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DAR SEGURANÇA ÀS NOSSAS VIDAS

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DAR SEGURANÇA ÀS NOSSAS VIDAS
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  Por VICENTE RAUBER* Segurança passou a ter um significado mais amplo. É poder continuar vivendo, de preferência com qualidade de vida. Exagero? A quantos desastres climáticos ainda sobreviveremos? No Rio Grande do Sul e especialmente em Porto Alegre, suportaríamos atravessar mais três inundações em 8 meses? Impossível? É melhor não apostar! A natureza está completamente desequilibrada, clama por sua regeneração! Prevenir é o melhor remédio! É necessário ter responsabilidade e realizar as atividades indispensáveis aos sistemas de drenagem e proteção contra cheias. Diques, comportas, casas de bombas e canalizações requerem manutenção permanente. Em Porto Alegre isto não é realizado ou, na melhor das hipóteses, não é realizado adequadamente nos últimos 4 anos! Não por acaso temos enormes alagamentos até em chuvas menores como as recentes. É a insuficiente limpeza de bocas-de-lobo, canalizações, galerias e arroios que provoca esta situação e não os insistentes fakes apresentados pela Prefeitura. É urgente recompor os Sistemas de proteção contra Cheias e de drenagem pluvial. Nos outros municípios, estes sistemas devem ser completados e colocados nas dimensões adequadas ou mesmo concebidos, projetados e construídos. E mantidos adequadamente. As águas merecem mais respeito. Sem elas não vivemos. Em nada combinam com lixo. Os resíduos  sólidos precisam ser reusados, reciclados em tudo quanto for possível. Óleo de cozinha usado deve ser separado e retornar à indústria para reprocessamento. Erva mate e cafés usados são adubos para hortas, jardinagens e agricultura. E o restante dos resíduos sólidos deve ser usado para compostagem de adubos ou tratado adequadamente em aterros sanitários com aproveitamento da gás metano gerado. Arroio não é Valão. Os municípios precisam e devem praticar permanentemente programas de educação ambiental nas comunidades e escolas. É necessário preparar bem melhor nossas cidades para os distúrbios climáticos. Mas não podemos aceitar esta situação como “novo normal”. Precisamos urgentemente construir um novo normal sustentável. Precisamos reduzir a emissão de Gases de Efeito Estufa – GEEs -, responséveis pelo sobreaquecimento global. Especialmente nos Estados e na União é necessário reduzir e, até tentar eliminar, as queimadas, derrubadas de florestas e destruição dos biomas, criminosas em grande parte. No Brasil são responsáveis por mais de 45% de toda a geração de GEEs. Em segundo lugar vem a agricultura e a pecuária, especialmente os seus equivocados métodos utilizados, caros, pouco produtivos e destruidores dos solos, que respondem por 25% dos GEEs. Devem ser substituídos pela ABC – Agricultura de Baixo Carbono -, aprovada em 2009, em Copenhague, na COP-15, com participação do Brasil. É possível produzir mais e melhor, com menos custos e sem destruir a qualidade dos solos. Em nosso Estado é necessário recompor a legislação ambiental, indevidamente atacada. Os essenciais Comitês de Gerenciamento de Bacias Hidrográficas precisam imediatamente ter condições de funcionamento para o cumprimento de suas finalidades. E, assim como o Nordeste brasileiro pode nos ensinar, devemos investir fortemente na reservação de águas, para o enfrentamento de nossas secas anuais e desenvolvimento das regiões. É nos municípios, onde a vida acontece, que podemos realizar grandes transformações. Obviamente continuam válidas as observações sobre enfrentamento da destruição dos biomas e o modo de produção do setor primário. Nos grandes centros urbanizados, como Porto Alegre, dois terços dos GEEs são produzidos pelos combustíveis fósseis, especialmente gasolina e diesel através do transporte. É preciso racionalizá-lo mais e valorizar profundamente a introdução de veículos elétricos em todas as modalidades. Teremos grande redução dos GEEs e praticamente redução total da poluição de gases venenosos e ruídos. A saúde e o meio ambiente agradecerão. Será uma das grandes conquistas de nossa época. Saneamento e meio ambiente podem fazer a grande diferença no meio urbano. Representam um excepcional investimento: Cada Real aplicado em água potável, coleta e tratamento de esgotos, coleta, reuso, reciclagem e tratamento de lixos, drenagem pluvial e proteção contra cheias poupa três Reais em sáude, além de propiciar desenvolvimento, postos de trabalho e renda e grande qualidade de vida. Nas cidades devem ser valorizadas ações integrantes do conceito de “cidades esponja”, que são a retenção das águas excedentes nas chuvas maiores. Já no inicio dos anos 90 iniciamos a implantação de bacias de amortecimento, locais onde são direcionadas as águas excedentes, podendo ser utilizadas em lavagens ou liberadas no sistema de drenagem posteriormente. Acrescentamos mais alguns aspectos essenciais do meio ambiente. Muito mais áreas verdes devem ser obtidas: (i) com a efetivação de praças e jardins já definidos no Plano Diretor como áreas verdes; (ii) nas áreas de risco, que devem ser reassentadas em locais seguros através de programas sociais permanentes de habitação; (iii) nas beiras de arroios e outras águas, recompondo a vegetação ciliar; (iv) ao longo das vias públicas, principalmente grandes avenidas; (v) nunca permitindo terras nuas, sejam públicas ou privadas. Devem ser incentivados, nos bairros, programas comunitários de efetivação das calçadas intercalando vegetação e lajes. (vi) No meio rural, em meio às plantações e campos da pecuária. As ações de saneamento e meio-ambiente reduzem fortemente a geração dos GEEs e são extraordinárias na captação dos GEEs, não permitindo a sua chegada à camada de Ozônio. Em dias ensolarados de verão, a diferença de temperatura junto ao asfalto e em parques como a Redenção chega a 10ºC. No caso, vale a pena estudar o caso de Medellin (Colômbia), ex-capital do tráfico, hoje referência internacional com a melhoria de seu clima e qualidade de vida, com seus mais de trinta corredores verdes. E o que cabe a nós cidadãos neste momento: analisar quais candidatos(as) tiveram e tem compromisso público com estas mudanças e elegê-los(as). Em Porto Alegre, entendemos que Maria do Rosário e Tamyres melhor representam esses compromissos. Podemos rapidamente construir cidades menos caras e com a segurança e qualidade de vida que merecemos. O Planeta agradecerá! *Engenheiro especialista em Planejamento Energético e Ambiental e ex-diretor do DEP (Departamento de Esgotos Pluviais), DEMHAB (Departamento Municipal de Habitação), CEEE, Petrobras/Refap e Banrisul Foto: Porto Alegre (RS), 19/06/2024 - Casas destruídas na ilha da Picada após chuvas e novos alagamentos. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.      

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O RESGATE DE JOÃO SIMÕES LOPES NETO

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O RESGATE DE JOÃO SIMÕES LOPES NETO
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Por  LOURENÇO CAZARRÉ* O resgate de João Simões Lopes Neto Filho e pai de juristas, o advogado Carlos Francisco Sica Diniz deu publicação, recentemente, ao maior e mais demorado processo de sua longa e bem-sucedida carreira: a folha-corrida de alguém chamado João Simões Lopes Neto. Os autos somam 439 páginas e serão lidos – tenho certeza – com gosto e paixão por todos os que amam o criador dos Contos gauchescos, hoje multidão. Essa abertura de resenha, apelando para a advocacia, arte que não domino, me ocorre depois de ler no posfácio do livro João Simões Lopes Neto, uma biografia -, de autoria de Sica Diniz e agora já em segunda edição – as seguintes afirmações: “Diniz, além de rastrear as quase já desaparecidas pegadas do escritor, bebeu… em novas, fecundas e privilegiadas fontes. Perseverou na procura pelo que restara dos seus papéis. Agiu como atuante e desprendido advogado que não poupa esforços para perseguir os meios de defesa do seu constituinte”. Primeira leitura Li duas vezes a primeira edição dessa biografia, que veio à cena faz vinte anos. A primeira leitura eu a atravessei logo após obter o exemplar, autografado para mim pelo autor, em agosto de 2003. A segunda leitura, muito mais aprofundada, ocorreu entre dezembro de 2019 e julho de 2020, quando rabisquei, em parceria com meu filho Érico, um roteiro cinematográfico sobre a movimentadíssima vida do neto do Visconde da Graça. Em plena pandemia, reli com muito cuidado aquela primeira edição, que tinha, digamos, apenas 312 páginas. Por que apenas? Porque nós, ledores de JSLN, queríamos muito mais, no que fomos atendidos, agora, pelo biógrafo. Considerando que os tipos da primeira edição eram de corpo maior, pode-se ter uma ideia de quanto material foi ajuntado. O livro cresceu em mais de 30 por cento, creio eu.   Roteiro Preciso fazer aqui uma breve pausa para os meus comerciais. O roteiro para um filme sobre Simões Lopes nasceu de um projeto do Érico, cineasta formado na Universidade de Brasília. Sabedor de que o nosso conterrâneo era um tocador de mil instrumentos, ele me sugeriu que escrevêssemos algo sobre o homem e não sobre o ficcionista. Por quê? Ora porque há dezenas de teses competentes sobre o trabalho literário de Simões, enquanto eu, vagal, preguiçoso, que não apresentei tese, não tenho sequer um mestrado em literatura. Assim, Érico e eu centramos o nosso trabalho nas inúmeras atividades – cívicas, culturais, educativas, teatrais, políticas, comerciais, jornalísticas e industriais -, muitas delas fracassadas, de um cidadão apontado como azarado por muitos dos que o conheceram. Para fazer esse trabalho, lemos o livro de Diniz com vagar e atenção dobrada, assinalando com marca-texto as muitas passagens que mais nos despertavam o interesse. Consultamos ainda os livros de Carlos Reverbel e de Ivette Massot sobre aquele homem que gostava de ser chamado de capitão da guarda nacional, embora sua performance marcial, na sanguinária Revolução de 1893, tenha sido discretíssima, para não dizer que foi nenhuma. Artinha de leitura e reportagens Voltemos ao livro de Sica Diniz. Acredito que os dois capítulos que mais despertarão o interessante dos fruidores dessa nova edição sejam os que tratam do Artinha de Leitura, livro descoberto apenas em 2008, e das reportagens de Simões – quando ele chega ao jornalismo, já maduro – sobre os subterrâneos da Princesa do Sul. Não vou me profundar sobre as peripécias da surpreendente descoberta do Artinha de Leitura, que dariam, apenas elas, matéria-prima para um belo curta-metragem. Por favor, leiam! Simões, que toda sua vida fora um colaborador não-remunerado de jornais, chega em 1913 ao jornalismo profissional. O que era passatempo torna-se meio de vida quando ele, depois de ter vendido sua residência, mora com parentes. Querendo fazer o mesmo que tantos grandes jornalistas faziam em Paris e no Rio de Janeiro (aqui devemos apontar João do Rio), Simões sai às ruas de Pelotas para tratar de assuntos que nunca dantes chegaram às folhas. Vai a um cortiço, reproduz uma conversa de malandros e chega às bandas do forno do cisco (que quando miúdo eu chamava de forno do lixo). São reportagens surpreendentes. Aliás, é também notável o exercício que Simões faz para registrar a linguagem coloquial, como falada na época pela população mais pobre da Atenas rio-grandense. Linha sucessória Quero registrar aqui, de forma ligeira, um dos trechos que mais me surpreendeu nesta biografia. Vem ele já na introdução, quando Diniz traça um breve quadro da linha sucessória da literatura gauchesca, nele enquadrando o nosso patrício. Hidalgo, Ascasubi, Estanislao del Campo e José Hernandez, todos eles lidos e recenseados pelo grande Jorge Luís Borges. Fiquemos com o exemplo de Hernandez que, no Martin Fierro, escreve: “Tuve en mi pago en un tempo, hijos, hacienda y mujer. Pero empecé a padecer, me echaron a la frontera, y que iba hallar al volver? Tan solo hallé la tapera”. Simões: “Eu tive campos, vendi-os; frequentei uma academia, não me formei; mas, sem terra e sem diploma, continuo a ser… Capitão da Guarda Nacional”. Leituras mais finas Diniz publica breves resumos de todos os contos e lendas de JSLN, apontando, para cada um deles, aqueles críticos que apresentaram as leituras mais finas, mais reveladoras, mais percucientes. Infância O livro de Diniz começa na ensolarada infância vivida no imenso sobrado da Estância da Graça, de onde Joãozinho só saiu aos 11 anos, para estudar na cidade. Lá, ele monta seu petiço Vermelhinho, brinca com o cordeirinho Romeu e bate os campos à caça de ninhos passarinhos com Simeão, seu irmão de leite, que o acompanhará até o fim da vida. Pão cotidiano O mais tocante trecho do livro, no qual o escritor Carlos Francisco mais burila seu texto, está, sem dúvida, nas últimas páginas, nos tenebrosos e patéticos meses finais, quando um empobrecido, adoentado e precocemente envelhecido Simões (50 anos) arranca do ramerrão jornalístico o pão cotidiano para ele, sua esposa, dona Velha, e para a filha Firmina. Maturidade Autor de muitas e divertidas peças de teatro quando jovem, o maior contista do Continente de São Pedro só produziu suas grandes obras depois dos 40 anos. Começa com o “Negrinho do Pastoreio” em 1908. Nos anos seguintes, criará Blau Nunes, o contador de causos do Pampa que servirá depois de molde para Guimarães Rosa fundir o seu Riobaldo. Ecologista antes do tempo Ao longo da vida, como já dissemos, o irrequieto Simões enfiou-se em todos os tipos negócios e dedicou-se por incontáveis anos à Biblioteca Pública, à União Gaúcha e à Associação Comercial. Foi precursor ecológico ao criar o Dia da Árvore, defendeu os animais de maus tratos e foi até mesmo um incentivador do ciclismo. Criou uma coleção de cartões postais sobre temas patrióticos e imaginou e editou a valiosíssima Revista do Centenário de Pelotas. Suas qualidades, segundo seus amigos, eram: generosidade, discrição e, principalmente, modéstia. Enfim, o sucesso Quando menino, por ser muito inteligente, todos previram um belo futuro para ele. Mas nada de grandioso que imaginaram para ele se realizou. Ou falando melhor: só se tornou realidade décadas depois de sua morte. Talvez possamos indicar 1949, quando sai a edição crítica preparada por Aurélio Buarque de Holanda para a editora Globo e sua carreira literária finalmente deslancha. Por fim, João Simões Lopes Neto tem a felicidade de ser biografado por aquele que talvez seja o mais apaixonado dos seus leitores. Aliás, o mais apaixonado dentre os inumeráveis integrantes das vastas legiões que hoje cultuam o criador de “Negro Bonifácio”, “No Manantial” e “Salamanca do Jarau”. Essas palavras são de Fausto José Leitão Domingues, outro rastreador de pistas deixadas pelo “rapsodo bárbaro”, que era como Manoelito de Ornelas se referia ao maior escritor pelotense. Eu não saberia definir melhor que Domingues – que desvendou a vida escolar do jovem João Simões – a ciclópica missão de Sica Diniz. Para os desatentos devemos lembrar que João Simões Lopes Neto foi um dos maiores escritores gaúchos e, no cenário nacional, o mais destacado dos autores de um ciclo que alguns historiadores da Literatura chamam de Regionalismo e outros de Pré-modernismo. *Jornalista e escritor Publicado originalmente em 13Horas. Foto: Divulgação Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.  

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O POVO QUE O MUNDO ESQUECEU

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O POVO QUE O MUNDO ESQUECEU
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Por CELSO JAPIASSU* Eu canto porque encanto Mas não sou santa De nenhum canto E se o mundo tem cantos Pra percorrer Percorro os cantos Querendo viver   (Canto Cigano)   Eles têm origem misteriosa, pois parecem ter vindo da Índia, mas alguns estudiosos dizem que não. Teriam vindo da antiga região da Caldéia, no território onde hoje se encontra o Iraque. É certo, no entanto, que há novecentos anos começaram a chegar à Europa percorrendo o caminho dos Balcãs, passando pela Bulgária. Hoje estão espalhados pelos vários países do Continente europeu e também pelo mundo. São quase invisíveis, perambulam pelas ruas das grandes cidades, as mulheres com seus vestidos longos abordam os turistas e oferecem a leitura e a revelação do futuro. Marginalizados e alvos de fortes preconceitos, procuram a subsistência da forma que lhes for possível, nem sempre por meios absolutamente legais. São os ciganos, também chamados nas diversas regiões do mundo de romi, boêmios, gitanos, romnichals, calons, calés ou calós.  O termo cigano é considerado por alguns deles como um insulto. Sua população na Europa é estimada em 11 milhões de pessoas, o que representa um número superior à população de Portugal ou o dobro dos habitantes da Noruega, por exemplo. Representam o maior grupo entre as minorias existentes.   Na França   Durante o governo do Presidente Nicolas Sarkozy, começaram a ser expulsos da França. O pretexto foram os protestos às vezes violentos que fizeram depois da morte pela polícia de um jovem cigano que não parou durante uma operação policial. Sob o protesto dos movimentos e partidos de esquerda, embora com o apoio de 79% da população, Sarkozy justificou a expulsão como uma ação de reintegração dos ciganos em seus países de origem. Um eufemismo. Como incentivo à saída da França, o governo ofereceu 300 euros a cada adulto e 100 euros a cada criança. Muitos aceitaram e depois retornaram ao país.   Na Alemanha   Considerados como uma raça inferior pela Alemanha nazista, seu destino pode ser de alguma forma comparado ao dos judeus. Fichados pela polícia, eram obrigados a usar no peito, como distintivo, um triângulo marrom. Foram perseguidos e mortos. Aproximadamente 500 mil foram assassinados nos campos de concentração do regime. Toda a sua história é uma sucessão de perseguições, abusos e de forte rejeição dos povos que lhes negam a integração.   Na Alemanha, ainda hoje lutam para serem aceitos numa sociedade que os discrimina. Num espaço entre o Parlamento e o Portão de Brandemburgo, em Berlim, foi erguido em 2012 o Memorial aos Sinti e Roma da Europa Trucidados sob o Nacional-Socialismo. “Sinti” é o termo usado para designar os membros de um dos três troncos em que se divide o povo cigano. Os outros são os “romi” e os “caló”. A língua falada pelos sinti é um dialeto da língua romani cujo vocabulário tem grande influência do alemão.   Na cerimônia de inauguração do memorial, a chanceler Ângela Merkel disse que "cabe à Alemanha e à Europa dar apoio ao povo roma, onde quer que ele viva, não importa qual seja o país".   Na Itália   Em 2018 o neofascista Matteo Salvini, enquanto Ministro do Interior, ordenou o recenseamento da população cigana para providenciar sua expulsão do território italiano. Segundo declarou, pretendia “verificar a presença de campos ilegais para elaborar um plano de expulsão”. Calcula-se que a Itália tenha em torno de 180 mil roma e sinti, uma das menores populações ciganas da Europa. Metade deles possui cidadania italiana e tem empregos nas diversas cidades e regiões do país.   A Associazione 21 Iuglio, de defesa dos direitos dos ciganos, denunciou uma manobra de Salvini, pois seu Ministério fez o levantamento de todos os campos de refugiados, ciganos ou não, com o objetivo de expulsá-los a todos. Sabe-se da obsessão dos partidos da extrema direita europeia, entre eles a Liga, de Salvini, em relação aos imigrantes e refugiados.   Na Hungria   “Eles estão a reproduzir-se como ratos, como parasitas”, foi o comentário mais replicado nas redes sociais húngaras em 2019, referindo-se aos ciganos. A Hungria é governada hoje pelo mais radical líder neofascista da Europa, Viktor Orbán, amigo do peito de Jair Bolsonaro e seus filhos. Ele conseguiu implantar uma ditadura de fato no país, fazendo uso e pretexto da epidemia do coronavírus.   Estimulado pelo governo, o racismo é crescente na Hungria e multiplicam-se os crimes relacionados ao preconceito. Há uma espiral de ataques violentos contra as comunidades ciganas. Há pouco, grupos neofascistas mataram seis pessoas dessa etnia, feriram vários, incendiaram casas e espalharam o terror em Budapeste.   A população cigana representa em torno de 10 por cento dos dez milhões de habitantes da Hungria. O governo Orbán tem aumentado a segregação, a começar das escolas primárias. Nevsija Durmish, responsável pelo programa de húngaro da Fundação de Educação Romani, diz que a segregação se manifesta de diversas formas. "Desde a colocação desproporcionada de alunos ciganos em escolas especiais para crianças deficientes, passando por aquelas destinadas apenas a ciganos, até à separação de turmas específicas de ciganos nas escolas comuns".   A história dos ciganos é uma saga de violência, fuga e perseguições. A União Europeia, nos seus fundamentos, não reconheceu a sua existência e muito menos os seus direitos. Deixou-os de fora do estado de bem-estar social, sem emprego, saúde, educação e liberdade de circulação. *Poeta, articulista, jornalista e publicitário Foto: Depositphotos Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.      

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Pesquisa DataSenado revela que maioria da população não tem posicionamento político

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Pesquisa DataSenado revela que maioria da população não tem posicionamento político
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Fonte: Agência Senado Uma pesquisa realizada este ano pelo DataSenado mostra que a maior parte da população brasileira com direito ao voto não se considera politicamente nem mais à direita, nem mais à esquerda, nem mais ao centro. Das mais de 21 mil pessoas entrevistadas, 40% não escolheu qualquer uma dessas alternativas, enquanto 29% se disseram mais à direita, 15% mais à esquerda e 11% mais de centro. O restante dos entrevistados disse não saber ou preferiu não responder. Na avaliação da diretora da Secretaria de Transparência do Senado, Elga Mara Teixeira Lopes, a pesquisa mostra que a maioria dos eleitores não se identifica com nenhum dos polos políticos. — Isso mostra que nessa campanha eleitoral municipal não é a coloração política, não é a polarização política o tema mais importante no cérebro do brasileiro. Para o eleitor, neste ano conta os problemas do município, a capacidade dos candidatos de apresentar solução e sua capacidade gerencial — avaliou a diretora. A avaliação de José Henrique de Oliveira Varanda, coordenador da pesquisa, segue na mesma linha. Para ele, os dados mostram que a população brasileira não está tão polarizada ideologicamente, pelo menos não em 2024, mesmo sendo um ano de eleições municipais. — Sobre o cenário político brasileiro, sobretudo agora nessas eleições municipais, o que essa pesquisa revela, majoritariamente, é que a população brasileira não é tão polarizada quanto se pensa ou se argumenta. Pelo menos não em relação a esses polos mais demarcados como pessoas de direita, pessoas de esquerda ou pessoas de centro — resume Varanda. Para o coordenador, os números mostram que essa parcela da população que prefere não se classificar de maneira polarizada pode influenciar de maneira significativa o resultado de eleições ao decidir seu voto de forma menos ideológica. — Uma parte relevante da população ou não é tão politizada ou não considera, não enxerga exatamente essas "caixinhas" — diz Varanda. Pesquisa DataSenado Panorama Político 2024: Posicionamento político do brasileiro O Instituto de Pesquisa DataSenado completa 20 anos neste ano e a pesquisa Panorama Político é feita desde 2008. Em 2024, foi realizada entre os dias 5 e 28 de junho, com 21.808 pessoas entrevistadas por telefone, em amostra representativa da população brasileira com 16 anos ou mais, ou seja, de quase 170 milhões de pessoas (169.840.184). Os dados divulgados foram calculados com nível de confiança de 95%, de acordo com o DataSenado. Foram entrevistadas pessoas dos 26 estados e do Distrito Federal em entrevistas com duração média de 13 minutos. O documento também mostra as porcentagens de escolha para cada unidade federativa. Recorte por gênero Majoritariamente, as brasileiras com mais de 16 anos não se identificam com nenhuma ideologia política (46%) ou se declaram de centro (9%). Entre elas, 14% se disseram mais à esquerda e 24% mais à direita. Entre os homens, 34% disseram se identificar mais com a direita, 15% com a esquerda, 12% com o centro e 34% com nenhuma das opções. — Há uma diferença marcante de gênero. Os homens se enquadram mais nos polos políticos, já que apenas 34% não se considera em nenhuma das três opções de posicionamento político e 5% não souberam ou preferiram não responder; enquanto nas mulheres esse número de pessoas menos interessadas em política vai para 46% e aquelas que não souberam ou preferiram não responder em 7% — diz Varanda. Recorte racial O posicionamento dos brasileiros que se autodeclaram de raça branca ou amarela é de 35% de independentes, 32% à direita, 15% à esquerda e 12% no centro. Somando pessoas pretas, pardas e indígenas, o resultado ficou em 26% à direita, 14% à esquerda, 9% de centro e 44% em nenhuma das opções. Renda  Quanto maior a renda, menor o percentual de eleitores que se consideram neutros com relação à ideologia política, segundo o DataSenado. Entre as pessoas com renda familiar de até dois salários mínimos, 47% não escolheu direita, esquerda nem centro, enquanto nas famílias com renda acima de seis salários mínimos, o percentual ficou em 21%.   Crenças Entre os católicos, 39% optaram pela neutralidade, 28% pela direita, 15% pela esquerda e 10% pelo centro. Entre os evangélicos, 35% se disseram mais à direita, 9% mais ao centro, 8% mais à esquerda e 42% nenhuma das opções. Entre os entrevistados que declararam ter outras religiões ou não ter religião, 21% escolheram esquerda, 21% escolheram direita, 13% ficaram no centro e 41% nenhuma das opções. Urnas eletrônicas Sobre as urnas eletrônicas, para 86% dos eleitores de esquerda e 36% dos eleitores de direita, os resultados das urnas eletrônicas são confiáveis; 61% dos eleitores à direita e 12% dos à esquerda disseram discordar que os resultados das urnas são confiáveis. Dos eleitores de centro, 67% disseram confiar nas urnas e 32% disseram não confiar. Entre os independentes, 61% confiam e 35% não confiam. — Os de esquerda confiam mais no resultado das urnas eletrônicas. Mais que o resto da população como um todo, enquanto os de direita discordam bastante dessa afirmação de que o resultado das urnas eletrônicas em eleições é confiável. (...) é um desafio para o nosso sistema eleitoral, para a nossa democracia, porque essa é uma crença que é importante, é basilar para apoiar a democracia, o pleito, o resultado e tudo que se desdobra depois disso — avalia Varanda. Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado) Fonte: Agência Senado Charge da capa: Ivan Cabral

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COMOVENTES RECORDAÇÕES DO BRASIL PROFUNDO

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COMOVENTES RECORDAÇÕES DO BRASIL PROFUNDO
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Por NUBIA SILVEIRA* Estou em crise de abstinência. Não de alimentos, doces, drogas lícitas ou iIícitas. Sinto falta das histórias interessantíssimas, contadas pela geóloga gaúcha Zara Gerhardt. Acabo de ler os dois livros que ela publicou pela Bestiário – Causos do Brasil Profundo – A Saga de Uma Geóloga e Mais Causos do Brasil Profundo – e queria mais. No silêncio da noite e da madrugada – momentos em que me dedico à leitura – venho intercalando as informações de um novo livro com as lembranças dos causos de Zara, a terceira mulher a se formar em Geologia no Rio Grande do Sul e a primeira, que foi trabalhar no interior do Brasil. Em 30 dos seus 45 anos de  trabalho fez parte de equipes, em que era a única mulher. Zara é uma pessoa educada, gentil, de fala suave, tranquila, segura. Nos conhecemos virtualmente como integrantes da Oficina de Escrita, ministrada pelo professor Luís Augusto Fischer. Ela e outros(as) colegas frequentam a Oficina há vários/alguns anos. No grupo há quem, como Zara, já tenha livros publicados: Ondina Fachel Leal, Miguel da Costa Franco, Maria Ângela Machado, Nelson Ribas, Ana Marson, Alfredo Fedrizzi e Jussara Nodari Lucena. No primeiro livro, publicado em 2019, a geóloga informa que, por três décadas, trabalhou “no  Brasil profundo: sertão de Goiás, caatinga do nordeste, Bahia e Amazônia”. Teve uma vida  nômade, da qual guarda muitas lembranças. “As coisas que acontecem no interior deste país desafiam a imaginação do mais criativo cidadão urbano.” Os inúmeros causos que ela selecionou para, gentilmente, dividir conosco, leitores e leitoras, que nunca enfrentamos o que ela enfrentou, confirmam que a realidade é muito maior do que a ficção. Para facilitar a vida de quem a lê, e que não tem qualquer intimidade com a pesquisa geológica, Zara organizou, em ambos os livros, um pequeno glossário. As perguntas que faço agora, não valem para geólogos(as). Apenas para nós, simples mortais. Você sabe, por exemplo, o que significa bamburrar? Não? Nem eu. Se não fosse a Zara traduzir o verbo, ficaria sem saber. É “encontrar por acaso ouro, diamantes ou outras pedras preciosas, e enriquecer”. Aqui vai o segundo teste: o que é rocha máfica? Você acha que esta rocha tem algo a ver com os mafiosos? Longe disto. É “uma rocha de cor verde escura, ou preta, formada por minerais ferro-magnesianos”. Os causos são surpreendentes, emocionantes, assustadores, tristes, comovedores, divertidos e esclarecedores de uma cultura desconhecida pelo resto do Brasil. Na época da ditadura, quando o governo proibiu bebida alcoólica e mulheres em Serra Pelada, Zara fez uma longa viagem, por vários estados, acompanhando um consultor estrangeiro. Um dos focos da viagem era justamente pesquisar “ouro em subsuperfície”, em Serra Pelada, e tentar compreender “a geometria deste depósito”. A geóloga foi autorizada a entrar naquela mina a céu aberto, tomada por milhares de garimpeiros. Para a segurança dela, foi montada uma megaoperação. Mas isso não impediu que aquele formigueiro de homens gritasse ao ver uma mulher descer do helicóptero que os levara até lá: “Liberou!”. Eles achavam que a entrada de mulheres no garimpo havia sido liberada. Zara conta: “ - Senti o arrepio quente do pavor! Imagine um coro de 40.000 garimpeiros, gritando: - Li-be-rou! Li-be-rou! O círculo de seguranças se fechou em torno de mim. O coro cessou e foi substituído por um silêncio total, só quebrado pelos chamados das aves: alguém explicou para o pessoal que eu era geóloga da empresa - o que era facilmente identificável de perto, haja vista o equipamento que eu carregava: lupa pendurada no pescoço e cinturão com martelo, bússola e caderneta de campo. Senti que todos os olhares convergiam sobre mim, o que me deu uma enorme sensação de desconforto.” A única mulher a furar a proibição de entrar em Serra Pelada, revela que acabou se emocionando com o tratamento recebido dos garimpeiros. “Ao me ver descendo na cava, aqueles homens rudes, imundos de terra e barro e seminus, que gritavam selvagemente há poucos minutos, se transformaram em pessoas educadas, delicadas e gentis.” Bom causo, não é mesmo? Aqui vai outro, só como tira-gosto: em Poço de Fora, um micropovoado, que Zara diz ter sido a sua Macondo, ela foi convidada por Marluce, uma das moradoras da vila, que trabalhava na casa- critório, em que moravam geólogos e técnicos, vindos de outros estados, a batizar sua filha, Lucimar. Feliz com o convite, e sem conhecer os costumes da terra, passou a comprar presentes para a afilhada. “De vez em quando eu levava para a menina, alguns presentes de roupinhas para uso diário, que raramente a via usando – imaginava que a comadre as guardava para ocasiões especiais.” Numa data festiva, que Zara imagina ter sido Natal, comprou uma boneca para Lucimar. A comadre insinuou que preferia um presente em dinheiro. Zara fez ouvidos moucos e viajou para as férias e o início de seu mestrado. Tempos depois, ao retornar à vila, foi visitar Marluce. “Entrei no quarto da afilhada que estava dormindo e me deparei com a boneca, ainda na embalagem de celofane sobre o roupeiro. Muito espantada, perguntei por que a menina não brincara com a boneca. - Mas é para brincar? – me respondeu a comadre.” Para se deliciar com as histórias vividas por Zara, o melhor é encomendar os dois volumes na livraria online livro.vc, porque eles estão esgotados. Esta livraria imprime as obras sob encomenda, ao custo de R$ 42,00 cada volume. No cartão de crédito, o pagamento pode ser feito em até seis vezes, sem juros. Vale a pena. Ficamos à espera do terceiro volume. Zara me confirmou que ele chegará logo. *Jornalista Foto: Divulgação Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.  

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