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Municipalização dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – ODS

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Municipalização dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – ODS
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Por ZELMUTE MARTEN* A Organização das Nações Unidas (ONU) está propondo o desafio da Municipalização dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Municipalizar os ODS significa definir metas e objetivos condizentes com a realidade e os desafios de cada município, a partir de indicadores e meios de implementação mais adequados. Os governos subnacionais não devem ser entendidos como meros executores da Agenda 2030; eles são formuladores de políticas públicas, catalisadores de mudanças e estão melhor posicionados para conectar as metas globais às realidades das comunidades locais. Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU são integrados e indivisíveis, ou seja, as ações em uma área também afetam os resultados em outras. Além disso, os ODS combinam as três dimensões do desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental. Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são:   ODS 1: Erradicação da pobreza;   ODS 2: Fome zero e agricultura sustentável;   ODS 3: Saúde e bem-estar;   ODS 4: Educação de qualidade;   ODS 5: Igualdade de gênero;   ODS 6: Água potável e saneamento;   ODS 7: Energia limpa e acessível;   ODS 8: Trabalho decente e crescimento econômico;   ODS 9: Indústria, inovação e infraestrutura;   ODS 10: Redução das desigualdades;   ODS 11: Cidades e comunidades sustentáveis;   ODS 12: Consumo e produção responsáveis;   ODS 13: Ação contra a mudança global do clima;   ODS 14: Vida na água;   ODS 15: Vida terrestre;   ODS 16: Paz, justiça e instituições eficazes;   ODS 17: Parcerias e meios de implementação.   Em São Lourenço do Sul, está sendo adotado um modelo de governança com a implementação de políticas públicas integradas aos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU. Nesse propósito, está contido o sentido do protagonismo das comunidades do interior e da cidade, o relacionamento horizontal e colaborativo com o poder legislativo local, a cooperação com os órgãos de controle e a ampliação das relações institucionais, nacionais e internacionais, para a atração de investimentos privados e públicos. A integração com o Plano de Transformação Ecológica em curso no Brasil será relevante nesse intuito. O programa nacional de neoindustrialização pode descentralizar as oportunidades para criar um novo ciclo de desenvolvimento integrado, gerando benefícios para os que mais precisam e conectando potenciais, como o da criação de agroindústrias que se estruturam a partir de saberes e práticas das comunidades tradicionais. Nesse  contexto social estruturado, medidas de prevenção, adaptação e mitigação aos eventos climáticos extremos são fundamentais. O denominado ponto de não retorno da crise climática impõe a necessidade de elaboração de planos municipais de contingência, para pactuar com a população medidas diante da recorrência de precipitações cada vez mais intensas, enchentes, secas, granizos, raios, vendavais, calor extremo, incêndios, entre outros fenômenos naturais. Em São Lourenço do Sul, assim como nos municípios vizinhos da Costa Doce Gaúcha, a localização costeira junto à Laguna dos Patos determina um conjunto de potenciais e fragilidades ambientais. No caso da terra de todas as paisagens, os arroios São Lourenço, Carahá, Passo do Pinto, entre outros, têm apresentado desafios que comprovam a necessidade de planejamento participativo. Nesse sentido, universidades como a Universidade Federal do Rio Grande, a Universidade Federal de Pelotas, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a Universidade Católica de Pelotas desempenham um papel relevante na elaboração de estratégias que permitam preservar as comunidades locais dos impactos de tais eventos. Em 2011 e 2024, entre outros momentos, esses eventos se mostraram causadores de dor, sofrimento e prejuízos muito significativos. Desejo a todos e todas um próspero 2025, com muitas oportunidades!     *Zelmute Marten é formado em jornalismo pela Universidade Católica de Pelotas, especialista em Gerenciamento Costeiro pelo Programa Train-Sea-Cost da ONU/FURG, mestre em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Lanus/Argentina. Atua no relacionamento do Brasil com países da América Latina, Europa e Ásia e no desenvolvimento de projetos de energias renováveis. Eleito prefeito da cidade de São Lourenço do Sul - Rio Grande do Sul, Brasil. Foto de capa: Reprodução Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.                

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Palmas para Fernanda Torres

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Palmas para Fernanda Torres
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Por NORA PRADO* Ontem pela primeira vez na vida assisti à festa de premiação norte americana Globo de Ouro. Em edição histórica o filme de Walter Salles, “Ainda Estou Aqui”, adaptado do livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, com Fernanda Torres, Selton Melo e Fernanda Montenegro concorria em melhor filme e melhor atriz, duas categorias de peso na premiação. Nem meu filho quis dormir, ficou conosco assistindo a produção maciça norte americana levar os seus respectivos prêmios. Não levamos na categoria de melhor filme, perdendo para Emília Pérez, mas ainda estávamos no páreo com nossa musa entre as finalistas de atuação feminina, ao lado de Angelina Jolie, Nicole Kidman,Kate Winslet, Tilda Swinton e Pamela Anderson. Confesso que apesar da torcida a favor de Fernandinha, começava a achar que seria quase impossível nosso sonho acontecer. O páreo estava duro, como se diz. Mas quando a atriz Viola Davis subiu ao palco para anunciar as indicadas e abriu o envelope e disse “Fernanda Torres” meu coração acelerou de alegria. Vimos em tempo real uma Fernanda Torres incrédula ouvindo o seu nome e entre atônita e emocionada, beijar o seu marido, Andrucha Waddington, abraçar o seu diretor, Walter Salles, e de dirigir por entre as mesas até o palco. Creio que nem os organizadores da festa imaginaram tamanha “zebra” uma vez que colocaram Fernanda e a equipe do filme numa mesa lá no fundo do salão. Vestindo um vestido preto com as costas nuas e uma fenda lateral que mostrava o seu corpo magro e definido, elegantíssima, nossa musa subiu os degraus e abraçou Viola que lhe entregou o troféu Globo de Ouro em mãos. Emocionada, Fernanda discursou lindamente, agradecendo ao ano com tantas performances de excelência pelas suas parceiras concorrentes, agradeceu ao seu diretor e amigo Walter Salles, e dedicou o prêmio a sua mãe, Fernanda Montenegro, que há 25 anos esteve ali concorrendo por Central do Brasil. Encerrou o breve e consistente discurso lembrando da importância do filme e da personagem para nos ajudar a sobreviver em tempos sombrios. Entre risos de alegria e alívio pelo encerramento da festa fomos nos deitar com o coração cheio de esperança por um país melhor e mais justo. Sim esse prêmio, simbolicamente, é uma festa para a democracia e representa a vitória dos nossos valores de justiça social, saúde, educação e liberdade de expressão como pilares de uma sociedade melhor para o Brasil. A vitória da arte, através da sétima arte, consolida o valor do nosso Cinema e aponta caminhos futuros para retratar a nossa história com cores mais fiéis, promovendo reflexão e avanço na cidadania. Depois de quatro anos submersos na barbárie de um governo tosco, pobre e atrasado, cujo cerne bolsonarista aflorou os piores comportamentos, vemos com esperança e otimismo a arte, a civilidade e o bom senso tomar a dianteira e vencer o ódio! Obrigada Fernandas, mãe e filha, por trazerem o brilho do sol e o azul de dias melhores para o nosso cotidiano tão castigado. Palmas para Fernanda, palmas para Walter Salles, palmas para Marcelo Rubens Paiva, palmas para a incançável Eunice Paiva e Viva o Cinema Brasileiro!     *Nora Prado é atriz, Coaching para Cinema e Televisão, Arte Educadora, Poeta e Fotógrafa. Foto de capa: Reprodução/ Wikimedia Commons Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.    

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Prefeitos que não tomaram posse: o escândalo aflora

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Prefeitos que não tomaram posse: o escândalo aflora
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Por RUDOLFO LAGO* do Correio da Manhã Brasília   os impedimentos legais ocorreram por suspeita de participação desses eleitos em esquemas de desvios de recursos orçamentários. O escândalo da farra orçamentária começa a aflorar. E só deverá se agravar com os desdobramentos das investigações da Polícia Federal, que agora têm como alvos Organizações Não Governamentais (ONGs).       Se repete Há 30 anos, as investigações em torno da CPI dos Anões do Orçamento apontavam dois esquemas básicos de desvio de recursos. Um a partir das emendas individuais. Outro, a partir de repasses de subvenções sociais, algo bem semelhante ao repasse agora para ONGs.   Subvenções Em 1994, por exemplo, a então deputada Raquel Cândido foi acusada de receber US$ 800 mil de dinheiro desviado de subvenções sociais. Ela destinava os recursos para o Instituto de Desenvolvimento Político e Social Eva Cândido. Eva é o nome da sua mãe.   Em Choró, desvio de 12% das verbas para saúde Bebeto é acusado de desvio de verbas orçamentárias | Foto: Divulgação/Instagram   No caso da cidade cearense de Choró, as suspeitas são de desvio de até 12% do que emendas orçamentárias destinavam para o Fundo Municipal de Saúde. Diálogos descobertos pela Polícia Federal nas suas investigações apontam conversas entre Bebeto Queiroz e Adriano Almeida Bezerra, assessor do deputado federal Junior Mano (PSB-CE). Segundo as investigações, Junior Mano poderia exercer "influência" sobre comissões temáticas da Câmara para a elaboração das chamadas emendas de comissão, que são o cerne do atual escândalo do orçamento. A partir da liberação, licitações fraudadas, gerando os desvios.   Preso Em Campo Formoso (BA), o vereador Francisquinho Nascimento (União Brasil) não foi à cerimônia da sua própria posse porque chegou a ser preso. Francisquinho é primo do deputado federal Elmar Nascimento (União Brasil), que chegou a ser cogitado para presidir a Câmara.   ONGs Assim, parte do atual esquema repete o de 30 anos atrás nas contratações irregulares para obras públicas. E a outra parte, também como há 30 anos, desviando verbas que são repassadas de forma pouco transparente para ONGs como se fossem subvenções sociais.   Suspensos O ministro Flávio Dino suspendeu o repasse para 13 ONGs. Porque elas não têm os mecanismos adequados de transparência. Não haveria, no caso delas, conforme as informações do Supremo Tribunal Federal (STF), as mínimas informações sobre como usam os recursos.   Assassinato Há 30 anos, uma mulher, Ana Elizabeth Lofrano, acabou assassinada depois que ameaçou contar o que sabia sobre o esquema. Ela era casada com José Carlos Alves dos Santos, o principal assessor daquele esquema de orçamento. Será preciso que mais alguém morra?           *Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congresso em Foco e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade   Publicado originalmente no Correio da Manhã Foto de capa: Dino aponta para emendas e ONGs: como há 30 anos | Lula Marques/ Agência Brasil Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.          

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Flávio Dino e a sucessão

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Flávio Dino e a sucessão
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Por J. CARLOS DE ASSIS* Em face da degradação de praticamente todas as instituições da República, especialmente do Congresso, estava começando a perder a esperança com o futuro do Brasil. As infames emendas parlamentares, que só em 2024 custaram ao povo cerca de R$ 50 bilhões, tem sido um insulto à opinião pública; no Judiciário tem sido comum que a Justiça solte em audiências de custódia manipuladas criminosos com imensa ficha criminal que voltam às ruas para assaltar e matar; já o Executivo, institucionalmente fraco diante de um Legislativo com poder absoluto, não consegue que suas pautas sociais sejam aprovadas. Tudo isso poderia ser considerado tolerável, inclusive a brutal presença do crime organizado disseminado por todas as metrópoles brasileiras, com evidente cumplicidade das polícias estaduais e da política, caso 2026, com as eleições gerais, representasse uma oportunidade de mudança de cima para baixo na sociedade brasileira. Entretanto, não representa. Ou pelo menos não representava até que um único ministro do Supremo Tribunal Federal, Flávio Dino, entrasse no jogo do combate à corrupção nas emendas do Congresso e nos pagamentos às ONGs. Isso mostrou que o Congresso de direita não tem poder absoluto no Brasil, mesmo que expresse uma maioria parlamentar. A esperança não está totalmente perdida, portanto. Mais importante que isso, porém, é que a ação individual de Dino, respaldada pelo resto do Supremo, restabeleceu a confiança do povo pelo menos nessa instituição, e chamou a atenção para a ação corajosa de um único homem que enfrenta de forma absolutamente sem medo e sem trégua os ataques dos criminosos que se escondem por baixo dos mandatos parlamentares. Antes da investida do ministro contra o “crime organizado” das emendas, o País parecia estar perdido, entre esquerda e direita, em relação às eleições de 2026. Nenhum dos dois lados parecia em condições de apresentar um candidato para ganhar. Lula, idoso e cansado, sobretudo depois dos últimos acidentes que sofreu, provavelmente não se candidatará às próximas eleições. Caso se candidate, não é certo que ganhe. E, se ganhar, para a Economia apenas repetirá o “arcabouço fiscal”, que, infelizmente, é uma trava ao crescimento do Brasil a altas taxas. Entretanto, não só no Brasil quanto no mundo, há uma tremenda falta de grandes lideranças nacionais com capacidade de mobilização efetiva das massas. Lula teve seu momento, mas sua luz está se apagando, em razão dos conflitos com o Congresso e do que isso representa de restrição a eventuais compromissos de campanha que apresentou e venha a apresentar. Haddad não tem carisma. Embora tenha ganhado as eleições para a Prefeitura de São Paulo, não teve boa gestão. Além disso, o exercício de um Ministério que se tem destacado por cortes nos gastos sociais não lhe garantirá grande popularidade. É nesse contexto que se destaca a figura de Flávio Dino. Num país em que tanto se falou historicamente e ainda se fala em combate à corrupção, muitas vezes sem apoio em fatos concretos, o ministro do Supremo se revela como um combatente atual, que se expõe diante do povo de forma objetiva, abertamente, com ampla cobertura da mídia, contra adversários poderosos, e com uma aura de heroísmo político que certamente lhe garante grande popularidade. Além disso, Dino tem excelentes relações com seus colegas do Supremo e com parlamentares de diferentes partidos com quem conviveu ao longo de vários mandatos na Câmara e, depois, no Senado. No Executivo, foi um excelente Ministro da Justiça e da Segurança Pública. Num momento em que o País passa por graves crises políticas que tem levado a manifestações de extremismo por parte de correntes de opinião divergentes, uma personalidade como a sua, no exercício da Presidência, seria um fator importante de conciliação. O PT tornou-se um partido fraco, depois do resultado das últimas eleições municipais, quando foi derrotado em quase todo o País. Na eventual ausência de uma candidatura de Lula, certamente não resistirá a que se construa, em torno do PSB de Dino, uma eventual aliança de partidos afins aos que compõem a base do atual governo. Na realidade, uma candidatura do PSB à Presidência seria um caminho natural para a sucessão, pois Geraldo Alckmin, também do PSB, foi o vice eleito com Lula, embora não tenha o carisma de Dino para disputar a Presidência.   *J. Carlos de Assis é jornalista, economista, doutor em Engenharia de Produção, professor aposentado de Economia Política da UEPB, e atualmente economista chefe do Grupo Videirainvest-Agroviva e editor chefe do jornal online “Tribuna da Imprensa”, a ser relançado brevemente. Foto de capa: José Cruz/Agência Brasil Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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Governos autoritários tentam silenciar o trabalho da imprensa na América Latina

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Governos autoritários tentam silenciar o trabalho da imprensa na América Latina
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Por EDELBERTO BEHS* Relatório elaborado por 25 organizações da sociedade civil de sete países da América Latina – Argentina, Brasil, Colômbia, El Salvador, Guatemala, México e Nicarágua – apontou três estratégias vigentes nesses Estados que buscam minar a liberdade de informação: a estigmatização do trabalho da imprensa, o controle social através de novas tecnologias de vigilância e a judicialização da liberdade de expressão sobre temas de interesse público. O documento “Afectaciones al derecho a la libertad de expresión por medidas estatales de censura en las Américas” foi apresentado à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), com fatos perpetrados pelo Estado recolhidos nos sete países. O documento, disponível em espanhol e inglês, destaca, em primeiro lugar, a implantação de uma narrativa oficial paralela de estigmatização por parte de líderes políticos contra o trabalho da imprensa, recorrendo à linguagem ofensiva a jornalistas críticos aos governos. Os quatro anos do governo Jair Bolsonaro contribuem com exemplos dessa estratégia. No México, o presidente Andrés Manuel López Obrador chegou a informar, numa coletiva de imprensa, em 22 de fevereiro de 2024, o telefone celular da jornalista Natalie Kitroeff, correspondente do jornal New York Times. O México liderou esse tipo de agressão, com 111 campanhas de desprestígio e 219 discursos estigmatizantes. Depois vem a Argentina, com 61 ataques à liberdade de expressão, 76,5% provenientes de fontes do Estado, dos quais 53% de autoria do presidente Javier Milei. “É urgente que o sistema interamericano desenvolva critérios concretos sobre o alcance da liberdade de expressão dos funcionários, quais são seus direitos e suas obrigações, e como isso impacta as comunicações do Estado num mundo digital, para prevenir a violência derivada da estigmatização difundidas em redes”, pedem as organizações. O documento aponta que os governos afiançam uma comunicação unidirecional à cidadania, sem dar abertura a um debate intermediário como procura realizar a imprensa. As redes sociais são meio ideais para esse tipo de informação. No Brasil, foram documentadas 193 horas de interrupção, entre agosto de 2021 e julho de 2022 na programação da TV Brasil, para trazer eventos do governo. Relatório da Comissão de Empregados da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) registrou, por outro lado, 161 casos de censura no período. Outro eixo de silenciamento apontado no relatório reporta-se ao uso da tecnologia para o controle social de vigilância, como a geolocalização ilegal e o patrulhamento cibernético, tanto no mundo analógico como no digital. O Laboratório sobre Segurança da Anistia Internacional e o laboratório da Universidade de Toronto confirmaram, mediante análises forenses, o uso do malware Pegasus contra jornalistas e defensores dos direitos humanos em três países: México, El Salvador e República Dominicana. No México, sob o conceito de “operações militares no ciberespaço”, o Ministério da Defesa Nacional usa o software Hiwire, desenvolvido pela empresa israelense WebintoPro, para monitorar autores de publicações críticas às Forças Armadas ou ao governo federal. O terceiro eixo apontado no documento é a demanda judicial – civil e criminal – como instrumento para inibir a crítica, desestimular investigações jornalísticas e provocar a autocensura. No Brasil, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) registrou 654 casos caracterizados como assédio judicial contra trabalhadores e trabalhadoras da imprensa entre 2009 e 2024. Na Guatemala, a Rede Rompe do Medo apurou que pelo menos 26 jornalistas deixaram o país em 2022 e 2023 por causa de processos judiciais, ameaças e intimidações. O documento pede à CIDH que chame a atenção dos Estados da região para que reforcem o monitoramento da situação e retomem o seu compromisso com os parâmetros de proteção da liberdade de expressão.     *Edelberto Behs é Jornalista, Coordenador do Curso de Jornalismo da Unisinos durante o período de 2003 a 2020. Foi editor assistente de Geral no Diário do Sul, de Porto Alegre, assessor de imprensa da IECLB, assessor de imprensa do Consulado Geral da República Federal da Alemanha, em Porto Alegre, e editor do serviço em português da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC). Foto de capa: STRINGER (Reuters) Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia  

Economia

Com ganho de renda e ascensão social, Brasil volta a ser um país de classe média

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Com ganho de renda e ascensão social, Brasil volta a ser um país de classe média
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Estudo constata que 50,1% dos domicílios estão nas classes C para cima, o que significa renda mensal domiciliar acima de R$ 3,4 mil Por Cássia Almeida e Henrique Barbi* O Brasil voltou a ser um país de classe média. O ano de 2024 marcou uma mudança na distribuição das famílias por estrato social, mostra levantamento da Tendências Consultoria obtido em primeira mão pelo GLOBO. O estudo constatou que 50,1% dos domicílios estão nas classes C para cima, o que significa renda mensal domiciliar acima de R$ 3,4 mil. É a primeira vez que isso acontece desde 2015, quando 51% estavam ao menos na classe média. Em 2023, os domicílios das classes C, B e A representavam 49,6%. A melhora no emprego é o principal fator responsável pela ascensão social dos brasileiros, diz a consultoria: — Desde 2023 houve migração importante das famílias da classe D/E para a classe C, decorrente da melhora significativa do mercado de trabalho no pós-pandemia — explica a economista Camila Saito, da Tendências. As classes C e B são tipicamente as de classe média. Nessas famílias, a principal fonte de renda vem do trabalho, e a massa salarial (total dos ganhos de todos os trabalhadores) aumentou nos últimos anos, diz Camila, com a retomada da economia após a pandemia e a valorização real do salário mínimo em 2023 e 2024, após anos sem reajustes acima da inflação: — Isso acarretou melhor desempenho dessas classes em relação às demais. Impulso do emprego Pelas estimativas do estudo, a massa de renda total no ano passado, incluindo salários, benefícios sociais, aposentadorias e pensões, e outras rendas como juros de investimentos, subiu em média 7% no país. Mas, na classe C, este avanço foi bem maior, de 9,5%. Neste estrato social estão as famílias com rendimento domiciliar entre R$ 3,5 mil e R$ 8,1 mil. Na classe B, que reúne os domicílios com rendimentos entre R$ 8,1 mil e R$ 25 mil, o avanço nos ganhos foi de 8,7%, o segundo melhor desempenho. Neste ano de 2025, a classe C deve, de novo, ter um desempenho melhor do que a média nacional. A Tendências prevê expansão de 6,4% na renda deste grupo, contra 3,8% para o conjunto dos brasileiros. Mas, em qualquer recorte, será um desempenho aquém de 2024, que resultará em uma mobilidade social mais lenta, afirma Camila: — Nossas estimativas consideram uma tendência de lenta mobilidade social das famílias para classes de renda superiores. A mobilidade social das classes D e E deve ser reduzida nos próximos anos, acompanhando um fenômeno típico de países com alta desigualdade. Segundo a economista, o ingresso no mercado de trabalho é o principal meio de redução da pobreza, mas não é condição suficiente para superá-la, diante das “baixas remunerações, elevadas desigualdades entre grupos de população ocupada, altas taxas de informalidade e marcante heterogeneidade entre os setores produtivos.” Filha única de um empresário dono de uma academia de ginástica e de uma professora, a dentista Bruna Taboada, de 23 anos, viu a renda de sua família aumentar meses depois de se formar na faculdade. Natural de Petrópolis, na Região Serrana do Rio, ela começou a atender em uma clínica e, com uma clientela mais robusta, passou a arcar com seus próprios gastos. Da gasolina do carro aos materiais odontológicos e uma especialização em São Paulo, tudo sai de seu salário, que gira em torno de R$ 3.500. — A renda do meu pai sempre foi incerta, porque a academia depende muito das temporadas. Já a minha mãe tinha uma certa segurança por ser concursada, mas ganhando bem menos. Hoje, eles saem mais para restaurantes, passaram a viajar. São luxos aos quais eles não se davam antes — diz Bruna. Ela conta ainda que sua formatura, há pouco mais de um ano, coincidiu com as últimas parcelas do financiamento do imóvel em que vivem, o que aumentou a renda familiar, que está acima de R$ 20 mil e, assim, se consolidou na faixa B. Esse estrato social da classe média, segundo o estudo da Tendências, foi o segundo maior ganho de renda em 2024. No ano passado, a taxa de desemprego chegou ao seu menor nível histórico, de 6,1% no trimestre terminado em novembro, e o nível de ocupação (total de pessoas com trabalho em relação à população total) chegou também ao seu melhor momento: 58,8%. Em 2019, essa taxa era de 56,8%. Desigualdade em queda   Segundo o economista Marcelo Neri, diretor da FGV Social, o Brasil teve resultados sociais “bastante alvissareiros”, comparáveis aos de 2014 (o melhor ano até então para o mercado de trabalho), mas ainda melhores. O economista avalia que os três componentes que favorecem a ascensão social estavam presentes em 2024: — Nos nossos estudos da nova classe média, três componentes estavam presentes: crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), como está havendo nos últimos dois anos; crescimento da renda do trabalho bem acima do PIB, que está acontecendo também. Em 2023, a alta do rendimento do trabalho só perdeu para o boom do Real (em 1994) em único ano. Já o terceiro componente, explica Neri, só apareceu em 2024, que foi a queda da desigualdade. Apesar de os indicadores de disparidade de renda estarem no menor patamar histórico, eles ficaram praticamente estagnados em 2023. Em 2024, foi diferente, afirma Neri: — No ano passado, entrou um elemento novo, ausente da cena nos últimos anos, que foi a queda na desigualdade. Até o terceiro trimestre, a renda média domiciliar per capita em 12 meses cresceu 6,98%, mas entre os 50% mais pobres, a alta foi 10,2%. E a causa principal dessa alta maior veio da queda do desemprego, que respondeu por 40% do aumento da renda das famílias, afirma Neri. Um dos símbolos da classe média, que é o emprego formal, também avançou. Foram criadas 3,6 milhões de vagas com carteira assinada de janeiro de 2023 a setembro de 2024, lembra o economista. A alta da taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 12,25% ao ano — e que pode chegar a 14,75% no fim de 2025, se as previsões dos analistas se confirmarem —, deve favorecer a classe A, diz Camila, da Tendências. Este estrato social tem os ganhos mais concentrados em aplicações financeiras e aluguéis. — Com a trajetória de aumento da Selic, a estimativa para a massa “outros” é de uma alta de 7,8%. Assim, o aumento dos juros deve favorecer a classe A e, em menor medida, a classe B também. Além disso, os níveis elevados da inflação prejudicam mais as famílias mais pobres — afirma Camila. Educação conta   Neri acredita que, como a alta recente do dólar está mais ligada a expectativas, essa instabilidade pode se dissipar com um apoio mais forte do próprio governo ao ajuste fiscal proposto pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Mas essa avaliação não é compartilhada pelo presidente do Instituto de Mobilidade e Desenvolvimento Social, Paulo Tafner, que vê riscos para a melhora social este ano: — Estamos pisando forte no gasto fiscal. Com empuxo fiscal, a economia reage. Acaba tendo uma forte pressão de demanda com contrapartida da oferta, inflação alta ou recessão. Tafner, no entanto, chama atenção para o problema da baixa qualidade da educação, que impede o aumento da produtividade e uma melhoria mais sustentável das condições das famílias mais pobres: — Apesar do aumento da escolaridade, o ganho estrutural de renda que é dado pelo acumulo de capital humano não aconteceu no Brasil. Isso limita a mobilidade social. Em um ciclo de expansão, a pessoa consegue emprego, aumenta a renda, mas basta não ter ritmo de crescimento acelerado para perder o emprego. *Estagiário, sob a supervisão de Cássia Almeida Publicado originalmente no O Globo. Foto: Ricardo Correa/Exame Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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