Agora a questão a resolver é por que o agro quis o golpe

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Por J. CARLOS DE ASSIS*

A Polícia Federal descobriu o endereço certo para identificar os grandes financiadores das tentativas de golpe e de assassinatos de autoridades em dezembro de 2022, destinados a manter Jair Bolsonaro no poder por mais um ciclo, desta vez ditatorial: são os magnatas do agronegócio, os mais privilegiados oligarcas que controlam uma parte significativa do PIB brasileiro, mediante imensos subsídios e incentivos que recebem do Governo central.

Portanto, foi dinheiro do povo que financiou a tentativa de liquidar com a democracia brasileira. Quem pode contar a história, em detalhe, é o general preso Braga Neto, que segundo um delator de alta patente recebeu o dinheiro numa “caixa de vinho”,  e estabeleceu os critérios para sua distribuição aos demais golpistas. O País espera ansiosamente que a PF, uma das poucas instituições brasileiras que tem dado provas robustas de seu empenho em combater a corrupção, avance nesse ponto.

O financiamento público do agronegócio previsto para 2024 é de R$ 476,6 bilhões, sendo R$ 400,59 bilhões para a agricultura empresarial, principalmente produtores e exportadores de grãos e açúcar, e R$ 76 bilhões para a agricultura familiar. Não foram esses dedicados agricultores familiares, que alimentam cerca de dois terços da população brasileira, que desviaram os recursos recebidos para financiar a tentativa de golpe. Não tenho dúvida de que foram os “empresariais”.

Estes são beneficiários não apenas da parte do leão dedicada à produção agrícola como se aproveitam também de outros subsídios e múltiplos benefícios que lhes concede o Governo. Por exemplo, não precisam de internalizar no País os recursos provenientes de suas vendas no exterior. Podem ficar com o dinheiro para especular. Quando o dólar aumenta de valor em relação ao real, trazem o dinheiro para aplicar nos títulos remunerados pela Selic no mercado aberto. Quando cai, eles fogem.

Como a Selic é a taxa de juros diária mais elevada do mundo, é evidente que, enquanto não há risco para as suas aplicações, eles permanecem por aqui. Contudo, não ficam quietos. Conspiram com o “mercado” financeiro para forçar o Governo a dar demonstrações permanentes de que, mediante cortes no orçamento primário discricionário, a política do Banco Central não mude. É nesse ponto que as velhas oligarquias agrárias e as novas oligarquias bancárias se aliam para assaltar o povo.

Entretanto, é difícil saber por que o agro está conspirando para derrubar Lula. O presidente está comprometido a equilibrar o orçamento – de forma equivocada – e respeita a contribuição que o setor, através dos grandes superávits comerciais, dá para o aumento de nossas reservas internacionais  (fora o que fica com os exportadores para livre especulação). Há um elemento ideológico nisso tudo e, talvez,  uma suspeita de que as benesses podem acabar se Lula voltar-se para os interesses reais do povo.

Com sua indiscutível competência, por certo a Polícia Federal, conversando amistosamente com o general Braga Neto, consiga dele as informações necessárias para que a sociedade entenda essa contradição entre favorecimento privilegiado a um determinado setor da economia e o ódio deste setor contra os próprios patrocinadores, a ponto de financiar um golpe contra o Governo que os protege, e os assassinatos do Presidente, do Vice e do ministro do Supremo, Alexandre Moraes.

 

 

*J. Carlos de Assis é jornalista, economista, doutor em Engenharia de Produção, professor aposentado de Economia Política da UEPB, e atualmente economista chefe do Grupo Videirainvest-Agroviva e editor chefe do jornal online “Tribuna da Imprensa”, a ser relançado brevemente.   

Foto de capa: Agência Brasil

Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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