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A desigualdade nos Estados Unidos

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A desigualdade nos Estados Unidos
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Por WAGNER SOUSA* Uma das características das mudanças engendradas na economia política dos países ricos, desde o início da década de 1980, tem sido a concentração de renda. Do “consenso keynesiano”, que vigorou do pós-guerra ao fim dos anos 1970, (o republicano Richard Nixon disse, certo momento, “somos todos keynesianos”), que tinha no investimento público e adição dos ganhos de produtividade aos salários, duas de suas principais “âncoras”, a economia passou a ser gerida tendo como premissas de sua eficiência a redução do papel do Estado, e portanto do investimento público, e a “financeirização” da gestão da riqueza, na qual os lucros de curto prazo passaram a ditar a estratégia empresarial. Assim, a contenção de gastos das empresas, com demissões e redução de custos salariais, está, desde então, no cerne destes planos. Na virada dos anos 1970 para a década de 1980 viu-se aumento brutal da taxa de juros pelo Federal Reserve, então dirigido por Paul Volcker, no intuito de domar a inflação e reafirmar o papel do dólar como moeda reserva mundial e do lugar central do sistema financeiro dos EUA no mundo. A “revolução conservadora” de Ronald Reagan, no entanto, tirou a economia norte-americana da recessão com um “keynesianismo militar”, resultado de forte expansão dos gastos de defesa. Este investimento na capacidade bélica cumpriu a função de dar sustentação necessária para a recuperação da economia e debilitar a economia da URSS provocando o colapso de seu regime político, um objetivo geopolítico, portanto. Reafirmação da supremacia da moeda e das armas dos EUA em nível global compunham o processo muito bem descrito no artigo “A retomada da hegemonia norte-americana”, obra da saudosa professora Maria da Conceição Tavares. A vitória norte-americana na Guerra Fria, com o fim da URSS e do bloco socialista e a reunificação da Alemanha fez com que a “hegemonia unipolar” dos EUA se estabelecesse a partir dos anos 1990 e com esta a consolidação do chamado “neoliberalismo” tendo como seus principais objetivos as liberalizaçôes comercial e financeira, as privatizações e desregulamentações das normas vistas como “empecilhos” ao investimento privado. A economia das “bolhas de ativos” com inflação dos valores de ações (a “bolha pontocom” dos anos 1990) e imóveis (“bolha imobiliária” dos anos 2000) substituiu a dinâmica anterior da economia com crescimento contínuo dos salários reais e “aburguesamento” da classe trabalhadora e sua integração à classe média. O proletariado norte-americano viu seus empregos industriais escassearem ao se deslocarem para o exterior, pela busca da indústria por mão-de-obra mais barata. Novos empregos surgiram na “economia de serviços”, porém, na maioria das vezes, com remuneração pior, condições de trabalho precarizadas, em situações que variam das jornadas extenuantes aos “part time jobs”, que fazem com que muitos trabalhadores trabalhem menos horas do que gostariam e ganhem, em consequência, salários menores. O trabalho nos Estados Unidos se tornou, em grande medida, mais precário, instável e com remuneração menor. O filósofo britânico John Gray em “Falso Amanhecer – os equívocos do capitalismo global” descreveu a realidade do capitalismo norte-americano de fins dos anos 1990: “É interessante notar que essas ansiedades não são um efeito colateral da estagnação econômica. Ao contrário. Durante os últimos quinze anos, a economia norte-americana manteve-se em uma expansão quase contínua. A produtividade e a riqueza nacional cresceram firmemente. A reestruturação da indústria americana deu-lhe condições de recuperar mercados que se pensava estarem definitivamente perdidos para o Japão. Como na Inglaterra de meados da era vitoriana, a liberalização dos mercados na América do final do século 20 construiu um espetacular- e não reproduzível – boom econômico. Ao mesmo tempo, a renda da maioria dos americanos estagnou. Mesmo para aqueles cujas rendas aumentaram, o risco econômico pessoal cresceu visivelmente. A maioria dos americanos tem pavor de um distúrbio econômico do qual – suspeitam – nunca mais se recuperarão. Poucos pensam agora em termos de uma ocupação vitalícia. Muitos preveem, não sem razão, que suas rendas cairão no futuro. Estas, evidentemente, não são circunstâncias que alimentam uma cultura de satisfação (GRAY, 1998, p. 146)”. Também analisando esta problemática, o economista francês Thomas Piketty, em “O Capital no século XXI”, obra de 2013 que teve grande impacto no debate global sobre a crescente desigualdade, menciona, sobre a concentração de riqueza no extrato do 1% mais rico da população: “Nos anos 1970, a parcela do centésimo superior na renda nacional era muito próxima nos vários países. Ela estava entre 6 e 8% nos quatro países anglo-saxões estudados, e com os Estados Unidos não era diferente, os americanos eram até ligeiramente ultrapassados pelo Canadá, que atingia 9% (...) Trinta anos depois, no começo dos anos 2010 a situação é totalmente diferente. A parcela do centésimo superior atingiu quase 20% da renda nacional nos Estados Unidos (...).” (PIKETTY, 2013, p. 307). Piketty explica que nos países anglo-saxões a concentração de renda foi mais pronunciada do que na Europa continental e no Japão, onde também ocorreu. No Reino Unido e no Canadá o centésimo superior passou a ter entre 14-15% da renda nacional e na Austrália entre 9-10%. Japão e França passaram de 7% para 9%, Suécia, de 4% para 7% e Alemanha de 9% para 11%. (PIKETTY, 2013, p. 308). Em todo o mundo rico houve concentração de renda no topo da pirâmide social, mas foi nos EUA onde aconteceu com mais intensidade. Todo esse processo de polarização de renda e, como consequência, polarização social, visível na paisagem de muitas partes do interior dos EUA, com suas fábricas abandonadas e cidades outrora pujantes, decadentes, alimentou forte ressentimento social daqueles que “ficaram para trás”. A candidatura de Donald Trump, desde quando despontou nas primárias republicanas para a eleição de 2016 e o seu mote de “fazer a América grande novamente” tem relação com esta frustração das massas, especialmente nos eleitores brancos pobres, de que as oportunidades econômicas e o caminho para a ascensão social estavam disponíveis e não mais estão. A crescente polarização social, portanto, vem alimentando a extrema-direita e enfraquecendo consensos existentes na sociedade e na esfera política a respeito de políticas públicas internas e da política externa. John Gray trata, no livro aqui mencionado, do apelo nacionalista da pré-candidatura de Patrick Buchnann pelo Partido Republicano ou da candidatura independente de Ross Perot, que apareceram nos anos 1990 como sintomas desta insatisfação, mas então avaliava como inviáveis candidaturas tão críticas ao status quo bipartidário. Como sabemos, era questão de tempo. *Wagner Sousa é Mestre em Sociologia pela UFPR, Doutor em Economia Política Internacional pela UFRJ. Pós-Doutorando em Economia Política Internacional pela UFRJ. Idealizador e Editor do site América Latina www.americalatina.net.br. Colaborador do boletim Observatório do Século XXI Publicado originalmente no Observatório Internacional do Século XXI (N°8 – Novembro/2024), que é uma publicação do Grupo Foto de capa: Marcelo Camargo/Agência Brasil Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.  

Cultura

Programas – de 21 a 29 de Novembro

Curtas

Programas – de 21 a 29 de Novembro
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Por LÉA MARIA AARÃO REIS* Parar o genocídio. O silêncio mata! É preciso reagir aos novos e terríveis massacres israelitas, nos últimos dias 19 e 20, no norte, centro e sul da Faixa de Gaza! Esses são os títulos das correspondências da mídia Europalestina com sede em Paris, aos jornais europeus. “Pelo menos 22 palestinos, segundo relatório provisório, foram assassinados na sequência de um bombardeamento de duas casas nos bairros de Al-Sabra e Jabalia Al-Balad, em Gaza”. ”O médico Salem Mohammed Joudah foi morto nesse atentado e o seu assassinato ocorre um ano depois de ter perdido a mãe, as irmãs, a esposa e os filhos em outro ataque israelita à sua casa, no início do genocídio. Essa família foi retirada do registro civil”. (…) “Dezenas de crianças levadas ao hospital após o bombardeio israelense contra um prédio residencial no campo de refugiados de Al-Bureij”. E assim por diante. Como se vê, o silêncio mata. Outro importante programa dessa semana é essa informação: “Relatório final da Polícia Federal, após quase dois anos de investigações, segundo algumas fontes, terá mais de 800 páginas e vai propor que o ex-presidente, tido como peça-chave na trama golpista, seja responsabilizado criminalmente pelos crimes de golpe de Estado, abolição violenta do Estado democrático de direito e organização criminosa”. Mais um programa: ecoar e reforçar a importante Nota da Associação Brasileira de Imprensa, a ABI: “A ABI exige prisão de todos os golpistas”, e defende a rigorosa punição de todos os militares das Forças Armadas envolvidos na tentativa de assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes. “Diante da ameaça ao Estado Democrático de Direito, a Nação exige a prisão de todos os envolvidos na conspiração palaciana, seja qual for a patente ou o cargo”. Ou seja: expor, denunciar e punir, não apenas os operadores dos atentados mortais planejados, mas, sobretudo os mandatários e financiadores das ações criminosas. Um outro programa pertinente é refletir na declaração do presidente Lula ao encerrar a reunião do G20 e saudando a visita do presidente Xi Jinping ao Brasil: “Jamais venceremos o flagelo da fome em meio à insensatez das guerras”. O filme Kasa Branca, de Luciano Vidigal, inspirado em histórias reais, acompanha Dé, morador da periferia do Rio de Janeiro, na Chatuba, que passa a viver com a avó, Dona Almerinda, diagnosticada com Alzheimer e com pouco tempo de vida. O filme tem estreia internacional no Festival de Torino, na Itália, no próximo dia 28, com o ator Ramon Francisco presente junto com Vidigal, que afirma: “É um filme feito do povo e para o povo. Afinal, é o filho da empregada doméstica que tá fazendo cinema.” Atenção a esse filme. De olho em outra estreia: O Clube das Mulheres de Negócios, da premiada diretora Anna Muylaert, anunciado como “uma mistura de comédia e suspense”. Também estará nos cinemas no próximo dia 28. Estreou na Mostra Ambiental de Cinema do Recife o doc Os Sonhos de Pepe, de Pablo Trobo. Dia 5 de dezembro o filme entra em cadeia nos cinemas. No Estação Botafogo, no Rio, até o próximo dia 28, Mostra Cinemina, exclusivamente com produções de diretoras brasileiras. No dia 27, Um Dia Antes de Todos os Outros, de Valentina Homem e Tati Bond. As vencedoras da 17ª edição do Prêmio São Paulo de Literatura, que procura estimular o surgimento de novos talentos, este ano foram Luciany Aparecida e Eliane Marques. A primeira, com Mata doce (Ed. Alfaguara) e Eliane com Louças de Família, prêmio de melhor romance de estreia (Ed. Autêntica). Dia 25, mais um ato em defesa do mandato do deputado federal Glauber Braga, do PSOL do Rio de Janeiro, que corre o risco de ser cassado por perseguição política no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Dessa vez é no Circo Voador, na Lapa, com vários parlamentares presentes, e representantes de movimentos sociais, sindicatos, e estrelas da arte e da cultura da cidade. Coleção Desafios da Leitura agora com o recente volume O Cérebro leitor, da neuropsicóloga norte-americana Maryanne Wolf, que se encontra nas principais estantes das livrarias. A mesma autora de O Cérebro no mundo digital revela as relações entre o desenvolvimento do cérebro e da leitura. Como as pessoas aprendem a ler e a escrever; e como o desenvolvimento dessas habilidades transformou o cérebro e o próprio mundo. Maryanne Wolf é especialista em desenvolvimento infantil (Editora Contexto). Na contramão, programa com informação decepcionante: 53% da população brasileira não tem o hábito da leitura e/ou não está interessada em livros. O pior é que nos últimos três meses essa percentagem aumentou. A pesquisa 6ª Edição de Retratos da Leitura no Brasil é realizada pelo Instituto Pró-Livro com incentivo fiscal da Lei Rouanet. É a primeira vez que o levantamento conclui que a maioria dos brasileiros não leem livros. Na semana passada, associações e sindicatos representantes de profissionais do setor audiovisual enviaram carta ao presidente Lula apontando dificuldades enfrentadas pela área e criticando a condução das políticas culturais pela atual gestão do Ministério da Cultura. A Associação Brasileira dos Autores Roteiristas (Abra) e a Associação Brasileira de Cineastas (Abraci) destacam a ausência de uma política pública que reconheça o audiovisual como uma indústria estratégica. “A ausência de uma política que reconheça o setor audiovisual como uma atividade industrial estratégica está colocando as empresas do setor em uma situação de desvantagem no mercado global, e afetando trabalhadores, técnicos, talentos criativos e roteiristas”, afirmam as entidades. Uma boa notícia: “Para quem gosta de poesia e cinema (quem não?), acaba de chegar às livrarias um volume precioso: O cinema de perto, que reúne textos em prosa e verso de Carlos Drummond de Andrade dedicados ao assunto”, anuncia o crítico de cinema José Geraldo Couto, em A Terra É Redonda. O cinema de perto, livro póstumo de Drummond, é organizado pelo neto do poeta, Pedro Augusto Graña e pelo escritor e editor Rodrigo Lacerda. Com crônicas e poemas publicados entre 1920 e 1986, ou seja, desde os 18 até os 84 anos de idade do autor (Editora Record) Em São Paulo, na Sala do Conservatório, na Praça das Artes, no próximo dia 24, show do duo formado por Heloísa Fernandes ao piano, e Toninho Carrasqueira na flauta, celebrando a riqueza da música instrumental brasileira. Às 11 horas, com entrada gratuita. Ainda estamos aqui: Indicado pela Academia Brasileira de Cinema para representar o Brasil na disputa pelo Oscar 2025 na categoria de melhor filme internacional, Ainda estou aqui, de Walter Salles, estrelado por Fernanda Torres (indicada na categoria Atriz) e Selton Mello, Fernanda Montenegro e grande e eficiente elenco, chegou a fazer mais de um milhão de espectadores em apenas onze dias de exibição. E Marcelo Rubens Paiva já entregou à Editora Companhia das Letras os originais do seu novo trabalho, O novo agora. Pai de Joaquim e Sebastião, de dez e sete anos, ele recebeu do editor Luiz Schwarcz a encomenda de escrever um livro sobre paternidade. O novo agora começa onde Ainda estou aqui termina: “Não é mais um livro sobre a minha mãe. É sobre o que veio depois: as manifestações de 2013, o governo Bolsonaro, a pandemia de covid-19…”, ele enumera. Lançamento previsto para o início de 2025. Cachorros, livro do jornalista Marcelo Godoy publicado esse ano, voltou a frequentar a mídia. Nele, é revelada a história de um dos maiores espiões dos serviços secretos dos militares do tempo da ditadura de 64. Severino Deodoro de Mello (nome de guerra, “Vinícius”), militante do Partido Comunista Brasileiro, se tornou um dos mais importantes espias cooptados durante os anos de chumbo. No volume, é relatado como o deputado Rubens Paiva foi espionado em uma operação conjunta da Aeronáutica com o Ministério das Relações Exteriores, e em seguida entregue ao Exército – o responsável pelo seu desaparecimento; e morte. Godoy é autor também de A Casa da Vovó: Uma Biografia do Doi-Codi (1969-1991), centro de sequestro, tortura e morte da ditadura civil-militar. Programa em Porto Alegre: visitar a nova mostra da Fundação Iberê Camargo, às margens do rio Guaíba, na zona sul da cidade, celebrando 110 anos do artista que morreu em 1994, aos 79 anos, deixando um acervo de sete mil obras. A bela exposição vai até 9 de março de 2025. O volume Machado de Assis em Quadrinhos está nas estantes de frente de várias livrarias cariocas. Uma adaptação do trabalho do bruxo do Cosme Velho pelo ilustrador paulista Caeto, cujo primeiro romance gráfico é Memória de Elefante. Frase (ou meme) que atravessa programas, noticiário, diálogos, conversas, encontros e, sobretudo, advertências, esta semana: “Ainda estamos aqui”. E até mesmo o presidente Lula: “Tentativa de envenenar eu e o Alckmin não deu certo; estamos aqui”.   *Léa Maria Aarão Reis é jornalista. Ilustração de capa: Marcos Diniz Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.  

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Carta aos Evangélicos

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Carta aos Evangélicos
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Por J. CARLOS DE ASSIS* Talvez vocês não estejam diretamente informados disso, mas podem acreditar que a bancada evangélica da Câmara, no mesmo dia em que ajudou a impedir a votação de um projeto para agravar a lei contra a pedofilia, apoiou um  outro que pretende liberar todo tipo de jogos no Brasil. Com isso, seus filhos estão expostos a dois riscos morais de extrema gravidade: o estímulo indireto às práticas sexuais com crianças, e um vício que afeta justamente o povo pobre que gasta o pouco que tem para tentar a sorte num jogo de azar que só beneficia ricos. Talvez vocês não saibam também que, apenas em agosto, pessoas que ganham o  Bolsa Família de R$ 684 mensais, dinheiro que dificilmente dá para uma família viver - considerando os preços dos produtos alimentares cobrados atualmente nos supermercados -, gastaram cerca de R$ 3 bilhões com jogos eletrônicos. Isso dá ideia do desespero dos pobres ao ponto de trocarem o pouco dinheiro garantido que ganham do Governo pelas fortunas milionárias imaginárias que a propaganda dos jogos dos ricos lhes empurra goela abaixo. Dirijo-me principalmente aos evangélicos de “coração puro”, que, entre vocês, imitando Jesus, estendem sua mão para proteger as criancinhas, às quais ele prometeu o Reino dos Céus. Jesus também se colocaria frontalmente contra a exploração de jogos de azar que favorecem os ricos, em detrimento dos pobres, porque ele sabia claramente que o jogo apenas promete uma falsa riqueza, em troca do pouco dinheiro conquistado com sangue e suor pelos trabalhadores e trabalhadoras pobres. Escrevo principalmente para adverti-los sobre os candidatos a cargos públicos que vão escolher nas próximas eleições gerais em 2026. Pensem bem. Vejam quais são seus partidos. Na internet, a que seus filhos adolescentes poderão ter acesso, verificarão quais deles estão indiretamente a favor da pedofilia, e quais estão contra. E quais são pelo jogo sujo que já escraviza milhões de brasileiros pobres, ou são contra ele. Então escolham os deputados federais e os senadores em que vão votar, sobretudo os que vão tentar a reeleição, pois estes são os constituirão o Congresso depois de 2026 e definirão as leis que os regerão até 2030. Tenho vários amigos evangélicos, sinceros, dedicados à causa de Deus. Acompanho, porém, pela televisão e em conversas particulares, alguns que se utilizam de uma falsa “palavra de Deus” para achacar gente pobre e se enriquecerem pessoalmente. Perguntei a uma pastora de Brasília, que indiscutivelmente está do lado “puro” da igreja, porque os pastores responsáveis e sinceros não denunciam os hipócritas. Ela me respondeu com simplicidade: “Não nos metemos com outras igrejas ou pastores. Terão que dar conta de seus atos quando se apresentarem diante de Deus!” Aqui na terra, pastores que se dedicam principalmente à política, como Silas Malafaia, não mostram qualquer sinal de receio quanto ao Julgamento Final. Literalmente vendem a seus fiéis, por alto preço, a entrada no Paraíso. Nas igrejas de Malafaia, as contribuições sugeridas aos frequentadores, indicadas pessoalmente pelo pastor, são apresentadas num quadro bem visível e começam com mil reais e vão abaixando até 50 reais. Nesse ponto ele diz: “Quem não tiver 50 reais para a oferta pode sair imediatamente da igreja.” Na Universal, onde as contribuições indicadas pelos pastores começam com 500 reais e baixam também até 50, o achaque se dá através da venda de “produtos” que supostamente trazem benefícios materiais fantásticos aos fiéis, além dos “espirituais”. Dentre eles, encontram-se tijolos (para obter a ajuda de Jesus a fim de comprar ou construir uma casa), pedaços “milagrosos” de gravatas do pastor, toalhinhas, flores e outros produtos “abençoados” que beneficiariam os compradores com curas e outros milagres. . Pode-se pagar esses “produtos” de qualquer forma: Pix, cartão de crédito, transferência bancária ou em dinheiro. Assim, sequiosos pelas contribuições, facilitam a vida dos fiéis para os pagamentos.  Podem também doar bens materiais em troca dos benefícios prometidos, espirituais e materiais. Sou íntimo de uma senhora que vendeu sua única televisão para dar o dinheiro para uma igreja de Malafaia. Ela é fascinada por suas pregações. Não adiantou que eu ponderasse que ela precisava ver se tudo aquilo não passava de uma trapaça política demagógica, em nome de Jesus, para extrair  dinheiro do povo ingênuo, sobretudo pobre. Tudo isso torna toda a sociedade extremamente vulnerável do ponto de vista político. É que muitos de vocês, com grande boa fé, não procuram saber quais os verdadeiros propósitos dos pastores “podres”, que escondem suas intenções que parecem moralmente conservadoras para os induzirem, na prática, a aceitarem um conservadorismo político que os impede de se beneficiar do desenvolvimentismo econômico. Os pastores que se tem enriquecido barbaramente no Brasil, acumulando patrimônios pessoais altíssimos (o Estado de S. Paulo mostrou uma lista deles), são aparentemente conservadores em moral, mas geralmente ignorantes em economia. Assim, aliam-se no Parlamento à direita ou à extrema direita econômica e, pela força de seu número, contribuem decisivamente para barrar quaisquer políticas no interesse real do povo. Muitos evangélicos ingênuos, como eu soube, participaram da quebradeira da Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023. Um pastor tentou me convencer posteriormente que deveriam ser anistiados, pois, na verdade, a maioria deles teria sido atraída para Brasília em nome da fé e sem saber exatamente qual era o propósito da marcha. Agora, com as investigações da Polícia Federal, ninguém pode ignorar qual era: matar Lula, Alckmin e o ministro do Supremo, Alexandre de Moraes, mergulhando o País no caos. Obviamente, se isso não os chocou, é porque não têm qualquer respeito pela vida humana e pela tranquilidade e paz no País. É muito difícil convencê-los dos riscos para o Brasil das atitudes ingênuas que assumem sob influência da religião. A maioria daqueles aos quais  essa carta se dirige não a lerá, mesmo porque não tem acesso à internet, onde está sendo publicada; os que a lerem provavelmente não concordarão com ela, pois estão obcecados pelos sermões da direita e da extrema direita dos “pastores políticos” , onde impera a mentira descarada para enganar o povo; e os poucos que concordarem com ela serão uma minoria insignificante, que não terá peso para mudar a composição do Congresso em 2026 a favor do desenvolvimentismo. Com  isso, o País continuará subjugado ao jogo reacionário do Centrão, onde os evangélicos têm peso significativo, a não ser que ao menos parte deles abra os olhos para ver o que está acontecendo no Brasil por fora das igrejas dominadas pelos “pastores políticos”, que podemos chamar também de “sujos”.   *J. CARLOS DE ASSIS é jornalista, economista, doutor em Engenharia de Produção, professor aposentado de Economia Política da UEPB, e atualmente economista chefe do Grupo Videirainvest-Agroviva e editor chefe do jornal online “Tribuna da Imprensa”, a ser relançado brevemente.    Foto de capa: Mariana Aldano/TV Globo Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.      

Politica

Golpistas indiciados pela PF, inclusive Bolsonaro

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Golpistas indiciados pela PF, inclusive Bolsonaro
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PF indicia Bolsonaro, Braga Netto, Heleno, Ramagem, Valdemar e mais 32 em inquérito sobre tentativa de golpe Notícia do G1 Ex-presidente e seu candidato a vice na eleição de 2022 vão responder por tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito, golpe de Estado e organização criminosa. General Augusto Heleno, Alexandre Ramagem e Valdemar da Costa Neto foram indiciados pelos mesmos crimes. A Polícia Federal indiciou nesta quinta-feira (21) o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e ex-integrantes de seu governo por abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa (veja abaixo as penas para cada um desses crimes). O indiciamento ocorre no inquérito que investiga a tentativa de golpe de estado para manter Bolsonaro no poder mesmo após a derrota para Lula (PT) nas eleições de 2022. Desde o ano passado, a PF investiga a tentativa de golpe de Estado e iniciativas nesse sentido que ameaçaram o país entre 2022 e 2023, após Lula ter sido eleito — vencendo Bolsonaro nas urnas — e até pouco depois de ele ter tomado posse. O relatório final do inquérito, que tem mais de 800 páginas, foi concluído no início da tarde e vai ser entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF). Caberá à Procuradoria-geral da República (PGR) denunciar ou não os indiciados ao Supremo. Caso a Corte aceite a denúncia, eles se tornam réus e serão julgados. Veja as penas previstas: Golpe de Estado: 4 a 12 anos de prisão; Abolição violenta do Estado democrático de Direito: 4 a 8 anos de prisão; Integrar organização criminosa: 3 a 8 anos de prisão. Veja a lista de todos os indiciados: AILTON GONÇALVES MORAES BARROS ALEXANDRE CASTILHO BITENCOURT DA SILVA ALEXANDRE RODRIGUES RAMAGEM ALMIR GARNIER SANTOS AMAURI FERES SAAD ANDERSON GUSTAVO TORRES ANDERSON LIMA DE MOURA ANGELO MARTINS DENICOLI AUGUSTO HELENO RIBEIRO PEREIRA BERNARDO ROMAO CORREA NETTO CARLOS CESAR MORETZSOHN ROCHA CARLOS GIOVANI DELEVATI PASINI CLEVERSON NEY MAGALHÃES ESTEVAM CALS THEOPHILO GASPAR DE OLIVEIRA FABRÍCIO MOREIRA DE BASTOS FILIPE GARCIA MARTINS FERNANDO CERIMEDO GIANCARLO GOMES RODRIGUES GUILHERME MARQUES DE ALMEIDA HÉLIO FERREIRA LIMA JAIR MESSIAS BOLSONARO JOSÉ EDUARDO DE OLIVEIRA E SILVA LAERCIO VERGILIO MARCELO BORMEVET MARCELO COSTA CÂMARA MARIO FERNANDES MAURO CESAR BARBOSA CID NILTON DINIZ RODRIGUES PAULO RENATO DE OLIVEIRA FIGUEIREDO FILHO PAULO SÉRGIO NOGUEIRA DE OLIVEIRA RAFAEL MARTINS DE OLIVEIRA RONALD FERREIRA DE ARAUJO JUNIOR SERGIO RICARDO CAVALIERE DE MEDEIROS TÉRCIO ARNAUD TOMAZ VALDEMAR COSTA NETO WALTER SOUZA BRAGA NETTO WLADIMIR MATOS SOARES Veja íntegra da nota da PF sobre o indiciamento: A Polícia Federal encerrou nesta quinta-feira (21/11) investigação que apurou a existência de uma organização criminosa que atuou de forma coordenada, em 2022, na tentativa de manutenção do então presidente da República no poder. O relatório final foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal com o indiciamento de 37 pessoas pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. As provas foram obtidas por meio de diversas diligências policiais realizadas ao longo de quase dois anos, com base em quebra de sigilos telemático, telefônico, bancário, fiscal, colaboração premiada, buscas e apreensões, entre outras medidas devidamente autorizadas pelo poder Judiciário. As investigações apontaram que os investigados se estruturaram por meio de divisão de tarefas, o que permitiu a individualização das condutas e a constatação da existência dos seguintes grupos: a) Núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral; b) Núcleo Responsável por Incitar Militares à Aderirem ao Golpe de Estado; c) Núcleo Jurídico; d) Núcleo Operacional de Apoio às Ações Golpistas; e) Núcleo de Inteligência Paralela; f) Núcleo Operacional para Cumprimento de Medidas Coercitivas   Com a entrega do relatório, a Polícia Federal encerra as investigações referentes às tentativas de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Originalmente publicado pelo site G1, em 21/11/2024 Foto da capa: Bolsonaro preso - Montagem/Redes Sociais

Opinião

Por que se Calam?

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Por que se Calam?
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Por ADELI SELL* Diante do vasto noticiário sobre as tentativas de assassinar o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin, o Ministro do STF. Alexandre de Moraes ouvimos poucas vozes das autoridades. Por que se calam? Mas vem do Sul, do governador rio-grandense Eduardo Leite (PSDB) uma voz de lucidez. Ele defende ainda uma "punição rigorosa" aos envolvidos no plano. "Comprovados os indícios, todos os envolvidos nesta trama, em todos os níveis, precisam receber uma punição rigorosa. Qualquer ação que vise desestabilizar nosso sistema democrático deve ser severamente combatida", acrescentou o tucano. Na contramão da democracia Poucos discursos, alguns do PT e Boulos, e a contramão dos representantes do fascismo apareceu. Falam de “conversa fiada” o Coronel Chrisóstomo (PL-RO), Luiz Lima (PL-RJ), e é claro o gaúcho pimpão Bibo Nunes, também do PL. Pois, a coragem destes parlamentares de não repudiarem, mas defender o indefensável. Pior de tudo isto, foi a fala do filho de Bolsonaro no Senado, Flávio Bolsonaro, que ameaçou mais uma vez Alexandre de Moraes, caso não houvesse anistia para os golpistas de 8 de janeiro. Sem anistia Faço eco ao Ministro Alexandre quando diz que o nível da "agressividade e ódio dessas pessoas, que não sabem diferenciar a pessoa física da instituição". Estes são os males que assolam o país desde o golpe contra a presidente Dilma. A discordância das instituições levando agressivamente aos ataques de ódio às pessoas, algo só visto nos tempos do nazismo na Alemanha. A América Latinha vivera este terror de Estado, dos bandos de assassinos em nome de suas posições, contra a democracia no Chile, Argentina, Uruguai e Brasil.   “Homo res sacra homini” Neste momento tenebroso de descobertas de golpes e planejamento de mortes de um presidente leito, temos que nos lembrar do General Flores da Cunha, do Rio Grande do Sul. Ao saber da morte de Adão Latorre, o adversário maragato que ficou famoso pelas degolas de 1893-95, Flores da Cunha tinha como princípio o respeito pelas pessoas: “o homem é sagrado para o homem”. Ordenou que seu corpo fosse respeitado. E outro gesto nobre dele foi com a rendição de Honório Lemes, este iria lhe entregar as armas, ao que Flores teria dito:        - “Não quero suas armas, general Lemes. Não se tira as armas de um general gaúcho”. Ou seja, “o homem é sagrado para o homem”. Por que se calam? Por isso, volto à carga, com uma pergunta que qualquer democrata em outros tempos faria: “por que se calam”?   *Adeli Sell é professor, escritor e bacharel em Direito. Foto de capa: Francisco Wanderley Luiz, 59, é chaveiro e foi candidato a vereador, em 2020, pelo Partido Liberal (PL) em Rio do Sul (SC). (Foto: Reprodução) Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.  

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Reflexões de uma Comunista – Novembro 2024

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Reflexões de uma Comunista – Novembro 2024
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Por SILVANA CONTI* Escrevi este desabafo - poema ao longo do tempo nas lutas. Compartilho neste novembro, acreditando que nosso campo político precisa construir cada vez mais a unidade na luta, com pautas da classe trabalhadora que dialoguem com as necessidades concretas e objetivas para melhorar a vida do povo. Precisamos estar juntas/os e do lado certo do leito da luta.   Viva a classe trabalhadora! “A fome, o desemprego, a insegurança alimentar, a violência, têm cara, cor e gênero em nosso país. Às vezes grito, empurro a porta com força, choro baixinho e bem alto, mas não me conformo, sigo sempre na luta. Tantas perguntas que não querem calar! Meu peito, meus pensamentos, meus sonhos, se misturam no concreto e pelo ar. Racismo mata e machuca! Machismo destrói e inculca que somos mercadorias, objetos, abjetas, reféns da hipocrisia, da sociedade e do capital. A opressão de classe continua implacável, injusta, abominável marca que divide os “bons” e os “maus”. Qual a medida da dignidade? Porque uns tem palácios e muitos(as) não tem pão? Binarismo selvagem que tira a dignidade, o chão, mata os sonhos e as vontades, capitalismo cruel. Racismo disfarçado... LGBTfobia velada, que encaixota, suspende, prende mentes e corações dentro de armários, dentro de prisões. Tantas perguntas, tantas mentiras, tantas misérias, tantas histórias mal contadas. Os navios negreiros não transportaram escravas/os, e sim mulheres e homens cheias/os de ciência, cultura, criatividade que foram arrancadas/os, roubadas/os do seu continente, e escravizadas/os. O ministério das humanidades adverte: Os direitos sexuais e reprodutivos fazem bem à saúde. “Respeitem meus cabelos, brancos/as”. O armário traz sofrimento, mas quem está lá também precisa ser respeitado/a. Quem é racista: Assuma! Reveja seus conceitos e ações. Machistas de plantão: Sempre é tempo de se recuperar desta doença terminal. Por fim, ou para começar: Precisamos de unidade na luta para avançar! A escala de trabalho 6×1 carrega marcas de classe, gênero e raça, afetando especialmente as trabalhadoras em condições mais precárias e com remunerações mais baixas, são mulheres negras e periféricas. Essas mulheres, ainda são sobrecarregadas com o trabalho doméstico e de cuidado familiar, são privadas de descanso, qualificação profissional, lazer, educação e autocuidado, o direto de sonhar lhes é negado. Capitalismo – desumano e cruel! Vamos jogar os preconceitos fora! Vamos unir nossas bandeiras! Vamos ampliar nossas fronteiras! Quem sabe, cantamos a mesma música? Quem sabe, damos um grito de liberdade? Quem sabe a luta pelo socialismo se torna a bandeira da nossa unidade! Vamos ocupar as ruas, as redes, das periferias ao centro! Bora transformar e construir junto com o povo! Como dizia nosso grande camarada João Amazonas: “Tendo a unidade como bandeira da esperança, e a chave da nossa vitória.”     Algumas reflexões sobre o trabalho e o papel do Estado O trabalho como categoria que funda o ser social está presente em qualquer sociedade, porém, o que vai alterar não é a base ontológica dele, mas a forma que se configura em cada sociedade ao longo da história. O trabalho em Marx, apresenta uma dúplice determinação: é trabalho útil concreto, destinado a atender as necessidades humanas e trabalho abstrato, inerente à sociedade capitalista, em que predomina o valor de troca, destinado à acumulação e reprodução de capital. Historicamente, as mudanças na base material e organizacional dos processos de produção requisitaram também mudanças no papel do Estado, visando regular as relações sociais e garantir a legitimação do capital. Claro que isso se deu a partir do momento em que a luta da classe trabalhadora por melhores condições de vida e de trabalho colocou em evidência a dimensão política da questão social, ao requisitar do Estado medidas de proteção social conformadas através dos direitos sociais. Os contextos da sociedade capitalista que vivemos vão imprimir ao Estado diversas funções e características distintas, por vezes ampliando e suprimindo suas intervenções. O Estado é um fenômeno especificamente capitalista, garantidor, de um lado, das trocas de mercadorias; por outro lado, da exploração da força de trabalho na condição assalariada. Um terceiro, essencial para as relações capital e trabalho. De modo que o Estado não surge com a conotação negativa de repressão, mas sim afirmativa de constituição social, ainda que necessária seja a repressão para a harmonização das forças inerentes à circulação mercantil e produtiva. Sob a égide do neoliberalismo, as estratégias do grande capital não se limitaram às reformas de natureza econômica. As restrições sociopolíticas abarcaram, na mesma proporção, a reforma do aparelho estatal e sua relação com a sociedade. Assim, se a inserção no mundo do trabalho já não garante a universalidade do acesso às políticas de proteção social a todos os(as) trabalhadores(as) assalariados(as), nos últimos anos após 2016, a conjuntura só piorou. No cenário atual, mesmo compreendendo a correlação de forças do Congresso Nacional, e a correlação de forças do governo federal, a possibilidade dos cortes no seguro-desemprego e multa por demissão sem justa causa, além de considerar a redução de outros benefícios como o Benefício de Prestação Continuada (BPC), um grande equívoco. A pauta do ajuste fiscal é um motivo de desconfiança, desgaste e diminuição de direitos de um povo tão sofrido e sem esperança. Toda retirada de direitos é um impacto negativo na vida do povo brasileiro, os direitos sociais são investimentos, e não gastos que podem ser cortados. Sabíamos que as eleições de 2024 seriam a antessala de 2026, portanto, a frente ampla ganha importância ainda maior. Impõe-se reforçar a aliança com a centro-direita, neutralizar a direita e prosseguir isolando a extrema-direita para derrotá-la, sem que isso implique rebaixar o papel decisivo da esquerda e do conjunto do campo democrático e progressista, condição para a frente ampla ter sustentação e condução consequente, com apoio e mobilização do povo. Nos encontramos na luta.   REFERÊNCIAS ANTUNES, Ricardo. O Sentido do Trabalho. São Paulo: Boitempo, 1999.   MARX, Karl. A origem do capital: a acumulação primitiva. São Paulo: Ed. Global, 1989.   WERNECK, Jurema. Racismo Institucional, uma abordagem conceitual. Geledés - Instituto da Mulher Negra, 2013.   *Silvana Conti é Presidenta do PCdoB/Porto Alegre, mestra em Políticas Sociais, militante lésbica - feminista, militante da luta antirracista. Foto  de capa: Cris Leite Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.            

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