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Os Partidos Políticos e os Velhos e Novos Desafios.

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Os Partidos Políticos e os Velhos e Novos Desafios.
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Por LINCOLN PENNA* O tema proposto é espinhoso, mas não deve por isso ser evitado. Não se trata de interferir na atividade dos quadros militantes, especialmente dos partidos de esquerda, mais refratários a eventuais colocações que venham de fora da organização partidária. Não me refiro tanto aos de direita em razão destes terem pouca disposição no trato dessa questão, pois em geral dispensam sugestões alheias, sobretudo, aqueles da direita extremada. Tenho percebido que de uns tempos para cá a multiplicação de legendas que se intitulam partidos. Elas essas legendas, costumam sr limitar a uns poucos dirigentes voltados quase sempre para apresentar candidaturas aos pleitos eleitorais, não tendo qualquer vida partidária. A finalidade consiste apenas na apresentação de candidatos arrebanhados sem critérios. Ou seja, são o que denomino de escritórios eleitorais. O único fator mobilizador desses ditos partidos tem a ver com interesse pessoal, jamais o interesse público. Este figura apenas nos discursos de campanha. Essa questão se torna relevante não em função exclusivamente das eleições que possam ter favorecido e até fortalecido ou não um determinado partido, mas em virtude de se conviver em nosso mundo político e eleitoral com siglas ou legendas voltadas quase exclusivamente para os pleitos eleitorais, que deveriam eleger os representantes da vontade de seus eleitores, com base nas promessas de quem as produziu. Contudo, o que ocorre é a prevalência do interesse privado do candidato e nada mais. E quando compartilham com projetos distintos o fazem para tirar proveito de alguma forma. Diferente é o caso de partidos que praticam o exercício do que chamaria de consenso mínimo, de modo a ter a possibilidade de interagir tanto com a direita quanto com a esquerda. Não se trata essencialmente de uma conciliação, cujo caráter desdas atitude consiste em abrir mão de suas concpções, de modo a costurar acordos. A construção de consenso é comum em situações embaraçosas ou em relação a atos antidemocráticos. Nestas situações é justo e necessário que se pactue um arco de interesses comuns para evitar o pior. Mas os protagonistas do consenso mínimo vêm da esquerda ou até da direita. O Centrão é uma falácia. Trata-se de um grande escritório eleitoral. A atitude fisiológica dessas siglas de aluguel a se juntarem de maneira oportunista a quem esteja momentaneamente no exercício governamental, não importa se na esfera municipal, estadual ou federal, é que define o caráter do que estou batizando de escritório eleitoral. Uma medida correta, embora cravejada de críticas apressadas, foi a da adoção da cláusula de barreira. Não se trata, a meu ver, de uma legislação contra os pequenos partidos, sejam eles de cunho ideológico ou não, mas uma forma de provocar que aquelas legendas que desejam efetivamente se tornarem uma representação de uma parte da sociedade assim o faça mediante a implementação de atividades que mereçam a denominação de partidos políticos. Os desafios não se limitam a essas observações, mas a questões que me parecem muito mais instigantes e que precisam ser enfrentadas. Uma delas é a capacidade de assumir projetos que venham ao encontro do conjunto da cidadania, mesmo que um determinado partido tenha afinidades e ou identidades com determinadas classes sociais. Afinal, numa sociedade de classes com desigualdade bem acentuada , como a brasileira e a de tantos outros países que não resolveram até hoje esse grave e trágico problema, deve haver uma configuração qie abrigue uma direita que sustente a manutenção das instituições injustas porque dela tira enormes vantagens; e, uma esquerda cujo papel é o de propor e lutar por transformações que liquidem essas estruturas obsoletas e antidemocráticas. O uso por vezes abusivo do centro como uma alternativa às tendências de direita ou esquerda, de modo a qualificá-lo como campo ideológico é equivocado porque em política só existem dois lados. O centro não é lado. Na realidade, o centro não é nada, a menos que se entenda tratar-se de uma corrente que aposta como projeto permanente na construção de consensos, tal como mencionei anteriormente. Nesse caso, faz sentido, como sentido também faz a qualificação de centro-direita e centro-esquerda, ou seja, ações de um desses dois lados de natureza ideológica capazes de fazer política. Sobre isso, penso que essas formas de identificar diferenças no campo da esquerda como do campo da direita de tendências que se aproximam do centro, como a de se afastarem por definição de suas matrizes fundamentais é um equívoco. E o pior é que ele decorre geralmente dos próprios membros de cada um desses lado na disputa política e ideológica. Em geral, nos países ocidentais essas diferenciações ou não existem, ou quando muito são aplicadas em momentos de luta interna de alguns partidos de forma a qualificar mais fortemente os que seriam autênticos em relação aos não tão autênticos assim, mas isso não chega a ganhar maior destaque na mídia ou até junto ao eleitorado de ambas as correntes. Esse é um desafio permanente porquanto se trata da matéria-prima da ação dos partidos justamente por serem instâncias do jogo de interesses políticos. A recusa do diálogo, dos embates ao nível da argumentação e não da intolerância, que desqualifica os embates democráticos, representa a negação da própria política. E como a política se ocupa da polis, isto é, de nossas moradias que são as cidades geridas pelos nossos representantes é indispensável que examinemos o que se passa na nossa moradia maior, enfim, na nossa casa, que é o planeta Terra. Eis, um outro desafio que se encontra na ordem do dia. Ou bem através da política se conscientize a humanidade de que está em curso um processo de mutação climática com implicações severas ainda inimagináveis, diante dos já denominamos de eventos extremos, ou seremos todos afetados duramente pelo que vem por aí. Particularmente as novas e novíssimas gerações, cuja existência nos cabe proteger minimamente.   *Doutor em História Social; Conferencista Honorário do Real Gabinete Português de Leitura; Professor Aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Presidente do Movimento em Defesa da Economia Nacional (MODECON); Vice-presidente do IBEP (Instituto Brasileiro de Estudos Políticos). Foto: Divulgação Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.     

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CORREIO BASTIDORES | Bolsonaristas foram contra projeto que pune golpe

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CORREIO BASTIDORES | Bolsonaristas foram contra projeto que pune golpe
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RUDOLFO LAGO* do Correio da Manhã Brasília Se dependesse de bolsonaristas da Câmara, não haveria necessidade de anistia aos condenados a penas pesadas por participação em atos golpistas. Em 2021, esses deputados votaram contra o projeto que, transformado em lei, tipificou os crimes de golpe de tentativa de golpe de Estado e de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Baseado nesses artigos é que o Supremo Tribunal Federal tem aplicado as maiores penas aos condenados pelo 8 de Janeiro. Apesar da posição contrária das bancadas do PSL (onde estavam apoiadores mais radicais do governo) e do Novo, o projeto, que substituiu a Lei de Segurança Nacional, foi sancionado por Jair Bolsonaro. Ele vetou artigos como o que punia fake news. De Toni Entre os que votaram contra estava Carolina de Toni, hoje presidente da Comissão de Constituição e Justiça e que procurou apressar a tramitação da anistia. Presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) decidiu que esta proposta será examinada por uma comissão especial. 'Prostituído' Também disseram não deputados como Eduardo Bolsonaro, Carla Zambelli e Chris Tonietto. Carlos Jordy, outro aliado do então presidente, afirmou ser contra o projeto "com a utilização deste termo tão prostituído que é o Estado Democrático de Direito". Lira: anistia terá que passar pelo plenário Presidente nega poder excessivo de comissão | Foto: Mario Agra/Câmara dos   Um deputado do PL comemorou a decisão de Lira de tirar o projeto da CCJ: alegou que a comissão especial teria caráter terminativo. Neste caso, caso aprovada, a proposta sequer precisaria passar pelo plenário. Consultado pela coluna, Lira, em mensagem por WhatsApp, negou esta possibilidade. "Qualquer comissão especial passa pelo plenário", escreveu. Professor de direito constitucional, o ex-deputado Marcelo Ramos concordou. Segundo ele, a decisão é terminativa quanto à constitucionalidade e adequação orçamentária e financeira. Mas o mérito tem que ser submetido a todos os deputados. Sem chance Um parlamentar do PL diz que Bolsonaro não será beneficiado pelo fato de ministros por ele indicados ao STF assumirem a presidência e a vice do Tribunal Superior Eleitoral em junho de 2026. Os cargos irão para Nunes Marques e André Mendonça, respectivamente. Prazo Bolsonaro crê que a mudança criará um clima favorável ao fim de sua inegibilidade. O problema é que, três meses antes, partidos, entre eles o PL, vão precisar definir se governadores tentarão a Presidência — eles têm até março para deixar seus cargos. Trava Ao RJTV, o governador do Rio, Cláudio Castro (PL) disse a decisão do ministro Edson Fachin, do STF, que impõe condições para operações policiais em favelas dificulta o controle da criminalidade. Segundo ele, impede que a polícia entre todos os dias em comunidades. Frequência Relatório do Ministério Público que lista operações em favelas comunicadas pela polícia registra cerca de 4.500 incursões desde junho de 2020 e até o último dia 17 (três por dia). Na Pedreira, esteve 132 vezes; na Cidade de Deus, 124. Só neste ano, foi 26 dias à Muzema.   *Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congresso em Foco e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade Artigo originalmente publicado no Correio da Manhã / Brasília Foto: Mario Agra/Câmara dos Deputados / Eduardo Bolsonaro disse não à proposta Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

Economia

Uma interpretação das eleições

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Uma interpretação das eleições
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Por CARLOS DE ASSIS* O recente artigo de Benedito Tadeu, na Red, e a entrevista de José Dirceu na Globonews, na última terça-feira, coincidem na correta interpretação do enfraquecimento da esquerda e do fortalecimento do Centrão constatados nas últimas eleições municipais. Na essência, ambos concluem que a esquerda e, principalmente, o PT, fracassaram porque deixaram um espaço vazio para que a direita e a extrema direita avançassem nas áreas mais pobres da população, que antes as acompanhavam. Tadeu acentua a dificuldade de comunicação do Governo com essas áreas. E ambos chamam a atenção para o óbvio: o mecanismo antirrepublicano de manipulação de emendas parlamentares para apropriação de recursos públicos a fim de  financiar campanhas eleitorais, levando à perpetuação no poder de oligarquias partidárias. Estou totalmente de acordo com essas interpretações. Mas gostaria de acrescentar um elemento histórico, que considero igualmente relevante. Por que as esquerdas já não conseguem falar com o povo pobre, como antes? Para mim, é porque as sociedades, e não só no Brasil, como em grande parte do mundo, sofreram transformações que as descaracterizaram profundamente  nas últimas décadas em relação às anteriores. A história de fins do século XIX e da maior parte do século XX foi a história do conflito entre Capital e Trabalho. Nesse período o Capital, que sempre puxou a História, puxou com ele esse conflito. De fins dos anos 1970 para cá, sob o impulso do avanço tecnológico e da financeirização da economia, o Capital produtivo começou a dispensar trabalhadores e a migrar para a especulação financeira improdutiva. Cada país teve uma participação diferenciada nesse processo. No Brasil, ele tem sido mais intenso, porque o domínio do Capital sobre o Estado, em suas duas formas, tem sido muito mais forte que em outros países, devido principalmente à aliança da classe dominante com a mídia. Enquanto atuou como força produtiva e social relevante, o Trabalho compensou politicamente sua subordinação econômica ao Capital mediante apoio eventual do Estado. Isso começou com Getúlio Vargas, que criou a legislação trabalhista, e veio até os anos 70, quando o presidente Fernando Henrique Cardoso prometeu acabar com seu legado,  e efetivamente o fez, de forma indireta, com a Lei de Responsabilidade Fiscal de caráter conservador-neoliberal. Ao dispersar o Trabalho, e converter-se à financeirização e ao fiscalismo, o Capital tornou-se no Brasil uma força regressiva sem oponentes, aliado ao Estado conservador-neoliberal. Lula foi o último líder político que conseguiu afirmar-se com amplo apoio popular, contando com uma base sindical forte. Já depois de suas primeiras eleições o Trabalho se enfraquece, a Sociedade se fragmenta em grupos de interesses e prevalece o identitarismo. E a esquerda perde suas referências básicas. É isso, a meu ver, que explica o crescimento da direita e da extrema direita no Brasil e no mundo. O Capital, sem oponente direto no campo econômico e em condições políticas de dominar o Estado, pode exercer livremente a defesa de seus interesses na apropriação de grande parte da renda nacional. Isso se faz através de uma política fiscal restritiva, que diminui a capacidade do Governo de atender as necessidades básicas do povo, e da política monetária, com seus juros imorais. Na Sociedade, só os idealistas defendem o interesse comum. É inútil. A realidade crua se sobrepõe ao discurso político, especialmente quando esse discurso pretende “esclarecer” as camadas mais pobres da população sobre suas mazelas. Nos velhos tempos do sindicalismo forte, os trabalhadores, em grande número, conviviam nos mesmos espaços e dividiam as mesmas esperanças. Curiosamente, antes da internet, era mais fácil a comunicação política entre eles. Hoje é diferente. Parte relevante dos trabalhadores se encontra no mercado informal, sem proteção previdenciária ou trabalhista, graças às reformas feitas sem grande oposição nos recentes governos de direita ou de extrema direita. Há cerca de 15 milhões de MEIs (Microempreendedores Individuais), uma forma precária de institucionalização que atende a centenas de milhares de trabalhadores que foram expulsos do mercado formal. Eis aí um grande mercado de votos, porém não alcançado pelas esquerdas. É um mercado explorado principalmente pelos demagogos (“sou contra tudo isso que está aí”), pelos riquíssimos pastores episcopais e, nas grandes metrópoles, por políticos ligados a milicianos e traficantes. As esquerdas não entram nesses espaços. E não vejo mesmo como possam entrar. A mídia e a internet, em tese, poderiam facilitar o processo de comunicação, mas as esquerdas ainda não encontraram uma linguagem e mesmo uma ideologia comum para chegar às diferentes camadas da população. Por tudo isso justifico o crescimento da direita e da extrema direita nas últimas eleições, e sou extremamente cético em relação à possibilidade de que esse quadro mude nas próximas. Na raiz dessa questão não estão relações políticas superficiais na Sociedade. Existem razões profundas,  que dizem respeito à própria transformação do Capitalismo produtivo dos séculos XIX e XX no Capitalismo financeiro improdutivo do Século XXI, que marginalizou a força de trabalho e fragmentou a Sociedade.   *Jornalista, economista, doutor em Engenharia de Produção, professor aposentado de Economia Política da UEPB, e atualmente economista chefe do Grupo Videirainvest-Agroviva e editor chefe do jornal online “Tribuna da Imprensa”, a ser relançado brevemente.    Foto: Antonio Augusto/Ascom-TSE) Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com . 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Internacional

Os desafios dos e para os BRICS

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Os desafios dos e para os BRICS
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Por FLÁVIO AGUIAR* Além das duas principais guerras em curso, a na Ucrânia e a no Oriente Médio, durante a semana passada o noticiário e os comentários na mídia internacional ocuparam-se significativamente com a reunião de cúpula dos BRICS em Kazan, na Rússia, sob a presidência do governo de Moscou. Para além das declarações contidas no documento conjunto final, já esperadas, falando em paz, manifestando preocupações humanitárias sobre Gaza e a Cisjordânia, condenando a expansão regional do conflito no Oriente Médio por parte de Israel, sugerindo a construção de uma nova ordem econômica mundial, a reunião deixou como saldo algumas evidências muito significativas. A primeira é que a Rússia não está tão isolada quanto os Estados Unidos e seus aliados gostariam que estivesse. Aliás, ela pode estar isolada em relação aos países do “Ocidente ampliado”, mas fora deste círculo as sanções contra ela não encontram apoio. Pelo contrário, o restante do mundo ou as ignora, ou as condena, nem que seja como impróprias. A segunda é que cresceu bastante o interesse por parte de outros países em entrar ou se manter próximos ao grupo. Além dos quatro países fundadores do grupo, Brasil, Rússia, Índia e China, e da África do Sul que nele foi admitida em 2010, os BRICS agora incluem como membros plenos ou convidados nesta qualidade, mais 5 países: Egito, Etiópia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e o Irã. E há dezenas de países interessados em ingressar ou se associar ao grupo, com destaque para a Turquia, que é membro da OTAN, organização que apóia a Ucrânia contra a Rússia, e da Sérvia, que também está se candidatando a entrar para a União Europeia, que tem a mesma posição da OTAN naquela guerra. A cúpula deste ano convidou mais 13 países a integrar o grupo na condição de Estados Parceiros, isto é, sem direito a veto nem voto:  Cuba, Bolívia, Nigéria, Uganda, Tailândia, Vietnã, Indonésia, Argélia, Bielorrússia (também chamada de Belarus), Malásia, Uzbequistão, Cazaquistão e a já mencionada Turquia. Ficou também evidente a força da posição brasileira no grupo. Rússia e China manifestaram desejo de incluir a Venezuela no convite. O Brasil vetou e os demais países aceitaram este veto sem reclamação. A posição do governo brasileiro é controversa mesmo entre seus apoiadores. Muitos destes defendem que o Brasil deveria apoiar incondicionalmente  a entrada da Venezuela no grupo, O assessor da presidência brasileira, Celso Amorim, declarou que h9uve uma ruptura da confiança entre os dois governos. O fato é que Brasília e Caracas já vinham trocando farpas diplomáticas há algum tempo. O Brasil ainda não reconheceu a reeleição de Nicolás Maduro na presidência, alegando que as atas eleitorais não vieram a público, ao contrário do que ele prometera. E o Procurador Geral da Venezuela, Tarek William Saab, acusou o presidente Lula de “ser um agente da CIA, cooptado enquanto esteve preso”. O Ministério de Relações Exteriores venezuelano apressou-se a não endossar a acusação. Mas o Procurador Geral voltou à carga, dizendo que o presidente brasileiro forjara a versão de seu acidente doméstico como pretexto para não comparecer à cúpula. Para este articulista a questão é espinhosa e a tensão só será resolvida por gestos de reciprocidade diplomática. Ela envolve outros aspectos, como o fato do Brasil ter assumido a administração e a proteção da embaixada da Argentina em Caracas, depois que a relação entre esta e Buenos Aires entrou em colapso depois que o presidente Javier Milei ordenou a entrega de um avião venezuelano aos Estados Unidos. O interesse mundial pelo projeto dos BRICS cresceu muito desde que os Estados Unidos e seus aliados próximos, como a União Europeia, começaram a utilizar o sistema internacional de pagamentos e de manutenção das reservas financeiras em dólares norte-americanos para punir quem considerem adversários ou inimigos através de sanções econômicas, como no caso da Rússia. Esta teve reservas internacionais congeladas e reaplicadas no mercado financeiro pelos agentes que as detém, para seus dividendos servirem como garantia a empréstimos à sua inimiga, a Ucrânia. Antes desta decisão ser tomada, divulgou-se que chegou-se a considerar o confisco puro e simples das reservas russas. E como parte desta versão também se divulgou a de que quem impediu o confisco foi o FMI, alegando que este gesto provocaria um pânico sem limites no mercado internacional. De todo modo, a aplicação dos recursos na roleta financeira sem o consentimento de seu proprietário e seu uso como garantia de um empréstimo a terceiro não deixa de constituir um gesto pós-moderno de pirataria. A própria insegurança gerada pela guerra na Ucrânia e pelo conflito no Oriente Médio também contribuiu para acrescer o interesse pelos projetos dos BRICS. Um dos projetos centrais dos BRICS é a criação de um sistema paralelo, independente do dólar, para as transações internacionais dos países membros e outros interessados. Isto é um claro desafio à hegemonia financeira mundial dos Estados Unidos e de seus aliados próximos, mantida através da hegemonia do dólar como meio de pagamento desde a conferência de Bretton Woods, em 1944, que também criou o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. Naquele tempo a garantia do dólar eram as reservas em ouro dos Estados Unidos. O governo Nixon, no começo dos anos setenta do século passado, aboliu a conversibilidade do dólar em ouro. A moeda norte-americana tornou-se “fiduciária”, no jargão financeiro, isto é, mantida tão somente pela confiança dos usuários na credibilidade de seu emissor. Ao mesmo tempo, a proposta de uma moeda nova como meio de pagamento internacional é um desafio para o próprio grupo dos BRICS, pois a criação de um tal sistema paralelo demanda uma engenharia financeira de grande monta e de longo prazo. Embora a hegemonia do dólar submeta o sistema financeiro aos Estados Unidos, que emite a moeda, e seus aliados próximos do Ocidente, ela garante uma certa estabilidade nas transações internacionais que, de outro modo, estariam sujeitas às inúmeras variações cambiais e demais intempéries das outras moedas nacionais. O sucesso deste projeto dos BRICS depende, portanto, da construção de um meio de pagamento alternativo, mesmo que seja inteiramente virtual, reconhecido por todos os interessados. Não teria sentido substituir a hegemonia do dólar pela de uma outra moeda nacional, como o renmimbi chinês, muitas vezes chamado pela nome de sua unidade, yuan, de pronúncia mais fácil. Lembro a moeda chinesa porque a China é, dentre os BRICS, a economia mais pujante. A criação, emissão e administração desta moeda ou meio de pagamento virtual, que não substituiria as moedas nacionais, mas correria paralelamente a elas, como faz o dólar norte-americano, caberia ao Banco dos BRICS, hoje presidido pela ex-presidenta Dilma Rousseff ou a um outro organismo especialmente criado para este fim. Dada a heterogeneidade dos países membros e/ou na mira dos BRICS, esta tarefa não será de fácil execução. Esta heterogeneidade é o ponto forte do projeto BRICS, apontando para um mundo de fato multipolar. Mas é também um complicador, exigindo, mais do que uma engenharia financeira, uma arquitetura política de grande sofisticação. Sem falar que certamente haverá resistências e possíveis retaliações por parte de quem detém a atual hegemonia, isto é, os Estados Unidos. A ver.   Uma versão menor deste artigo foi publicada na seção “O Mundo Agora”,   *Jornalista, analista político e escritor, é professor aposentado de literatura brasileira na USP. Autor, entre outros livros, de Crônicas do mundo ao revés (Boitempo). Foto: REUTERS/Maxim Shemetov/Pool/Proibida reprodução Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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Eleição: Lições e Desafios

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Eleição: Lições e Desafios
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Por LISZI VIEIRA* 1 – As questões locais predominaram sobre as questões nacionais, o que não é surpresa. A soma de abstenções, nulos e brancos ultrapassou o primeiro colocado. 2 – As emendas parlamentares para fortalecer os governos municipais teve grande peso. A maioria dos prefeitos se reelegeu, cerca de 80%. Isso significa que os prefeitos reeleitos vão apoiar os atuais parlamentares, contribuindo para a provável pouca renovação de parlamentares no próximo Congresso, a ser mantido esse sistema. 3 – A esquerda e a extrema direita perderam. Ganhou a direita fisiológica que apoia qualquer Governo em troca de vantagens. 4 – Os partidos de direita hoje no Governo – chamados Centrão – não apoiaram Lula em 2022 e nada garante que vão apoiá-lo em 2026. 5 – O governador Tarcísio, de SP, saiu fortalecido para ser o candidato da direita em 2026. Imprensado entre Tarcísio, de um lado, e Marçal, de outro, Bolsonaro se enfraqueceu. Seus candidatos venceram apenas em duas das nove capitais que disputaram no segundo turno. Seu enfraquecimento pode contribuir para sua prisão, se o processo judicial for mesmo para frente. 6 – Acho que, salvo engano, no Estado de São Paulo a esquerda nunca conseguiu maioria. Nem Getúlio Vargas conseguiu entrar em São Paulo. Mas a esquerda venceu três vezes na capital com Erundina, Marta e Haddad. A boa performance de Lula na capital em 2022 se deve mais a seu carisma, e não a um avanço da esquerda. Boulos conquistou os mesmos 40% que obteve em 2020 contra Bruno Covas. Ou seja, Marta não ajudou em nada e a entrevista com Marçal também não. Parece que o PT se enfraqueceu na periferia. 7 – A direita sempre dominou os tradicionais meios de comunicação (rádio, TV, imprensa) e a extrema direita predomina agora nas comunicações por meio virtual, nas chamadas redes sociais. Isso ajuda a explicar porque a rejeição à esquerda continua ou mesmo aumenta. 8 – O problema não é só de comunicação. O discurso tradicional da esquerda envelheceu, e a atitude de não radicalizar para não assustar parece encontrar seus limites. Boulos repetiu Lula e no máximo conseguiu os mesmos votos do que na eleição anterior. A esquerda abandonou suas propostas e projetos, se aproximou do centro, fez alianças com a direita em nome da governabilidade, e está perdendo apoio. 9 – Em alguns lugares, como Porto Alegre, a maioria preferiu a inundação ao PT, cuja candidata é associada aos direitos humanos – visto no meio popular como defesa de bandido – e a temas rejeitados como aborto, sexualidade e drogas. A esquerda perdeu a guerra cultural, e não só em Porto Alegre. 10 – O atual modelo de aliança com a direita (Centrão) para garantir a governabilidade traz enormes riscos e mostrou na eleição sua fragilidade. O presidente Lula pode dobrar a aposta, abrindo mais espaço para o Centrão – principalmente o PSD de Kassab, o maior vencedor das eleições municipais – ou experimentar outro modelo, já que o atual não parece promissor. 11 – Esse outro modelo necessariamente passaria pela mobilização popular, o que não significa necessariamente mobilização de rua, mas retorno às bases, o que pode ser feito de diversas maneiras, tanto presencial como por meio digital, onde reina a extrema direita. Há momentos em que a presença pessoal nas bases e a mobilização de rua são necessários, mas é bom não esquecer que a principal rua do século XXI é a internet. 12 - O conteúdo do discurso precisa mudar. Culpar o bode expiatório do “identitarismo” não vai resolver nada. A sociedade mudou, e os partidos de esquerda estão perplexos entre retomar o discurso antigo de luta de classes – que não encontra mais eco na maioria dos trabalhadores – e fazer alianças com a direita para barrar a extrema direita. Encontrar um discurso anticapitalista, com base nas atuais relações sociais e econômicas, travar a batalha cultural nas bases e apontar para uma utopia capaz de dar esperanças, eis o desafio.   *Liszt Vieira é integrante da Coordenação Política e Conselho Editorial do Fórum 21 e do Conselho Consultivo da Associação Alternativa Terrazul. Foi Coordenador do Fórum Global da Conferência Rio 92, secretário de Meio Ambiente do Estado do Rio de Janeiro (2002) e presidente do Jardim Botânico fluminense (2003 a 2013). É sociólogo e professor aposentado pela PUC-RIO. Foto: Emmanuel Dunand / AFP Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.    

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Os seis recados que saíram das urnas nestas eleições municipais

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Os seis recados que saíram das urnas nestas eleições municipais
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Por RODRIGO PEREZ* Depois da divulgação dos resultados oficiais da eleição, tem início uma nova fase da disputa. Vencedores e perdedores começam a interpretar a realidade que foi representada pelo voto. Autocrítica, depressão coletiva, cantos de vitória muitas vezes exagerados, lavagem pública de roupa suja. Estamos vendo de tudo, à direita e à esquerda. Meu objetivo neste texto é destacar aqueles que me parecem ser os seis principais recados que os eleitores dos mais de 5.500 municípios brasileiros deram à classe política. 1°) Depois de ter sido praticamente varrido do mapa político do país em dois ciclos eleitorais (de 2016 a 2022), o centro político foi efetivamente reconstruído. O arquiteto da reconstrução tem nome e sobrenome: Gilberto Kassab, o principal estrategista em ação no tabuleiro do jogo político brasileiro. Kassab está apostando no cansaço da sociedade em relação à constante agitação ideológica que há anos movimenta as disputas políticas no país. A intuição me parece correta. Entre todas as capitais, somente Cuiabá e, principalmente, Fortaleza espelharam a polarização que pautou as eleições presidenciais de 2022. Nas outras capitais e nas cidades de pequeno e médio porte, a disputa esteve mais pautada em questões locais, cotidianas, do que exatamente em critérios ideológicos, apesar de a rejeição à Maria do Rosário, em Porto Alegre, e a Guilherme Boulos, em São Paulo, não ter outra explicação a não ser o veto ideológico.   2°) As contundentes derrotas de Rosário e Boulos reforçam a percepção de que, nesta quadra histórica, as portas do poder executivo parecem fechadas às lideranças muito identificadas com partidos políticos e movimentos sociais de esquerda, com a exceção de Lula, é claro. Penso que os nomes mais emblemáticos da esquerda deveriam se empenhar nas disputas legislativas, enquanto nas corridas pelo poder executivo, o campo progressista precisará caminhar um tantinho para o centro, e aqui têm destaque as figuras de João Campos e Eduardo Paes, que estão entre os principais vencedores destas eleições. Aquilo que Campos e Paes fizeram, respectivamente, no Recife e no Rio de Janeiro está na escala do impressionante e deveria ser cuidadosamente estudado.   3°) A “esquerda puro sangue” deveria se esforçar em apresentar um projeto disruptivo para a sociedade que consiga rivalizar com a ruptura proposta pela extrema direita, fundada no signo do combate à corrupção. O horizonte disruptivo hoje apresentado pela esquerda está baseado em performances escatológicas no campo do comportamento, o que acaba sendo um suicídio político pois confronta a moralidade hegemônica na sociedade. A radicalização deveria ser performarda em temas de interesse coletivo, como jornada de trabalho 4 X 3, salário-mínimo de 4.000 reais, sem tributação, transporte público gratuito, como vem fazendo o vereador eleito Rick Azevedo, o mais votado do PSOL no Rio de Janeiro. Basear o discurso político nas teses identitárias só interessa à extrema direita, cujo identitarismo é socialmente dominante.   4°) A quantidade enorme de prefeitos reeleitos (80%) é explicada pelo oceano de dinheiro que foi derramado nos municípios através das emendas parlamentares. Instaura-se, assim, um ciclo que se retroalimenta: os parlamentares investem recursos para eleger seus aliados nos municípios e dois anos mais tarde esses aliados retribuem o favor, ajudando nas eleições legislativas. Em 2026, o resultado das eleições municipais, portanto, tende a interferir mais nas eleições legislativas do que propriamente nas eleições presidenciais. Durante a Primeira República, vimos a “política dos governadores”, com protagonismos dos executivos estaduais. Depois da redemocratização, vimos o “presidencialismo de coalizão”, com o executivo nacional dando as cartas do jogo político. Agora, estamos vendo o “parlamentarismo orçamentário paroquial”, com o Congresso Nacional sendo o mais forte entre os poderes da República. A constituição de 1988 não regula mais o contrato social e político brasileiro.   5°) No campo da direita radical, importantes movimentações podem ser observadas. Nem de longe, Jair Bolsonaro se mostrou o trunfo eleitoral que prometia ser. Os bolsonaristas estão comemorando os quase 20 milhões de votos que o PL conseguiu, mas cabe questionar qual o tamanho desse eleitorado é efetivamente ideológico e qual parte foi conquistada pela máquina municipal, tão influente nas cidades de pequeno e médio porte. A resposta para o questionamento está sendo disputada dentro do PL, onde as relações entre Waldemar da Costa Neto e Jair Bolsonaro estão longe de serem harmônicas. Como se não bastassem os problemas internos ao seu partido, o ex-presidente viu sua autoridade ser desafiada nas eleições de São Paulo por dois aspirantes a herdeiros. Primeiro, Pablo Marçal tomou para si a semântica da ruptura, que cada vez mais colará menos em Jair Bolsonaro, conforme ele vai sendo identificado com as forças políticas tradicionais. Em seguida, Tarcísio de Freitas desobedeceu a orientação do suposto líder e manteve seu empenho na defesa da candidatura de Ricardo Nunes, o que mostrou ser uma aposta bem-sucedida. Bolsonaro sequer estava no palanque da vitória de Ricardo Nunes.   6) Já o presidente Lula arcou com o ônus da derrota de Boulos em São Paulo. Por mais que a esquerda tente dourar a pílula, esse revés foi impactante, quase humilhante. Com 58 milhões de reais investidos, Boulos manteve-se no mesmo patamar de 2020. Não conseguiu avançar nada, e ainda precisou lidar com dois episódios, no mínimo, desconfortáveis: a linguagem neutra no hino nacional e a "entrevista de emprego" com Pablo Marçal. Os eventos já estão registrados no anedotário político nacional e, certamente, provocarão desgaste à esquerda em geral e a Boulos em particular durante algum tempo. Para o governo, fica o desafio de aumentar sua margem de aprovação ao longo dos próximos dois anos, para que seja possível chegar em 2026 com alguma segurança.   *Historiador e professor universitário Foto: José Cruz/Arquivo/Agência Brasil Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.      

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