A investida da extrema direita e suas lideranças na Europa

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Por CELSO JAPIASSU*

A extrema Direita é hoje uma crescente ameaça para o futuro da União Europeia. E da existência do euro, sua moeda. Seus partidos combatem a imigração e o acolhimento de refugiados, cada um deles glorifica um nacionalismo exacerbado, as tradições do seu país e obscuras teorias sobre política, relações internacionais e a própria organização da sociedade. Um dos seus líderes, Matteo Salvini, num exagero retórico bem italiano, considera a moeda única um crime contra a humanidade.

Todos os países da Europa – com exceção da Irlanda, Luxemburgo e Malta – contam com extremistas da Direita em seus parlamentos. A grande e dramática pergunta é se este pêndulo na direção das grandes ameaças vai continuar a apontar nessa direção por muito tempo ou se voltará a pender para os ideais de democracia, solidariedade e justiça social que inspiraram a criação da União Europeia.

Alguns líderes extremistas de direita destacam-se no panorama político da Europa. Alguns deles, mesmo influentes, estão afastados dos governos, embora planejem permanentemente a conquista do poder.

Matteo Salvini

Homem forte da Itália entre 2018 e 2019, ocupou o cargo de Primeiro-Ministro e o de Ministro do Interior. Foi apeado do governo depois de tentar algumas jogadas políticas malsucedidas. Quis maiores poderes. Acabou derrubado por uma articulação do PD – Partido Democrático – de esquerda, com o hoje decadente Movimento Cinco Estrelas, que se define como um não partido antissistema, fundado pelo comediante Beppe Grillo em 2009. Grillo fez sucesso na televisão com um programa humorístico sobre a vida de italianos nos Estados Unidos e no Brasil.

A Itália encontra-se hoje sob um governo de extrema direita do partido Fratelli d’Italia, da primeira-ministra Giorgia Meloni, mas Salvini, seu aliado, está sempre a preparar uma volta triunfante. Os que acompanham seus movimentos dizem que ele sabe manipular muito bem os velhos sentimentos que movem a política italiana:  vingança, oportunidade e interesses. É chamado de “capitão” (il Capitano) pelos seus seguidores, o que para muitos italianos lembra “Il Duce”, como era chamado Mussolini. Declara-se defensor dos valores da família, é contra o casamento de pessoas do mesmo sexo e defende a separação da região do Veneto, berço do seu partido, do resto do país. Continua a ser um dos políticos mais influentes no conturbado ambiente político da Itália. Líder da Liga Norte, atualmente simplesmente Liga, movimento que cresceu com uma retórica populista e anticorrupção. Combate a entrada de imigrantes e refugiados e é contra a globalização, com uma teoria difusa e confusa que se aproxima do conceito caótico do “globalismo” adotado pelos ideólogos do passado governo Bolsonaro no Brasil.

Norbert Hofer

Algumas publicações, como o International Business Times, classificam o político austríaco como neofascista e seu slogan de campanha, que pode ser traduzido em inglês como “Putting Austria First”, de imediato lembra o de Donald Trump “America First”. Não é simples coincidência, pois Hofer tem grande admiração por Trump e ambos possuem vários pontos de vista em comum. Assim como Jair Bolsonaro, é um defensor das armas e, por medo dos imigrantes, segundo a imprensa, carrega sempre consigo uma pistola Glock.

Norbert Hofer, líder do Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ), é um homem de sorriso fácil e certa simpatia pessoal. Já foi descrito como de olhar ingênuo e usa uma bengala como sequela de um acidente de asa delta. Em 2016 teve a maior votação no primeiro turno das eleições a presidente, mas perdeu no segundo para Alexander van der Bellen, ex-presidente dos Verdes. Continua sendo uma alternativa de poder num país onde cresce a rejeição aos imigrantes e refugiados estrangeiros.

Seu credo político inclui o pangermanismo, uma das ideias que inspiraram Adolf Hitler e costuma exibir nas roupas a imagem de uma centáurea, flor típica do seu país, adotada como símbolo dos movimentos nazistas clandestinos.

As Lideranças

Jordan Bardella (França, União Nacional/Rassemblement National)
Jovem político de 29 anos, Bardella tornou-se o rosto da nova geração da extrema-direita francesa. Presidente do partido União Nacional desde 2022 e, segundo os bastidores, amante de Marine LePen, foi apontado como potencial primeiro-ministro nas recentes eleições legislativas e agora lidera o grupo Patriotas pela Europa no Parlamento Europeu. Bardella se destaca pelo uso intensivo das redes sociais e por um discurso nacionalista, anti-imigração e eurocético.

Giorgia Meloni (Itália, Irmãos de Itália/Fratelli d’Italia)
Primeira-ministra desde 2022, Meloni consolidou-se como uma das principais figuras da extrema-direita no poder na Europa. Seu governo adota uma agenda conservadora, nacionalista e anti-imigração, e Meloni tem influência crescente no cenário europeu.

Geert Wilders (Países Baixos, Partido da Liberdade/PVV)
Após a vitória eleitoral em 2023, Wilders tornou-se o principal articulador da nova coligação governamental, apesar de não ter assumido o cargo de primeiro-ministro devido à resistência de outros partidos a seu histórico anti-islâmico e eurocético.

André Ventura (Portugal, Chega)
Ventura é o líder do Chega, partido que, nas eleições parlamentares de 2025, acabou por tornar-se a segunda força política em Portugal. Ele tem papel ativo na articulação internacional da extrema-direita defendendo uma agenda nacionalista e anti-imigração.

Santiago Abascal (Espanha, Vox)
Fundador e líder do Vox, Abascal é um dos principais nomes da extrema-direita espanhola e anfitrião de eventos internacionais que reúnem lideranças, como a cimeira dos Patriotas pela Europa em Madrid.

Maximilian Krah (Alemanha, Alternativa para a Alemanha/AfD)
Apesar de recente afastamento do partido por declarações polêmicas, Krah é uma das figuras mais conhecidas da nova extrema-direita alemã, com forte presença nas redes sociais e discurso anti-UE.

Viktor Orbán (Hungria, Fidesz)
Primeiro-ministro desde 2010, Orbán é o principal impulsionador do novo grupo Patriotas pela Europa e referência para as novas lideranças, embora seja visto por parte da nova geração como representante da “velha” extrema-direita.

Herbert Kickl (Áustria, FPÖ)
Líder do Partido da Liberdade da Áustria, Kickl iniciou negociações para formar governo após vitória eleitoral em 2024, consolidando o avanço da extrema-direita no país5.

Karol Nawrocki (Polónia)
Recém-eleito presidente da Polónia, em junho de 2025, Nawrocki, de 42 anos, foi felicitado por líderes da extrema-direita europeia, sinalizando uma guinada neofascista no país. Nawrocki foi apoiado pelo partido de extrema direita Lei e Justiça (PiS), embora tenha concorrido como independente. Tornou-se conhecido por cultivar uma imagem de “durão”, divulgando vídeos em campos de tiro e ringues de boxe durante a campanha. Defende políticas económicas e sociais que priorizam cidadãos polacos sobre estrangeiros, incluindo refugiados ucranianos.


*Celso Japiassu é autor de Poente (Editora Glaciar, Lisboa, 2022), Dezessete Poemas Noturnos (Alhambra, 1992), O Último Número (Alhambra, 1986), O Itinerário dos Emigrantes (Massao Ohno, 1980), A Região dos Mitos (Folhetim, 1975), A Legião dos Suicidas (Artenova, 1972), Processo Penal (Artenova, 1969) e Texto e a Palha (Edições MP, 1965).

Foto de capa: Os oito líderes representam diferentes faces da direita europeia/AFP / AFP

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Uma resposta

  1. Gostei do assunto abordado no texto, pois trás um panorama internacional do avanço da extrema direita no mundo. Deixa claro um elo de ligação entre os líderes que compõem esses grupos mesmo sendo de países e continentes diferentes.
    Também gostei da organização ortográfica, que sem erros ficou muito melhor para ler e compreender o assunto.
    Muito bom!

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