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O risco das Deepfakes nas eleições de 2024

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O risco das Deepfakes nas eleições de 2024
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De ELIS RADMANN* Ao longo de três décadas como pesquisadora do comportamento eleitoral, acompanho a angústia e a preocupação dos eleitores em relação às baixarias das campanhas políticas. Um candidato acusando o outro de mentiroso, calúnia, difamação, histórias irreais, panfletos apócrifos com montagens de fotos e até folhetos jogados nas ruas da cidade no horário do debate, dizendo que o vencedor era o candidato que fez aquela acusação bombástica. Nessa época, a maioria do eleitorado acreditava que conseguia se defender, buscando informações em veículos oficiais como televisão, rádio e jornal. Em 2013 começou o avanço das redes sociais, porém, este cenário ficou mais agressivo em 2018, com o crescimento das Fake News, que se tornaram a sensação fazendo com que muitos eleitores não conseguissem mais separar o que era real do irreal, até mesmo compartilhando e defendendo as Fake News com a crença de que estavam certas. As campanhas ficaram ainda mais confusas e difíceis para os eleitores separarem o “joio do trigo”, fazendo com o que começassem a escolher um veículo ou jornalista de referência para tentar separar fake de fato, o que ampliou a influência das bolhas digitais, cada um acreditando no que achava mais conveniente.   A política sempre foi um “vale-tudo”, muita coisa acontecendo com o regramento eleitoral mudando a cada novo pleito e a Justiça Eleitoral se virando para barrar ou coibir as denúncias ou os casos mais escrachados. Mas até a eleição de 2022 ainda valia uma máxima: “na imagem, não há dúvida”! Nas pesquisas qualitativas realizadas pelo IPO – Instituto Pesquisas de Opinião os eleitores sempre afirmaram: “só mudo de ideia se ver um vídeo do candidato falando isso que vocês estão contando”. Com as Deepfakes ativadas, os candidatos estão “lascados”, pois terão que ter uma equipe muito ágil para identificar os vídeos falsos e ter uma resposta à altura.  Ao escrever este artigo perguntei para a IA (inteligência artificial) “o que devo fazer para criar uma Deepfake”. Ela me respondeu que “não podia continuar com esta conversa”, mas me indicou 10 arquivos, com vídeos e tutoriais para autocriação de Deepfakes. Mas, afinal de contas, o que são as Deepfakes? Trata-se da criação de vídeos falsos utilizando uma aparência realista com o objetivo de enganar um público específico ou destruir a imagem de alguém. Tecnicamente, é um mecanismo digital que usa a inteligência artificial para manipular vídeos e imagens, podendo trocar o rosto de pessoas em vídeos, sincronizar movimentos labiais, voz e demais detalhes corporais.  Recentemente, o Dr. Drauzio Varela foi vítima de Deepfake. Usaram um aplicativo para mexer em um vídeo original do médico, manipularam a sua imagem e sua voz e colocaram ele fazendo propaganda de um produto milagroso de rejuvenescimento da pele. O mesmo aconteceu com Ivete Sangalo, Xuxa e Ana Maria Braga. E já está acontecendo com pré-candidatos a Prefeito em várias cidades. Os especialistas dão dicas, que não são muito fáceis de se checar. Segundo eles, temos que observar o padrão de vezes que a pessoa pisca, a cor que está a sua pele ou se seus lábios acompanham o texto. Nesta eleição será muito mais importante ficar atento aos conteúdos compartilhados pelo WhatsApp ou na internet e verificar a veracidade das informações antes de acreditar ou compartilhar, principalmente, quando se tratar de vídeos. *Cientista social e política. Fundadora do IPO – Instituto Pesquisas de Opinião. Conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Imagem em Pixabay. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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A verdade é uma ficção?

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A verdade é uma ficção?
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De LÉA MARIA AARÃO REIS* Anatomia de uma Queda fez estremecer de surpresa e ainda está sacudindo o ‘sistemão’ da indústria cinematográfica constituída com as bilheterias astronômicas que vem alcançando. Em março passado, o filme apresentava um box office de 32 milhões de dólares, além de críticas e análises elogiosas apanhadas de surpresa com a segurança, originalidade e alta qualidade da direção, do roteiro original e da montagem dessa produção francesa filmada no cenário gelado dos Alpes. Agora, em várias plataformas de streaming* e ainda com a temporada nas telonas, a autora de Anatomy of a Fall, Justine Triet, de 45 anos, amplia sua repentina celebridade. Diretora, roteirista e editora de filmes, até aqui Triet era apenas conhecida nos círculos do cinema francês independente, de autor, e nos grupos de militância política de esquerda. Seu marido, Arthur Harari, é coautor no roteiro de Anatomia de uma Queda, também ele um roteirista premiado que ganhou a Palma de Ouro do ano passado por Melhor Roteiro Original, ao lado da sua companheira. Originária de família budista vinda da campagne, a cineasta foi criada em Paris. É a terceira mulher a receber a Palma de Cannes de direção, no ano passado, e abocanhou cinco indicações para o Oscar além do prêmio de roteiro, do Globo de Ouro e o importante Cesar, respeitado premio do cinema europeu. Ela dedicou a premiação aos novos diretores, “àqueles que enfrentam desafios na indústria cinematográfica“, e pede maiores oportunidades e apoio para talentos em ascensão. Segundo a cineasta, o argumento de Anatomie d’une chute tem como foco “destacar o modo como construímos nossas decisões e o quanto elas impactam a nossa vida”. Mas o filme, com seu final em aberto, entrega bem mais que essa observação destinada a divulgação e à publicidade. Ele insinua que a verdade absoluta talvez não existe e os acontecimentos presenciados e vividos durante a vida de todos nós beiram as ilusões; à semelhança da ponderação budista sobre o assunto. “É preciso escolher a versão, não a versão da realidade, mas da ficção para cada evento que se impõe”, esse é o recado. O evento chave de Anatomie d’une chute se inicia em um chalé no coração da cordilheira coberta de neve, próximo da cidade de Grenoble. Um cenário como que paralisado com a queda fatal sofrida por um professor francês, Samuel, (ator Samuel Theis) que ao fazer reparos de reforma na sua casa, desaba, cai da sacada onde estava e morre. Ao contrário de Samuel, que lutava para ser escritor, a sua mulher Sandra, é uma escritora alemã de sucesso, interpretada pela (também) alemã Sandra Hüller, excelente no seu desempenho forte, um enigma até a última cena. Sandra é a única pessoa presente no local quando ocorre a queda; cochilava em um andar abaixo, com fones de ouvido. O filho do casal, um adolescente cego que sofrera um acidente de carro no passado (em um dia em que estava sob os cuidados do pai), vem voltando para casa de um passeio pelas redondezas com o seu cão-guia, Messi e é ele, Daniel, (ator Milo Machado Graner, excepcional) quem encontra o corpo de Samuel caído na neve, sem vida. O caso passa a ser tratado pela polícia e, depois, pela justiça, com três possibilidades: assassinato, acidente ou suicídio. A partir daí se inicia a anatomia da queda, da intimidade da família, e as suspeitas de crime; não de acidente. A história envereda pelo perfil de filme-de-tribunal onde Sandra é julgada como suspeita de ter empurrado o marido durante uma discussão. Mais uma das brigas em que o casal de vez em quando se envolvia, o marido não conseguindo tempo, segundo ele, para se dedicar também, como a companheira, a escrever. Seu ódio à mulher fica nas entrelinhas. “Quem é que vai ver esse filme com um casal brigando, com o que parece ser um suicídio, e com um cachorro vomitando?”, brincou Justine Triet durante seu discurso de aceitação do Globo de Ouro. Referia-se ao lance da intoxicação por medicamentos de Samuel e, em outra situação, a intoxicação de Messi. “Mais uma heroína desagradável e acusada do assassinato do marido; um chalé perdido nas montanhas nevadas; uma criança com deficiência visual, um filme com duas horas e meia de duração e um elenco sem estrelas”. A procura da verdade incerta é a penosa tarefa do promotor, do advogado de defesa de Sandra, (ator Swann Arlaud), dos jurados e do juiz. É também a anatomia de um filme policial, de um filme de tribunal, de um filme que trata da competição sem trégua entre marido e mulher e da culpa (relacionada ao acidente, no passado, que deixou o filho cego). Todos procurando a verdade em seus depoimentos e argumentação, em suas versões – sinônimos de narrativas, palavra que hoje virou moda – mas, no final, todos escolhendo a sua própria ficção. Nesse quadro, a escolha do garoto Daniel é decisiva. “Se eu imagino que minha mãe o matou”, diz ele, se referindo ao pai, “não consigo entender; mas se imagino que meu pai cometeu suicídio, acho que consigo entender”. Filme imperdível. -Nos catálogos da TV Claro+, Apple TV, Prime Video e ainda em cartaz em cinemas. https://www.youtube.com/watch?v=wUcOD9f4Dvo&embeds_referring_euri=https%3A%2F%2Fforum21br.com.br%2F&source_ve_path=OTY3MTQ&feature=emb_imp_woyt *Jornalista carioca. Foi editora e redatora em programas da TV Globo e assessora de Comunicação da mesma emissora e da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro. Foi também colaboradora de Carta Maior e atualmente escreve para o Fórum 21 sobre Cinema, Livros, faz eventuais entrevistas. É autora de vários livros, entre eles Novos velhos: Viver e envelhecer bem (2011), Manual Prático de Assessoria de Imprensa (Coautora Claudia Carvalho, 2008), Maturidade – Manual De Sobrevivência Da Mulher De Meia-Idade (2001), entre outros. Imagem: divulgação. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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MEMÓRIAS

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MEMÓRIAS
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De ADELI SELL* Buscar pela memória, catar fatos, estudar, pesquisar acontecimentos, ver testemunhos, expor descobertas não é um simples ato, é um dever com a História. A Comissão Nacional da Verdade (CNV)  - instituída pelo governo Dilma – foi para investigar violações de direitos humanos. Foi e continua sendo um dos atos mais importantes da História do país. Em parte seguimos nossos vizinhos do Chile, Uruguai e Argentina. Porém, a Anistia do passado enterrou condenações certas por violações graves. Aqui, entram e cabem os Crimes contra a Humanidade. O que seriam eles? Os crimes contra a humanidade são tipos penais que envolvem um ataque, generalizado ou sistemático, contra população civil, do qual decorre um conjunto de atos ilícitos. Os crimes contra a humanidade são tipificados no art.º 7.º Estatuto de Roma que institui o Tribunal Penal Internacional e no art.º 9.º da Lei nº 31/2004, de 22 de julho. Os atos ilícitos puníveis são: Homicídio; ii) Extermínio; iii) Escravidão; iv) Deportação ou transferência à força de uma população; v) Prisão em violação do direito internacional; vi) Tortura; vii) Violação, escravatura sexual, prostituição forçada, gravidez à força, esterilização à força; viii) Perseguição de um grupo por motivos políticos, raciais, nacionais, étnicos, culturais, religiosos ou de sexo; ix) Desaparecimento forçado de pessoas; x) Apartheid; k) Outros atos desumanos de carácter semelhante aos anteriores que causem intencionalmente grande sofrimento. Mesmo com a CNV, com fatos comprovados, os crimes praticados há 60 anos, quando começou a ditadura militar, não foram punidos aqui nem chegaram ao Tribunal Penal Internacional – TPI. Mais recentemente levantam-se casos e casos de afronta aos direitos humanos, o genocídio do povo ianomâmi, as mortes do Covid 19 no governo bolsonarista. Não bastam as CPIs. É preciso ir muito além delas. No ano dos 60 anos do golpe militar, dos 40 anos das Diretas já, dos 70 anos da morte de Getúlio é preciso retomar o tema das MEMÓRIAS, da luta contra o esquecimento. É preciso colocar na pauta política os crimes contra a humanidade, contra os direitos humanos, as violações de direitos que sistematicamente ocorrem em nosso país, como tem sido o caso recorrente da escravidão contemporânea, vista de forma leniente pelas autoridades em geral. Vários debates e encontros estão sendo programados. Sou proponente de um longo Colóquio, com encontros semanais, que vão buscar cobrir várias áreas que foram afetadas pela ditadura, com depoimentos, de forma híbrida, para o contato pessoal nos encontros presenciais, como nos possíveis diálogos pelas redes sociais. Os contatos podem ser feitos diretamente com este autor no WhatsApp 51.999335309 ou pelo e-mail: adeli13601@gmail.com. *Professor, escritor, bacharel em Direito, vereador em Porto Alegre. Imagem em Pixabay. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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O agente Musk

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O agente Musk
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De MANUEL DOMINGOS NETO* Certo dia, lá se vão 50 anos, mostrei a Pierre Monbeig um relatório que encontrara no Serviço Histórico do Exército francês indicando a interferência militar na escolha dos jovens intelectuais enviados ao Brasil para operar na USP.  Surpreso, o professor sorriu e me perguntou: “fui um agente involuntário do Exército”? Além de Monbeig, Fernand Braudel, Lévi-Strauss e Roger Bastide, entre outros, participaram dessa empreitada que repercute ainda hoje. O eurocentrismo predomina no meio acadêmico brasileiro. Os que disputam a hegemonia mundial criam expedientes capazes de atuar em seu favor. Desde o século XIX, o envio de missões religiosas, artísticas, científicas e militares integram práticas de governos que disputam estrategicamente mercados consumidores e fornecedores de matérias primas. O controle da imprensa e de grandes contingentes de emigrantes integram o amplo rol de lances estratégicos dos que dominam ou querem dominar o mundo. Quem vasculha arquivos históricos de grandes potências descobrirá facilmente que projetos guerreiros abrangem mais que capacidade econômica, tecnológica e militar. A disseminação de valores e a indução de comportamentos coletivos é fundamental. Quem pensa e conduz a guerra procura conquistar almas. Daí a forte ligação do Pentágono com Hollywood, desde 1915, com Griffith, que dirigiu “The Birth of a Nation”. Captando cedo a importância do cinema na disputa pela simpatia internacional, os comandantes estadunidenses recrutariam John Huston, William Wyler, John Ford, Frank Capra e George Stevens para cobrir a Segunda Guerra Mundial. Ainda hoje o mundo assiste a hecatombe por suas lentes.  Cada potência disputou a influência no Brasil com os instrumentos ao seu dispor. No final do século XIX, a França, perdendo a competição tecnológica, econômica e militar para a Alemanha, investiu em seu prestígio intelectual. Depois da primeira derrota do Reich, conseguiu abrir as portas dos quartéis brasileiros. Modernizou o Exército, ensinou o anticomunismo e vendeu muito material de guerra, incluindo aviões e peças de artilharia recauchutadas. A recente visita do presidente francês ao Brasil e seu terno enlace com Lula despertou-me lembranças e apreensões. Nada mais falso do que uma Defesa Nacional ancorada em aquisições externas. O mais forte não fornece armas ao mais frágil sem garantias de submissão. Quem compra equipamentos bélicos de potências coloniais vende a alma ao diabo. Gasta muito por um simulacro de Defesa Nacional. Remoo minhas anotações enquanto leio o estridente noticiário acerca de Elon Musk, descrito como bilionário excêntrico, rico, arrogante, bravateiro e emulador da extrema direita mundial.  Não cabe imaginar que um potente indutor de comportamentos coletivos cresça e atue à revelia de detentores dos grandes cordões da política internacional. Musk não é um gênio sul-africano que se fez sozinho. Não iria longe sem parcerias com os gestores da estratégia de dominação estadunidense. Antes de tudo, Musk é um agente do Pentágono. Nenhuma potência com aspirações de autonomia permitiria que um indivíduo ou uma instituição detenha isoladamente influência passível de contraditar seus desígnios.  A consciência democrática brasileira se revolta diante das tiradas aviltantes de Musk. Aplaude Alexandre de Moraes, que promete enquadrá-lo juridicamente. Muitos dizem que o Brasil faz bem não cerceando a mídia digital controlada por este agente do Pentágono. Concluem que, caso Lula enfrentasse essa briga, escorregaria numa casca de banana.  Convenhamos, há enfrentamentos dos quais não se pode fugir. A contenda com Musk não pode ser relegada ao Judiciário nem se restringir à regulação estabelecida pelo Congresso, que só agirá positivamente se pressionado pela sociedade.  Trata-se de uma luta política de fôlego e abrangência. Envolve múltiplas iniciativas concatenadas e de alcance estratégico. Não é apenas a democracia que está em risco, mas a autonomia nacional. Diz respeito ao poder político e só pode ser enfrentada com medidas que assegurem ao Estado brasileiro meios para repelir o condicionamento da sociedade por forças estrangeiras.  Musk não é um mero empresário. É um agente a serviço de Washington. Seus apoiadores não sabem o que seja defesa da pátria. *Doutor em História pela Universidade de Paris, escreveu O que fazer com o militar – Anotações para uma nova Defesa Nacional (https://gabinetedeleitura.com/). Imagem em Pixabay. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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