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Opinião

Mussolini, como Paradigma da Extrema–Direita Atual

Mussolini, como Paradigma da Extrema–Direita Atual

Artigo por RED
26/11/2022 05:00 • Atualizado em 28/11/2022 10:20
Mussolini, como Paradigma da Extrema–Direita Atual

De JORGE ALBERTO BENITZ*

Assisti a série “Ditadores” no canal de TV da National Geographic sobre Mussolini. É uma série muito esquemática, maniqueísta, que rotula ao bel prazer de ditador inimigos ideológicos e cala, por exemplo, sobre o regime da Arábia Saudita. Sobre as ditaduras que eles, norte-americanos, colocaram aqui na América Latina nos anos 60 e 70 do século passado, nenhum pio.

Retomando, o documentário Mussolini, fora as ressalvas acima mencionadas, é interessante pela riqueza documental de imagens e informações do período em que Mussolini mandou e desmandou na Itália. Imagens e relatos do Mussolini socialista que escrevia no jornal socialista Avanti!, atuação que acabou quando ele se viu tolhido pela direção do jornal de defender a entrada da Itália na primeira guerra.

Depois de fundar o jornal Poppolo D’Itália, pôde pregar a vontade a favor da entrada da Itália na Primeira Guerra, ao lado da Tríplice Entente. Militância mais de acordo com a sua admiração pela violência, que se completou assim com a sua adesão a extrema direita ao lado dos integrantes do movimento futurista e dos, após o fim da primeira guerra, ex- combatentes nostálgicos dela. Como consequência, iniciou- se um festival de fanfarronice e delírios que o levaram a servir de modelo a outro ditador fascista chamado Hitler. Quando Hitler ascendeu ao poder em 1933, ele já tinha 11 anos de governo. Hitler copiou, inclusive, a famosa saudação nazista e não o contrário, como muitos supõem. Copiou também a marcha para Roma liderada por Mussolini que consistiu de uma bem urdida estratégia de marketing para representar força e poder. O blefe deu certo. Tanto que o Rei Vitor Emanuel III, assentiu em nomeá- lo, em 1922, primeiro-ministro como era o propósito da marcha. Assentiu, talvez, por fraqueza e ou por entender que este era o único caminho para sustar a revolução. O tal botão vermelho que o capitalismo aciona diante de uma crise pesada.

Daí em diante, o céu era o limite para Mussolini e sua falange fascista. Integrante, junto com a Alemanha, do bloco dos países do capitalismo tardio, sentiu a necessidade imperialista de expansão e partiu para a conquista do único país ainda não conquistado pelas grandes potências europeias, na África, a Etiópia. Foi uma conquista pirroniana, isto é, além de utilizar dos meios mais sórdidos para vencer – usou gás mostarda condenado pela sua inumanidade desde o fim da primeira grande guerra -,  e, segundo informado no documentário, além de matar em torno de 400 mil etíopes, levou a Itália à bancarrota.

Não satisfeito, empreendeu como aliado das forças do eixo, já na segunda grande guerra, uma incursão desastrada no norte da África com o exército saindo do embate derrotado e escorraçado.   Depois disso, desandou sua imagem de líder na Itália. Para que serve um líder que só perde batalhas, que fez a economia piorar nestes anos todos de poder quase absoluto. Teve direito ainda a uma fuga espetacular da cadeia – onde foi colocado, em 1943,  pela próprio Grande Conselho do Fascismo, mancomunado com o rei Vitor Emanuel III – onde posou mais de coadjuvante das forças especiais alemãs que o resgataram da prisão de San Grasso, para menos de dois anos depois ser pego pelos partisans que o julgaram e o enforcaram em praça pública, junto com sua amante  Claretta Petacci, em Mezzegra, Itália, em 28 de abril de 1945. Após, seus corpos foram levados para Milão e expostos, pendurados de cabeça para baixo, na Praça Loreto.

O documentário, a despeito de suas limitações, me permitiu perceber que o script fascista de Mussolini, inspirador de Hitler, parece inspirar as propostas fascistas contemporâneas aqui e acolá. Estes últimos, provavelmente, via os Steve Bannon e Olavos de Carvalho da vida,  copiam e colam, sem mudanças significativas em termos de conteúdo, as estratégias e táticas de Mussolini – Alteram a forma para dissimular e dar uma cara mais apropriada aos dias de hoje e, ao mesmo tempo, buscando esconder as similaridades com o fascismo – como o uso descarado da mentira, o ataque a cultura travestido de ataque ao marxismo cultural quando, de fato, ataca as bases iluminis tas ocidentais, encarnadas na tríade,  gestada na revolução francesa,  assentada no lema igualdade, liberdade e fraternidade; ataca a  educação como base doutrinária da ideologia fascista, o ataque físico e psicológico aos inimigos ideológicos – que são os mesmos de Mussolini, os comunistas. Só que com uma releitura contemporânea. Como existem poucos comunistas, diferente da época em que Mussolini viveu, onde havia um partido comunista forte na Itália, fazem uso do termo para todos os que pensam diferente –  e mesmo aos que os apoiavam e agora pensam diferente; as manifestações truculentas visando demonstrar força e poder; a promoção de eventos públicos com discursos e estética com símbolos bélicos exposição de armas, cartazes e gritos com  slogans antidemocráticos vis ando amedrontar a população em geral e os inimigos ideológicos, em especial.

A receita da extrema direita atual é a mesma. Por exemplo, o Sete de Setembro de 2021 de Bolsonaro, que tinha a pretensão de imitar a Marcha de Roma, resultou em um traque. Agora, com a derrota, agem como aquelas crianças mimadas que, quando não conseguem o que querem, ficam batendo pé e fazendo barraco com a cara emburrada porque não aceitam ser contrariadas.  Como não tem nenhum compromisso com a democracia e com valores civilizatórios ficam clamando até aos extraterrestres para a volta da ditadura. Repito o que já disse no meu Facebook: “Como eles não tem contato nenhum com a realidade, tentar fazer contato com extraterrestes (ETs) faz todo o sentido do mundo. Eles vivem em um mundo paralelo bizarro”.


*Engenheiro, escritor e poeta. Autor do livro Conversas de Livraria & Avulsas, Editora Palmarinca (2017).

Imagem – reprodução de vídeo do grupo de bolsonaristas fazendo ‘ritual’ com luzes em Porto Alegre em 20/11/22.

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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