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A Falência Da Social-Democracia

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A Falência Da Social-Democracia
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Por CELSO JAPIASSU * Com o crescimento da extrema direita na Europa e o recente sucesso eleitoral dos partidos neofascistas, fica no ar a questão do papel que desempenham os partidos sociais-democratas, que sempre procuraram ocupar o centro do espectro político. Eles surgiram como reação aos partidos de esquerda, para fazerem frente principalmente ao movimento comunista que liderava a causa operária e significava uma poderosa força política e social depois da Segunda Guerra. Stalin definiu a social-democracia como a pata esquerda do fascismo. Desde que se organizaram em fins do século XIX nos países da Europa, os sociaisdemocratas têm sofrido altos e baixos e, nos últimos anos, experimentado derrotas expressivas enquanto fornecem eleitores e militantes para o populismo reacionário. Apresentam-se como uma força de centro ou de centro esquerda e procuram ser o fiel da balança entre a esquerda e a direita, que procuram definir como radicalismos. Às vezes torna-se difícil identificá-los à primeira vista quando eles se denominam socialistas ou trabalhistas. Têm sido sempre uma alternativa de poder por contar com o eleitor das classes médias que busca o equilíbrio no panorama político de cada país. Mas na maioria das vezes sua prática é a de somar forças à direita e, dessa forma, contribuir para reforçar a ação da extrema direita. É neles, quer se situem no centro, centro-esquerda ou centro-direita, que se abriga a maioria silenciosa. Fiéis às suas origens históricas, têm representado uma comporta de contenção aos movimentos de esquerda e apresentam a prática de apoiar prioritariamente candidatos conservadores. França e Alemanha Na França, Todas as categoriasabrigam-se principalmente na sigla do Partido Socialista que, sob a liderança de François Miterrand, conheceu nos anos 1980/1990 os seus melhores momentos no passado recente. Em 2012 teve nova vitória com François Hollande mas, a partir daí, começou sua decadência em direção ao ocaso. Em 2017 Hollande desistiu de concorrer a um segundo mandato. O socialista Benoît Hamond teve pouco mais de 6 por cento dos votos e ficou em  quinto lugar entre os candidatos numas eleições que conheceram o crescimento da extrema direita comandada por Marine Le Pen. Atualmente está ocupando um exíguo espaço entre o A República em Marcha, do presidente Emmanuel Macron e a extrema direita representada pelo Reunião Nacional de Le Pen. O PS francês tem tradição de alinhamento à esquerda. Seu congênere alemão SPD-Partido Social-Democrata da Alemanha tem uma história pendular. É um dos partidos mais antigos do país, sofreu dura perseguição do nazismo e foi obrigado a fazer uma fusão com o partido comunista durante o controle soviético. Historicamente o seu maior rival é o CDU, os democratas-cristãos que conduziram os mandatos de Angela Merkel. Faz parte da coalizão que governa a Alemanha e venceu as últimas eleições, confirmando as previsões e as pesquisas, levando ao poder Olaf Scholz como o Chanceler que substituiu Angela Merkel. Suécia e Áustria Na Suécia foram bem-sucedidos nas eleições desde os primeiros anos do Século 20 até a derrota para o conservadorismo da direita. Depois da Segunda Guerra Mundial criaram no país um sistema de bem-estar social tido como modelo, o que lhes garantiu força junto aos eleitores. A partir dos anos 1990, este sistema passou a sofrer cortes sob alegação de que ficara caro demais. Os sociais-democratas começaram a perder votos para os populistas de direita que fazem oposição à política migratória liberal do país e que acabaram por conquistar o poder. No país de Greta Thunberg, os verdes também têm perdido apoio para a extrema direita do SD-Democratas Suecos. O Partido Social-Democrata da Áustria (SPÖ) conheceu sucessos eleitorais até os anos 1990, mas hoje se vê acossado pelos populistas de direita do Partido da Liberdade (FPÖ). Sua história política é marcada pelas coalizões com as forças conservadoras, embora nem sempre em maioria. Esse comportamento faz os sociais-democratas austríacos perguntarem-se sobre a força da sua imagem, se ela não estaria diluída diante do eleitorado por causa de tantas coalizões que podem levar o eleitor a pensar no SPÖ como um simples partido caudatário de outros atores políticos. Reino Unido, Espanha e Portugal No Reino Unido o tradicional Partido Trabalhista foi renovado nos anos 1990 por Tony Blair, mas sua participação na invasão do Iraque sob a falsa alegação da existência de armas de destruição em massa provocou forte perda de prestígio. Depois do errático governo de Boris Johnson, assumiu Liz Truss, líder do Partido Conservador, que foi um fracasso e pretendia espelhar-se em Margareth Tatcher, de triste memória. Há muitos anos na oposição, os trabalhistas acabam de voltar ao poder com Keir Starmer, uma liderança ambígua e contestada pelos militantes históricos do partido. Na Espanha o PSOE venceu as eleições com Pedro Sanchez, com posterior dificuldade para conseguir aprovação do parlamento, ao contrário dos socialistas de Portugal que venceram com alguma folga reelegendo Antônio Costa ao cargo de Primeiro-Ministro e que veio posteriormente a renunciar ao mandato no meio de uma artificial crise política, dando lugar a Luís Montenegro, do Partido Social Democrata. Junto com os democratas-cristãos, os sociais-democratas formam o PPEPartido Popular Europeu, com 265 membros e posições de centro-direita. É o maior bloco político que atua no Parlamento Europeu. A plataforma política que define a ideologia do PPE ressalta valores conservadores como respeito à tradição, economia social de mercado e promoção da família. Promete em seu discurso a defesa da liberdade como direito humano fundamental, melhoria da educação e da saúde e a integração dos imigrantes.   *Celso Japiassu é autor de Poente (Editora Glaciar, Lisboa, 2022), Dezessete Poemas Noturnos (Alhambra, 1992), O Último Número  (Alhambra, 1986), O Itinerário dos Emigrantes (Massao Ohno, 1980), A Região dos Mitos (Folhetim, 1975), A Legião dos Suicidas (Artenova, 1972), Processo Penal (Artenova, 1969) e Texto e a Palha (Edições MP, 1965). Foto:  Divulgação Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

Internacional

Chamado de fascista por seu ex-chefe de gabinete, Donald Trump ameaça usar o aparato de Estado para perseguir e esmagar adversários políticos

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Chamado de fascista por seu ex-chefe de gabinete, Donald Trump ameaça usar o aparato de Estado para perseguir e esmagar adversários políticos
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Por BERNARDO MELLO FRANCO* Em artigo de opinião publicado no O Globo no domingo, 03 de novembro de 2024, o jornalista Bernardo Mello Franco analisa a possibilidade de Donald Trump vencer as eleições que estão em curso hoje nos Estados Unidos. Donald Trump já avisou: se voltar à Casa Branca, vai usar o aparato do Estado para perseguir e esmagar adversários políticos. Na reta final da campanha, o republicano elevou o tom das ameaças. Disse que o “inimigo interno” ofereceria mais perigo aos Estados Unidos que a Rússia ou a China. O ex-presidente fincou sua nova candidatura numa plataforma de vingança. Quer acertar contas com políticos, militares e servidores que se opuseram a seu projeto autocrático. Nas palavras do general John Kelly, seu ex-chefe de gabinete, Trump deseja retornar com poderes de ditador. “Sem dúvida, ele se enquadra na definição geral de um fascista”, resumiu o militar da reserva. Na terça-feira, os americanos vão às urnas eleger o próximo presidente. Será uma escolha existencial, com consequências para todo o planeta. Nas últimas semanas, a democrata Kamala Harris reforçou os alertas de que a democracia está em jogo. A questão é saber se esse discurso será capaz de sensibilizar eleitores que ainda se dizem indecisos. Há seis dias, o jornal The New York Times publicou uma ampla pesquisa sobre a satisfação dos americanos com o regime democrático. O resultado mostrou um país dividido: 49% concordaram que a democracia representa bem os interesses do povo, mas 45% disseram o contrário. Os pesquisadores do Siena College também mediram o humor dos eleitores com os ocupantes do poder. Para a ampla maioria (62%), o governo só está preocupado em cuidar dos próprios interesses e proteger as elites. Apenas 33% acreditam que o sistema atenda o povo e o país. O mal-estar com a democracia cria terreno fértil para populistas com vocação autoritária. Isso ajuda a entender a força eleitoral de Trump, que se apresenta como um líder capaz de resolver problemas complexos num passe de mágica. Nos últimos dias, sua campanha martelou o mote “Trump will fix it” (“Trump vai consertar isso”). Como a propaganda não explica o que é “isso”, o eleitor pode projetar qualquer coisa que o aflija: a angústia com a inflação, o medo da guerra, o incômodo com a ascensão de negros e latinos. O comício que lotou o Madison Square Garden, domingo passado, foi marcado por cenas de racismo explícito. Um humorista definiu Porto Rico, arquipélago caribenho que exporta mão de obra para os EUA, como uma “ilha flutuante de lixo”. O âncora Tucker Carlson debochou da origem étnica de Kamala, filha de uma indiana e de um negro nascido na Jamaica. Famoso por estimular o ódio contra imigrantes, o ex-presidente voltou a prometer deportações em massa. Ele já acusou estrangeiros de aterrorizarem famílias americanas e “envenenarem o sangue” do país. Qualquer semelhança com a retórica de autocratas da décadas de 1930 não parece ser mera coincidência. Em entrevista à revista The Atlantic, John Kelly disse ter ouvido de Trump que ele gostaria de ter generais “como os de Hitler”. Publicado originalmente n'O Globo do dia 03 de novembro de 2024 Foto da capa: Donald Trump e Kamala Harris/BBC News Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.  

Opinião

O caos dos socorristas no mundo que está acabando

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O caos dos socorristas no mundo que está acabando
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Por MOISÉS MENDES* O governo espanhol enfrenta um desafio inusitado. Autoridades se mobilizam para organizar e até conter a romaria caótica de socorristas voluntários de outras regiões em direção às áreas das cheias que já mataram mais de 200 pessoas. O excesso de gente nas estradas e nas cidades atrapalha o socorro de equipes treinadas para isso. Não são técnicos, é gente comum, inclusive de países vizinhos, com pás, vassouras, baldes, cordas. E aí se apresenta de novo aquela pergunta singela, banal e aparentemente sem sentido: por que o sentimento do coletivo ainda se manifesta nas urgências, se foi desprezado e fragilizado quando de decisões políticas e cotidianas em que prevalece o individualismo, a competição, o interesse particular? Por que o sentimento nessas horas é o de que as pessoas são salvas muito mais por outras pessoas do que pelo Estado? Como aconteceu no Rio Grande do Sul, onde espalharam que até o véio da Havan teria socorrido mais gente em seus helicópteros do que os militares treinados para salvar gente e bichos. Uma abordagem simplificadora informa que o véio da Havan foi apresentado como herói como parte da estratégia do bolsonarismo de exaltar os seus e depreciar o setor público e o ‘sistema’. Os helicópteros dos homens fardados seriam de Lula e deveriam ser diminuídos. Assim como espalharam pelas redes sociais que surfistas brancos de classe média, com imagem vinculada à direita, teriam resgatado o cavalo Caramelo que subiu no telhado. O cavalo foi resgatado por bombeiros e veterinários, por servidores públicos. Mas esses dois exemplos não explicam tudo, mesmo que se saiba da ação organizada do bolsonarismo para capitalizar e lucrar com a propaganda do socorro aos desabrigados e ao mesmo tempo atingir Lula. São incompletas as abordagens sobre os impulsos de gestos grandiosos de benemerência e filantropia, que muitas vezes aplacam falhas pessoais até sob o ponto de vista moral. Na base do eu sou reaça e individualista, mas na hora que precisam eu ajudo os outros. Há muita coisa além do desejo de aparecer bem montado no jet ski no Jornal Nacional. A mobilização que impulsiona as pessoas para a emergência do socorro e dá sentido a uma rede coletiva poderia ser melhor estudada no contexto político e social da gritaria antissistema, anti-instituições, anti-Lula e antitudo. É nesse cenário que avança a pregação de que os esforços pessoais são o que importam. Foi a mensagem da ação e da prosperidade individual que consagrou políticos de direita e extrema direita eleitos em outubro. Foi o que quase levou Pablo Marçal ao segundo turno em São Paulo. Em 2022, o desprezo pelo interesse coletivo quase reelegeu Bolsonaro, que negou vacina e solidariedade na pandemia, estava negando até auxílio financeiro e debochou das mortes por Covid. E mesmo assim continuou com grande apoio popular. E era uma emergência. Dirão que não há como comparar o nosso caso com o da Espanha, mas não é disso que se trata. Estamos apenas observando que a teologia do salve-se quem puder, que prospera em toda parte, inclusive na Europa, é o que contribui para a sabotagem dos direitos e das demandas coletivas das maiorias. As virtudes do egoísmo teriam finalmente vencido? Adeptos da teologia da prosperidade votaram nos deputados que rejeitaram na Câmara a taxação de fortunas. Pobres votaram nos que vão contrariar seus interesses de pobres e defender os ricos. Sempre foi assim? Mas tanto quanto agora? Gente que socorre quem nem conhece, nas emergências climáticas, nega vacinas aos próprios filhos, nega a ciência e nega que a crise do clima provocada por nós mesmos é que mata no Rio Grande do Sul e na Espanha. É gente que vota nos gestores das cidades invadidas pelas águas por omissões e gestão precária, como aconteceu com a reeleição do prefeito Sebastião Melo (MDB) em Porto Alegre. Melo venceu em todas as zonas eleitorais, com o apoio maciço de moradores de áreas alagadas. Solidariedade genuína, altruísmo, heroísmo e benemerência oportunista, tudo se mistura nas incoerências expostas nessas horas. O mundo do individualismo é também o que acolhe gestos de heroísmo público, televisionado e selfiado, porque não são coisas conflitantes e talvez sejam afins e complementares. O heroísmo que assume feições coletivas aparentes é muitas vezes primo do individualismo. Essas mesmas pessoas das vassouras e dos baldes seriam mobilizadas para salvar o mundo, se convocadas hoje em campanha mundial liderada por Ailton Krenak e Greta Thunberg, e não só para fazer faxina de emergência na Terra que todos nós destruímos todos os dias? Parece conversa de autoajuda? É a conversa que parte da esquerda se nega a fazer, porque envolve afetos, emoção, sentimentos, subjetividade, coisas com as quais a direita vem lidando muito bem. E as esquerdas? As esquerdas continuam achando que só irão sobreviver se forem extremamente racionais. *Moisés Mendes é jornalista Foto da capa: Resgate a vítimas no RS - Foto: Reuters/Amanda Perobelli Texto publicado originalmente no Brasil 247 Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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Qual a Lógica de Subsidiar os Agrotóxicos?

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Qual a Lógica de Subsidiar os Agrotóxicos?
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Por JEAN MARC VON DER WEID* O STF estará julgando, no próximos dias, uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 5.553) impetrada pelo PSOL, questionando o projeto de lei 6.299/2002 que modifica a legislação sobre agrotóxicos vigente, visando ampliar os subsídios e isenções fiscais no Brasil. O agronegócio brasileiro já é há alguns anos o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, sendo que pelo menos um terço com alto grau de toxidade e muitos deles proibidos por órgãos reguladores tanto nos Estados Unidos como na União Europeia. As reduções de impostos têm um papel importante neste processo, mas o agronegócio quer mais, sobretudo reduzir em 60% o ICMS e zerar o IPI sobre os agrotóxicos. Em outras manobras legislativas, a bancada ruralista almeja facilitar ainda mais a liberação de novos agrotóxicos, apesar de estar conseguindo colocar estes produtos cada vez mais rapidamente no mercado interno, na base de centenas a cada ano, oito vezes mais ligeiro do que na União Europeia. Isto se faria pela retirada da competência da ANVISA e do IBAMA do sistema de aprovação, entregando-o estritamente nas mãos da complacente e cúmplice burocracia do MAPA. O agronegócio brasileiro argumenta que sem estes e outros subsídios (sobretudo para fertilizantes e sementes) não conseguiriam competir no mercado internacional e que teriam que cotejar as eventuais vantagens apontadas pelo agrobusiness com os impactos negativos (custos externos) das suas atividades. Com toda a propaganda de alta qualidade e alto custo na mídia brasileira (“agro é pop, agro é tec, agro é tudo…”) o nosso agronegócio confessa a sua ineficiência quando cobra do erário o custo da sua sobrevivência. O argumento da preocupação com a alta do custo dos alimentos é pura falácia. O aumento dos preços do arroz com feijão, que usaremos como indicativo da base de uma dieta nacional desejável, não é provocado principalmente pelos custos de produção (inclusive dos agrotóxicos), mas pela baixa oferta dos produtos no mercado interno. A oferta per capita de arroz e de feijão vem caindo regularmente ao longo dos últimos 50 anos. Entre 1977 e 2022, o consumo per capita de arroz caiu de 79 para 49 quilogramas por ano, uma redução de 38%. O de feijão caiu de 24,7 kg para 14 kg, 43% a menos. O consumo de outros alimentos básicos da dieta tradicional brasileira (aquela entronizada na lei do salário-mínimo de Getúlio Vargas nos anos trinta e que está longe de ser a mais correta do ponto de vista nutricional), como o milho e a mandioca, seguiram o padrão do arroz e feijão. Em 2022, o milho usado para consumo humano não superou os 8,7 kg per capita no ano, um sétimo do que foi consumido por animais sob forma de ração e a metade do que foi usado para produzir biodiesel. Ficou muito para trás o tempo em que a broa de milho era o pão de boa parte dos brasileiros Para apontar o destino da produção agropecuária brasileira de forma mais geral, basta olhar a área cultivada dos produtos dirigidos principalmente para o mercado interno e os dirigidos principalmente para as exportações. Entre os 22 cultivos mais importantes, ocupando em 2022/2023 perto de 88 milhões de hectares de lavouras, soja e milho (em grande parte exportados quer em grãos, farelo ou para a engorda de frangos, suínos e bovinos, também exportados em grande parte) ocuparam 71% da área total. Mais 15% da área foi destinada para outros produtos de exportação como cana de açúcar, algodão, café, cacau e fumo. Apenas 11,5 % da área de lavouras foi destinada a cultura alimentares do mercado interno, como arroz, feijão, trigo, mandioca, banana, batata, aveia, cebola, tomate, etc.). Este processo de internacionalização do nosso agro não é novo. Afinal de contas, o país nasceu e cresceu sob o signo da exportação de produtos agrícolas, açúcar, café, algodão, cacau e outros, nos famosos ciclos econômicos que só tiveram um período em que foram os minerais (ouro) que dominaram a exportação. O que é novo é que, depois de um período de desenvolvimento industrial acelerado iniciado nos governos de Vargas, mas que tiveram continuidade até no regime da ditadura militar, voltamos a ser essencialmente um país exportador de produtos primários, agrícolas e minerais, com a produção industrial caindo a pouco mais de 12 % do PIB. Esta regressão tem um efeito brutal no custo da alimentação dos brasileiros. Neste século, tivemos 6 anos apenas em que a inflação geral medida pelo IPCA ficou acima da inflação de alimentos (60% mais alta em média), enquanto nos outros 18 anos esta última bateu a primeira mais ou menos com a mesma média anual. Descartemos, portanto, o argumento de que os subsídios se dirigem a baratear a alimentação dos brasileiros. Eles se dirigem a aumentar a competitividade dos nossos produtos no mercado internacional, deixando o consumo interno de alimentos em permanente insuficiência frente às necessidades dos consumidores. Para dar uma ideia aproximada do problema, é só lembrar que a demanda anual reprimida de arroz (em casca) é de 18 milhões de toneladas, extrapolação realizada pelo autor a partir do consumo desejável indicado em pesquisa do Instituto de Nutrição da UERJ, publicada na Revista de Saúde Pública. A demanda anual reprimida de feijão é de 7,6 milhões de toneladas, pelo mesmo critério. Isto significa a necessidade de se multiplicar a produção de arroz por 2,8 e a de feijão por 3,4 para alimentar corretamente os brasileiros (sem contar, é claro, vários outros produtos alimentares necessários e igualmente deficitários). E, enquanto os preços da soja e do milho nos mercados internacionais de comodities forem mais altos do que os do feijão e arroz no mercado interno, a orientação do agronegócio será a de privilegiar as exportações. Enquanto isso, a produção de soja cresceu de 12 para 153 milhões de toneladas, entre os anos de 1977 e 2022. A de milho de 19 para 125. Ambos os produtos, como vimos acima, dirigidos essencialmente para o mercado externo sob diversas formas, grãos, farelo e carnes de frango e de suínos. O agronegócio é “tec”, como ele autoproclama na sua propaganda? Nem tanto. A produtividade da soja brasileira iguala a americana e supera a da Argentina, dois grandes exportadores, mas com uso mais intensivo de insumos. Já a produtividade do milho é muito menor: 2,78 e 1,7 vezes mais baixa do que nos Estados Unidos e na Argentina. Os nossos concorrentes têm algumas vantagens naturais de clima e de solos, mas isto não explica o nosso atraso em termos de produtividade. Entretanto, o Brasil hoje produz e exporta mais do que qualquer outro e não só nestes dois produtos dominantes. Como explicar? É simples. Por um lado, a legislação ambiental e a sanitária nos EUA e na União Europeia implicam em custos mais altos na aplicação das mesmas tecnologias. Temos custos bem menores pela fragilidade da aplicação da nossa legislação ambiental, cada dia mais permissiva. E temos custos de mão de obra também muito mais baixos. Mas, sobretudo, nós temos disponibilidade de terras baratas para expandir a produção, algo que falta para os concorrentes. Enquanto a demanda continuar aquecida pelas compras chinesas estaremos bombando com preços compensadores, mas com qualquer redução das cotações nós seremos os primeiros a perder mercado pois nossos custos de produção são mais altos. Como nossa produtividade é mais baixa, nem o custo quase zero da ocupação de terras griladas na Amazônia ou o trabalho mal pago compensará os custos maiores de produção. É claro que existem setores do agronegócio mais tecnificados e competitivos, mas a maioria vive de explorar as vantagens naturais e humanas locais sem pensar no amanhã. Se fossem de fato “high tec”, como proclamam, já estariam aplicando as tecnologias disponíveis para reduzir o uso de fertilizantes químicos e agrotóxicos, ao invés de lutar para facilitar o uso de produtos cada vez mais perigosos … e caros. Na verdade, a experiência internacional mostra que o agronegócio é igual em todo o mundo. Os produtores americanos só adotam técnicas mais racionais e de menor risco ambiental ou para a saúde quando a pressão de legisladores ou do mercado os obriga. Um exemplo do outro lado do mundo é dos mais ilustradores deste axioma. Nas Filipinas dos anos 90, a FAO convenceu o governo da hora a montar um plano de redução do uso dos agrotóxicos na cultura do arroz, central na economia e na sociedade do país. O projeto visava não a erradicação do uso de agrotóxicos, mas o seu uso racional, na forma do manejo integrado de pragas ou IPM, na sigla em inglês. O programa dirigiu-se a agricultores de pequeno, médio e grande porte, mas seu sucesso inicial se deu principalmente no primeiro grupo. Os pequenos produtores, com menos acesso a recursos financeiros, perceberam a oportunidade de reduzir custos sem perder produtividade e filiaram-se ao programa em grandes números. Já os médios e grandes produtores só aderiram quando o governo filipino retirou os subsídios para o uso de agrotóxicos na produção de arroz. Em dez anos, as Filipinas reduziram o emprego de agrotóxicos no arroz a menos de 20% dos volumes anteriormente empregados. Com ganhos de produtividade e menores custos. O programa da FAO ganhou prêmios de excelência e passou a ser disseminado na Ásia e na África com apoio do Banco Mundial, que estava carente de alguma coisa para melhorar a sua imagem junto aos ambientalistas. Embora o IPM esteja longe de ser um programa agroecológico e que ele nem sequer imagine outros componentes de racionalização do uso de insumos, o resultado, embora estrategicamente diminuto, aponta na direção correta. Ele ficou ainda mais relevante com a escalada dos preços dos agrotóxicos e dos adubos químicos nas últimas décadas e que tende a se intensificar ainda mais. Ao que eu saiba, não existe no Brasil um cálculo sobre os custos indiretos do uso de agrotóxicos nos sistemas produtivos do agronegócio. Sabe-se que cerca de 25% das amostras de alimentos contêm, em média, doses de agrotóxicos acima do tolerável, segundo as definições da ANVISA. Também é sabido que a contaminação de trabalhadores agrícolas é um recorde mundial contínuo. Mas não se sabe quanto isto custa em termos de gastos privados ou do SUS. Os impactos ambientais sobre fauna e flora são constatados em grande escala, mas também sem avaliações de custos. A única indicação encontrada foi de um estudo da cooperação técnica da Alemanha, apontando para um custo indireto (abrangendo todos os impactos) de 20,00 reais para cada real de faturamento do agronegócio. Não tive acesso ao estudo, somente às suas conclusões que me parecem algo exageradas, mas por comparação com estudos em outros países estes “custos externos” apontados pelo estudo podem estar corretos. O que temos que entender no caso brasileiro é que o caráter predador e imediatista do nosso agronegócio só pode ser parado com maiores controles de seus impactos ambientais e na saúde e não com o programa da bancada ruralista que é desmontar a legislação e os instrumentos estatais de controle para poderem devastar a seu talante. Sem sombra de dúvida, o maior freio possível no uso dos agrotóxicos é o financeiro, na forma da diminuição paulatina até a eliminação dos subsídios existentes. O STF tem nas mãos a possiblidade de colocar limites nesta fúria devastadora, já que o governo Lula ou bem resolveu se aliar com o agronegócio, na ilusão de amansar a besta ou bem capitulou frente a bancada ruralista por total falta de poder de fogo. Resta saber se os votos restantes no STF (em seções anteriores suas excelências já votaram a favor do agronegócio por 6×2) vão equilibrar o resultado e estimular algum dos anteriores a se penitenciar e rever sua posição, talvez pensando no bem do Brasil, do seu povo e de sua fauna.   *Jean Marc von der Weid é ex-presidente da UNE entre 1969 e 1971, Fundador da ONG Agricultura Familiar e Agroecologia em 1983, Membro do CONDRAF/MDA entre 2004 e 2016 e Militante do movimento Geração 68 Sempre na Luta Foto de capa: Arquivo/Fernando Frazão/Agência Brasil Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.  

Economia

Os Limites da Economia na Ótica do Bradesco

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Os Limites da Economia na Ótica do Bradesco
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Por J. CARLOS DE ASSIS* O CEO do Bradesco, Marcelo Noronha, numa entrevista à Globonews na última sexta-feira, se revelou muito preocupado com o futuro próximo da economia brasileira. Como bom porta-voz do mercado financeiro, não se revelou muito entusiasmado com os números da economia que revelam situação de virtual pleno emprego e aumento de 6% na renda do trabalhador. Ao contrário. Sua recomendação é que o Banco Central aumente a Selic e a Fazenda corte o déficit primário, para reduzir a atividade econômica a fim de controlar a inflação e estabilizar o câmbio. Como não pertenço à confraria dos banqueiros e nem especulo no over, vou pedir licença ao executivo para apresentar meu ponto de vista de economista e professor independente,  exatamente oposto ao dele. Primeiro, quero dizer que a Selic é uma taxa espúria para ser usada a fim de controlar a inflação. Trata-se de um indicador arbitrário de inflação futura, baseado em expectativas dos componentes do Copom e dos próprios donos de bancos  e de grandes corretoras (boletim Focus), estes justamente os mais interessados em sua elevação. Segundo, mesmo uma taxa de juros objetiva e honesta para ser usada no controle da inflação, como o IPCA do IBGE, tem eficácia limitada, pois ninguém prova uma relação de causalidade estrita entre aumento de taxa de juros e queda ou estabilidade da inflação. A inflação não é um fenômeno apenas monetário, mas se deve principalmente à relação objetiva entre oferta e procura de bens e serviços no mercado real. Fatores externos à política monetária e fiscal como guerras, quebras de safras, embargos comerciais e outros, que afetam oferta e demanda, podem contribuir mais para a desestabilização dos preços do que a taxa de juros e o déficit público. Quanto ao déficit público, cujos cortes no orçamento primário os conservadores-neoliberais, bem representados pelo CEO do Bradesco, consideram, repetindo em uníssono como num coro grego, essenciais para a estabilidade dos preços, também não constituem necessariamente causa de inflação. Ao contrário, se esses déficits forem contrabalançados por bons e responsáveis investimentos públicos em infraestrutura e em investimentos privados na produção de bens e serviços de consumo popular,  não haverá necessariamente inflação ou, sobretudo, aumento do custo de vida. Assim, quando se analisa a economia fora dos padrões ideológicos do conservadorismo-neoliberal, também não é preciso, para que o País cresça com sustentabilidade, que tenha equilíbrio fiscal. Na verdade, o que se  requer para assegurar a estabilidade inflacionária com crescimento  é justamente o oposto. Ou seja, que um desequilíbrio inicial do orçamento primário, resultante da expansão da demanda acima dos gastos e investimentos públicos, induza o aumento da produção de forma dinâmica, a fim de que o equilíbrio de oferta e demanda no mercado real seja sempre restabelecido pelo aumento da produção (com contribuição de importações) e não pelo corte da demanda. O desequilíbrio deve sempre começar pelo lado da demanda. Se começar pelo lado da oferta, haverá no mercado mais produtos disponíveis para o consumo do que consumidores dispostos a comprá-los. Com isso, os produtores desligariam suas máquinas e migrariam para o setor financeiro especulativo, atraídos pelas altíssimas taxas de juros oferecidas nele pelo Banco Central. Quando o desequilíbrio começa pela demanda ocorre o contrário. O consumo pressiona a produção, aumentando a oferta e as importações. Isso significa que, para estabilizar os preços, o fundamental é garantir o equilíbrio dinâmico entre demanda e oferta, do que resulta o crescimento do PIB. Resumindo: para fomentar o crescimento sustentável sem aumento do custo de vida e da inflação  não é preciso reduzir ou eliminar o déficit primário, nem aumentar juros,  desde que haja a contrapartida de bons projetos do próprio Governo ou da iniciativa privada em investimentos em infraestrutura e produção de bens e serviços de amplo consumo. Só que, para isso, é indispensável a contribuição do Banco Central para aumento da liquidez da economia, respondendo ao déficit orçamentário, e levando à queda dos juros a fim de estimular a produção e o investimento privado. Como temos amplos recursos naturais, principalmente de energia, e suficientes reservas internacionais de mais de US$ 355 bilhões a fim de servir de garantia para  financiamentos internacionais de máquinas, equipamentos, tecnologia e insumos industriais, estamos em condição de aumentar a produção como contrapartida do déficit, garantindo a estabilidade dos preços. Cabe, assim, ao Bacen contribuir para criar as condições de mercado a fim de assegurar  a expansão dos investimentos, ou seja, deve assegurar juros baixos às empresas, com a eliminação da Selic espúria; e cabe ao Planejamento estabelecer os mecanismos públicos e privados (incentivos) para distribuição entre investimentos de infraestrutura, que criam oferta de longo prazo,  e investimentos para a produção de bens de consumo popular, que devem responder à demanda corrente e à nova demanda de curto prazo (salários, insumos, serviços)  que resulta dos próprios investimentos de infraestrutura. Resta a questão do câmbio. A queda dos juros pode levar à desvalorização  cambial, especialmente por conta da retirada de aplicações financeiras especulativas no mercado aberto. Mas isso não é necessariamente ruim para a economia. Se essas retiradas significam fuga de capital especulativo, ótimo. Os investimentos produtivos continuarão vindo para a economia brasileira, e eles são os que nos interessam do ponto de vista da geração de empregos. Além disso, câmbio forte significa destruição de nossa capacidade competitiva no mercado externo. É péssimo para a economia. A paridade do dólar com o Real, no lançamento da nova moeda em 1994, iniciou  um processo de destruição que atingiu  virtualmente um terço da capacidade industrial brasileira, junto com  milhões de postos de trabalho de melhor qualidade. Um real valia um dólar. Fernando Henrique Cardoso, eufórico, celebrou o fato de que o trabalhador poderia comprar com apenas um real um frango assado, ou uma garrafa de cerveja. Aonde isso levou? A uma escalada do desemprego no mercado de trabalho formal e à extrema expansão da informalidade. O CEO do Bradesco está confundindo pleno emprego com uma situação do mercado de trabalho que inclui os trabalhadores do mercado informal.  São cerca de 39 milhões, hoje, praticamente sem direitos trabalhistas ou previdenciários. No mercado formal, são incluídos os trabalhadores das áreas de serviços, onde o emprego efetivamente está crescendo. Contudo, mesmo esses empregos, comparados aos que foram perdidos na indústria com a política cambial irresponsável do Plano Real, têm remuneração muito menor. Assim, o mundo do trabalho brasileiro se encontra diante de uma de suas piores fases na história. Isso implica o imperativo da continuidade da atividade econômica em níveis elevados, a fim de assegurar o desenvolvimento sustentável do País com justiça social. É o contrário do que querem o executivo do Bradesco e seus pares do mercado financeiro,  que exigem políticas fiscais e monetárias restritivas. Estas roubam bons empregos   do sistema produtivo industrial em troca de papéis ou de sinais eletrônicos no over que, em si mesmos, não dão nenhuma contribuição produtiva, direta ou indireta, à sociedade, além de consumirem a parte de leão de sua renda. Na realidade, diante dos desastres climáticos extremos e recorrentes que estão  acontecendo no País, os investimentos públicos e privados para sua reconstrução e prevenção necessariamente vão aumentar. Ao exigir equilíbrio orçamentário e a elevação da Selic, com o suposto objetivo de estabilizar os preços,   o “mercado” continuará cometendo seus crimes contra o  povo brasileiro, em níveis ainda mais elevados que os comuns. É que estará impondo ao Estado,  através da manipulação da mídia, a contração da produção e da oferta de bens e serviços no mercado, enquanto as despesas (demanda) crescerão devido às necessidades reais de reposição da infraestrutura e dos de bens e serviços destruídos pelas tragédias climáticas.   *J. CARLOS DE ASSIS é jornalista, economista, doutor em Engenharia de Produção, professor aposentado de Economia Política da UEPB, e atualmente economista chefe do Grupo Videirainvest-Agroviva e editor chefe do jornal online “Tribuna da Imprensa”, a ser relançado brevemente.    Foto de capa: Marcello Casal jr/Agência Brasil Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.  

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Uma Conta Sem Conta

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Uma Conta Sem Conta
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Por EDELBERTO BEHS* Se sobrasse uma ponta de esperança e expectativa sobre o futuro de Gaza e seus habitantes, decisão do Knesset acaba com qualquer ilusão. Em 28 de outubro, o parlamento de Israel aprovou, por 92 a 10, projeto de lei que nega meios essenciais para o funcionamento da Agência aos Refugiados Palestinos (UNRWA) e outro que proíbe a operação da agência no território soberano israelense, leia-se, também a Faixa de Gaza. As medidas devem entrar em vigor em 90 dias. O secretário-geral da ONU, António Guterres, frisou que a UNRWA é a principal fonte de entrega de ajuda humanitária. As consequências serão “devastadoras”, se a decisão de Knesst for aplicada. Fica cada vez mais evidente que Israel quer acabar com palestinos em Gaza, onde a população já passam sede e fome. É impressionante que um povo que sofreu o que sofreu no decorrer da história – passou fome e sede no deserto, viu sua população na diáspora, foi massacrada como “ratos” pelo nazismo – use os mesmos recursos contra palestinos. Relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) aponta o estrago que a ação israelense gerou em Gaza a partir de outubro do ano passado. A produção da construção caiu 96%, a produção agrícola 93%, a manufatura 92% e a produção do setor de serviços 76%, enquanto a taxa de desemprego chegou a 81,7% no primeiro trimestre de 2024, um percentual com potencial para se manter ou aumentar conforme a continuidade das operações militares. Segundo a Unctad, se o conflito acabasse hoje, Gaza levaria 350 anos apenas para restaurar o PIB que tinha em 2022! Esses dados são mensuráveis. O que dizer das consequências psicológicas, físicas, educacionais, morais que pais, jovens, adolescentes, crianças vivenciam no seu cotidiano de tiroteios, bombas destruindo edifícios, aviões e drones sobrevoando a região, o que ficará registrado no DNA para as próximas gerações? “O que as crianças, as famílias, têm a ver com a guerra? Elas são as primeiras vítimas”, disse o Papa Francisco no final da audiência geral, na Praça de São Pedro, na quarta-feira, 30 de outubro.  As crianças “estão pagando com suas vidas e o futuro”, declarou a diretora geral do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Catherine Russell. Essa conta é incomensurável! Será possível alguma restauração da alma de crianças, futuros adultos, que as bombas sobre Gaza provocam?   *Edelberto Behs é Jornalista, Coordenador do Curso de Jornalismo da Unisinos durante o período de 2003 a 2020. Foi editor assistente de Geral no Diário do Sul, de Porto Alegre, assessor de imprensa da IECLB, assessor de imprensa do Consulado Geral da República Federal da Alemanha, em Porto Alegre, e editor do serviço em português da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC). Foto de capa: Reuters/Ibraheem Abu Mustafa/direitos reservados Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.        

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