Justiça

Bolsonaro zomba da Justiça, posa de “vítima” e faz campanha livremente

Destaque

Bolsonaro zomba da Justiça, posa de “vítima” e faz campanha livremente
RED

Por BENEDITO TADEU CÉSAR* O papel do Procurador-Geral da República e do STF na postergação dos inquéritos de Bolsonaro e seus aliados: impactos nas eleições e a impunidade dos articuladores do golpe de 8 de janeiro Nos últimos meses, o cenário político brasileiro tem sido marcado por um jogo de manobras que favorece, deliberadamente ou não, Jair Bolsonaro e seus aliados. A atuação do Procurador-Geral da República (PGR) e do Supremo Tribunal Federal (STF) na condução dos inquéritos que investigam os crimes do ex-presidente tem gerado indignação. A ampliação repetida dos prazos para a conclusão dessas investigações não apenas favorece Bolsonaro e os políticos, empresários e militares a ele vinculados, mas também levanta suspeitas sobre a conivência ou a leniência dessas instituições diante de atos graves que ameaçaram a democracia. Enquanto manifestantes que participaram da invasão de 8 de janeiro são rapidamente punidos, os articuladores e beneficiários desse golpe fracassado, incluindo Bolsonaro e seus filhos, continuam blindados pela morosidade do sistema judicial. Inquéritos contra Jair Bolsonaro: um ciclo de adiamentos Desde que deixou a presidência, Jair Bolsonaro está no centro de uma série de investigações que, em qualquer sistema de Justiça minimamente célere e eficaz, já deveriam ter resultado em sanções contundentes. No entanto, o que se vê é uma verdadeira "dança dos prazos", na qual a Justiça parece trabalhar para proteger o ex-presidente e seus asseclas. O Inquérito das Fake News (INQ 4781), por exemplo, que apura a participação de Bolsonaro em um esquema coordenado de desinformação e ataques às instituições democráticas, se arrasta sem fim. Esse inquérito, que deveria ter como objetivo expor e punir os responsáveis pela radicalização do eleitorado bolsonarista e pelos ataques às bases democráticas, tornou-se mais um exemplo do descaso com a Justiça, marcado por sucessivas prorrogações que apenas reforçam a impunidade. Além disso, outros inquéritos, como o Inquérito 4878, que investiga a gestão desastrosa da pandemia de Covid-19, e a investigação sobre as joias sauditas, envolvendo militares e aliados próximos, estão paralisados pela mesma letargia. A conclusão do inquérito da Polícia Federal que apura uma possível articulação do ex-presidente Jair Bolsonaro para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022 foi adiada. Inicialmente prevista para setembro, a investigação foi postergada e segue em curso. Informações atribuídas pela imprensa à assessores da PGR, dão conta de que o Procurador Geral teria decidido não apresentar denúncia antes das eleições municipais para "não politizar" a decisão. Contrariamente ao alegado, caso a informação seja verdadeira, ela revela uma postura essencialmente politizada do próprio Procurador Geral da República. Enquanto isso, o ex-presidente, que deveria estar respondendo por sua irresponsabilidade, continua atuando politicamente, influindo nas eleições de 2024 e preparando-se para as eleições de 2026, como se nada tivesse acontecido. De forma zombeteira e provocativa, Bolsonaro ousou afirmar, em vídeo em apoio ao seu candidato na cidade do Rio de Janeiro, divulgado dias antes da eleição: "Eu acho que eles não querem nem me prender mais. Reunir com traficantes tudo bem, mas reunir com embaixadores é criminoso". Mesmo afrontada, a Justiça Eleitoral não impôs, até agora, qualquer medida punitiva. A impunidade para os organizadores e beneficiários do golpe de 8 de janeiro A disparidade no tratamento entre os que executaram diretamente a invasão de 8 de janeiro e os que arquitetaram o golpe é um retrato da seletividade da Justiça brasileira. Centenas de manifestantes, muitos dos quais foram manipulados por uma campanha de desinformação, foram rapidamente condenados. No entanto, os organizadores, incitadores e principais beneficiários do golpe – Jair Bolsonaro, seus filhos, empresários e militares aliados – permanecem imunes à responsabilização. Efeitos catastróficos para a democracia A ampliação dos prazos dos inquéritos não é apenas uma questão jurídica, mas uma questão profundamente política, com consequências devastadoras para o futuro da democracia brasileira. Ao permitir que Bolsonaro e seus aliados escapem da Justiça, ainda que temporariamente, as instituições estão reforçando uma percepção perigosa: a de que as principais lideranças da extrema-direita no país estão acima da lei. O efeito disso é triplo. Enquanto os inquéritos não são concluídos, a Procuradoria Geral da União não se manifesta oficialmente, o que gera uma espécie de limbo jurídico-político, que beneficia enormemente a atuação política de Bolsonaro e seu clã, pois Bolsonaro nem se torna réu nem é inocentado. Apresentando-se como perseguido e zombando da atuação da Justiça, Bolsonaro e seu clã atuam fortemente durante todo o período eleitoral de 2024, apoiando integrantes do seu campo político para as Prefeituras e Câmaras Municipais, o que lhes dará maior poder político e beneficiará enormemente sua atuação nas eleições de 2026, para os governos estaduais e federal. Por fim, a impunidade prolongada de Bolsonaro e seu clã alimenta a descrença nas instituições democráticas, dando força ao discurso antissistema que eles mesmos propagam. Se as instituições não agirem com rapidez e rigor, o Brasil corre o risco de consolidar um estado de impunidade permanente, no qual líderes políticos como Bolsonaro se fortalecem à custa da fragilidade democrática. *Benedito Tadeu César é cientista político e professor universitário e integrante das coordenações do Comitê em Defesa da Democracia e do Estado Democrático de Direito e da Rede Estação Democracia RED. Foto da capa: Bolsonaro em campanha 2024, no Ginásio do Guarani FC, 29/09/2024 - Crédito: Leonardo Vieira/Sampi Campinas Leia também o texto de Lênio Streck – O tempo que conspira a favor de Bolsonaro Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

Artigo

TCE/RS – UM TRIBUNAL CONSTRANGIDO?

Destaque

TCE/RS – UM TRIBUNAL CONSTRANGIDO?
RED

Por ARILSON WUNSCH* Ao longo de todo o processo de privatização — ou doação, para ser mais assertivo — da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) pelo governo Eduardo Leite, o Sindiágua/RS travou uma batalha hercúlea para mostrar à sociedade gaúcha e aos tribunais a verdadeira destruição do patrimônio público em curso e o encaminhamento de um mau "negócio" para os cofres do Estado. Após os subsídios relevantes repassados pelo Sindicato às autoridades, somados a uma análise criteriosa do Ministério Público de Contas (MPC/RS), a 1ª Câmara do Tribunal de Contas do Estado (TCE/RS) anulou todo o certame do leilão que visava sacramentar a privatização da Corsan. O revés para o governador Eduardo Leite veio em forma de um voto muito bem fundamentado pela conselheira relatora, que apontou diversas irregularidades na formatação dos cálculos e possíveis prejuízos ao erário. Porém, a assinatura do contrato entre a AEGEA, única empresa participante do leilão, e o Governo do Estado foi autorizada por uma decisão monocrática da presidência do TCE/RS, usufruindo de uma prerrogativa nunca vista na história do Tribunal. Passados quase 500 dias da assinatura do contrato autorizada por essa “liminar artificial”, o Pleno da Corte, que deveria ser célere na análise do voto da relatora do processo, validando ou não o leilão, até hoje não se posicionou. O que ainda estaria sendo analisado para que a sociedade gaúcha não tenha uma resposta clara e convincente sobre a lisura do processo de privatização? Além dos riscos de se renunciar a autonomia na gestão da água, o Sindiágua/RS sempre apontou a absurda subvalorização da Corsan promovida pelo governo Eduardo Leite. Em comparação, recentemente a Companhia de Saneamento de Sergipe (DESO) foi vendida para o Grupo Iguá, do qual vários atores da privatização da Corsan fazem parte, por R$ 4,5 bilhões. Trata-se de uma concessão parcial, abrangendo apenas 37 municípios do Estado de Sergipe, com ágio de 122%. Já a Corsan foi vendida em sua totalidade, com 317 municípios, por R$ 4,151 bilhões, com um ágio insignificante de 1,15%. Essa é mais uma prova de que o Sindicato sempre esteve certo, de que o voto da relatora da 1ª Câmara do TCE/RS foi preciso na defesa dos interesses do Estado e de que o Ministério Público de Contas fez o seu papel ao alertar que o leilão, da forma como foi encaminhado, não poderia se concretizar. Uma nota dissonante em todo esse processo dos órgãos fiscalizadores é o silêncio ensurdecedor do Pleno do TCE/RS, que em breve completará 500 dias. Talvez seja possível pensar que os integrantes da Corte estejam constrangidos em colocar suas digitais nesse “negócio nebuloso”. A história tratará de cobrar essa conta.   *Presidente do Sindiágua/RS Foto: divulgação/TCE-RS Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.  

Artigo

MAS QUE NADA…PPP PRA NÓS É OUTRA COISA

Destaque

MAS QUE NADA…PPP PRA NÓS É OUTRA COISA
RED

Por ALEXANDRE SARATT* Muito se fala, se discute e se compreende (?) sobre o papel vital e estratégico da Educação para a formação social e econômica de uma sociedade moderna, democrática e desenvolvida à plenitude. Cabem muitos exames, considerações e perspectivas nesse temário, através das mais distintas óticas e vieses, desde a afirmação de concepções progressistas, científicas e emancipatórias até aquelas cuja serventia e finalidade buscam assegurar manutenção e perpetuação de um sistema e estado de coisas desigual, excludente, violento e ainda assim estranhamente funcional. Nesse ínterim cabe fazer um pequeno recorte temporal, espacial e conjuntural para tratar de analisar - à guisa de conclusão - o que se procede no Estado do Rio Grande do Sul e sua educação pública, objeto de profunda, radical e contínua reforma educacional e que, no momento, se defronta com dois aspectos seminais: a gestão democrática e as parcerias público-privadas, as ditas PPPs. Para fins desse texto, vamos nos deter na última e pretendemos voltar à baila com a primeira temática em tempo hábil e oportuno. A sigla PPP que reconhecemos e damos âmbito e valor é bem diferente: nada relacionadas à ideia de privatização e mercantilização da Educação, mas pelo contrário remete àquela força-motriz que está no âmago da escola democrática, a do projeto político-pedagógico autônomo e construído histórica e socialmente. É com base nesse princípio e conquista do conjunto do movimento educacional que podemos e devemos fazer a contraposição e enfrentamento a essa excrescência civilizatória que representam as PPPs sob a direção e hegemonia do neoliberalismo. Aqui se prevê uma passagem pura e simples de estruturas s funcionamento de escolas da rede pública estadual para a gestão - leia-se exploração e lucratividade - por parte de empresas privadas. Sequer se cogita a construção de novas escolas sob algum regime especial de concessão, é entrega oura e simples de patrimônio predial e gestão funcional dos educandários. É preâmbulo de uma privatização ainda mais aguda e completa: a da docência e do modelo pedagógico, alinhando a escola, os educadores e educandos à um projeto intencionalmente pobre e precário em seus métodos, processos e objetivos, cujas finalidades se conectam à dominação e doutrinação no terreno mental e ideológico e à preparação de mão-de-obra minimamente treinada, obediente e resignada para um mundo do trabalho desregularizado, turbulento e intermitente. Sob as premissas das PPPs da mercancia a educação pública como Direito e Dever constitucionais, com os respectivos acessos, oportunidades e responsabilidades, se esvai em sangria desatada. É importante sublinhar que tal fenômeno não é algo isolado ou extemporâneo, mas sim se serve num movimento geral e concatenado envolvendo diversos entes estatais, sociais e políticos e que na conjuntura atual se articulam para confrontar as experiências e iniciativas que se fundamentam em outros propósitos e compromissos. O caso do Rio Grande do Sul do Governador Eduardo Leite, uma espécie de Átila das privatizações, está articulado com aquilo em curso em outros estados, notadamente com o Paraná de Ratinho Júnior, com São Paulo de Tarcísio ou as Minas Gerais de Zema. Portanto, não é algo fortuito, é projeto de sociedade e de poder, de presente e de futuros. Reafirmamos e reivindicamos: PPP para nós só serve a de um tipo, a que institui o primado da democracia, da cidadania, dos direitos e deveres humanos e sociais, da sustentabilidade ambiental e da promoção da razão, da ciência e da humanidade como fatores de desenvolvimento, emancipação e liberdades. Não à privatização das escolas públicas estaduais do Rio Grande do Sul, Educação não é mercadoria, Pessoas não são coisas! *Diretor do Cpers, da CNTE e da CTB Foto:  Divulgação Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.    

Geral

NOVA COONLINE 48, COM JUCA KFOURI

Curtas

NOVA COONLINE 48, COM JUCA KFOURI
RED

Por JOSÉ ANTÔNIO VIEIRA DA CUNHA* Os jogos de apostas desenfreadas, os patrocínios aos clubes feitos por bets irregulares, que inclusive contaminam a mídia esportiva, mais a cartolagem corrupta, eis aí um coquetel perfeito para prejudicar o futebol brasileiro, na leitura do jornalista Juca Kfouri. Em uma rica conversa com o grupo virtual Nova Coonline, integrado por 25 jornalistas residentes em diferentes estados, o jornalista esportivo discorre também sobre o momento do jornalismo e a necessidade de regulação das mídias e das plataformas digitais. Ácido crítico da influência das casas de apostas no esporte brasileiro, o jornalista disse lamentar que 100% dos programas esportivos e 80% dos jornalistas desta área são hoje patrocinados pelas bets. Ele questiona, sem rodeios: “O Galvão Bueno precisa ser garoto propaganda de casa de apostas? O Renato Portalupi precisa ser garoto propaganda de casa de postas? Não percebem o quanto isso põe em risco a credibilidade deles?” Kfouri considera o descontrole das casas de apostas uma verdadeira farra de boi, mas não acredita que vá continuar por muito tempo. O problema maior, salienta, “é a manipulação de resultados, o que não está acontecendo só no futebol”. Colunista do UOL e da Folha de S. Paulo, Kfouri disse lamentar que, com a expulsão nos estádios dos excluídos, “não temos mais torcedores, temos clientes, e o marketing dos clubes se orgulha muito disso”. Para ele, é necessário mudar o modelo de negócio adotado pelos clubes em geral, pois “não sabem tratar, usufruir desta paixão dos torcedores e transformá-la em recursos financeiros”. Kfouri também conversou sobre a regulamentação das mídias, debate que considera estar em um estágio muito equivocado no Brasil, a ponto de classificá-lo como uma discussão absurda. “Hoje as grandes empresas de jornalismo precisam de regulação, senão o Google come pela perna, o Facebook come pela perna, o Musk come pela perna. Então, trata-se agora de uma defesa nacional, quando antes isso era considerado censura. E, no seu entender, esta regulação da mídia deve ser feita pela sociedade, não pelo governo, “pois a sociedade tem o direito de ter uma defesa contra a mentira”. Em certo momento do encontro, o profissional comenta porque não quer atuar na política e explica por que abriu mão de fazer as biografias de Pelé e do Dr. Sócrates. No enceramento da conversa com o grupo de jornalistas de origem gaúcha, Juca Kfouri fez questão de homenagear profissionais oriundos do Rio Grande do Sul “que fazem parte da minha vida”. Entre eles, citou Divino Fonseca, J. B. Scalco, Ruy Carlos Ostermann, João Saldanha, Luis Fernando Verissino, Paulo Santana e Jorge Escosteguy. https://youtu.be/8AZTyBOOvcU?si=sxrone-A-QjnKXNq Foto: Imagem de arquivo pessoal Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

Artigo

PORTO ALEGRE ELEIÇÕES

Destaque

PORTO ALEGRE ELEIÇÕES
RED

Por NAIA OLIVEIRA* Às vésperas das eleições municipais me proponho a compartilhar meu sentimento de desgosto com a cidade de Porto Alegre, que realmente já foi alegre, mas atualmente causa tanta tristeza. É constante o som de motosserras! Já ouvi esse barulho fatídico na praça em frente onde moro, em situações nas quais intervi, pedindo aos que estão utilizando tal máquina e agredindo esses seres vivos o plano de manejo, para que tivessem um mínimo de racionalidade. Invariavelmente não sabem do que se trata. Também sinto uma dor profunda quando leio informações sobre as agressões que nossos parques estão sofrendo e a quantidades de áreas desmatadas, ferindo inclusive animais silvestres, para construções de condomínios de luxo. Aqui surge uma pergunta: quem são os compradores? O que me deixa mais impactada, é que todos sabemos que o VERDE (árvores, gramíneas...) é a mais elaborada tecnologia para combater o aquecimento, que a crise climática vem nos impondo. Na linha da abordagem do aquecimento, é assustador a invasão na cidade das placas fotoluminosas. Não só elevam a temperatura, mas causam alto gasto de energia, e com a luminosidade deixam os pássaros estressados e perdidos no importante ciclo noite-dia das suas curtas vidas. Podem interferir inclusive no sono de moradores que tenham a infeliz proximidade de suas janelas. Há outras placas que estão me causando estranheza, são as com nome das ruas, que agora trazem juntamente anúncios de propaganda. Venho observando que o trânsito em Porto Alegre apresenta uma agressividade advinda de uma situação que vou caracterizar como “tudo pode”, ou seja, parar na contramão, desrespeitar faixas de pedestres, interromper o trânsito, subir nas calçadas, inclusive atravessar sinal vermelho... Venho pensando se a explicação está na liberação do uso de carros para os aplicativos como Uber e outros. Citando o trânsito, é preciso contemplar a situação das ruas e avenidas, são tantos os buracos e com tal profundidade que parecem crateras. Já as calçadas estão em um estado de precariedade que as pessoas têm que caminhar com a máxima atenção para não levarem tombos e sofrerem sérios ferimentos. Nossa cidade de alegre passou a ser triste. Além disso está feia e insalubre, nociva para a saúde dada à exposição ao lixo que se espalha e que acarreta altas possibilidades de doenças para população. Impossível não comentar a situação assustadora dos fios de eletricidade e operadoras de telefonia pendurados nos postes que enfeiam e amedrontam a população. Como eleitora não quero a continuidade dessa situação, quero uma cidade que volte a ser alegre, bem cuidada e para se morar em condições que garanta a qualidade de vida, sem medo de inundação com o sistema de proteção das cheias ganhando manutenção para funcionar.   *Socióloga e ecofeminista. Foto: Reprodução/Redes Sociais e Divulgação/PDT- RS Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.    

Artigo

A febre do marketing digital como ameaça à democracia

Curtas

A febre do marketing digital como ameaça à democracia
RED

Por ROSANA PINHEIRO MACHADO*, colunista convidada do UOL A febre do marketing digital, especialmente no Instagram, não é apenas um problema econômico, mas também acarreta consequências imediatas e futuras para a democracia. Não à toa, a figura desestabilizadora de Pablo Marçal surgiu com força nas últimas eleições: ele é uma caricatura desse universo. Com razão, as bets têm sido alvo do governo e da mídia, pois o Brasil é hoje o maior consumidor desse mercado, que drena uma parte significativa da renda das classes mais baixas. No entanto, há um silêncio ensurdecedor sobre um fenômeno da mesma família, que promete transformar pessoas em milionários via esquemas piramidais. Sem regulamentação e ignorada pelas autoridades, essa atividade, conquistando corações e mentes de quem é seduzido pela promessa de uma vida laboral mais flexível e bem pega em um país de empregos precários. Não se trata de algo marginal. Estimativas preliminares de nosso laboratório indicam que uma em cada quatro pessoas da população economicamente ativa no Brasil está tentando, de algum modo, empreender ou ganhar visibilidade no Instagram. Muitas sentem que não há alternativa senão se promover na plataforma, enquanto milhões de pessoas na precariedade buscam formas de gerar renda extra, investindo em tráfego pago e mentorias de qualidade duvidosa, estando vulneráveis a esquemas e premiações fraudulentas. Greyce, mulher negra da favela do Rio, mãe de dois filhos, teve o corpo fraturado pelo ex-parceiro que tentou matá-la. Hoje diarista, sente dores e reclama de estar acima do peso. Não quer emprego CLT e sonha faturar no digital. Nos últimos anos, investiu "dinheiro que não tem" e seu FGTS em mentorias. No seu 'quadro dos sonhos', como os mentores ensinam, está uma viagem à Disney com os filhos. Como centenas de milhares de pessoas de baixa renda que nosso laboratório acompanha, Greyce não cresce no digital. Mas, influenciada pelo 'mindset milionário', segue sonhando e se culpa pela riqueza e corpo fitness que não tem. Durante muito tempo, alguns influenciadores temiam se posicionar politicamente por receio de perder seguidores, recorrendo a códigos sutis, como cores ou símbolos nacionais, para sinalizar suas inclinações ao bolsonarismo. No entanto, com o bloqueio das redes de Marçal, a maioria absoluta dos influenciadores revelou seu apoio ao candidato, aproveitando a oportunidade para viralizar. Se, há dois anos, escrevi aqui no UOL que 88% dos influenciadores demonstravam alinhamento com Bolsonaro, hoje esse número até perdeu relevância: o apoio a seu "filho mais poderoso", Pablo Marçal, é hegemônico no campo. O mundo dos influenciadores digitais promove um único estilo de vida conservador, focado em casas e carros de luxo, corpo fitness, modelo de família tradicional, fé cristã e busca incessante por riqueza. O casamento heterossexual entre a mulher virtuosa e o homem de valor é visto como uma forma importante de investimento. Evidentemente, o conservadorismo é uma expressão legítima em uma democracia, mas quando se torna uma doutrina única, aí temos um problema político. Na busca pela "mentalidade milionária", mentores e líderes espirituais pregam que quem não apoia essa jornada por riqueza - amigos, vizinhos ou até familiares - deve ser deixado para trás. Influenciadores compartilham como foram desacreditados, mas persistiram sozinhos até alcançar o sucesso. O subtexto é claro: conexões do passado são obstáculos; apenas a nova família nuclear pode apoiar esse estilo de vida focado no crescimento. O coletivo se torna inimigo. A consequência é o fomento ao hiperindividualismo. Conceitos como solidariedade, comunidade, diversidade e sororidade desaparecem. O discurso dominante reforça que o sucesso é fruto apenas de esforço individual: quem se esforça vencerá. Essa narrativa alimenta o mito de que "Eu enriqueci, então você também pode". Junto a isso, enquanto milhões buscam empregos dignos e acesso à universidade, emerge uma narrativa dominante que rotula as instituições de ensino tradicionais como ultrapassadas e irrelevantes para a "vida real". O abandono da CLT virou um mantra, tratado como símbolo de status: direitos trabalhistas são agora vistos como sinônimo de pobreza, tédio e fracasso. "Deixe a CLT e compre minha mentoria digital" - a lógica por trás dos cursos que ensinam a vender cursos. Na jovem democracia brasileira, o ensino formal e os direitos trabalhistas são conquistas coletivas essenciais e formadoras de uma moralidade política. A população deve lutar por maior acesso à universidade e a empregos decentes, mas estamos testemunhando o discurso dos coaches, guiado por interesses próprios, rejeitar pilares fundamentais da cidadania e do desenvolvimento de qualquer país. Se não há espaço para vozes divergentes, progressistas ou de esquerda nesse ambiente, onde está a pluralidade tão essencial à democracia? Empreender em redes sociais, ao invés de fomentar diversidade, está estreitando os horizontes de possibilidades, num movimento antidemocrático e reacionário. A esquerda não deve ter vergonha dos verbos "empreendedor" e "prosperar". É legítimo que Dona Maria queira empreender vendendo doces nas redes, deseje conforto material para sua família e se autodenomine empresária. Afinal, o Brasil tem humilhado, explorado e estigmatizado Marias e Greyces. A expressão "CEO de MEI" apenas destila preconceito. O questionamento que precisamos fazer é: que valores éticos de empreendedorismo e prosperidade queremos fomentar numa democracia? *Rosana Pinheiro Machado é antropóloga com mestrado e doutorado na UFRGS e atualmente é Professora Titular na School of Geography, College of Social Sciences and Law, University College Dublin (UCD), Irlanda. É diretora do laboratório Digital Economy and Extreme Politics (UCD DeepLab), onde coordena o projeto internacional Flexible Work, Rigid Politics, que investiga - por meio de etnografia e ciência dos dados - o link entre trabalho precário e política autoritária no Brasil. Texto originalmente publicado no portal do UOL com o título de O efeito Marçal: Como promessas do marketing digital minam nossa democracia Foto da capa: Sozialcoaching - Limani Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

Mostrando 6 de 4905 resultados
Carregar mais