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Investimento estrangeiro: prós e contras

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Investimento estrangeiro: prós e contras
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De PAULO NOGUEIRA BATISTA JR* O investimento estrangeiro é positivo ou negativo para um país? Como para muitas questões econômicas, a resposta é: depende. Há vantagens e desvantagens. Convém, portanto, examinar o tema um pouco mais de perto.  Não é o que geralmente se faz. Predominam slogans e simplificações. No governo, por exemplo, tem havido muito oba-oba por ocasião da divulgação de alguns novos investimentos do exterior. Novos investimentos estrangeiros são apresentados como um selo de confiança ou bom-comportamento. “O Brasil está de volta”, proclama-se. (Esse slogan, diga-se de passagem, é um dos mais surrados internacionalmente.) Além disso, foi instituído, com certo estardalhaço, um programa que oferece proteção cambial a determinados investidores estrangeiros O tema dos prós e contras do investimento estrangeiro é vasto e polêmico. Não quero me alongar demais e seleciono assim pontos que parecem mais relevantes.  Permita-me, leitor ou leitora, ser de novo um pouco mais técnico neste artigo. Farei o possível para não complicar demais, mas há aspectos inevitavelmente intrincados. Repito a sugestão que fiz em outra ocasião. Se você não for economista, não desanime se uma passagem ou outra lhe parecer incompreensível. Siga em frente e se puder entender, digamos, 70 ou 80% do texto, já terá valido a pena. Aspectos positivos do investimento estrangeiro: fatos e meias-verdades Começo pelos aspectos potencialmente positivos do investimento estrangeiro. São basicamente dois: 1) o investimento do exterior traz receitas cambiais e constituiu um tipo de aporte de capital que, além de não aumentar a dívida externa do país, cobre de forma relativamente estável um eventual déficit de balanço de pagamentos em conta corrente; e 2) o investimento externo pode contribuir para o aumento da formação bruta de capital fixo, traduzindo-se em elevação do crescimento potencial da economia no longo prazo.  Esses argumentos são válidos e têm ampla divulgação. São meias-verdades, porém. E a meia verdade, como dizia Tennyson, é mais perigosa do que a mentira pura e simples. Nada pior do que as “mentiras verdadeiras”, aquelas têm alguma base factual ou lógica, e as mentiras “sinceras”, aquelas que são propagadas com convicção. É fato, sim, que o investimento externo traz receitas em moeda estrangeira e pode, portanto, ajudar a financiar um desequilíbrio em conta corrente (a parte do balanço de pagamentos que corresponde à balança comercial, serviços e rendas). E, de fato, como receber investimento não constitui uma obrigação financeira, não aumenta a dívida externa líquida do país. A variação desta última corresponde ao déficit em conta corrente deduzida a entrada liquida de investimentos (diretos e de portfólio).  Também é verdade que o investimento pode ser uma forma relativamente estável de compensar um eventual desequilíbrio nas contas externas correntes. Os investimentos em capacidade produtiva podem até sair do país em algum momento futuro, mas não de forma rápida, pois há defasagens temporais significativas entre a decisão de desinvestir e a sua concretização.  Mais importante: os investimentos em capacidade produtiva, designados nas estatísticas como “investimentos diretos”, podem, sim, reforçar o estoque de capital da economia e o seu crescimento de longo prazo.  Parecem então convincentes esses argumentos? Acredito que sim, tanto mais que os termos técnicos podem impressionar os leigos. E tanto mais que brasileiro desconfia do que entende e aceita melhor o que não entende, como dizia Nelson Rodrigues, apontando uma das muitas facetas do nosso complexo de vira-lata: se eu entendo, pensa o brasileiro na sua humildade de cachorro velho, então não deve ser grande coisa. Apesar disso, tento esclarecer, mostrando onde estão as lacunas e falácias nos dois argumentos. Veremos que esses argumentos são apenas parcialmente verdadeiros. Investimentos estrangeiros e contas externas: corrigindo omissões Em primeiro lugar, não se deve perder de vista que de pouco vale, do ângulo do comprometimento futuro das contas externas, absorver investimentos em vez de empréstimos. Os investimentos estão, sim, por definição, fora da classificação de dívida externa. Integram, entretanto, o conceito mais amplo de passivo externo líquido de um país. Este é a soma da dívida e do estoque de investimentos estrangeiros deduzidos os ativos externos do país no exterior na forma de créditos e investimentos. As dívidas geram pagamentos de juros; os investimentos, pagamentos de lucros e dividendos. As dívidas têm calendário de amortização; os investimentos podem ser repatriados, ainda que sem calendário fixo.  O conceito mais abrangente e mais relevante, portanto, é o de passivo externo líquido. O aumento do passivo externo líquido corresponde ao déficit em conta corrente. Havendo déficit, o passivo para com o exterior cresce de qualquer maneira, seja como dívida, seja como investimento. Ao contrário do que talvez pareça, as diferenças entre as duas formas de capital nem sempre são significativas.  Além disso, não é necessariamente verdade que o investimento estrangeiro constitua uma forma mais estável de capital. Há duas formas de investimento nas estatísticas de balanço de pagamentos: o investimento direto e o de portfólio. O investimento direto é aquele potencialmente mais ligado à formação de capital (ou à compra de capacidade produtiva existente). O de portfólio inclui, por exemplo, compra por estrangeiros (não-residentes) de ações na bolsa de valores do país ou aquisição de títulos de dívida (pública e privada). O capital de portfólio, que pode predominar em determinadas situações, é tipicamente especulativo ou de curto prazo. Não pode ser considerado estável ou confiável. Desse ponto de vista, o endividamento externo de médio e longo prazo é melhor.  Um possível agravante é que os investimentos diretos registados no balanço de pagamentos incluem uma parcela desconhecida de investimentos de portfólio. Esse problema de classificação, levantado em artigo recente¹, só pode ser esclarecido com acesso detalhado a dados que apenas o Banco Central possui.   Seja como for, é importante considerar que não convém, em geral, incorrer em déficits substanciais nas contas externas correntes, mesmo que cobertos por investimentos diretos strictu sensu. Isso é especialmente verdadeiro nas situações em que ao déficit corrente se adicionam vencimentos importantes de dívida ou riscos de saída abrupta de capitais de portfólio. Para um país que queira preservar a sua autonomia, é estrategicamente melhor zerar a conta corrente ou, no máximo, incorrer em déficits pequenos. No caso do Brasil, os déficits externos correntes têm sido modestos nos anos recentes. O Banco Central acaba de divulgar um déficit em conta corrente de 1,5% do PIB nos doze meses até março. Os investimentos registrados como “diretos” chegaram ao dobro, alcançando 3% do PIB.²  Investimentos estrangeiros e capacidade produtiva  Apesar de tudo, não há dúvida de que a forma mais defensável de capital externo é aquela que toma a forma de investimentos diretos propriamente ditos. Feitas as ressalvas acima, o investimento direto stricto sensu pode, sim, gerar capacidade produtiva nova e, quando o faz, constitui, sim, uma modalidade mais estável e duradoura de capital externo.  Atenção, porém. Há pré-requisitos. E algumas perguntas precisam ser respondidas.  O investimento direto, nas estatísticas habituais, não só pode aparecer misturado com alguns investimentos de portfólio, como já indicado, mas inclui também dois tipos diferentes de investimentos diretos: aqueles que criam capacidade nova (novas empresas ou ampliação de empresas existentes) e aqueles que simplesmente compram capacidade pré-existente. Nesse último caso, o que ocorre é desnacionalização da economia (exceto em casos de aquisição por outros estrangeiros de filiais ou subsidiárias já existentes de empresa externas).   A confusão conceitual costuma ser grande. Se o investimento que ingressa corresponde tão somente a aquisição de empresas existentes, não há nenhum efeito imediato em termos de expansão da demanda e da taxa global de investimento. De início, há mera transferência de propriedade da capacidade produtiva instalada. Só haverá reforço real do investimento, se os novos proprietários tiverem condições e interesse em ampliar as empresas que adquiriram. A propósito, fala-se em “privatização”, às vezes impropriamente, quando o capital estrangeiro adquire o controle de empresas estatais. Ora, não raro o que acontece é a compra de estatais brasileiras por estatais estrangeiras. Nesses caso, não há privatização alguma, mas desnacionalização pura e simples. Não se cria, pelo menos de imediato, capacidade produtiva nova e os centros de decisão empresarial são transferidos para fora do país. Outra questão relevante: ao abrir a economia para determinados investimentos diretos estrangeiros, o governo se preocupa em estabelecer contrapartidas estratégicas? Condiciona, por exemplo, a autorização para investir a compromissos de transferência de tecnologia? Negocia compromissos de realizar compras com fornecedores nacionais, estimulando produção e geração de empregos no país? A China costuma estabelecer esse tipo de condição. O Brasil, pelo seu tamanho, é um dos maiores receptores de investimentos estrangeiros no mundo. Tem, em princípio, poder de barganha para estabelecer requisitos de transferência de tecnologia e compras em território nacional.  Garantias contra risco cambial O governo parece caminhar em direção diferente. Em vez de negociar contrapartidas, oferece garantias. Anunciou-se há pouco a oferta de hedge cambial para o financiamento de  investimentos estrangeiros considerados ambientalmente sustentáveis.³ Decisão duvidosa, que ainda precisa ser detalhada e merece mais discussão. Se entendi bem, para estimular determinados investimentos do exterior o governo estatiza o risco cambial. Em caso de depreciação acentuada da moeda brasileira, quem paga a conta é o Tesouro.  Trata-se de um programa que gera risco fiscal e risco cambial. O risco de despesas inesperadas é transferido para os cofres públicos. Se a desvalorização da moeda nacional ficar acima do esperado, o governo incorre em perdas cambiais e fiscais, isto é, diminuem as reservas internacionais e aumenta o déficit público. Curiosamente, o mercado financeiro e a mídia, sempre tão alarmados com o risco fiscal, parecem apoiar sem reservas a nova proposta.  Outra questão, esta geralmente ignorada: a suposição é que o investimento garantido contra risco cambial venha a ser de fato adicional, isto é, que ele não aconteceria na ausência da garantia estatal. Pode-se descartar, entretanto, que investimentos beneficiados não ocorreriam de qualquer maneira? Seria o pior dos mundos: na esperança de aumentar o investimento externo, o governo acabaria assumindo o risco cambial de investimentos que ingressariam no país de qualquer forma. Como os beneficiários dessa decisão são os grandes capitais, ninguém protesta, ninguém reclama.  Rejeição liberal à interferência estatal Para terminar, um breve comentário sobre as viúvas brasileiras do neoliberalismo. Os representantes dessa velha guarda poderiam argumentar que tentar fixar condições para a entrada de investimentos viola as regras de livre mercado. Se forem coerentes (o que nem sempre acontece) objetariam, pela mesma razão geral, a que o governo ofereça proteção cambial para certos investidores externos.  Mas é frágil essa visão liberal, defunta no mundo, mas ainda presente no Brasil, especialmente no discurso do mercado financeiro e da mídia tradicional. A livre concorrência em mercados pulverizados existe mais em livros-texto do que na realidade das economias. Na prática, o que prevalece é a concorrência oligopólica, limitada, entre grandes corporações e blocos de capital.  O Estado participa e interfere nas economias bem-sucedidas. E assiste, passivo, inerte, nas economias fracassadas. Notas 1) Carlos Luque, Simão Silber, Francisco Vidal Luna e Roberto Zagha, “O enigma do investimento direto no país”, Valor Econômico, 1 de março de 2024, p. A14. 2) Com a mencionada ressalva de que esses registros incluem possivelmente uma parte desconhecida, talvez significativa, de investimentos de portfólio. 3) Diário Oficial da União, Medida provisória, no. 1.213, de 22 de abril de 2024. Para uma avaliação crítica dos pressupostos desse programa, ver Ricardo Carneiro, “O capitalismo sem risco”, CartaCapital, 15 de abril de 2024. *Economista, foi vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, estabelecido pelos BRICS em Xangai, de 2015 a 2017, e diretor executivo no FMI pelo Brasil e mais dez países em Washington, de 2007 a 2015. Lançou no final de 2019, pela editora LeYa, o livro O Brasil não cabe no quintal de ninguém: bastidores da vida de um economista brasileiro no FMI e nos BRICS e outros textos sobre nacionalismo e nosso complexo de vira-lata. A segunda edição, atualizada e ampliada, começou a circular em março de 2021. E-mail: paulonbjr@hotmail.com Twitter: @paulonbjr Canal YouTube: youtube.nogueirabatista.com.br Portal: www.nogueirabatista.com.br Uma versão resumida deste artigo foi publicada na revista Carta Capital. Imagem em Pixabay. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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Sete meses de carnificina

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Sete meses de carnificina
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De LENEIDE DUARTE-PLON*, de Paris Estudantes no mundo inteiro solidários com os palestinos Existe um conflito assimétrico, brutal, em curso há sete meses, no qual um povo oprimido recebe diariamente toneladas de bombas que já destruíram praticamente toda forma de vida social em Gaza – hospitais, escolas, comércio, infraestruturas de serviços públicos básicos de água e energia elétrica, além de transporte – fazendo mais de 35 mil mortos e alguns milhares de mutilados. Entre os mortos contam-se dezenas de jornalistas, de médicos e de trabalhadores de ONGs humanitárias. O povo oprimido é o povo palestino. Não tem exército, não tem aviação e resiste há anos com a força de grupos armados, considerados terroristas pela Europa e pelos Estados Unidos. Como na história contada na Bíblia, este povo seria o novo Davi enfrentando um gigante. Golias, que lança as bombas americanas na faixa de Gaza é Israel, potência nuclear. O pretexto para a carnificina, como denominou o filósofo Edgar Morin, foi a invasão do território israelense pelo Hamas, em um ataque inédito que fez quase 1200 mortos entre civis e militares. Quase a metade dos mortos no ataque eram militares, informação que raramente é dada quando se fala das mortes de israelenses no 7 de outubro. De vez em quando, um artigo no Le Monde ou no Libération dá esse dado nas entrelinhas. Mas a propaganda de guerra despreza essa informação. O Hamas organizou um ataque terrorista para alguns. “Ato de resistência armada”, para outros, entre eles a filósofa Judith Butler, execrada por muitos depois desta declaração. Ela chegou a ter uma conferência anulada em Paris no ano passado, considerada persona non grata por ativistas sionistas. O povo autóctone oprimido há 76 anos - desde a criação pela ONU do Estado de Israel em parte do território da Palestina mandatária – tenta existir (e resistir à ocupação desde 1967) no pequeno território que a ONU lhe reservou para a criação de um Estado que nunca conseguiu se tornar realidade. A autodeterminação do povo palestino vem sendo adiada há 76 anos. Netanyahou e seus ministros nazifascistas declaram abertamente que nunca permitirão a criação de um Estado palestino. A Cisjordânia e Gaza, assim como Jerusalém Leste – também parte do Estado Palestino previsto pela ONU em 1947 – são objeto de cobiça da extrema-direita messiânica de Israel, que vê na conquista e anexação desses territórios a condição para a vinda do messias, como eles mesmos explicam. Atualmente no poder com Netanyahou, esses fundamentalistas dirigem o país incentivando os colonos fanáticos em todo tipo de violência contra as cidades e aldeias palestinas da Cisjordânia. Depois do ataque do Hamas a Israel, dia 7 de outubro, os colonos já mataram mais de 500 palestinos em investidas violentas na Cisjordânia, enquanto Gaza é transformada em um campo de ruínas pelas bombas. Em suas incursões, que já foram chamadas de “pogroms” por um intelectual israelense, os colonos são protegidos por militares. Protestos nas universidades   No mundo inteiro, estudantes iniciaram manifestações ou ocupações de universidades em defesa da Palestina, por um cessar fogo imediato. Eles denunciam a carnificina, a fome como arma de guerra, as bombas diárias e a falta de horizonte político para os palestinos que escaparam até agora ao massacre. Nos Estados Unidos, os estudantes foram desalojados da Universidade de Columbia por uma polícia brutal. Na California e em outros estados, as ocupações de universidades têm sido violentamente reprimidas. Na França, os estudantes ocuparam Sciences Po e a Sorbonne e convocaram todos os universitários do país a fazerem o mesmo. O movimento estudantil pode gerar um “Maio de 24”, tendo por bandeira o cessar-fogo imediato e a defesa de um Estado Palestino como única solução política para o problema de dois povos condenados a coexistir no território definido pela ONU em novembro de 1947. Intelectuais franceses defensores incondicionais de Israel como a filósofa Elisabeth Badinter e a jornalista Anne Sinclair, sem argumentos para justificar os bombardeios israelenses e as infrações ao direito internacional, partem para o ataque acusando de antissemitismo estudantes e políticos que defendem os palestinos e criticam a carnificina em Gaza. Na França, denunciar o genocídio em curso, o sionismo supremacista racista e o apartheid em vigor em Israel passou a ser imediatamente assimilado a antissemismo, mesmo quando as críticas partem de intelectuais judeus. A mesma alegação de antissemitismo vem sendo utilizada nas universidades americanas, onde o dinheiro de doadores generosos pró-Israel comprou corações e mentes na Columbia University : os estudantes que ocupavam o campus há vários dias foram expulsos manu militari. Apesar da repressão no Ocidente, o movimento estudantil de solidariedade à Palestina começou a ganhar o mundo. Estudantes da Tunísia, Jordânia e do Líbano começaram a se mobilizar na terça-feira, dia 30 de abril para denunciar o massacre dos palestinos. Na Grécia, na Turquia, na Jordânia e no Irã diversas faculdades se juntaram ao movimento de defesa do povo palestino. Os estudantes da Universidade americana de Beirute, no Líbano se associaram ao movimento internacional estudantil contra o genocídio em Gaza, assim como alunos do campo de Sahidieh, no sul do Líbano. Em seu último artigo Por que o engajamento sócio-político hoje é tão difícil? frei Leonardo Boff escreveu:  “O establishment político, dominante no mundo, a partir do Norte Global, reage com violência inusitada contra os manifestantes. Na Alemanha qualquer manifestação pró-Palestina e contra o genocídio que lá está ocorrendo é oficialmente proibida e logo reprimida. Nos USA a repressão policial ganha expressões violentas contra estudantes e professores universitários.” Boff denuncia “os pesados bombardeios israelenses, usando de forma criminosa a Inteligência Artificial (IA) para assassinar determinadas pessoas e sua inteira família, dentro de suas próprias casas.” Na abertura, em janeiro deste ano, da primeira audiência no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) sobre a representação da África do Sul contra Israel por crime de genocídio contra os palestinos, o ministro da Justiça sul-africano, Ronald Lamola, ressaltou que os palestinos têm sofrido "opressão e violência sistemáticas" há 76 anos. Lamola citou as palavras do presidente Nelson Mandela: “Ao estender as nossas mãos ao povo da Palestina, o fazemos com pleno conhecimento de que somos parte de uma humanidade. Este é o espírito com que a África do Sul aderiu à convenção sobre a prevenção e punição do crime de genocídio em 1998. Este é o espírito com que abordamos este tribunal como parte contratante da convenção. Este é um compromisso para todos, tanto para o povo da Palestina como para os israelenses." “Nenhum ataque armado a um território estatal, por mais grave que seja, mesmo um ataque envolvendo crimes de atrocidade, pode fornecer qualquer justificativa ou defesa para violações da convenção, seja uma questão de lei ou de moralidade. A resposta de Israel ao ataque de 7 de outubro ultrapassou esta linha e dá origem a violações da convenção", terminou o ministro Ronald Lamola. *Jornalista internacional. Co-autora, com Clarisse Meireles, de Um homem torturado – nos passos de frei Tito de Alencar (Editora Civilização Brasileira, 2014). Em 2016, pela mesma editora, lançou A tortura como arma de guerra – Da Argélia ao Brasil: Como os militares franceses exportaram os esquadrões da morte e o terrorismo de Estado. Ambos foram finalistas do Prêmio Jabuti. O segundo foi também finalista do Prêmio Biblioteca Nacional. Imagem em Pixabay. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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ão, ão… Abecedário da Economia Contemporânea

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ão, ão… Abecedário da Economia Contemporânea
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De FERNANDO NOGUEIRA DA COSTA* Bordão é uma frase ou expressão do gosto popular. Chavão é frase  feita com o lugar-comum do “clichê”. Jargão uma expressão utilizada  por um grupo fechado de pessoas como uma corporação profissional.   Algumas palavras e expressões utilizadas por economistas podem  excluir pessoas sem conhecimento do vocabulário deles. Pensei,  então, em um pequeno Abecedário da Economia Contemporânea com  “palavrinhas-mágicas” do jargão terminadas com o sufixo “ão”:   A – Ação: torna seu possuidor um proprietário de certa fração de  determinada empresa aberta para fazer negócios lucrativos,  permitindo participação na propriedade e nos lucros (ou eventuais  prejuízos) da empresa; quando o controlador majoritário consegue  sócios, para obter capital e implementar sua inovação disruptiva,  mantém a gestão e uma maior participação acionária na divisão de  lucros / prejuízos; a abertura de capital, via IPO de parte minoritária,  permite sua cotação ser atribuída por mercado de ações e sua  valorização garantir tomar dinheiro emprestado para fusões e  aquisições com consequente elevação do valor de mercado das ações  e enriquecimento pessoal dos sócios-fundadores.   B – Bancarização: significa acesso aos direitos da cidadania  financeira, usufruindo das três funções-chaves do sistema bancário  do qual todos (Pessoas Físicas e Pessoas Jurídicas) somos partes ou  clientes: concessão de crédito, para financiar a expansão de  capacidade produtiva, a produção (capital de giro), o consumo, a  habitação, a especulação (compra de ativos baratos para vender  caro) etc., e aumentar a oferta de empregos; gestão de dinheiro,  para aproveitar os investimentos financeiros, proteger o poder  aquisitivo das reservas e seus rendimentos financeiros substituírem a  renda do trabalho na aposentadoria; dar acesso popular ao sistema  de pagamentos escriturais (eletrônicos ou digitais) para oferecer  segurança e facilidade prática a todos os “bancarizados”.   C – Centralização, Concentração e Competição: em oposição às  economias ditas socialistas, distintas pela propriedade estatal dos  meios de produção e pela planificação centralizada da economia  nacional, a descentralização caracteriza as economias capitalistas de  mercado, porém, o Capitalismo do Estado ou Socialismo de Mercado  chinês é muito bem-sucedido ao incentivar a concorrência entre as  empresas, garantindo pela regulação seu sistema econômico não ser  limitado pela ação dos monopólios e/ou por uma intervenção estatal  inadequada.   D – Desindustrialização: efeito da desregulação, diversificação e  digitalização, em um processo de transformação estrutural da  economia, redirecionada para atividades com elevado nível de  produtividade e complexidade tecnológica como os serviços  intensivos em conhecimento, com redução da participação da  indústria no PIB, mas sem uma redução absoluta do seu valor  adicionado; a estratégia de estabilização de preços adotada no Brasil  com juros disparatados se associaram a um modelo anti-produção e  pró-importação, devido à desnacionalização da estrutura produtiva e  à reorganização empresarial, com desverticalização e integração  internacional importadora.   E – Exportação: na divisão internacional do trabalho, os países  tendem a especializar-se na produção dos bens para os quais têm  maior disponibilidade de fatores produtivos, garantindo um excedente  exportável; por exemplo, o Brasil (“fazenda do mundo”) exporta  petróleo, minério e soja para a China (“fábrica do mundo”), de modo  a cobrir suas importações de produtos industriais e diminuir o déficit  no balanço de transações correntes com a remessa de lucros, juros  do crédito inter companhias, royalties etc. das multinacionais aqui  instaladas, inclusive para serem exportadoras das citadas  commodities.   F – Financeirização: é um bordão para “a denúncia de um  capitalismo”, cujo capital-dinheiro sempre teve o papel crucial; a  dominância dos critérios financeiros para as tomadas de decisões  sobre aplicações das sobras dos fluxos de renda em estoques de  ativos financeiros permite a mobilidade social com o enriquecimento  de t rabalhado re s p ro fi s sionalmen te bem capa ci tado s; a  “financeirização” não deveria sofrer a demonização habitual porque  permite esses trabalhadores acumularem riqueza financeira para manter o padrão de vida na aposentadoria sem Previdência Social,  quando os rendimentos de juros e dividendos substituirão a renda do  trabalho – e virarão “rentistas”..   G – Globalização: não houve o anunciado fim das economias  nacionais, apesar das desnacionalizações com a integração cada vez  maior dos mercados, em especial do financeiro (via ações e títulos),  dos meios de comunicação e dos transportes; as Cadeias Globais de  Valor permitem o abastecimento de uma empresa por meio de  fornecedores encontrados nas proximidades, nos continentes do norte  do mundo, cada um produzindo e oferecendo as melhores condições  de preço e qualidade naqueles produtos com maiores vantagens  comparativas; a tendência atual é de fragmentação da economia  global com o protecionismo, inclusive dos Estados Unidos com sua  prioridade colocada na segurança nacional e na busca de liderança  em semicondutores, energia limpa e biotecnologia para esse objetivo.   H – Hiperinflação: caso especial de inflação descontrolada, na qual os  preços aumentam porque as pessoas não querem reter a moeda  nacional, em razão da rapidez da queda de seu poder de compra,  mas sim buscam a moeda estrangeira como reserva de valor e  acabam usando-a como unidade de conta; diante da desvalorização  contínua do meio de pagamento oficial, quando se converte a moeda  estrangeira em nacional, os preços são elevados descontroladamente.   I – Inflação: de 2001 a 2023, a média anual de inflação no Brasil de  6,27% aa com desvio padrão de 2,44% caracteriza uma inflação  inercial – quando os agentes econômicos buscam, periodicamente,  recompor seu preço ou remuneração pelo pico prévio, levando os  pagadores ao piso da renda real –, e apesar de não ser uma inflação  de demanda, o Banco Central do Brasil busca a controlar com uma  taxa de juro (Selic) média de 12,01% aa, resultante em juro real  médio anual de 5,4%, no século XXI, e levando à estagdesigualdade:  estagnação do fluxo de renda e concentração do estoque de riqueza  financeira.   J – Judicialização do Juro: a judicialização da política de juros seria  um fenômeno jurídico entendido como o aumento do impacto de  decisões judiciais em causa econômica com efeitos políticos e sociais,  onde os conflitos distributivos seriam levados ao Judiciário para uma  resolução; por exemplo, anatocismo é um termo próprio do Direito para definir a cobrança de juros sobre juros devidos, em uma  situação de inadimplência, conduta vetada pela lei brasileira, mas é  uma prática necessária por juro ser a remuneração do custo de  oportunidade de quem cede seu dinheiro para outro lucrar com ele –  e não uma usura.   K – Keyneszação: abuso do argumento de autoridade com citações,  inclusive de ideias equivocadas como preferência por liquidez em uma  economia com rede bancária capaz de captar os depósitos à vista  para lastrear sua carteira de títulos de dívida; diante da estagflação,  isto é, inflação acentuada acompanhada de recessão, a abordagem  keynesiana enfraqueceu, porque tinha como um dos principais pilares  de sustentação a ideia do desemprego recessivo derrubar a inflação,  além de defender o intervencionismo estatal, para a expansão da  renda e do emprego com gastos públicos substitutos de gastos  privados, mesmo com a geração de déficits fiscais, não só quando os  gastos privados retraíssem por causa de uma armadilha de liquidez durante uma Grande Depressão Deflacionária.   L – Liquidação: é busca da conversão de estoques ou ativos de uma  empresa em dinheiro, caso a empresa esteja com problemas de  liquidez (falta de dinheiro em caixa); promove uma liquidação com  preços de promoção, tanto para comprar matéria-prima, quanto para  pagar dívidas; isto para evitar a liquidação total da empresa, com  consequente fechamento da firma.   M – Monetização e Maxidesvalorização: a economia mundial adota a  predominância do dólar, moeda norte-americana, como reserva de  valor e unidade de conta do comércio exterior, exigindo a conversão  das moedas nacionais para esta estrangeira como meio de  pagamentos; dada essa dolarização, a maxidesvalorização cambial,  como faz a China, mantendo sempre sua moeda depreciada, visa  baratear os preços dos produtos nacionais no mercado internacional e  obter megassuperávits no balanço comercial, por meio do aumento  das exportações e redução das importações, ampliando suas reservas  cambiais; no Brasil, a maxivalorização da moeda nacional combate a  inflação importada.   N – Neoliberalização: doutrina ideológica em busca de desincrustar  uma pressuposta economia de livre-mercado da tutela da sociedade,  restringindo-a aos princípios apenas do liberalismo econômico, como a vida econômica fosse regida por uma ordem natural, emergida a  partir das livres decisões individuais, e cuja mola-mestra para a  alocação de capital seria o sistema dos preços relativos.   O – Obrigação: título de dívida direta emitido por empresas  (debênture) ou título de dívida pública emitido pelo poder público  com rendimentos de juros e representativo de um empréstimo feito  ao emitente; no caso recente brasileiro, os neoliberais afirmam o  crescimento das emissões das debêntures ter ocorrido pelo  retraimento do BNDES, mas na verdade foi devido à queda da Selic,  quando empresas não-financeiras, em processo de desalavancagem  financeira, trocaram dívida cara por barata, em prazo maior, além de  fazerem recomposição de caixa em vez de investimentos, seja em  infraestrutura, seja em aquisição de participação societária.   P – Privatização ou Planificação: a privatização de uma empresa  estatal ocorre, em geral, quando ela passa a apresentar lucros  consistentes, após a maturação do investimento pioneiro feito pelo  Estado, tornando-se então um empreendimento atraente para uma  empresa privada, ou depois de um saneamento feito pelo Estado,  quando se trata de empresa falida, absorvida pelo poder público; pior  é quando o Estado pró-livre mercado se abstém de qualquer  planificação, como ocorre nas Economias de Comando, para a  regulação do mercado via elaboração de planos de produção  rigorosos e com objetivos precisos para todos os setores econômicos;  em vez de o órgão estatal encarregado do planejamento determinar  os objetivos globais de cada unidade de produção e fixar as cotas de  produção de cada uma, levando em conta a disponibilidade de  recursos, a capacidade produtiva e as relações entre os diversos  setores da economia, O Mercado cuida de sua autorregulação.   Q – Qualificação e Quitação: trabalhadores sem a qualificação exigida  perante a oferta de empregos em queda apelam para o  endividamento e só se liberam de sua obrigação quando há  declaração por escrito do credor de ter recebido do devedor  determinada quantia relativa a seu crédito para quitação; o  empréstimo deve ser um recurso em última instância, inclusive no  caso de crédito estudantil, para a qualificação em Educação Superior,  pagar as dívidas e acumular capital financeiro.  R – Regulação: a 4ª. Revolução Tecnológica implica em  transformação radical no âmbito das forças produtivas, modificando  profundamente o modo de existência de toda a sociedade; a  Indústria 4.0 engloba tecnologias para automação e troca de dados e  utiliza conceitos de Sistemas Cibernéticos, Internet das Coisas e  Computação em Nuvem; seu foco seria a melhoria da eficiência e  produtividade dos processos, mas sem regulação o desemprego  tecnológico tende a disparar.   S – Servicirização: as atividades terciárias se desenvolvem,  predominantemente, nos centros urbanos e geram ocupações (muitas  precárias em termos de direitos trabalhistas) para os desempregados  por causa das novas tecnologias empregadas nas atividades  industriais e agropecuárias; serviços como o varejo (o processo de  venda de um produto ou serviço feito por uma empresa ou  microempreendedor diretamente ao seu cliente), os serviços de  cuidados e outros serviços pessoais passam a ser o principal motor  da criação de empregos, mesmo com baixa produtividade, porque se  definem como o encontro direto do produtor/vendedor com  consumidor.   T – Tecnologização: tem enorme impacto no mundo do trabalho  contemporâneo, resultando em várias transmutações: automação do  processo produtivo; digitalização de muitos aspectos do trabalho  (como comunicação, produção e gerenciamento de dados);  flexibilização com home office; exigência de nova capacitação  profissional; desemprego tecnológico e desigualdade social.   U – Usuralização: cobrança de taxas de juros consideradas  exorbitantes, nos cartões de crédito distribuídos sem avaliação dos  perfis de risco dos beneficiados, segundo a prática dominante no  modelo brasileiro: em cada dois usuários de crédito rotativo, um é  inadimplente e paga um juro extorsivo para compensar a perda com  o outro, porque bancos trabalham com recursos de terceiros – e não  podem os perder.   V – Valorização: as ações da Petrobras valorizaram, desde a vitória  eleitoral do Lula até 24/04/24, mais de 155%, de R$ 16,20 para R$  41,24; apenas os valores de mercado de 10 ações concentram 50%  do total negociado na bolsa de valores brasileira de R$ 4,469 trilhões;  as valorizações e desvalorizações de ações na economia global determinam as oscilações da riqueza mundial, porque são cerca da  metade dos ativos financeiros e estes são mais da metade dela.   W – Wall Streetização: a capitalização das bolsas NYSE (US$ 25  trilhões) e NASDAQ (US$ 22 trilhões), com cerca de 5 mil empresas  listadas é mais de 47 vezes a da B3 com apenas 445 Sociedades  Anônimas; entre 2013 e 2022, a capitalização total de todas as  bolsas de valores aumentou de US$ 65 trilhões para US$ 105 trilhões  (US$ 120 trilhões em 2021); 58% da população norte-americana  (145 milhões pessoas) investem em ações, mas só 15% diretamente,  os demais em Fundos de Ações; os 10% investidores mais ricos são  donos de quase 90% das ações lá em circulação, inclusive os  investidores institucionais alocadores de capital em empresas  transnacionais da economia global “Wall-Streetificada”.  X – Xzação: obsessão de bilionários em usar X em suas marcas para  multiplicar seu dinheiro: Eike Batista usou EBX, MMX, CCX, IMX,  OGX, LLX, REX, NRX, JPX, MPX, OSX, AUX... e xfudeu; Elon Musk  fundou a X.com (futura PayPal), SpaceX, xAI, fechou o capital e  mudou a razão social de Twitter Inc. para X Corp. Xiii, vai xfu...   Y – Yuppiezação: “yuppie” é uma derivação da sigla-abreviatura de  Young Urban Professional, termo anglófono cunhado na Era Neoliberal  para designar um Jovem Profissional Urbano ganancioso, seja em  Wall Street, seja na Faria Lima ou no Leblon.   Z - Zangão: apelido de operador e/ou investidor na bolsa de valores  sem habilitação credenciada: investe todo o dinheiro em ações; não  suporta variações de renda variável; diversifica ingenuamente o  portfólio em ações das exportadoras de commodities; faz day trade freneticamente para se antecipar diante o Market-to-Market, isto é, o  processo pelo qual se define o preço de liquidação oficial de um ativo  futuro e ajusta as posições; não faz análise fundamentalista e  equivoca-se na análise técnica ou grafista; não reinveste os  dividendos; abandona a meta de melhor qualificação em sua  profissão, com a qual poderia obter maior renda, por causa da  ganância de enriquecimento rápido e fácil... *Professor Titular do Instituto de Economia da UNICAMP. Ex vice-presidente da Caixa Econômica Federal (2003-2007). Obras (Quase) Completas em livros digitais para download gratuito em: https://fernandonogueiracosta.wordpress.com/. Imagem em Pixabay. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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Cheia no Guaíba é iminente e será de grandes proporções

Curtas

Cheia no Guaíba é iminente e será de grandes proporções
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Guaíba entrou em cheia ainda na tarde desta quarta-feira (1º) e subirá muito nos próximos dias com grande inundação nas ilhas A MetSul Meteorologia alerta que uma cheia do Guaíba em Porto Alegre é iminente e que deve ser de grandes proporções, rivalizando com algumas das maiores da história nos últimos 80 anos. A população das ilhas de Porto Alegre e do Delta do Jacuí deve iniciar imediatamente os preparativos para remoção de objetos pessoais e preservar o seu patrimônio. O nível do Guaíba na régua do Cais Mauá, no Centro, que ontem estava em 1,40 metro nas primeiras horas da tarde, no começo da tarde desta quarta-feira estava em 1,97 metro e, assim, praticamente na cota de cheia de 2,00 metros. A tendência é que o nível siga subindo rápida e acentuadamente. As águas dos rios contribuintes (Jacuí, Taquari, Caí, Gravataí e Sinos) tardam até 48 horas para alcançar o Delta do Jacuí, na área de Porto Alegre, mas choveu demais na parte final desta bacias e a água recém começa a chegar. Quase toda a vazão da chuva já ocorrida ainda não chegou e tem mais chuva extrema para cair nos rios contribuintes, assim o pior da cheia deve ocorrer no final desta semana e na semana que vem na área do Guaíba. Não é possível estimar a altura exata que o Guaíba possa chegar, uma vez que o evento de instabilidade está distante do fim e o que vai chover ainda é previsão e não um dado real observado que possa permitir melhor avaliação, mas com o que já se sabe pelo que choveu e onde choveu é possível alertar que uma grande cheia é altamente provável. Considerando os picos históricos das últimas horas do Rio Taquari (27 metros no Porto de Estrela), a cheia enorme do Rio Caí (16,5 metros em São Sebastião do Caí) e a imensa quantidade de águe que caiu no Jacuí no Centro e no Norte do estado (300 mm a 500 mm), e ainda a tendência de chover mais nestas bacias, o Guaíba se encaminha para ter uma das maiores cheias dos últimos 80 anos, desde 1941. É factível que o Guaíba possa se aproximar ou atingir a cota de extravasamento de 3,00 metros no Centro, mas é cedo ainda para se afirmar que alcançará tal marca e quando. Neste época do ano, no último século, o Guaíba só atingiu 3,00 metros na enchente de abril e maio de 1941. Nas outras vezes em que transbordou com 3,00 metros, as enchentes se deram no fim do inverno e na primavera com 3,11 metros (setembro de 1967), 3,18 metros (setembro de 2023) e 3,46 metros (novembro de 2023). Informações da METSUL - Meteorologia.

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