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2025 já é 2026

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2025 já é 2026
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Por MARCO PIVA* Então, cabe a Lula dar um cavalo de pau e mostrar que seu projeto não é apenas um revival de boas práticas públicas. Os movimentos do mercado e as manobras do Congresso no último mês do ano mostraram que a campanha eleitoral de 2026 já começou. E o candidato a ser derrotado é Lula. A dúvida é quem vai disputar contra ele no campo do centro, centro-direita, direita e extrema-direita. Coloco assim porque não resta dúvida que o presidente é um estorvo para o andamento do projeto privatista que vê no Estado o seu maior obstáculo. Não é por outro motivo que tem se observado um intenso ataque às estatais, vocalizado principalmente pelos jornais que restaram do que outrora se auto reivindicava “grande imprensa”. A manipulação em torno do desempenho das empresas públicas é simplesmente vergonhoso. Talvez, mais do que isso: é desonesto na medida que usa métricas falsas de avaliação. Tais críticos não passariam na prova de matemática básica. O ataque contra as estatais se insere nos movimentos citados no primeiro parágrafo (mercado e legislativo). Fazem parte de um combo anti-Lula. Por mais que o governo possa alardear que fez muito ao resgatar políticas públicas fundamentais para a população mais pobre, a percepção captada nas pesquisas de opinião é que pouco se fez em dois anos. Daí que o cenário que se apresenta em 2025 se assemelha à preparação de um campo de batalha para uma guerra anunciada. E essa guerra tem nome: a eleição de 2026, embora ainda falte o nome do general que comandará  operação. Lula não tem alternativa. Terá que suportar as dificuldades naturais da idade e do jogo político que atualmente não lhe favorece. A base de apoio é minoritária e incipiente, deixando o Congresso livre para alimentar a ideia de um impeachment, embora a tese sirva mais como ameaça do que um passo viável. Muitos se perguntam como pode o governo não sair do seu um terço de apoio se a economia vai bem, com baixo índice de desemprego, PIB robusto e renda em boa performance, o que favorece o consumo? A resposta é simples e complexa. Lula tem boa popularidade, mas o governo, não. O governo liderado por Lula não colabora com Lula. Mesmo o Ministério da Saúde, que deveria ser um natural contraponto à tragédia que foi a administração anterior, apresenta dificuldades básicas como a gestão do estoque de vacinas e a regularização na oferta de exames. Então, cabe a Lula dar um cavalo de pau e mostrar que seu projeto não é apenas um revival de boas práticas públicas. Ele deve ir além e apresentar um projeto de desenvolvimento que seja compreensível para o conjunto da população. Somente com expressivo apoio popular, o presidente poderá escapar da armadilha que o mercado financeiro e a maioria do Congresso impõe a cada dia, com medidas que sufocam o investimento produtivo e alimentam a ideia de um governo sem rumo e fraco. Lula é o maior dos líderes políticos brasileiros vivos. Sua história de vida é a força de sua popularidade. Seus governos I e II mudaram a face e a cor do país. Nunca o Brasil havia obtido reconhecimento internacional à altura de uma superpotência mesmo sem sê-la. Só que agora a história é outra e muito mais complicada. Não se trata de um problema de comunicação como alguns insistem em dizer visando, quem sabe, uma oportunidade de trabalho. A dificuldade é política, arte na qual Lula se especializou com PhD. Porém, o melhor aluno da classe parece cansado e sem muito humor para enfrentar a prova de fogo. Tirar 10 em 2026 não será fácil.     *Marco Piva é jornalista e editor-chefe dos canais de Youtube China Global News e O Planeta Azul. Foto de capa: Ricardo Stuckert Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia

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Manobra noticiosa

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Por NUBIA SILVEIRA* A manchete do jornal Folha de S.Paulo desta quarta-feira, primeiro dia do ano de 2025, não surpreende: Otimismo do brasileiro com ano novo é de 47%, menor nível de 2020. Se uma pesquisa do Instituto do jornal serviu de manchete neste dia, por que a pesquisa do mesmo Datafolha, informando, na terça, 31, último dia de 2024, que 71% são favoráveis à ampliação do Bolsa Família rendeu apenas uma pequena chamada, não visível para muitos dos eleitores? Neste dia, fica também para um pequeno espaço a notícia de que Lula assina decreto que eleva o mínimo para E$ 1.518. Não diz que o aumento foi de 7,5%, mas ressalta, na matéria da página A9, que “se a regra anterior estivesse valendo, o salário mínimo subiria para R$ 1.528”, subentendo-se que o pacote de contenção de gastos, proposto pelo Executivo e aprovado pelo Congresso, tungou os trabalhadores em R$ 10 mensais. A manobra diária dos jornais nacionais, valorizando, na maioria das vezes, as más notícias, introjetam no leitor a ideia de que o governo Lula não tem futuro, porque só toma decisões erradas. Vamos relembrar as manchetes, apenas da FSP, nos últimos dias, de segunda a quarta-feira, desta semana. Na segunda, o jornal informa em grandes caracteres que o “dólar atual está mais caro que na crise de 2015, sob Dilma Rousseff”. Diga-se, de passagem, que o valor do dólar é uma grande fixação da imprensa nacional, ligada ao mundo financeiro. Na terça, dia 31, o dólar segue dono da manchete: “Com alta do dólar, bitcoin e ações dos EUA lideram rendimentos em 2024”. Logo abaixo da manchete uma chamada que o jornal considera influir negativamente na avaliação dos leitores sobre o governo Lula: Trajetória da dívida pública e desaceleração do PIB desafiam Haddad até 2026. Estes são exemplos rápidos e de apenas um dos três jornais – FSP, O Estado de S.Paulo e O Globo – que mantêm uma guerra, manobrando o noticiário, contra Lula no poder. Eles estão em campanha, que vai durar até o final de 2026, para derrotar o presidente, se ele for candidato à reeleição, ou quem ele indicar para disputar a presidência. Até agora, não podem ser acusados de se valer de fakenews. Sua arma é esconder as boas notícias, como a queda do desemprego (foram gerados, em 2024, 3,5 milhões de novos empregos) e o déficit primário que será de 0,4% do PIB, “um dos melhores resultados em uma década”, como informa o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em artigo publicado, no primeiro dia de 2025, em Tendências / Debates, da FSP, com o devido contraponto de Luiz Guilherme Paiva, economista e doutor pela USP. Os donos destes jornais e os jornalistas em cargo de direção, que seguem e implantam as diretrizes da empresa, vão dizer que manchete sobre o PIB não interessa ao leitor. Interessa a do dólar e da Bolsa de Valores, que têm leitores de alta renda, o grupo que quer ter mais e mais, sem dividir com quem não tem nada. Este grupo quer tirar o governo de quem é de esquerda e pensa nas chamadas minorias, que é a maioria do povo, que vive de salário mínimo ou nem isto. O sonho deles é ter no Planalto alguém de direta, como o governador de São Paulo, Tarcísio Freitas, que promova políticas para as maiorias, na verdade as minorias, a elite do topo da pirâmide social. Se a sociedade não se mobilizar e enfrentar, a partir de agora, esta guerra de informações, Lula terá muita dificuldade para se manter no poder. *Nubia Silveira é jornalista Foto de capa: JA Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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Quando a ditadura vira liberdade de expressão: a distopia de Sebastião Melo

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Quando a ditadura vira liberdade de expressão: a distopia de Sebastião Melo
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Por ALEXANDRE CRUZ* Ontem, na cerimônia de posse do prefeito reeleito Sebastião Melo (MDB), a política de Porto Alegre foi tingida por uma mancha que nem mesmo o brilho dos holofotes conseguiu disfarçar. Em um discurso que beirou o revisionismo histórico, Melo defendeu a ditadura como liberdade de expressão. Sim, isso mesmo. Ditadura. Liberdade. Na mesma frase. Parece um paradoxo, mas na mente de Sebastião Melo, trata-se apenas de um jogo de palavras conveniente para um prefeito que não hesita em flertar com o autoritarismo. Em seu discurso, Melo não apenas banalizou um regime que calou vozes, destruiu vidas e sufocou a democracia; ele também reiterou sua aliança com o Partido Liberal (PL), o mesmo partido que tem sido uma espécie de "bastião" do bolsonarismo. Um partido que insiste em minimizar os horrores do 8 de janeiro de 2023, um dia que entrará para a história como a tentativa mais flagrante de destruir os Três Poderes da República desde a redemocratização. É impressionante como Sebastião, ao evocar a liberdade de expressão, parece ignorar que esta é justamente uma conquista da democracia que ele flerta em deslegitimar. Pior, ao citar comportamentos supostamente "equivalentes" ou "piores" de outros lados, Melo segue à risca o manual dos chamados semi-leais à democracia, uma categoria descrita com precisão no livro Como Salvar a Democracia. De acordo com os autores, democratas semi-leais são aqueles que, ao invés de condenar inequivocamente a violência política, preferem minimizá-la ou justificá-la com o clássico “mas e o outro lado?”. A postura de Sebastião é particularmente perigosa porque normaliza narrativas que relativizam a gravidade de atos antidemocráticos. Quando um líder eleito utiliza sua tribuna para defender o indefensável, ele envia uma mensagem clara: a democracia é opcional. Afinal, se até um prefeito reeleito pode colocar ditadura e liberdade na mesma frase sem corar de vergonha, por que os extremistas deveriam se sentir constrangidos em repetir as cenas de horror que vimos em 2023? Não é coincidência que a fala de Melo ocorra tão próxima ao aniversário de um dos momentos mais sombrios da nossa história recente. É quase como se ele estivesse testando os limites da nossa memória coletiva, um lembrete velado de que os valores democráticos estão sob constante ataque. E não, não é exagero. Os democratas leais – aqueles que condenam inequivocamente qualquer tentativa de minar as instituições – sabem que este é o momento de falar. O silêncio seria cumplicidade. Sebastião Melo talvez veja sua retórica como um golpe de mestre, mas ela é, na verdade, uma revelação do quanto ele está disposto a relativizar a história e os valores democráticos em nome de alianças políticas. E essa postura deve ser denunciada, criticada e rejeitada com veemência. Porto Alegre, uma cidade que historicamente esteve à frente de movimentos progressistas, merece lideranças que estejam à altura de sua tradição democrática – não líderes que transformam a distopia em discurso oficial. Se é para salvar a democracia, que comece por aqui. Condenemos inequivocamente a banalização da ditadura e a defesa de alianças que ameaçam o estado de direito. E que fiquem claros os limites: liberdade de expressão nunca será sinônimo de defender o indefensável.     *Alexandre Cruz é jornalista piolítico. Foto de capa: Reprodução/RBS TV Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.  

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Melo e as  casas de bomba

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Melo e as casas de bomba
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Por Gusttavo Arossi* Já nem bem iniciamos 2025 e Porto Alegre sofre com alagamentos. Tais inundações são de tal tamanho que afetaram a linha do Trensurb, causando transtorno imenso à massa de usuários que necessitam de um meio de transporte digno. Pelo que se lê na imprensa, haverá disponibilidade de ônibus para a conclusão do trajeto até o centro da capital dos gaúchos. Cumpre destacar que a aguaça causou transtornos em pelo menos cinco bairros: Centro Histórico, Cidade Baixa, Bom Fim, Floresta e 4º Distrito. No dia 1º de janeiro, a posse do prefeito reeleito e dos demais secretários teve de ser transferida pois o sistema de energia elétrica da Usina do Gasômetro não funcionava. Em recente entrevista a um meio de comunicação, o alcaide de Porto Alegre afirmou que não haveria possibilidade de impedir futuros enxurros. Deitados os fatos, temos questionamentos que precisam ser feitos: desde maio – maior enchente dos últimos anos –, não tiveram tempo para a devida prevenção? Importante deixarmos claro que a bátega do primeiro dia de 2025 nem de perto assemelhou-se com a tragédia do ano passado! De lá para até o presente momento, o que realmente foi feito para mitigar os problemas advindos do céu? Será que o cidadão da querida Porto Alegre a cada pingo d’água terá de viver com este novo normal? O que se aprendeu desde a fatídica catástrofe ambiental que deixou nada mais nada menos que pelo menos quatro meses o Rio Grande do Sul sem o maior aeroporto comercial? Perguntas, perguntas e mais perguntas... Respostas? Não bastasse o malogrado arrazoado acima, da garganta do prefeito reeleito sai a máxima de que todos têm liberdade de defender e pronunciar-se favorável a uma ditadura. Constituição Federal de 1988, artigo 5º, parágrafo IV: “É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”. Esse é o artigo que, para muitas pessoas, resume o direito à liberdade de expressão, um conceito que tem sido muito debatido na sociedade brasileira nos últimos anos. Liberdade, no meu julgar, sabe bem quando exercida em favor à vida! Toda ditadura, seja de esquerda ou de direita não tem outro fito que provocar mal à sociedade. Quantas vidas já foram tolhidas em nome de “ditaduras”? Por derradeiro, esperamos que Melo – em sua plena liberdade que lhe é conferida via Carta Magna – refaça seu pensamento acerca das “ditaduras” e pense mais nas casas de bombas d´água de Porto Alegre. Em efeito, as únicas “bombas” que nos interessam no momento são as que evitam e interrompam as vias da nossa mui amada “Porto de Viamão”, como foi chamada a capital gaúcha pela primeira vez.     *Gusttavo Arossi é  professor de Filosofia e Secretário de Educação de Anta Gorda. Foto de capa:Giulian Serafim/PMPA Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.      

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Juros se aproximam do trilhão

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Juros se aproximam do trilhão
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Por PAULO KLIASS* No penúltimo dia de 2024, o Banco Central (BC) nos brinda com a divulgação de seu Boletim de Estatísticas Fiscais. Nesta edição do documento mensal com informações relevantes para a compreensão dos movimentos associados à implementação da política fiscal os números seguem assustadores. É compreensível que tais informações não tenham sido objeto de comemoração por parte da área de comunicação, que procurou centrar sua atenção nos dados mais positivos. Esse é o caso do que ocorre com o nível de emprego e massa salarial, por exemplo. As novidades são boas e ajudam a compreender as razões que podem levar o crescimento do PIB para este ano a atingir o nível de 3,5%. No entanto, é bastante preocupante que todo o esforço para efetivar as regras draconianas da austeridade fiscal continue sendo implementado exclusivamente sobre o lombo dos setores de base da nossa vergonhosa pirâmide da desigualdade social e econômica. A confiança que Lula vem depositando em Fernando Haddad desde antes mesmo do início de seu terceiro mandato tem levado o governo a cometer sérios equívocos do ponto de vista da política econômica. Esse foi o caso, por exemplo, da manutenção da essência do austericídio, por meio da substituição do Teto de Gastos de Temer pelo Novo Arcabouço Fiscal. Ao retirar a regra que limitava as despesas orçamentárias da Constituição Federal (Emenda Constitucional nº 95/13) , Haddad convenceu Lula a introduzir o espírito da contenção de gastos na Lei Complementar nº 200/23. Na sequência, o governo vem se comprometendo com metas tão inexequíveis quanto equivocadas em termos de política fiscal e de política monetária. A obsessão do Ministro da Fazenda com o objetivo de zerar o déficit primário é uma demonstração de bom mocismo junto à turma da Faria Lima e não ajuda em nada a retomada de um necessário projeto de desenvolvimento econômico e social. Por outro lado, a insistência do mesmo com o compromisso irresponsável de uma inflação de 3% ao ano opera como combustível para tresloucada política monetária que mantém a SELIC em níveis cada vez elevadas da estratosfera.   Austeridade fiscal e juros nas alturas Assistimos ao desenrolar do enredo de alguns novos episódios neste final do ano da longa temporada da série “Austeridade Fiscal no Brasil”. Apesar de Lula ter estabelecido um limite para o nível das maldades desejadas pelo responsável pela área econômica, o fato é que o resultado foi um conjunto de medidas de redução de despesas orçamentárias que afetam basicamente os miseráveis e os mais pobres. Esse foi o caso do Benefício de Prestação Continuada (BPC), o abono salarial e a redução das regras de reajuste do salário-mínimo. O Presidente deve ter percebido o risco político e eleitoral de avançar na linha proposta por seu auxiliar de retirar da Constituição os pisos para saúde e educação, por exemplo. Mas o espírito de orientar a austeridade sobre os setores que compõem a principal base de apoio ao governo se manteve. Pois enquanto governo se desgasta com esse tipo de medida no âmbito da dimensão primária de suas despesas, o povo do financismo segue se locupletando com a farra dos recursos bilionários assegurados ao parasitismo. O boletim do BC nos informa que durante o mês de novembro foram transferidos R$ 92 bilhões aos detentores dos títulos da dívida pública brasileira. Ou seja, em um único mês o governo despendeu quase 30% a mais do que as promessas de redução dos gastos em 2025 e 2026 - o pacote das maldades mencionava a diminuição de dispêndios em R$ 71 bi. Como se sabe, a armadilha permanece na manutenção do conceito de “primário”, uma vez que por definição tautológica as despesas financeiras são consideradas como “não primárias”. Dessa forma, a insistência de promover austeridade e a busca idílica por superávit primário se mantém nos cortes em contas como saúde, previdência social, educação, assistência social, segurança pública, salários de servidores, saneamento, infraestrutura e outras. Mas ninguém ouve de nenhum “especialista” em finanças públicas a serviço do povo da finança que seja uma “gastança irresponsável” esse tipo de despesa com juros. Assim, não existe meta, teto ou contingenciamento para tanto. Aqui, literalmente, o céu é o limite.   Despesas com juros: o céu é limite Ocorre que, ao divulgar estes dados, o BC nos permite concluir que ao longo dos último 12 meses (dezembro de 23 a novembro de 24) o montante total de gastos com juros atingiu novo recorde de R$ 918 bi. Uma loucura! Esta é a verdadeira farra com os recursos públicos e não a “fortuna” de um salário-mínimo mensal que o BPC contempla membros idosos ou com deficiência de famílias que contam com uma renda per capita de ¼ do salário-mínimo. Esse valor dos juros representa uma elevação nominal de 28% em relação aos R$ 718 bi que haviam sido gastos em 2023. Vale observar que nenhuma outra rubrica do Orçamento da União foi contemplada com tamanho aumento ao longo do mesmo período. Enquanto a planilha dos responsáveis da Fazenda fica amealhando aqui e ali bilhões das áreas sociais e dos investimentos públicos para perfazer a meta da austeridade, as despesas com juros seguem bombando livremente. Esta tendência de privilegiar os gastos da administração pública direcionados para a elite de nossa sociedade vem de longa data e não foi alterada em nenhum milímetro nem nenhum centavo sequer desde janeiro do ano passado. O gráfico abaixo nos exibe os valores reais do total de pagamento de juros. Como diria Lula, “nunca antes na História deste País” se transferiu tanto recurso público para os setores privilegiados.   Brasil - Despesa com juros 12 meses - R$ bilhões de 2024     Em 2025 juros próximos de R$ 1 trilhão! Outro problema associado a este movimento refere-se às decisões do Comitê de Política Monetária (COPOM). Os dados de novembro não incorporam os efeitos das decisões do colegiado, que elevaram a SELIC em 0,5% e 1% nas 2 reuniões mais recentes. Como a taxa oficial de juros opera como uma referência para remuneração dos títulos da dívida pública, é de esperar que as próximas edições do Boletim do BC revelem o montante anual de despesas com juros se aproximando perigosamente da marca de R$ 1 trilhão. Nem mesmo Paulo Guedes, que tinha uma fixação inexplicável com tal cifra, poderia imaginar que essa façanha caberia a seu sucessor no comando da economia. O quadro se agrava ainda mais se levarmos em consideração as recomendações do COPOM para as próximas reuniões. A Ata mais recente que elevou a SELIC para 12,25% já avançou a séria possibilidade de realizar mais 2 reajustes de 1% para os encontros previstos para janeiro e março:   (...) “O Comitê então decidiu, unanimemente, pela elevação de 1,00 ponto percentual na taxa Selic e pela comunicação de que, em se confirmando o cenário esperado, antevê ajuste de mesma magnitude nas próximas duas reuniões” (...)   Assim, o que se deveria esperar de Lula é que ele exija de seu indicado para a Presidência do BC o mesmo comportamento que ele cobrava de Roberto Campos Neto. Assim quando Gabriel Galípolo assumir o órgão, ele deveria comandar um processo de redução da SELIC. No entanto, a se considerar a aparição pública que o Chefe do Executivo fez com o futuro comandante do COPOM, é bem difícil que isso ocorra. Ao contrário, Lula deu apoio explícito à condução futura do responsável pelo órgão de regulação e fiscalização do sistema bancário e financeiro. Desta forma, caso nada seja feito, é bem provável que o governo bata mais um recorde em termos de política econômica: antes do final do primeiro trimestre de 2025, o montante anual de despesas com juros terá ultrapassado o patamar simbólico de um trilhão de reais.     *Paulo Kliass é doutor em economia e membro da carreira de Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental do governo federal. Foto de capa: Reprodução Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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Lira é Chronos desembestado

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Lira é Chronos desembestado
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Por ANGELO CAVALCANTE* Francisco de Goya é Francisco José de Goya y Lucientes. É espanhol! Nasceu no ano da graça de 1746; na miúda cidadela de Fuendetodos , região de Saragoça e faleceu em 1828, na França. Foi extraordinário pintor e é tido e considerado por muitos como o principal artista espanhol do século XVIII. É de Goya a obra " Saturno devorando a un hijo " [Saturno devorando a um filho]. Essa foi perturbadora pintura feita a óleo sobre uma parede pessimamente rebocada; tempos depois, esse trabalho fora cuidadosa, meticulosa e especialmente transplantado para uma tela. A cena mostra, enfim, um homem velho, Chronos , ( Saturno nas velhas tradições romanas ) devorando seus filhos! A produção de Goya revela de maneira impressionante um deus feroz, bestializado e incontrolado desfazendo, desmembrando um corpo menor, não por acaso, um dos seus filhos. A razão de toda essa ira, essa ferocidade está no fato de que Chronos teme ser destituído, derrocado, destruído por um dos seus filhos, daí o morticínio que perpetua contra sua prole. Bom... Esse preâmbulo ligeiro busca ou tenta retratar a gula política e, sobretudo, orçamentária que o presidente da câmara dos deputados, Arthur Lira, demonstra no trato com as assim denominadas emendas parlamentares . É algo absolutamente original e sem paralelo no mundo contemporâneo onde, de maneira cínica e desavergonhada, Lira criminosamente, contraria regras básicas e essenciais de legalidade, publicidade e moralidade a envolver recursos públicos; mais ainda, o sujeito busca subverter o racional e o legal em "inovação" única e absolutamente singular. Em outras letras, Lira faz e determina suas próprias leis! Não fosse o ágil peso e contrapeso do ministro Flávio Dino ( sem trocadilhos! ) por frear a orgia das emendas parlamentares e conduzida pelo dito cujo Arthur Lira, o caudaloso rio dos recursos públicos estaria fruindo em bicas, trombas e cachoeiras não se sabe de onde, tampouco para onde. E atenção... Sem prestar contas a nada ou a ninguém! Lira é Chronos e desembestado, devora sua base com uma causa já irremediavelmente perdida. Nessa pororoca de absurdos, Dino, reparem bem, exigiu o essencial e óbvio; determinou apenas que as tais emendas, as mesmas " emendas pix " fossem devidamente registradas de sorte que os nomes dos parlamentares requerentes fossem devidamente registrados, com CPF e endereço; bem como o destino objetivo e descrito desses mesmos recursos. Em síntese: de quem e para onde? O Chronos alagoano, imaginem isso... Foi contra! Agora, me digam... Dá para acreditar que um homem público, percebendo ordenados pagos pelo público, se negue a prestar contas e satisfações do dinheiro público e público e absolutamente público? Valha-me... O Brasil é um universo paralelo... Não tem jeito! É público e notório que na semana que passou, antes da ceia de Natal, o ministro Flávio Dino travou, bloqueou 4,3 bilhões de reais de emendas parlamentares saídas " sabe-se lá de onde " com destinações ignoradas, não registradas e muito menos anunciadas. É incrível! Lira arrasa, penaliza e devora a nação!• * Angelo Cavalcante é Economista, professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Itumbiara. Foto de capa: Vicente López Portaña. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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