Por EDELBERTO BEHS*
“Patético”. Foi com tal adjetivo que o presidente do Family Research Council, Tony Perkins, classificou a homilia que a bispa episcopal Mariann Edgar Budde proferiu no culto de oração na Catedral Nacional, terça-feira, 21 de janeiro, na presença do presidente dos Estados Unidos, Donal Trump, e do vice-presidente James David Vance. Ela pediu misericórdia aos que agora estão com medo, indocumentados e pessoas LGTB.
Em sua conta no X, Perkins postou: “A causa do declínio da América não foi o que estava sentado no banco, mas o que estava de pé atrás do púlpito. O que ouvimos hoje não foi uma voz profética da igreja, mas sim patética”. Para o pastor sênior Rob Pacienza, da Igreja Presbiteriana Coral Ridge, de Fort Lauderdale, Flórida, que assistiu o Serviço de Oração pela Nação em Washington, afirmou que a homilia de Budde “não foi realmente um sermão”, mas “uma palestra que realmente pareceu maldosa e divisionária”.
A bispa não intercedeu apenas pelos mais frágeis. “Como país, reunimo-nos esta manhã para rezar pela unidade, não por um acordo, político ou outro, mas pelo tipo de unidade que promove a comunidade acima da diversidade e da divisão”. Bem apropriado para um país polarizado como, aliás, a ultradireita conseguiu instalar no Brasil.
A unidade, explicou a bispa, é apartidária e respeita as diferenças. Ela honra a dignidade inerente a cada ser humano, ela defende a honestidade, tanto nas conversas privadas como no discurso público, e ela respeita a humildade. Palavras bem dirigidas ao presidente Trump, que não demonstra humildade, promove a divisão, que sai apregoando o domínio sobre a Groelândia e o Canal do Panamá e quer a anexação do Canadá.
Então, patético, a essas alturas, é o eleitorado estadunidense que elege para a presidência da maior potência mundial um candidato condenado em 34 processos pela Justiça de Nova Iorque, acusações vinculadas à falsificação de registros comerciais decorrentes da tentativa de silenciar a estrela pornô Stormy Daniels, cujo nome real é Stephanie Clifford, mediante o pagamento de 130 mil dólares (cerca de 770 milhões reais) para esconder caso extraconjugal de 2006.
Patético é o eleitorado que apoia a política de extradição de massa, anunciada por Donald na campanha e assinada nas primeiras horas de governo. A mãe de Donald, a escocesa Mary Anne MacLeod, migrou ilegalmente aos Estados Unidos em 1930! Trump esquece suas raízes e teve que ser lembrado pela bispa Budde: “Nosso Deus nos ensina que devemos ser misericordiosos com o estrangeiro, porque somos todos estrangeiros nesta terra”.
Será que Donald se dá conta que a mulher do seu vice-presidente, James David Vance, Usha Chilukuri, ex-funcionária do juiz chefe da Suprema Corte dos Estados Unidos, John Roberts, é filha de imigrantes da Índia?
Mais patético ainda é o eleitorado de Trump usar aqueles bonés vermelhos com a mensagem Maga – Make American Great Again -, bonés produzidos onde…? Onde? Na China! Trump promete guerra comercial aos produtos chineses nos Estados Unidos…
Em fevereiro de 2024, um dia depois de condenado por juiz em Nova Iorque a pagar 355 milhões (mais de 2 bilhões de reais) no caso de fraude contábil, acusado de inflar ilegalmente o tamanho do seu patrimônio, como lembrou o editor Michael Gryboski no portal The Christian Post, Donald lançou um par de tênis dourados com o seu nome – já esgotado. Tênis produzido… na China.
Também foi impresso na China, segundo a Associated Press, a Bíblia que Trump vende a 60 dólares (cerca de 350 reais) e que tem um custo de produção estimado de 3 dólares (18 reais) por unidade. Tem até guitarra elétrica na lojinha do Trump, com imagem dele e autografada no móvel, por 11,5 mil dólares (68,5 mil reais). Guitarra com nota da empresa “God Bless the USA Bible”, ligada à God Bless the USA, uma plataforma de comércio eletrônico, com uma série de produtos made in China.
Patético é o eleitorado estadunidense acreditar nas historinhas de Trump candidato, como a que denunciava imigrantes de comerem cachorro – não cachorro-quente, mas cães de rua. Isso tudo com o aval do Partido Republicano, apoio da ultradireita e bênção de cristãos fundamentalistas. Se a patetice ficasse restrita à “grande” América do Norte, o problema era deles. Acontece que ela traz consequências para todo o mundo.
Em texto opinativo, a diretora executiva do Instituto de Fé e Cultura da Igreja Presbiteriana de Coral Ridge, Lauren Cooley, fez um chamado à oração, enaltecendo as primeiras medidas do governo Trump. “O trabalho de restaurar a retidão em mossa nação está apenas começando, e exigirá ousadia e perseverança de pessoas de fé. Vamos orar por nossos líderes e permanecer firmes na defesa de políticas que honrem a Deus, protejam os vulneráveis e defendam a justiça. Devemos encorajar esta administração a manter o curso”.
A hipocrisia não tem limites!
*Edelberto Behs é Jornalista, Coordenador do Curso de Jornalismo da Unisinos durante o período de 2003 a 2020. Foi editor assistente de Geral no Diário do Sul, de Porto Alegre, assessor de imprensa da IECLB, assessor de imprensa do Consulado Geral da República Federal da Alemanha, em Porto Alegre, e editor do serviço em português da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC).
Foto de capa: Reprodução/Getty Images
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