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Opinião

Toda noite tem aurora: vencemos! E agora?

Toda noite tem aurora: vencemos! E agora?

Artigo por RED
31/10/2022 15:56 • Atualizado em 01/11/2022 08:54
Toda noite tem aurora: vencemos! E agora?

De BETÂNIA ALFONSIN*

Hoje é dia de festa…

Jorge Ben Jor, para ser ouvido na voz de Elza Soares. 

Hoje, finalmente, pudemos soltar o grito que guardamos no peito, soltar o choro que estávamos segurando desde que esse processo de golpe se iniciou. É dia de celebrar a nossa vitória e reconhecer que ela é imensa!

Embora tenha se iniciado antes, pode-se dizer que o momento que marcou o início desse ciclo de horrores que vivemos, foi a declaração de voto do então deputado federal Jair Bolsonaro no impeachment da Dilma. O fato de ele ter dedicado o seu voto ao torturador de Dilma Roussef e NADA ter acontecido ao parlamentar depois dessa bofetada na cara da sociedade brasileira, da ordem constitucional e da Democracia, foi a senha para que o movimento fascista se excitasse e percebesse que havia espaço a ser ocupado no Brasil.

Depois disso enfrentamos o golpe contra Dilma, a execução de Marielle Franco, a lava-jato, a perseguição política e a prisão de Lula, as fake news, a eleição de Bolsonaro, a escolha de uma nominata descaradamente “antipolíticas públicas” para o ministério, as milhares de barbaridades perpetradas pelo seu governo, as barbaridades reveladas pela vaza-jato, a pandemia, o genocídio, os crimes contra os povos originários e as florestas, a volta da fome, a ascensão do bolsonarismo enquanto fenômeno social, as ameaças de golpe militar, o orçamento secreto, o primeiro turno e a eleição de uma bancada fascista, as granadas de Bob Jefferson e pistola de Carla Zambelli na nossa cara.

A sociedade civil brasileira, os partidos do campo democrático e popular, os movimentos populares e a cidadania consciente souberam RESISTIR a todo esse massacre para resgatar um projeto de país mais justo para o povo brasileiro, com a implementação de políticas sociais garantidoras dos direitos fundamentais, no qual a Democracia seja reinstaurada e os espaços de participação popular possam voltar a existir para apoiar o governo de Lula nos processos de tomada de decisão. Esse movimento foi gigante e nossa sorte em ter o nordestino Lula nos liderando é muito grande. Com a tenacidade de quem já passou fome, Lula é um gênio da política e soube costurar uma frente ampla em torno de sua candidatura e da Federação Brasil da Esperança.

De Pérsio Arida a Boulos, de Simone Tebet a Anitta, de Chico Buarque a Felipe Neto, os apoios a Lula foram se somando a tal ponto que conseguimos estruturar uma frente em torno da Democracia como o Brasil não via há muito tempo, talvez desde o movimento pelas Diretas Já, nos estertores da Ditadura Militar. Os movimentos de mulheres, do povo negro, dos povos originários, da população LGBTQIA+, de pessoas com deficiência, de reforma urbana, de reforma agrária, de direitos humanos fizeram um coro unificado que clamou em alto e bom som pelo fim do governo Bolsonaro. Para além de partidos políticos, centrais sindicais, vimos entidades empresariais e até representantes da Faria Lima declarando apoio a Lula. O desejo da sociedade civil de virar a página infame desse governo emergiu como um tsunami de apoios que foram, todos, muito importantes para o resultado final.

Além disso, é preciso registrar um acontecimento histórico: cada eleitor/a de Lula se tornou um militante! De senhoras idosas em panfleteações, a adolescentes e jovens pedindo votos na rua, assistimos ao engajamento de uma multidão na campanha. Para nós, que somos militantes há muito tempo e participamos desse processo desde sempre, a vitória de Lula em 2022 tem um significado muito especial, de retomada da confiança coletiva em nossa capacidade de conduzir o Brasil a um futuro menos hostil para as presentes e futuras gerações.

Nossa vitória se deu apesar do aumento eleitoreiro dos auxílios, apesar das operações de bloqueio de estradas pela polícia rodoviária federal no dia do pleito, apesar da compra de votos, apesar das fake news diárias. Por mais votos que tenham nos tirado com essas manobras, assim mesmo, logramos derrotar o governo genocida.

A eleição do Lula é o clímax dessa batalha contra o bolsonarismo e o aparelhamento do estado e é claro que merecemos muito comemorar a vitória, no entanto, é preciso reconhecer que a luta não terminou. O próximo período será extremamente desafiador para a coordenação da campanha do Lula e para todas as pessoas, instituições e movimentos que se engajaram no processo que levou à vitória e que devem, agora, seguir acompanhando os desdobramentos da disputa e sustentando a conquista do nosso campo.

A campanha foi arrebatadora, contagiante, bonita e se descentralizou no país, fazendo surgir votos pro Lula em rincões historicamente extremamente conservadores. Ainda assim, foi apenas no nordeste que vencemos com folga. O resultado foi bastante apertado, dando a presidência ao Lula por pouco menos de dois por cento dos votos válidos, ou, 2.139.645 votos. A sociedade segue dividida e os perdedores, muitos deles abertamente fascistas, não estão querendo aceitar a derrota, como autoritários que são.

A sociedade brasileira que derrotou Bolsonaro não pode permitir os movimentos golpistas que começam a se ensaiar. É necessário construir um amplo rechaço dessas tentativas de tumultuar a transição de governo com bloqueios de estrada, clamor por intervenção militar e outras práticas golpistas. Neste movimento precisarão se engajar todas as forças que se somaram à campanha do Lula e ainda, as instituições, com papel destacado para os atores do sistema de Justiça, que deverão defender a ordem democrática nesse momento chave de nossa História comum.

Precisamos seguir resistindo. Os próximos dois meses exigirão muito de nossa militância e estaremos prontxs para a defesa da nossa conquista. Nosso projeto implicará muitas tarefas em 2023, que passarão pelo resgate de projetos sufocados, reconstrução de boas práticas políticas, revogaços das leis do período autoritário, abertura de sigilos, a implantação de uma justiça de transição e muita criatividade para lidar com um orçamento sabotado pelas manobras eleitoreiras de Bolsonaro e ainda assim, avançar. Os desafios da criação de políticas capazes de enfrentar a terra arrasada em muitas áreas são gigantescos. Esse, porém, já é assunto para outra conversa…

No momento, vamos nos permitir celebrar a nossa aurora política! Haverá choro e ranger de dentes, mas “os cães ladram e a caravana passa”…  Saiam da frente que o bloco da Democracia já está na avenida! Hoje é dia de festa!


* Jurista e urbanista. Membro do Conselho diretivo do IBDU e pesquisadora do Observatório das Metrópoles.

Imagem em Pixabay.

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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