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Os recados da pesquisa Quaest ao governo Lula

Os recados da pesquisa Quaest ao governo Lula

Artigo por RED
28/01/2025 18:00 • Atualizado em 28/01/2025 21:37
Os recados da pesquisa Quaest ao governo Lula

Por CARLOS EDUARDO BELLINI BORENSTEIN*

A queda de popularidade do governo Lula (PT) apontada pelo instituto Quaest representa um sinal de alerta para o Palácio do Planalto. Pela primeira vez desde o início do governo Lula 3, a desaprovação do presidente (49%) superou a aprovação (47%). Nos últimos 30 dias, a aprovação de Lula caiu cinco pontos percentuais. A desaprovação subiu dois pontos no mesmo período.

Também chama atenção que a desaprovação apresenta uma trajetória de elevação desde outubro do ano passado. Nos últimos três meses, o índice negativo cresceu quatro pontos (45% para 49%). Nesse mesmo período, a aprovação caiu cinco pontos (52% para 47%). A queda pode ser atribuída ao impacto negativo da inflação, principalmente dos alimentos.

A desaprovação ao presidente Lula entre os homens; parcelas das classes médias; nas regiões Sul, Centro-Oeste; em parte do Sudeste; e entre a elite econômica não representa uma novidade. Vale recordar que esses setores sociais têm adotado uma postura antilulista e pendem ao bolsonarismo desde 2018.

Porém, o crescimento da desaprovação de Lula entre mulheres (44% para 47% nos últimos 30 dias); na faixa de renda de até dois salários mínimos (63% para 59%); e habitantes da região Nordeste (69% para 57%) pode indicar uma alteração no comportamento da opinião pública em relação ao governo. Desde que ocorreu o chamado realinhamento eleitoral – termo cunhado pelo cientista político André Singer, após crise do mensalão de 2005, para explicar a migração da base lulista das classes médias dos grandes centros urbanos para os segmentos mais pobres da população – a base social de Lula era preservada em momentos adversos.

Apesar do forte desgaste provocado pela recente polêmica envolvendo o PIX, esse não é o aspecto central para a compreensão da mudança na conjuntura política. Os supostos “problemas na comunicação” também não parecem explicar o atual momento.

A inflação, principalmente seu impacto sobre os alimentos, é que explicam melhor o cenário atual. É o aumento dos preços dos alimentos que fez com que a base social histórica de Lula fosse atingida.

O aumento dos preços de produtos básicos essenciais tem mais peso na sensação térmica que os eleitores fazem da economia que debates como a democracia e das FakeNews, consideradas por parte do campo progressista como os responsáveis pela perda de popularidade do presidente. Não é por acaso que a maioria dos entrevistados entende que a economia “piorou” nos últimos meses (39%), em que os números positivos do PIB e na geração de empregos; que o país “está no rumo errado” (50%); e também que Lula “não está cumprindo as promessas de campanha” (65%).

Outra dificuldade para Lula é o crescimento da desaprovação nas faixas de renda de mais de 2 a 5 salários mínimos. Nesse segmento, 54% desaprovam o governo. 43% aprovam. Tais números indicam que as classes médias apresentam um comportamento mais crítico em relação ao governo. Com isso, Lula está isolado em sua base social tradicional. Entretanto, o presidente está perdendo apoio entre seus eleitores.

Em um país ainda muito polarizado, marcado pela presença de uma extrema-direita bastante atuante e que aposta permanentemente na radicalização política, a perda de apoio entre o eleitorado que foi decisivo para a vitória de Lula em 2022 – mulheres, eleitores de menor renda e moradores do Nordeste – pressiona o governo.

Porém, os enfrentamentos aos desafios que se apresentam não serão fáceis. Um ajuste fiscal, por exemplo, impactaria ainda mais a base social lulista no curto prazo. Por outro lado, sem enfrentar o debate fiscal, a inflação de alimentos poderá seguir alta, continuando a afetar negativamente o eleitor tradicional de Lula.

Além de recuperar o espaço perdido na base lulista, o governo necessitará criar uma marca até a campanha de 2026. Por ora, essa marca inexiste. A narrativa da defesa da democracia parece insuficiente como atributo eleitoral em meio à inflação elevada. A retomada dos programas sociais, embora importantes, é uma agenda que já foi absorvida, principalmente entre os eleitores lulistas, que desejam mais avanços.

Se é verdade que o bolsonarismo não possui hoje um candidato natural para 2026, dividindo-se em várias opções, as lições da eleição presidencial de 1994 quanto ao debate em torno da inflação não devem ser esquecidas. Naquele ano, Lula liderava com folga as pesquisas até julho de 94, quando entrou em vigor um Plano Real. Sem conseguir responder ao impacto econômico e político positivo do Real, Lula foi derrotado por FHC (PSDB) no primeiro turno, perdendo uma eleição considerada ganha meses atrás.

Resolver o problema da inflação, a partir de diagnóstico correto, será o desafio de Lula nos próximos dois anos. Para resolver este tema, o dogmatismo deve perder espaço ao pragmatismo, pois a correlação de forças é adversa ao campo progressista. Nos últimos anos, além da constitucionalização de pressupostos econômicos do liberalismo clássico, a cultura da livre iniciativa foi absorvida por parte importante da classe média, que rejeita soluções econômicas heterodoxas.

 

 

*Carlos Eduardo Bellini Borenstein, Doutorando em Ciência Política na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Bacharel em Ciência política (ULBRA-RS). Especialista em Ciência Política (UFRGS). Tem MBA em Marketing Político (Universidade Cândido Mendes).

Foto de capa: Genial/Quaest

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soluções econômicas heterodoxas.

 

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