Provisória no município de Novo Hamburgo.
Retomo, assim, um caminho que já havia iniciado em 2022 e que só foi interrompido pelo honroso convite feito pelo partido para que eu o representasse nas eleições municipais de 2024. Aceitei aquela missão por me julgar em condições de oferecer ao povo da minha cidade, que me honrou com muito apoio ao longo da minha vida pública, uma proposta de governo fundada no diálogo, honradez, ética, experiência, qualidade da gestão tudo voltado para a superação dos graves problemas da cidade.
Portanto, antes de mais nada, quero dizer da minha gratidão à direção e à militância do partido pela acolhida e pelo apoio no esforço que empreendemos na eleição municipal de 2024 bem como pelos estímulos a eventual candidatura nas próximas eleições.
Essa é, a rigor, a segunda grande ruptura em minha trajetória de vida. A primeira foi em 1985, quando renunciei a uma situação muito vantajosa e promissora na área da tecnologia da informação em Porto Alegre, para me dedicar integralmente ao esforço de educação política e organização do povo trabalhador. Primeiro na região das Missões, posteriormente no Vale do Sapateiro. Digo, com alegria, que foi uma decisão feliz. Dediquei o melhor de mim em todos os momentos, tive experiências maravilhosas e pude contribuir para tornar mais digna a vida de centenas e centenas de milhares de pessoas. Sinto amor pelo que contribui, sinto que tudo valeu muito a pena. E digo: faria tudo outra vez!
A decisão, exatos 40 anos depois, pelo afastamento definitivo de atividades partidárias resulta de longas reflexões sintetizadas em duas questões fundamentais: uma que diz respeito à realidade do quadro partidário do país; e outra, sobre a minha capacidade de dialogar com o povo e representar seus anseios.
No que diz respeito ao quadro partidário do país, entendo que vivemos uma situação de degeneração profunda e irremediável, que tem maiores consequências para os partidos que afirmavam ser sua missão a mudança profunda e estrutural da realidade social, econômica e ambiental catastrófica do país. A “pá de cal” para uma situação que já se mostrava dramática, dada a falta de fidelidade aos princípios e programas, foram as malfadadas emendas parlamentares, que alçaram os detentores de mandatos federais à condição de verdadeiros “vice-reis”, cuja nova obsessão parece ser a de “fidelizar” politicamente qualquer liderança a partir dos R$ 50 milhões em emendas impositivas que podem distribuir a seu bel prazer a cada ano. Não há estrutura partidária, não há princípio, não há programa, não há renovação, não há coerência, não há projeto, que resista a tantos milhões operados sem qualquer controle social efetivo. E, aí, todas as estratégias partidárias se resumem a ampliar mandatos e fazer alianças que ampliem cargos e possibilidades eleitorais. Nesse cenário, que sentido tem uma eventual atuação dedicada, generosa e coerente com princípios e programa partidário de alguns militantes em um município? Nem é necessário responder…
A segunda questão penso ser ainda mais complexa. De alguma forma, a partir do resultado das eleições de 2024, em que mais de 50% da população de Novo Hamburgo optou pelo candidato mais despreparado, mais oportunista, das promessas mais estapafúrdias, de menor estatura ética e moral, é necessário concluir que: “ou o povo não mais nos entende; ou nós não mais entendemos o povo”. E não se trata de simples presença nas redes sociais. Trata-se, sim, dos valores, das expectativas e dos anseios que mobilizam a maioria da população.
Essa, infelizmente, não é uma realidade apenas local. Vemos fenômenos semelhantes — ou até mais assombrosos — em democracias consolidadas como a dos Estados Unidos. Em todo lugar, discursos simplistas, manipuladores, revestidos de linguagem religiosa ou motivacional, mobilizam multidões.
E, aí, fica a pergunta: qual é mesmo a força política que se debruçou coerente e responsavelmente sobre a realidade de maiorias dominadas por discursos semi-bíblicos bradados por charlatães, por manipulações de coaches vendedores de ilusões, por políticos inescrupulosos e mentirosos? Qual é a força política que ousou enfrentar, em toda a sua extensão e em profundidade, os retrocessos civilizatórios originados de um ambiente social e político em que a verdade é manejada, manipulada e distorcida, em que o ódio, o preconceito e a mentira vicejam praticamente sem contestação?
Há um ditado que diz, e com muita razão: “Não há nada mais forte do que uma ideia cujo tempo chegou”. Infelizmente, esse ditado tem, também, seu oposto: “Não há nada mais fraco do que uma ideia fora do seu tempo”! Em nossa sociedade predominam o medo e os muros. Muitos medos e muitas formas de muros. Por isso, a solidariedade, o companheirismo, a compaixão, o respeito pela dignidade de cada uma e de cada um, que sempre foram os valores que orientaram o meu “fazer política”, que são a minha linguagem, o meu discurso, estão soterradas pelos medos e pelos muros. Hoje não é seu tempo e não vejo, no cenário político, organizações que as assumam com profundidade. Por isso, entendo que também não é mais meu tempo e me afasto da vida partidária sempre na esperança de que a luta do povo e o desejo de uma humanidade melhor iluminem novamente a caminhada dos humanos.
Não renuncio a nenhum dos meus princípios e valores. Sigo socialista! Acredito na solidariedade, no companheirismo, no apoio a quem precisa, na vida simples. Sigo socialista! Acredito que todas e todos nós nascemos para brilhar, para sermos plenos, para sermos felizes e livres.
Com esses valores seguirei caminhando…. Desta vez, dedicado à produção de alimentos orgânicos que é também uma forma de produzir vida!
Muito obrigado ao povo de Novo Hamburgo. Muito obrigado àqueles e àquelas do Rio Grande e do Brasil que me incentivaram e me apoiaram ao longo da jornada. Creio, sinceramente, ter honrado esse apoio.
Muito obrigado à direção e militância do PDT que foram o meu derradeiro espaço de militância partidária. Desejo, de todo o coração, que esse partido de tanta história e de tantas contribuições ao país, reencontre seu caminho ao lado das maiorias, ao lado da justiça social, ao lado das reformas profundas capazes de enterrar, de vez, as estruturas injustas que mantém o Brasil espoliado e milhões de brasileiros na miséria e na ignorância.
*Tarcísio Zimmermann, formado em Ciências Sociais pela UFRGS, foi Deputado federal por três mandatos consecutivos, em 1998, 2002 e 2006; Secretário Estadual do Trabalho, Cidadania e Assistência Social na gestão do Governo Olívio Dutra e Prefeito de Novo Hamburgo (RS), 2009/2012. Exerceu todos os mandatos pelo Partido dos Trabalhadores, do qual se desfiliou em 2022, quando se filiou ao PDT.
Foto de capa: Divulgação
Respostas de 6
Perfeita reflexão, lastimável a saida do cenário político partidário.
ZIMERMAN…temos que pensar em fundar, talvez, o Partido Socialista do Povo Trabalhador do Brasil… O PSPTB… sonho, alentado pelo Doutor Brizola…Não desista não…Quero conversar profundamente contigo! Abraço! Vai meu contato:
Tarciso, sempre tiveste e sempre terás meu respeito.
Adeli Sell
É TRISTE VER UM HOMEM DA ESTIRPE DO Tarcísio Zimmermann, deixando a Vida Partidária. Mas é compreensível quando se nota o fim dos Princípios, Ideais e valores dos Partidos chegando ao fim. Abraço Missioneiro. Silvano Saragoso.
Caro Zimmermann! Sempre será tempo de homens integros e sonhadores!
Em “tempos sombrios”, precisamos esperançar e unidos lutar por um humanismo possível, pela cura planetária!
Talvez seja apenas um momento de cansaço!
Radiografia triste de uma dura realidade politica! Foi uma honra te-lo como companheiro de partido, mas temos uma luta que está acima dos partidos e nessa causa continuaremos juntos, defendendo a democracia e o povo brasileiro!