A operação-choque no Complexo do Alemão e Complexo da Penha: guerra urbana ou massacre anunciado?

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Rio de Janeiro (RJ), 28/10/2025 - Durante operação policia contra o Comando Vermelho, bandidos ordenam fechamento de comércio e usam lixeiras incendiadas para bloquear a via na rua Itapiru, no Catumbi. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Na madrugada do dia 28 de outubro de 2025, o estado do Rio de Janeiro desencadeou a maior operação policial de sua história recente: a chamada Operação Contenção mobilizou cerca de 2.500 agentes das polícias Militar e Civil, em 26 comunidades da Zona Norte — sobretudo nos Complexos do Alemão e da Penha — com o objetivo declarado de “conter a expansão” da facção Comando Vermelho (CV).

Mas o que emergiu da operação foi um cenário de guerra urbana: barricadas incendiadas, uso de drones com explosivos, pelo menos 60 mortos (incluindo quatro policiais), dezenas de prisões, escolas e serviços públicos paralisados, vias interditadas.

O que sabemos até agora

  • Segundo fontes jornalísticas, 64 pessoas teriam morrido — sendo quatro agentes de segurança — na ação que atravessou diversos bairros da Zona Norte.
  • A ação conjunta incluía promotores do Ministério Público do RJ, o Grupo de Recapturas da SEAP, equipes de inteligência e busca de foragidos.
  • A operação visa especificamente combater o avanço territorial, logístico e armado do Comando Vermelho — com foco em armas automáticas, drones, domínio de território e articulação interestadual.
  • A Prefeitura do Rio declarou “estágio de mobilização” e mais de 100 linhas de ônibus foram afetadas pelos confrontos nas comunidades norte-rio-cardíacas.

Por que é um marco — e por que preocupa

Para quem analisa segurança pública, a operação representa um ponto de inflexão, mas também um risco de normalização da letalidade. Na primeira metade de 2025, o estado já tinha registrado aumento de 34% nas mortes provocadas por agentes de segurança — com 285 casos apenas até abril.

No entanto, a pergunta que permanece é: será que essa operação amplia a segurança ou agrava o ciclo de violência e invisibilidade social nas favelas?

Impactos imediatos

  • Moradores relataram medo, interrupção de serviços, crianças de escola sendo obrigadas a se deitar no chão para escapar de tiros.
  • A repressão, por si só, não acompanha políticas de presença comunitária, de desmilitarização ou de fortalecimento dos direitos humanos. O resultado tende a ser trauma, cicatrizes, e morte sem responsabilização.
  • Em comunidades historicamente vulnerabilizadas, a “pacificação militar” se renova na forma de invasão e ocupação temporária, sem estrutura de longo prazo.

A provocação política

A ação foi qualificada pelo governador como “guerra ao narco-terrorismo”, mas ganhou críticas de partidos de esquerda, movimentos sociais e especialistas que veem esse tipo de intervenção como militarização da pobreza — uma lógica que atinge mais corpos negros e periféricos do que as verdadeiras redes criminosas e seus financiadores.

O entrave estrutural

A violência armada no Rio tem raízes antigas: expansão das facções, milícias, ausência de políticas públicas de inclusão, precariedade de serviços, segregação territorial. Intervenções empilhadas em operação após operação não desmontaram as engrenagens da criminalidade, apenas mudaram os cenários.

A grande fissura: quem pega fuzil pega ponta; quem pega artigo 157 (roubo), pega escanteio. A elite do crime segue operando em mansões fechadas, enquanto a vítima habitual é o jovem negro favelado.

E agora? O que se pode esperar

  • A curto prazo, mais buscas de mando, prisões e confrontos.
  • A médio prazo, se não houver mudança na estrutura, retaliação do crime, reforço no armamento, mais drones, mais explosivos, mais mortes.
  • A longo prazo, o estado precisa se decidir: quer segurança ou guerra? E segurança com direitos. A guerra favorece só o tráfico, que lucra com o caos.

Essa megaoperação mostra que o Rio não está apenas em crise de segurança — está em crise de projeto urbano, racial e social. A truculência estatal reaparece como resposta padrão e alimenta o ciclo que diz combater. Sem política pública de longa duração, sem inclusão, sem investimento em cidadania, essas operações funcionam como espetáculo. O que muda de verdade? Nada, ou pior: mais corpos, mais dor, mais invisibilidade.

Essa é a dureza da realidade que ignoramos quando pensamos “operação policial = segurança”. No Rio, às vezes, é só mais um capítulo da guerra da cidade contra sua própria população mais vulnerável.


Imagem destacada: Fernando Frazão/Agência Brasil

Leia também: O desastre de uma megaoperação no Alemão e na Penha de um governo que terceiriza o seu comando.

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Respostas de 2

  1. Engraçado q o Castro nunca fez uma operação em seu governo, aí do nada, morrem 64 pessoas e a globo sai comparando números, como se importasse ora ela qtos favelas morrem por dia nas mãos das polícia, visto que em SP morrem como moscas e NINGUÉM FALA NADA!! Sou de SP!! Não sei quem mexe os pauzinhos pra esse tipo de coisa acontecer, mas é muito estranho e já vi “esse filme” antes, contra a Dilma.

  2. Engraçado q o Castro nunca fez uma operação em seu governo, aí do nada, morrem 64 pessoas e a globo sai comparando números, como se importasse pra ela qtos favelados morrem por dia nas mãos das polícia, visto que em SP morrem como moscas e NINGUÉM FALA NADA!! (Sou de SP!!) Não sei quem mexe os pauzinhos pra esse tipo de coisa acontecer, mas é muito estranho e já vi “esse filme” antes, contra a Dilma.

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