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O Povo Venezuelano Derrota o Golpe Fascista: Lições da Eleição de 28/07

O Povo Venezuelano Derrota o Golpe Fascista: Lições da Eleição de 28/07

Internacional por RED
22/08/2024 13:28
O Povo Venezuelano Derrota o Golpe Fascista: Lições da Eleição de 28/07

Por ILTON FREITAS*

Tenho a impressão de que já há acúmulo e massa crítica suficiente no campo progressista e de esquerda em nosso País, sobre o que ocorreu no processo eleitoral da Venezuela no final de julho e dias subsequentes. Isto é, a direita fascista liderada pela ex-deputada Corina Machado, coordenadora da chapa da Plataforma Democrática Unitária, encabeçada por um ex-agente informal da CIA, Edmundo G Urrutia, planejou e tentou com o apoio da extrema direita estadunidense dar um golpe contra o povo venezuelano e a reeleição do presidente Nicolas Maduro (PSUV) do Polo Patriótico.

O “script” do golpe fascista foi planejado com muita antecedência e consistiu em fazer “jogo de cena” ao acordar com o governo venezuelano a participação no processo eleitoral deste ano, e reconhecer o veredito das urnas. Os acordos entre a oposição e o governo venezuelano foram celebrados na Ilha de Barbados em outubro de 2023. Foi mediado pela Noruega e contou com a participação, dentre outras, das diplomacias do Brasil, Colômbia e México. Logrado o verniz diplomático, expresso na assinatura de um documento, e com o testemunho de países importantes da região, o primeiro passo do golpe se concluiu com êxito. O passo seguinte dos fascistas foi tentar, sob o arrepio da lei, emplacar a candidatura da inelegível Corina Machado, que desde 2015 havia perdido seus direitos políticos por solicitar intervenção militar estrangeira contra a Venezuela, por participar e financiar a violência política de rua em 2017 e 2019, além da malversação de recursos públicos no período em que foi deputada. Por óbvio, que a oposição e seus financiadores externos sabiam que Corina era inelegível, mas pretenderam denotar perseguição política para desgastar as instituições, o governo e a lisura das eleições presidenciais. Corina foi substituída por Edmundo Urrutia, diplomata aposentado, ex-agente informal da CIA e acusado de participação no assassinato de padres jesuítas por paramilitares de direita em El Salvador, nos anos oitenta.

As falsas denúncias de Corina sobre perseguição política, jogaram água no moinho dos golpistas em sua cruzada contra a “ditadura de Maduro”. Ato contínuo, e já em meio ao processo eleitoral, foram fabricadas com muito dinheiro “pesquisas” de intenção de voto, dando larga vantagem à candidatura de Edmundo Urrutia sobre Nicolas Maduro. Tudo isso se conectaria à publicação das atas eleitorais falsificadas por parte da oposição, confirmando sua vitória. A par disso, uma massiva guerra cibernética, promovida do exterior contra as instituições venezuelanas, em particular ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE), impediram a contabilização dos sufrágios nas mais de 30 mil seções eleitorais de acordo com os prazos legais. Na madrugada do dia 29/07, o CNE se viu obrigado a publicar o resultado parcial do pleito indicando a vitória de Maduro.  O forçado atraso na publicação oficial dos resultados foi a senha para a promoção da violência nas ruas, mediante as “guarimbas” e seu séquito de assassinatos (29 pessoas) e de depredação do patrimônio público e estatal. Com a violência, os fascistas pretenderam a instauração do caos e uma reação desproporcional do governo tendo em vista a exposição midiática da “ditadura de Maduro”.

No entanto, a ultradireita da Venezuela e seus financiadores estadunidenses esqueceram uma velha lição de Sun Tzu, o inimigo também planeja. O governo Maduro se preparou com antecedência e respondeu muito bem à tentativa de golpe da oposição fascista. Em nenhum momento caiu em provocação ou exultou a base organizada do chavismo a reagir nas ruas. Ao contrário, o governo mobilizou as massas de trabalhadores e trabalhadoras para demonstrarem apoio à reeleição de Maduro em grandes e pacíficos atos políticos. Ao mesmo tempo, promoveu uma repressão de baixa intensidade e dirigida àqueles que promoviam violência, encarcerando mais de 1.000 pessoas. Em grande parte, jovens, colombianos e pagos para promoverem baderna e provocarem a reação violenta das forças de segurança.

No fundamental e mais uma vez, a eleição de Maduro e a derrota do golpe foram obras da estupenda força política do chavismo e da Revolução Bolivariana, da organização popular do povo trabalhador em Comitês Comunais e redes comunais por todo o território e da estruturação política e eleitoral do PSUV, no campo e na cidade. As críticas mal formuladas e ingerencistas de setores do dito “campo progressista” no Brasil contra Maduro e a soberania do processo eleitoral de uma outra nação, desconsidera esse ponto fundamental. Ou seja, não fosse o apoio e a organização popular dos trabalhadores venezuelanos a reeleição de Maduro não se sustentaria, destarte o apoio estratégico das forças de segurança e do exército. Para além do petróleo que é gerido de forma soberana pelo governo venezuelano, o que mais o imperialismo anglo-saxão e as oligarquias latinas associadas não podem tolerar é a organização do povo trabalhador em defesa de sua autonomia, de sua soberania e de seu governo. Mal comparando, mas para fins de reflexão, sustento que se tivéssemos uma organização popular equivalente da Venezuela bolivariana não teria ocorrido o golpe jurídico/parlamentar contra a presidente Dilma em 2016. Nesse sentido, a Venezuela, em termos de organização popular, está muitos pontos acima da experiência dos governos petistas no Brasil e, num certo sentido, na vanguarda na luta anti-imperialista na região.

Desde os antigos, como Sun Tzu, Platão, Cícero, Plutarco, Maquiavel e outros se sabe da arte na política em reconhecer os amigos dos inimigos. Contudo, em consideração às manifestações sobre os resultados das eleições na Venezuela circulam na “midiosfera” progressista preconceitos antichavistas, juízos e “análises” absurdamente infundadas e com pouca ou nenhuma objetividade.  Tais análises, impregnadas de noções cevadas pela propaganda imperialista norte-americana, incidiu sobre parlamentares da base do governo Lula, um ou outro ministro de Estado, certos segmentos da mídia progressista e incautos militantes e simpatizantes de esquerda. Como diria o ex-governador Brizola, resolveram “costear o alambrado” e se alinhar acriticamente com os meios de comunicação pro-imperialistas estadunidenses e suas agências replicadoras nativas. O que nos faz refletir sobre o déficit ideológico de muitos sinceros e honestos correligionários e analistas, absurdamente desequipados de ferramentas conceituais para o enfrentamento da guerra cultural promovida pelo imperialismo de modo incessante através da mídia-empresa e das redes sociais.

As acusações e as contestações da reeleição do presidente Maduro por parte de setores reconhecidamente progressistas denotam capitulação intelectual e política ao imperialismo estadunidense. Mas pior do que isso é o comportamento titubeante e temerário da política externa do governo Lula sobre o tema.  A meu juízo, as oscilações capituladoras do Itamarati arranham os fundamentos da teoria democrática e do direito internacional, os fundamentos da luta anticolonialista, da integração regional e da construção da democracia popular do século XXI. Mas isso é assunto para uma outra conversa.

*Ilton Freitas é ex-pesquisador CEGOV/UFRGS e Cientista Político.

Foto da capa: Jovens vão às ruas em apoio ao governo de Nicolás Maduro (Foto: Correo del Orinoco)

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