Destaque
Manobra noticiosa
RED
Por NUBIA SILVEIRA*
A manchete do jornal Folha de S.Paulo desta quarta-feira, primeiro dia do ano de 2025, não surpreende: Otimismo do brasileiro com ano novo é de 47%, menor nível de 2020. Se uma pesquisa do Instituto do jornal serviu de manchete neste dia, por que a pesquisa do mesmo Datafolha, informando, na terça, 31, último dia de 2024, que 71% são favoráveis à ampliação do Bolsa Família rendeu apenas uma pequena chamada, não visível para muitos dos eleitores? Neste dia, fica também para um pequeno espaço a notícia de que Lula assina decreto que eleva o mínimo para E$ 1.518. Não diz que o aumento foi de 7,5%, mas ressalta, na matéria da página A9, que “se a regra anterior estivesse valendo, o salário mínimo subiria para R$ 1.528”, subentendo-se que o pacote de contenção de gastos, proposto pelo Executivo e aprovado pelo Congresso, tungou os trabalhadores em R$ 10 mensais.
A manobra diária dos jornais nacionais, valorizando, na maioria das vezes, as más notícias, introjetam no leitor a ideia de que o governo Lula não tem futuro, porque só toma decisões erradas. Vamos relembrar as manchetes, apenas da FSP, nos últimos dias, de segunda a quarta-feira, desta semana. Na segunda, o jornal informa em grandes caracteres que o “dólar atual está mais caro que na crise de 2015, sob Dilma Rousseff”. Diga-se, de passagem, que o valor do dólar é uma grande fixação da imprensa nacional, ligada ao mundo financeiro.
Na terça, dia 31, o dólar segue dono da manchete: “Com alta do dólar, bitcoin e ações dos EUA lideram rendimentos em 2024”. Logo abaixo da manchete uma chamada que o jornal considera influir negativamente na avaliação dos leitores sobre o governo Lula: Trajetória da dívida pública e desaceleração do PIB desafiam Haddad até 2026.
Estes são exemplos rápidos e de apenas um dos três jornais – FSP, O Estado de S.Paulo e O Globo – que mantêm uma guerra, manobrando o noticiário, contra Lula no poder. Eles estão em campanha, que vai durar até o final de 2026, para derrotar o presidente, se ele for candidato à reeleição, ou quem ele indicar para disputar a presidência. Até agora, não podem ser acusados de se valer de fakenews. Sua arma é esconder as boas notícias, como a queda do desemprego (foram gerados, em 2024, 3,5 milhões de novos empregos) e o déficit primário que será de 0,4% do PIB, “um dos melhores resultados em uma década”, como informa o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em artigo publicado, no primeiro dia de 2025, em Tendências / Debates, da FSP, com o devido contraponto de Luiz Guilherme Paiva, economista e doutor pela USP.
Os donos destes jornais e os jornalistas em cargo de direção, que seguem e implantam as diretrizes da empresa, vão dizer que manchete sobre o PIB não interessa ao leitor. Interessa a do dólar e da Bolsa de Valores, que têm leitores de alta renda, o grupo que quer ter mais e mais, sem dividir com quem não tem nada. Este grupo quer tirar o governo de quem é de esquerda e pensa nas chamadas minorias, que é a maioria do povo, que vive de salário mínimo ou nem isto. O sonho deles é ter no Planalto alguém de direta, como o governador de São Paulo, Tarcísio Freitas, que promova políticas para as maiorias, na verdade as minorias, a elite do topo da pirâmide social.
Se a sociedade não se mobilizar e enfrentar, a partir de agora, esta guerra de informações, Lula terá muita dificuldade para se manter no poder.
*Nubia Silveira é jornalista
Foto de capa: JA
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