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Mercado quer inviabilizar Lula

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Mercado quer inviabilizar Lula
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Por JEFERSON MIOLA* O mestre Luiz Gonzaga Belluzzo ensina que “o mercado não é uma instância técnica do capitalismo, é uma instância de poder”. É por isso que, na visão dele, o terrorismo financeiro em reação ao anúncio das medidas de ajuste do governo representa o “exercício do poder do mercado”. Agem como abutres rondando a carniça. Belluzzo concorda que o “principal objetivo é inviabilizar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva” [entrevista ao Boa Noite do 247]. Dentre as medidas de ajuste anunciadas pelo governo, aquelas que incidem sobre o Salário Mínimo, BPC, Abono Salarial, Bolsa Família e FUNDEB [educação integral] representam, somadas, o montante de 199,2 bilhões de reais cortados entre 2025 e 2030. Esta cifra, obtida com medidas que atingem sobretudo as pessoas mais pobres e as áreas sociais do orçamento, representam 61% dos cortes planejados pelo governo para este período, e que totalizam 327 bilhões de reais. Com emendas parlamentares, Fundo Constitucional do DF, subsídios e subvenções, Lei Aldir Blanc, biometria, criação de cargos e com DRU o governo pretende reduzir outros R$ 121,8 bilhões [37%]. E os privilégios dos militares serão reduzidos em apenas R$ 6 bilhões, menos de 2% do total. A proposta de isenção do Imposto de Renda para salários até R$ 5 mil precisa ser compensada com uma tributação mínima de super-ricos. Com ela o governo busca neutralizar o desgaste político causado pela desaceleração da política de valorização do salário mínimo e seus impactos negativos na distribuição de renda. O problema, porém, é que enquanto os efeitos sobre as aposentadorias, pensões, BPC, Abono Salarial já valerão a partir de 2025, a isenção de IR só entrará em vigor em 2026 – desde, contudo, que o Congresso aprove a tributação dos super-ricos, o que não é garantido. Apesar dos impactos do pacote centralmente sobre os setores que conformam a maioria do eleitorado lulista e podem abalar a popularidade do Lula, o mercado exige mais. Quer obrigar o governo a abrir novos espaços orçamentários com cortes radicais nas áreas sociais para aumentar a rapinagem via juros. O mercado não aceita o menor esforço de justiça tributária. Só aceita fazer terra arrasada das conquistas populares como os pisos constitucionais do SUS e da educação, o seguro-desemprego, o ganho real do salário mínimo, a vinculação dos benefícios previdenciários ao salário mínimo. O ajuste que o governo se obrigou a fazer é uma consequência do pecado original cometido pelo próprio governo ao adotar o Novo Arcabouço Fiscal em substituição ao Teto de Gastos, uma amarra rígida e contracionista muito criticada por renomados economistas. A trava que o governo se auto-impôs com a regra fiscal draconiana funciona, agora, como arma poderosa do rentismo para sabotar e desestabilizar o governo com terrorismo financeiro. Bolsonaro estourou o Teto de Gastos em 795 bilhões de reais com a condescendência do mercado e sem enfrentar a brutal crise especulativa produzida neste momento. Com Bolsonaro o Banco Central não cumpriu a meta de inflação em 2021 e 2022, mas o mercado não fez nenhum escarcéu, e Campos Neto não foi exonerado por “desempenho insuficiente”, como prevê a Lei de autonomia do Banco Central [art. 5º da Lei 179/2021]. Para provocar o caos, especular com o dólar e aumentar ainda mais os juros, o mercado cria um clima artificial de descalabro que, no entanto, contrasta com a realidade fiscal e econômica do Brasil. O PIB cresce mais de 3% ao ano, o país tem o nível mais baixo de desemprego, a inflação está dentro da meta, cresce o comércio externo e as receitas públicas, e as reservas são de mais de 350 bilhões de dólares. O Brasil tem um dos menores déficits fiscais dentre as principais economias do planeta. E uma relação dívida/PIB mais confortável que a maioria dos países, mesmo tendo legado de Temer e Bolsonaro um comprometimento de 80% do PIB com a dívida pública, que eles receberem de Dilma na proporção de menos de 40%. O alvoroço criado pelo mercado tem motivação política e de pilhagem econômica; não tem nenhum amparo na realidade fiscal e econômica do país. As oligarquias dominantes e sua mídia fazem de tudo para sangrar Lula. A aposta de hoje no caos financeiro cobre o jogo eleitoral de 2026, por isso querem asfixiar o governo Lula, inviabilizá-lo programaticamente para assim tentarem derrotá-lo na eleição com um extremista envelopado com o rótulo de falso-moderado.   *Jeferson Miola é jornalista. Texto originalmente publicado no blog do autor.: Gonet na eleição – jeferson miola (wordpress.com) Foto de capa:  Nani-humor Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.            

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O triunfo da irracionalidade

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O triunfo da irracionalidade
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Por CELSO JAPIASSU* Atualmente muito citada, por conta do seu conceito da banalidade do mal, a filósofa Hannah Arendt definiu em ‘As Origens do Totalitarismo’ a transformação das sociedades de classes em sociedades de massas. Nas sociedades de classes os eleitores votavam de acordo com os seus interesses ao passo que nas sociedades de massas os interesses diretos de classe foram substituídos por confusas ideologias que são difundidas e exploradas por políticos demagogos. A União Europeia, fundada sobre valores humanistas, enfatiza nos seus princípios o respeito pela dignidade humana, a liberdade, a democracia e a igualdade.  Dá destaque ao Estado de direito e o respeito pelos direitos do Homem, incluindo os direitos das pessoas pertencentes a minorias. Por isso não causa surpresa que Viktor Orban e o seu governo de extrema direita na Hungria sejam vistos como um elefante na sala, um fator de desequilíbrio e mal-estar na afirmação política do continente. Orban Viktor, na forma nativa do seu nome, é o líder do partido de extrema direita Fidesz (em húngaro Fidesz – Magyar Polgári Szövetség – União Cívica Húngara). Foi fundado em 1988 sob a bandeira do anticomunismo e de uma ideologia liberal. Assumiu as cores fascistas com a chegada de Orban à sua liderança e hoje é o maior partido político da Hungria. Faz campanha contra os imigrantes e as minorias, embora venha admitindo a chegada de trabalhadores estrangeiros em face da crise de mão de obra num país que envelhece e assiste à diminuição da sua população. É um partido eurocético, o que significa ser contra a união da Europa. O crescimento da extrema direita na Hungria, cavalgado por Orbán e o seu partido, é comumente explicado pelas feridas não inteiramente cicatrizadas dos quarenta anos vividos pelo país num regime comunista de corte stalinista. O Fidesz tem 133 deputados num parlamento composto de 199 representantes.   Sucesso eleitoral Orbán é grande amigo de Jair Bolsonaro e seus filhos e alinha-se com todos os outros líderes de extrema direita na Europa, como o italiano Matteo Salvini, a francesa Marine Le Pen, o português André Ventura e os alemães Jörge Meuthen e Tino Chrupala, do AfD-Alternativa para Alemanha. Juntos, pretendem reunir numa força única toda a extrema direita que hoje existe nos vários países europeus. A nova lei eleitoral aprovada pelo parlamento com maioria do Fidesz, a falta de tradição democrática e a divisão de uma oposição que recusa a se unir têm sido a explicação para o sucesso eleitoral do extremismo de direita. Até os ciganos, que constituem uma minoria segregada e oprimida pelo regime, votaram em sua maioria em Orbán. Assim como também as classes mais pobres. Como seria possível votar contra os próprios interesses? Atualmente muito citada, por conta do seu conceito da banalidade do mal, a filósofa Hannah Arendt dá a resposta quando define em As Origens do Totalitarismo a transformação das sociedades de classe em sociedades de massas. Nas sociedades de classes os eleitores votavam de acordo com os seus interesses ao passo que nas atuais sociedades de massas os interesses diretos de classe foram substituídos por confusas ideologias que são difundidas e exploradas por políticos demagogos. Jean Baudrillard, filósofo francês, define a massa. Ela não tem energia própria. Toma a forma que lhe é dada por quem a manipula. Ele vê na massa um corpo de amortização de forças políticas e sociais, um corpo que absorve “toda a eletricidade do social e do político e as neutraliza, sem retorno.” O conformismo é um dos pilares essenciais das sociedades de massa. O tipo de político que Orbán, Bolsonaro e Trump representam não possui realmente qualquer ideologia, a eles interessa apenas aumentar o seu poder. E suas falas dirigem-se principalmente aos seus seguidores que constituem a massa por eles manipulada.   Provocações e discriminação Orbán tem um histórico de provocações aos fundamentos da União Europeia. Do afastamento da Hungria dos princípios da democracia e do estado de direito à violação dos direitos das minorias, tem criado constante mal-estar na comunidade dos 27 países, como no caso do fechamento de jornais e universidades críticos ao seu governo. A última da sua série de violações foi a aprovação de uma lei discriminatória dos direitos das comunidades LGBTQ, com a proibição de qualquer referência ao assunto na imprensa e nas escolas até a idade de 18 anos. A motivação seria a de deixar aos pais a liberdade de escolher os valores de como educar os filhos. A lei é discriminatória ao induzir a ideia de que a homossexualidade se transmite por contágio e pela alusão à pedofilia. Numa reunião do Conselho da Europa, o chefe do governo de Luxemburgo, Xavier Betel, que se assume publicamente homossexual disse diretamente a Orbán: “Eu não escolhi ser gay. Mas sou gay. É o que eu sou. A minha mãe odeia que eu seja gay, e eu tenho que viver com isso. Mas há muitos jovens gay que não conseguem viver com isso e cometem suicídio. E tu vens agora dar força à estigmatização e à discriminação de jovens LGBTIQ com esta lei. É muito mau. É terrível. Trata-se de direitos básicos, do direito de ser diferente”. Mark Rutte, o primeiro-ministro dos Países Baixos, disse não ter memória de uma sessão semelhante, com os líderes abertamente lançados ao ataque contra um dos membros. E sugeriu que a Hungria abandonasse a União Europeia. Os direitos e a liberdade individual estão na base das democracias, que não permitem a discriminação étnica, política, religiosa, de gênero ou qualquer outra. Um conjunto de valores democráticos e liberais são o fundamento mais sólido da integração europeia. Orbán diz defender os valores cristãos, que seriam os verdadeiros valores europeus. Prega o que chama “uma democracia iliberal” e acusa de traição a centro-direita originária da democracia-cristã. Sabe que não está sozinho, tem a companhia dos partidos populistas da extrema-direita europeia, o que lhe permite afirmar: “Os tempos mudaram e se, há 30 anos, nós acreditamos que a Europa era o nosso futuro, hoje compreendemos que somos nós o futuro da Europa”.   Celso Japiassu é autor de Poente (Editora Glaciar, Lisboa, 2022), Dezessete Poemas Noturnos (Alhambra, 1992), O Último Número  (Alhambra, 1986), O Itinerário dos Emigrantes (Massao Ohno, 1980), A Região dos Mitos (Folhetim, 1975), A Legião dos Suicidas (Artenova, 1972), Processo Penal (Artenova, 1969) e Texto e a Palha (Edições MP, 1965). Foto de capa:  Divulgação Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.                      

Justiça

O entorno de Lula e a comunicação

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O entorno de Lula e a comunicação
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Por RUDOLFO LAGO* do Correio da Manhã Brasília Na avaliação de um dos fundadores do PT, uma das grandes diferenças que há entre o terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva e os dois anteriores, é a composição do entorno mais próximo do presidente. É o que ele chama da força atual da "Turma de Curitiba" em contraposição à força anterior da "Turma de São Bernardo". Grato com aqueles que lhe deram mais apoio durante seu tempo de prisão, Lula os trouxe para perto neste seu governo. É a "Turma de Curitiba". Com uma participação bem menor dos conselheiros tradicionais que mais o acompanhavam desde o início da carreira política a partir do Sindicato dos Metalúrgicos. A "Turma de São Bernardo". A começar pela própria primeira-dama Janja da Silva.   Pimenta Isso se reflete na comunicação do governo, que Lula criticou na semana passada, e dá agora sinais veementes de que deverá mudar. O secretário de Comunicação da Presidência, Paulo Pimenta, é um dos nomes da "Turma de Curitiba", cidade onde Lula ficou preso.   Conselheiros O que muitos criticam é que esse novo entorno de Lula parece ter menos capacidade de atuar como conselheiros. Muito idolatram o presidente, sem a mesma condição de alertá-lo para eventuais rumos errados, como no passado faziam Luiz Gushiken ou José Dirceu.   Troca na comunicação é cogitada há tempos Edinho Silva perdeu eleição em Araraquara | Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil     Quando Paulo Pimenta foi deslocado para a Secretaria Extraordinária criada para dar solução ao drama das enchentes no Rio Grande do Sul no ano passado, já havia a intenção de mudança permanente. O governo apostava na possibilidade de produzir uma virada política no Sul, onde Lula é menos popular, a partir dos esforços. Mas a deputada federal Maria do Rosário acabou perdendo a eleição para o prefeito Sebastião Melo, reeleito. Pimenta voltou para a comunicação. Mas, na sua ausência, já atuavam mais diretamente o marqueteiro da campanha de Lula, Sidônio Palmeira, e o prefeito de Araraquara, Edinho Silva.   Sidônio e Edinho Sidônio e Edinho tiveram forte participação nas mudanças que aconteceram quando Lula mudou o slogan do governo num esforço para se aproximar dos segmentos evangélicos, cada vez mais importantes na sociedade brasileira, especialmente nas camadas mais baixas.   Não deu certo Havia uma preferência inicial pelo nome de Edinho Silva. O que se dizia, então, é que Edinho cumpriria seu mandato de prefeito, e poderia vir depois que elegesse sua sucessora, Eliana Honain. Não deu certo. Ela perdeu as eleições em Araraquara para Dr. Lapena, do PL.   PT Na verdade, mais que retornar à Comunicação, o desejo de Edinho era ser o próximo presidente do PT, ao final do mandato de Gleisi Hoffmann. Essa ainda é uma possibilidade. Gleisi pode assumir um ministério. Mas a derrota em Araraquara produziu abalos para Edinho.   Resultados De qualquer forma, há um diagnóstico geral de que o governo não tem conseguido reverter em popularidade ganhos, como o crescimento do país, ou a vitória diplomática que teve agora na assinatura do acordo do Mercosul com a União Europeia. É a sacudida que se quer.     *Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congresso em Foco e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade   Artigo originalmente publicado no Correio da Manhã   Foto de capa: Pàulo Pimenta faz parte da "Turma de Curitiba" | Foto: José Cruz/Agência Brasil Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

Militar

Rumos para o quartel atordoado

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Rumos para o quartel atordoado
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Por MANUEL DOMINGOS NETO* Como o general arranjou o dinheiro entregue aos facínoras que abateriam autoridades? O rol dos delatores premiados deve crescer. Mais denúncias corrosivas surgirão. Caixas pretas podem ser abertas. O sensacionalismo dos jornais manterá a prolongada tritura da imagem do militar. O festival de ambições mesquinhas, rivalidades deletérias, rixas pessoais, expedientes sórdidos e infindáveis procedimentos à margem da lei não tem prazo para terminar. A ignomínia dos que pretendiam incendiar o país e assumir o poder de costas para a Lei nutrirá cotidianamente a fereza do brasileiro mediano. A exposição negativa do quartel é o preço da jornada macabra, iniciada bem antes do governo Bolsonaro. A quebra da institucionalidade sobrepassa a tentativa tabajara de mantê-lo no poder de qualquer jeito. O planejamento de assassinatos e o quebra-quebra nos palácios resultam de processo alongado e ainda mal descrito. Para recompor sua imagem, o quartel terá que responsabilizar os que, por décadas, açularam as entranhas do ultraconservadorismo e exaltaram a ditadura. Os lances visando a imposição de um regime autoritário incluem as prisões arbitrárias do mensalão, a interrupção do mandato de Dilma, a condenação Lula, o acicate dos milhões de integrantes da “família militar”, a condução grotesca de Bolsonaro ao Planalto, a pregação negacionista durante a pandemia, a busca alucinada de sinecuras na administração pública, as operações psicológicas visando interferir no humor popular, os conluios com estrangeiros inimigos do Brasil e a contestação das urnas eletrônicas. Os comandantes refratários ao ativismo político nos quarteis perceberam tardiamente o potencial desagregador da militância ultrarreacionária nas fileiras. Comparações de quadros históricos são sempre questionáveis, mas seria difícil lembrar constrangimento moral do castrense como o que hoje atordoa o quartel. Aos poucos, os sicários estão sendo incriminados. Alguns serão expulsos com desonra das corporações, configurando caso raro na história nacional. O democrata brasileiro terá seu momento alegre com a prisão de ícones do golpismo. Que pense nos animais domésticos, nos autistas, e festeje sem soltar foguetes. A recomposição da imagem das fileiras exige expurgos arriscados. Pode haver quebra da cadeia de comando. Chefes serão testados. Desavenças entre as corporações podem eclodir. O marinheiro escancarou essa semana sua indocilidade agredindo quem lhe garante o soldo. O golpismo parece momentaneamente contido. Mas vale lembrar: trata-se de recurso inerente ao ultraconservadorismo, que mostrou força nas últimas eleições. Veleidades de democracia, soberania e desenvolvimento socioeconômico persistirão combatidas. Lula governa fortemente contingenciado. Na peleja ideológica em curso, parece não sobrar espaço para mudanças sociais imprescindíveis. Não obstante, cabe debater a construção da legitimidade do quartel porque, sem instrumento de força respeitado, o Estado soberano e democrático é uma quimera. Que tal algumas iniciativas em benefício da Defesa Nacional? O Brasil precisa se inserir dignamente em cenário global que anuncia guerra generalizada. Na busca de legitimação, as fileiras podem ganhar pontos suprimindo gastos perdulários e se preparando para guerrear de verdade. A extinção de centenas de unidades militares inúteis para responder ao agressor estrangeiro seria aplaudida. O avanço na capacidade aeronaval, também. O estrangeiro pérfido não será abatido com tiros de fuzil. Rambos não impedirão um eventual bloqueio de nosso comércio internacional. Precisamos de mísseis hipersônicos, aeronaves, barcos, drones e satélites inteiramente fabricados aqui, com o saber brasileiro. A dependência externa em armas e equipamentos atesta o fracasso da Defesa Nacional. É hora de redução de efetivos em benefício de uma capacidade defensiva real. Para afirmação da soberania, o gesto de maior significado seria o fechamento das obsoletas comissões militares na Europa e nos Estados Unidos, heranças das guerras mundiais reveladoras de um atrelamento que nos fez mal. Apelos à coesão nacional seriam fundamentais. O mais espetacular seria um agradecimento do Comando da Marinha ao Almirante Negro. Ninguém contribuiu mais que João Cândido para reduzir a pecha escravista da Armada. Entretanto, o ponto alto da afirmação do quartel como instrumento da vontade brasileira, seria a redefinição de seu papel constitucional. A Carta precisa interditar o uso das Forças Armadas contra brasileiros e destiná-las exclusivamente ao combate aos agressores estrangeiros. A garantia da Lei e da Ordem deve ser entregue às instituições que lidem com a cidadania. A vigilância da costa marítima e da fronteira terrestre são deveres policiais. Segurança Pública não é especialidade militar. O distúrbio de personalidade funcional das fileiras, provindo do regime imperial-escravista, finalmente, desapareceria. Trata-se de passo fundamental para evitar delírios militaristas. Com missão claramente definida, o quartel teria melhor chance de se aprumar. Quem sabe, proteger-se-ia melhor de atordoamentos inglórios e deixaria a sociedade definir seu rumo sem sobressaltos.     *Manuel Domingos Neto é Doutor em História pela Universidade de Paris, escreveu O que fazer com o militar – Anotações para uma nova Defesa Nacional. Foto de capa: Marcelo Camargo/Agência Brasil Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.  

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Mulheres lutam pela igualdade de direitos

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Mulheres lutam pela igualdade de direitos
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Por EDELBERTO BEHS* “Ninguém deve ser molestado por suas opiniões, mesmo de princípio; a mulher tem o direito de subir ao patíbulo, deve ter também o de subir ao pódio, desde que suas manifestações não perturbem a ordem pública estabelecida pela lei”.   Esse foi o Artigo X da Declaração da Mulher e da Cidadã, redigido em 1791 pela dramaturga, ativista política, feminista e abolicionista francesa Olympe de Gouges, pseudônimo de Marie Gouze. O texto foi levado à Assembleia Nacional que, dois anos antes aprovara a Declaração do Homem e do Cidadão. Mas, certamente, foi ignorado, senão ridicularizado.   O Preâmbulo da Declaração da Mulher e da Cidadã dizia que “o sexo que é superior em beleza, como em coragem, em meio aos sofrimentos maternais, reconhece e declara, em presença e sob os auspícios do Ser Supremo, os seguintes direitos da mulher e da cidadã: Artigo I – A mulher nasce livre e tem os mesmos direitos do homem”.   O texto constitucional proposto por Olympe de Gouges defendia o direito à liberdade, à propriedade, à segurança e a resistência à opressão.   O Artigo VI da Declaração do Homem e do Cidadão definia que “a lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer, pessoalmente ou através de seus representantes, para a sua formação. Ela deve ser a mesma para todos, quer se destine a proteger, quer a punir. Todos os cidadãos são iguais a seus olhos...” Essa formulação certamente deixou Olympe de Gouges indignada, porque aos olhos da lei as mulheres estavam excluídas.   O Artigo VI da Declaração da Mulher e Cidadã traz a versão feminina: “A lei deve ser expressão da vontade geral: todas as cidadãs e cidadãos devem concorrer pessoalmente ou com seus representantes para sua formação; ela deve ser igual para todos. Todas as cidadãs e cidadãos, sendo iguais aos olhos da lei, devem ser igualmente admitidos a todas as dignidades, postos e empregos públicos, segundo as suas capacidades e sem outra distinção a não ser suas virtudes e seus talentos”.   No período do “terror” da revolução francesa, Olympe de Gouges, que se identificava com os giordinos, foi presa. Jacobinos, que já tinham executado uma rainha, não estavam a fim de tolerarem a defesa dos direitos das mulheres. E Olympe acabou guilhotinada em 2 de novembro de 1793.   No decorrer da história, mais mulheres se somaram à defesa de seus direitos, igualitários aos dos homens. E 157 anos depois da redação dos Direitos da Mulher e da Cidadã, a Organização das Nações Unidas aprovou, em 10 de dezembro de 1948, por 48 votos a favor e oito abstenções, no Palais Chaillot, em Paris, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, documento que extraiu conceitos das duas declarações levadas à Assembleia francesa.   *Edelberto Behs é Jornalista, Coordenador do Curso de Jornalismo da Unisinos durante o período de 2003 a 2020. Foi editor assistente de Geral no Diário do Sul, de Porto Alegre, assessor de imprensa da IECLB, assessor de imprensa do Consulado Geral da República Federal da Alemanha, em Porto Alegre, e editor do serviço em português da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC). Foto de capa: @lorenafadul Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

Politica

Os engenheiros do caos

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Os engenheiros do caos
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Por ADELI SELL*            Depois das notícias acerca dos planejamentos de golpe e assassinatos pelos bolsonaristas, fascistas, pelo extremismo sem fronteiras, resolvei reler o livro de Giuliano da Empoli, “Os engenheiros do caos”. Em 2018, Bolsonaro ganhou as eleições com os métodos descritos pelo autor, ou seja, pelo uso dos algoritmos, algo de engenheiros mais do que comunicadores. Foi o que aconteceu com a vitória de Trump, com suas fake news contra Hillary, latinos etc; mesmo mecanismo feito por Casaleggio para turbinar o Movimento 5 Estrelas do comediante Beppe Grillo; igual forma adotada por Cummings para o Brexit, assim foram os feitos de Milo para mudar o estudante radical Orban no mais xenófobo de todos. Não importa a realidade, não importam os fatos, importa o fato relatado, em geral, mentiroso, como os ataques mais grosseiros, expondo o que há de pior num ser humano, ódio contra outro alguém, com a clara intenção de trucidar o adversário, mesmo que nada seja real. Trump é o campeão de fazer um ataque, se pegar muito mal, muda e diz outra coisa, o contrário, não dá explicações, põe nas redes, põe blogs pagos a trabalhar como uma máquina sem parar 24 horas por dia, seja dentro de seu país ou como foi feito por Trump pagando “trolls” russos ou da Macedônia. Aqui, surgiram dezenas de blogueiros de direita, difamadores, com seus domínios fora do país, xingando todo mundo, menos os seus. Para o 8 de janeiro de 2023, outra tentativa de golpe, de acabar com as instituições democráticos, tudo era feito pelas redes sociais, criando grupos que eram contra Lula, contra o PT, contra as esquerdas, com as “velhinhas de Taubaté”, com a “senhora de Tubarão”, com grupos dos Clubes de CACs, de amantes da ditadura, seja quem for, desde que fossem para frente dos quartéis, que fossem a Brasília. A ida deles para Brasília foi mais ou menos o que aconteceu com os camisas amarelas que surgiram da noite para o dia na França. O ensaio fora feito nas Jornadas de junho de 2013 que setores da nossa esquerda querem esquecer e apagar porque colocaram gasolina na fogueira criando o MBL que agora quer ser partido. “Ainda estou aqui”, o filme, veio em boa hora, lotando cinemas, com aplausos ao final, dando um alívio em nossos corações, pois nem tudo está perdido. “Sem Anistia” é um movimento que cresce O Uruguai é um bom exemplo aqui ao nosso lado que não perdoou torturadores, assassinos de irmãos que lutavam pela democracia, pela justiça e pela paz. “Os engenheiros do caos” ainda estão aqui. Não se pode esquecer deles jamais. Ainda estou aqui a cada pouco escrevendo pela democracia!   *Adeli Sell é professor, escritor e bacharel em Direito. Foto de capa: Divulgação Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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