Por SÉRGIO ARAÚJO*
Errantis voluntas nulla esta à vontade de uma parte equivocada é nula. Marcus Pomponius.
O poder econômico é pragmático. Insensível. Se Bolsonaro está inelegível e prestes a ir para a cadeia, forja-se um substituto. Se possível, com o mesmo grau de dependência e submissão. O importante é que ele impeça a continuidade das forças progressistas no comando do país e mantenha os privilégios das classes dominantes. Na busca do intento “o lucro acima de tudo e de todos”, observa-se uma campanha conspiratória de desgaste do governo e da imagem de Lula.
Não importa que a criação de empregos com carteira assinada venha batendo recordes de crescimento, o destaque na mídia conservadora vai ser as viagens e as declarações da Janja, esposa de Lula. Da mesma forma, não importa que os descontos fraudulentos praticados contra os aposentados do INSS tenha começado e se desenvolvido no governo Bolsonaro, importa que o irmão de Lula é um dos diretores de um dos sindicatos investigados.
O Produto Interno Bruto cresce a cada levantamento realizado; a inflação não só está sob controle como em queda constante; e Lula se fortalece cada vez mais como uma das vozes mais respeitadas internacionalmente. Mas o destaque do noticiário brasileiro é o esforço apátrido do filho fujão de Bolsonaro, que usa suas relações promíscuas com autoridades americanas para tentar macular o judiciário brasileiro.
Nessa batida de parcialidade, a proposta de aumento do Imposto sobre operações financeiras (IOF) serve de palco para as críticas da oposição. A mesma que se beneficia das inescrupulosas e suspeitas emendas parlamentares. Necessitando arrecadar R$ 20 bilhões para manter funcionando a máquina pública, a proposta do Ministério da Fazenda é duramente combatida por um Congresso que se beneficia com R$ 50 bilhões em emendas parlamentares.
Mas para a imprensa subalterna aos desejos do mercado, manter o privilégio das compras e investimentos no exterior é mais importante, por exemplo, do que assegurar o atendimento pelo SUS ou a construção de casas populares.
A cada dia que passa, mais transparente fica o real objetivo desse festival midiático de distorções e desinformacões: impedir a reeleição de Lula e a continuidade da esquerda no poder. Fosse uma imprensa séria e isenta, faria um comparativo do desempenho nas áreas prioritárias entre o governo atual e o anterior.
Mas não, é preferível divulgar pesquisas realizadas por institutos de duvidosa credibilidade, em estados onde predomina o eleitorado conservador, citando o nome do inelegível Jair Bolsonaro como possível adversário de Lula. Tudo isso faltando dezessete meses para as eleições e às vésperas do julgamento do comandante em chefe do golpe fracassado do oito de janeiro.
Nesse ínterim, Bolsonaro passeia pelo país, livre, leve e solto, ocupando os espaços na imprensa e nas redes sociais para espalhar inverdades e ameaças. E é essa realidade midiática distorcida que observamos diária e progressivamente desde que Lula retomou o comando do país.
Não podemos esquecer que a criação e consolidação do Bolsonaro mitológico teve a colaboração assertiva da imprensa reacionária, que não poupou espaços para a divulgação das mentiras e barbáries cometidas antes e durante a ascensão do bolsonarismo.
Agora, diante da perspectiva de reeleição de Lula, se dispõe a servir de usina de factoides e de cenário para pesquisas extemporâneas, fazendo crer, nos noticiosos, que a campanha eleitoral de 2026 não só começou como o grande adversário já está definido: Luis Inácio Lula da Silva.
Que o Supremo Tribunal Federal, tranqueira invicta da democracia e da Constituição, impeça o retrocesso aos anos de chumbo. E que a regulação das plataformas digitais e o combate às fake news seja o começo da moralização do uso dos meios de comunicação.
*Sérgio Araújo é Jornalista e Publicitário.
Foto de capa: IA