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Os novos ataques da onda marron
RED
Por CELSO JAPIASSU*
A Onda Marron, como foram chamados os ataques da extrema direita pelo mundo afora, parece poupar, no momento, apenas as exceções da Colômbia, do Brasil e da Espanha, esta última sob governo dos socialistas. E ameaça transformar-se em tsunami, se os movimentos democráticos de esquerda não contra-atacarem com agilidade, teses e palavras de ordem rejuvenescidas. As lideranças políticas não conseguem explicar o movimento da onda que ninguém parece capaz de deter.
As últimas movimentações da extrema direita na Europa são marcadas por seu avanço, especialmente após as eleições para o Parlamento Europeu em 2024. Esse crescimento tem gerado impactos importantes no cenário político do continente.
Na França, a União Nacional (RN) de Jordan Bardella e Marine Le Pen obteve uma vitória que já era esperada, superando o partido de Emmanuel Macron. Na Alemanha, a Alternativa para a Alemanha (AfD) alcançou o segundo lugar, ultrapassando o partido do chanceler Olaf Scholz. Na Hungria, houve uma exceção à tendência, com o enfraquecimento do Fidesz de Viktor Orbán.
Novos grupos
Após as eleições, ocorreram movimentações para a formação de novos grupos no Parlamento Europeu. O grupo "Patriotas pela Europa" reúne partidos como a União Nacional, de Marine Le Pen, o Fidesz de Viktor Orbán e o Vox espanhol. Um novo grupo chamado "Europa das Nações Soberanas" foi formado, liderado pela Alternativa para a Alemanha (AfD) e outros sete partidos de extrema direita.
Há uma preocupação crescente sobre como esses partidos podem influenciar as decisões nas instituições europeias em Bruxelas.
O avanço da extrema direita gerou algumas consequências. Na França, o presidente Macron dissolveu o parlamento e convocou novas eleições. Na Bélgica, o primeiro-ministro Alexander De Croo apresentou sua demissão depois de fraco desempenho eleitoral.
Pautas comuns
Apesar das divergências entre si, os partidos de extrema direita compartilham algumas pautas, entre elas oposição à imigração, críticas às políticas ambientais da União Europeia e intransigente defesa de valores tradicionais e nacionalistas.
A Onda Marron afeta áreas como políticas de migração, implementação do Pacto Ecológico Europeu, gestão da guerra na Ucrânia e o apoio a países candidatos a fazer parte da UE. Seu avanço representa um desafio para as forças políticas tradicionais e para o projeto de integração europeia. Pode moldar significativamente, dentro dos seus princípios reacionários, o futuro político do continente nos próximos anos.
Analistas políticos chamam a atenção para o que parece ter sido a queda das defesas que a sociedade construiu depois da Segunda Guerra Mundial. Uma reunião de cúpula da extrema direita europeia realizada em Madri a 29 de maio convergiu para a defesa do supremacismo branco ocidental ao lado do supremacismo não branco da Índia de Modi e da Rússia de Putin, um supremacismo não ocidental.
Com a vitória de Donald Trump, os supremacistas de direita voltam à presidência dos Estados Unidos. Se fossem os democratas a vencer não haveria grande diferença porque nas importantes questões como rearmamento, guerra e mudanças climáticas não há distinção entre os dois partidos majoritários estadunidenses.
O fascismo, suas crenças
Carlos Russo Jr., coordenador e editor do Espaço Literário Marcel Proust (https://proust.net.br/) cita Umberto Eco num artigo em que este diz que aspectos fascistas podem ser encontrados desde a Grécia Antiga, mesmo em seu período de democracia (V a.C.). E que no decorrer da História, quer sob a forma imperialista ou nacional, trajando roupagem militar ou civil, o fascismo nos ronda permanentemente.
Eco analisa diversos arquétipos fascistas: o culto da tradição; recusa da modernidade; oposição ao iluminismo e à idade da razão; culto da ação pela ação; banimento da crítica, vista como traição; recusa da diversidade; patriotismo; criação de heróis; sexismo e preconceitos; uso de uma linguagem empobrecida.
No populismo qualitativo dos fascistas (lembram Eco/Russo) os indivíduos enquanto indivíduos não têm direitos e o “povo” é concebido como uma entidade de personalidade monolítica, que somente expressa uma vontade comum que tem em seu líder o único intérprete. E os cidadãos, tendo perdido o poder de delegar, não agem mais, sendo chamados exclusivamente para assumirem o papel de “povo de massa”. O populismo qualitativo hoje é disseminado pelas televisões e redes sociais, locais em que a resposta e a participação de um grupo selecionado de “influencers” pode ser apresentada e aceita como “a voz do povo”. O fascismo, em virtude de seu “populismo qualitativo” opõe-se aos “podres partidos parlamentares”. Por isso, cada vez que um político põe em dúvida a legitimidade democrática, pode-se sentir nele o cheiro do fascismo.
O fascismo aproveita-se da frustração individual ou social. A característica dos fascismos históricos tem sido o apelo às classes médias frustradas, desvalorizadas por crises econômicas, pela humilhação política, pela falta de representatividade de seus agentes (os políticos), assustadas pela pressão de grupos sociais inferiores. E essa ampla classe média consiste e consistirá na maioria do auditório fascista.
O fascista, relembra o artigo de Carlos Russo Jr., deriva a sua vontade de poder para jogos sexuais. Aí está a origem do machismo, da intolerância para com os homossexuais, a base de uma “cultura” de estupro dos seres imediatamente inferiores ao macho: a mulher.
Celso Japiassu é autor de Poente (Editora Glaciar, Lisboa, 2022), Dezessete Poemas Noturnos (Alhambra, 1992), O Último Número (Alhambra, 1986), O Itinerário dos Emigrantes (Massao Ohno, 1980), A Região dos Mitos (Folhetim, 1975), A Legião dos Suicidas (Artenova, 1972), Processo Penal (Artenova, 1969) e Texto e a Palha (Edições MP, 1965).
Foto de capa: Divulgação
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