Destaque
Programas – de 13 a 20 de dezembro
RED
Por LÉA MARIA AARÃO REIS*
O programa é ouvir o médico, antropólogo, sociólogo e escritor francês Didier Fassin sobre a guerra na Palestina. “Pareceu-me impossível permanecer em silêncio diante do genocídio em Gaza, que é provavelmente o abismo moral mais profundo em que o mundo ocidental caiu desde a Segunda Guerra Mundial”. Fassin vive entre a França e os Estados Unidos, professor no Collège de France e na Universidade de Princeton. Seu livro mais recente sobre Gaza é Une étrange défaite – Sur le consentement à l’écrasement de Gaza, informa a CAPJO-Europalestine.
O programa também é assistir imagens do vídeo gravado durante a mais recente reunião do Conselho de Segurança da ONU com um manifestante sentado na galeria, levantando-se para protestar contra o silêncio dos ilustríssimos membros do Conselho em relação ao genocídio praticado em Gaza, interrompendo a sessão com um pequeno, contundente e civilizado discurso. Constrangimento geral.
Força para Crescer é programa do grupo Pontos de Leitura que comemora a inauguração de dez bibliotecas multiuso no estado do Rio de Janeiro. Cidades beneficiadas: Angra dos Reis, Campos dos Goytacazes, Casimiro de Abreu, Guapimirim, Maricá, Magé, Niterói, Paraty, Rio de Janeiro e São Gonçalo. O Ministério da Cultura, Enel, o Itaú e o Governo do Estado promovem esse programa com apoio da CCR, a Companhia de Concessões Rodoviárias, e de organizações culturais. Dia 16, às 11 horas, no teatro Alcione Araújo.
Um vídeo original, da Editora Tabla, no YouTube: a entrevista com o poeta sírio Adonis, um dos principais poetas árabes. Ode à errância reúne três produções de Adonis. Juntas, elas compõem uma ode contínua à ‘errância’. O poeta vaga por Alquds (Jerusalém), pela Cidade do México, Pequim e por outras latitudes.
Dia 18 de dezembro, a partir das 19h, na livraria Blooks (em Botafogo, no Rio), o lançamento de Crânio de vidro do selvagem digital, de Luiz Eduardo Soares. O livro enfatiza a liberdade da imaginação e propõe o desafio de transformar em literatura o esgotamento de um mundo em ruínas. Em seguida, bate-papo com o autor mediado por Suzana Vargas, escritora, professora de literatura e curadora do projeto Clube de Leitura do Centro Cultural do Brasil.
Esse novo livro de ficção de Luiz Eduardo Soares acompanha o reencontro do protagonista, um acadêmico de esquerda que herda muitas das experiências do autor, com um velho companheiro da luta política, desaparecido no tempo e no espaço. Os personagens mergulham em lembranças em comum e em viagens lisérgicas, abençoadas pelo poder de ervas e de chás capazes de libertar a mente. Rumam ao passado e se embrenham em uma floresta de memórias (Blog da Biblioteca Virtual do Pensamento Social)
Leitura oportuna: Narrativas em disputa – Segurança pública, polícia e violência no Brasil, é organizado por Renato Sérgio de Lima, no qual os textos identificam como “estratégia de boa governança e de modernização da narrativa da segurança pública brasileira, a promoção do acesso à informação e ao Estado de direito em todos os níveis”. No livro, especialistas no assunto escrevem que “já passamos da hora de desafiar a grotesca distorção civilizatória e controlar o desfile anual de mortes violentas no Brasil”. Renato Sérgio de Lima é professor da FGV/EAESP, Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas. (Ed. Alameda)
Dias 21 e 22 deste mês, uma boa novidade: o 1º Festival do Bacalhau, na Praça Paris, no bairro da Glória, Centro do Rio. É mais uma festa popular, gratuita, de fim do ano. Os ingredientes do festival: variados pratos de bacalhau, feira de presentes natalinos, atrações para crianças, samba, pequenos shows de música. E livros? Não?
Mas antes, dia 14, será a vez da festa do grupo Barão de Itararé, no Armazém do Campo, em São Paulo. A tradicional comemoração do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé reúne amigos, comunicadores populares, representantes de movimentos sociais e com trilha musical de rap do grupo mineiro Fantasmas Vermelhos, que vem da cidade de Tiradentes. Início às 14 horas. Trecho do videoclipe dos Fantasmas Vermelhos no Instagram.
Especialistas em assuntos econômicos, mais que nunca atentos ao livro da emérita pesquisadora e filósofa italiana Clara Mattei, A Ordem do Capital, publicado no Brasil no ano passado. Nele, observou Chomsky, “vê-se que os programas de austeridade, há um século, têm sido instrumentos da guerra de classes abrindo caminho para o fascismo”. O livro foi considerado pelo Financial Times um dos melhores livros de 2022, e Thomas Piketty diz que ele é “leitura obrigatória, com importantes lições para o futuro”. (Ed. Boitempo)
Com o título provocativo de O dia em que conheci Brilhante Ustra, o jornalista Alex Solnik relata sua prisão, dia 04 de setembro de 1973, o encarceramento por 45 dias, sua liberação sem nenhuma explicação, e o período em que viveu os horrores de testemunhar violências e torturas contra presos políticos. (Ed. Geração)
,Veja Também: Minicurso Fatoflix - Direitos Humanos e Memória: A verdade histórica vem à tona
*Outra leitura necessária é o volume Cachorros: A História do Maior Espião dos Serviços Secretos Militares e a Repressão aos Comunistas Até a Nova República, publicado este ano, do jornalista Marcelo Godoy (Prêmio Jabuti de 2015 com A Casa da Vovó) e com contribuições de um colega, também jornalista e repórter de elite, Bruno Paes Manso.
Acontecimento cinematográfico importante: foi lançado no Festival de Cinema de Brasília (com entrada gratuita) o mais recente filme do histórico cineasta Ruy Guerra. Fúria fecha a sua trilogia intitulada Guerra, iniciada com Os Fuzis, de 1965, e A Queda, de 1997. A codireção é de Luciana Mazatti e do seu elenco de peso participam Ricardo Blat, Daniel Filho e Lima Duarte. O moçambicano Ruy está firme e vibrante nos seus 93 anos.
Mais um bom lançamento recente, de fim de ano. Psicologia de Massas e Bolsonarismo, da psicóloga Rita Almeida, que trata de fenômenos de massas, no Brasil, pesquisados entre 2018 e 2023. No livro, o pensamento é norteado pela psicanálise, base teórica e clínica para que se possa compreender o fenômeno de massas contemporâneo brasileiro e aquele que ocupou o posto de presidente em 2018, dominar não só a sociedade como as forças políticas. “O que leva as pessoas a aderir a líderes e grupos que promovem a opressão e a subserviência do outro”? É a grande pergunta em busca de resposta no livro que contém o pensamento de diversos(as) profissionais da Psicologia.
Acaba de ser lançado, em tarde de festa literária nos jardins da Reitoria da Universidade Federal do Ceará, o livro Tempos de ‘nunca-mais’: as graves violações dos direitos humanos nas universidades públicas do Ceará (1964-1985). Reúne 28 depoimentos de vítimas da ditadura civil-militar de 64, além de informações retiradas de documentos oficiais onde consta a perseguição feita ao movimento estudantil da UFC com processos, impedimentos de matrícula, suspensões, prisões, torturas, assassinatos e desaparecimentos (Ed. Imprensa Universitária da Universidade Federal do Ceará/edição física e digital)
Nova edição de livro de Celso Furtado, registrada por Leda Paulani em seu texto para o site A Terra é Redonda. Ela lembra este comentário de Celso Furtado: “Minha vida foi simultaneamente um êxito e uma frustração: um êxito pelo fato de que eu acreditei na industrialização, na modernização do Brasil, e isso se realizou; e uma frustração porque eu talvez não tenha percebido com suficiente clareza as resistências que existiam à consolidação mais firme desse processo, ou seja, que, a despeito da industrialização, o atraso social ia se acumulando”.
O mito do desenvolvimento econômico, de Celso Furtado, de 1974, completou 50 anos em 2024 e está sendo republicado pela Ubu. “Não é preciso dizer mais, penso, sobre a importância de se voltar a lê-lo hoje, reeditado em boa hora”, diz Paulani, professora da USP.
Considerações do historiador, pesquisador do universo das forças armadas brasileiras e ex-deputado Manuel Domingos Neto: “O democrata brasileiro terá seu momento alegre com a prisão de ícones do golpismo. Que pense nos animais domésticos, nos autistas, e festeje sem soltar foguetes”. E mais adiante: “A recomposição da imagem das fileiras exige expurgos arriscados. Pode haver quebra da cadeia de comando. Chefes serão testados. Desavenças entre as corporações podem eclodir. O marinheiro escancarou essa semana sua indocilidade agredindo quem lhe garante o soldo. O golpismo parece momentaneamente contido. Mas vale lembrar: trata-se de recurso inerente ao ultraconservadorismo, que mostrou força nas últimas eleições”.
Mostra de Cinema Sonho é subversão: Cem anos de Surrealismo no cinema, gratuita, vai até 22 de dezembro. Filmes de curtas, médias e longas-metragens, obras clássicas e contemporâneas, discutem a relevância estética e cultural do movimento conhecido por romper fronteiras entre sonho e realidade. Sessões com música ao vivo também para o público infantil. Siga no Instagram: @mostrasurrealismo100 e @caixaculturalrj.
Leitura de referência para os tempos presentes sombrios, violentos e de impunidade: O aprendizado da força – A formação do soldado de Polícia Militar de São Paulo, de Thomas Machado Monteiro, jornalista gaúcho e mestre em História pela USP. Monteiro é estudioso de antropologia e sociologia do policiamento. (Ed. Alameda)
Em semana mais literária que cinematográfica, revisitar o clássico italiano Mamma Roma, roteiro e direção de Pier Paolo Pasolini – e mais: com Anna Magnani – é um super programa. O filme é uma das atrações de dezembro da plataforma de streaming Filmicca. Para quem não lembra: o tema são os excluídos da sociedade italiana e a luta de uma prostituta, personagem inesquecível de Magnani, que tenta dar uma vida digna ao filho. Obra-prima, segundo filme de Pasolini.
*Léa Maria Aarão Reis é jornalista.
Ilustração de capa: Marcos Diniz
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