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JORNALISTAS: BIOINDICADORES DA EMERGÊNCIA CLIMÁTICA

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JORNALISTAS: BIOINDICADORES DA EMERGÊNCIA CLIMÁTICA
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Por SÍLVIA MARCUZZO* Jornalistas ambientais nunca foram tão importantes para traduzir para a sociedade as questões climáticas. Mas, paradoxalmente, nunca foram tão desvalorizados Quem vem acompanhando os processos, a transformação rápida pela qual estamos todas (formas de vida) inseridas diante da emergência climática, tem sido impactado de várias formas. E aí, além dos cientistas e dos técnicos socioambientais, que acompanham de perto o significado da degradação dos biomas, apesar dos alertas, leiam-se de ambientalistas, ativistas, servidores do Ibama, do ICM Bio e demais órgãos – nós, jornalistas ambientais, estamos sofrendo demais com esse contexto. Para começo de conversa, nunca fomos tão relevantes para traduzir o que estamos atravessando, mas também nunca fomos tão desvalorizados, em diversos sentidos. Vou usar esse espaço para contar um pouco do que rolou no 8º Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental, que aconteceu em Fortaleza, de 19 a 21 de setembro. Antes do desastre que devastou o Rio Grande do Sul este ano, estava certa minha ida ao evento. Essa foi a primeira vez que o Congresso foi realizado na região Nordeste. Mas, devido a diversos fatores, que na minha avaliação estão intimamente conectados à desvalorização da nossa atividade, não só a minha ida foi abortada como a de diversos outros colegas. Eu estive em várias edições do Congresso, inclusive dando oficinas e na organização quando ocorreu em Porto Alegre. Na primeira, em 2005, estava à frente da assessoria de comunicação da Rede de ONGs da Mata Atlântica em Brasília. Naquela época, conseguimos viabilizar a ida de mais de 10 assessores de organizações. Desastre no RS Acompanhei pelo YouTube a programação e participei de uma mesa sobre os desastres no RS, a última do primeiro dia de manhã. Vale conferir aqui. A gravação foi feita pela TV Unifor por turnos. Nem tudo que aconteceu no Congresso, como as oficinas, foi registrado. À medida que assistia, constatava a complexidade que se tornou a nossa atividade, me dava uma angústia. Difícil de descrever. Mas, como esse espaço aqui não tem o pretexto de deixar ninguém pior do que já está, vou tentar me expressar de um jeito que evidencie a necessidade da categoria se unir, se articular e reunir esforços para enfrentar as dificuldades. Precisamos encontrar saídas, buscar soluções. ESG pra inglês ver O painel que tratou de ESG, essa sigla que agora entrou na moda, evidenciou o quanto as empresas estão utilizando essa ferramenta para vender não só gato por lebre, mas também rato por cotia, serelepe, ouriço. Ou seja, hoje, quem cobre essa área precisa estar informado, para não ser enganado. É fundamental saber apurar e distinguir se o que está sendo “vendido” por assessorias e afins é realmente de fato viável e se está sendo feito. E isso foi reforçado pela professora de ESG da Unifor Magda Maya. Nesse mundo neoliberal, diga-se, do “libera geral”, não interessa se a empresa vende veneno ou alimentos que só causam prazer e prejuízos à saúde, ela pode estar muito bem na cotação dos índices dos relatórios exigidos pelos preceitos do Environment, Social e Governance, significado da sigla em inglês. Dal Marcondes, um dos organizadores do evento, que foi editor de economia por muitos anos, opinou no painel (confira aqui), que as empresas deveriam seguir o que preconiza os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODSs). Aliás, vale ouvir a fala do Dal sobre o que é ser empreendedor e jornalista. Ele conta um pouco do que passou ao criar um dos primeiros portais de notícias de meio ambiente e as estratégias que adotou para manter a Envolverde, que completou 25 anos. Clique aqui para conferir, e depois veja a palestra do André Trigueiro, que dispensa apresentações. Sem patrocínio Um dos sinais que chama atenção para o cenário atual é que o evento não conseguiu patrocinadores. Isso provocou transtornos de toda ordem. A organização foi “enrolada” por representantes de grandes instituições, inclusive a data foi alterada, era para ser em abril, a pedido de patrocinadores que depois tiraram o time de campo. Isso me leva a levantar algumas hipóteses: será que a nossa frágil democracia também está sendo afetada ao ponto de as organizações com dinheiro nem quererem que melhore a cobertura de temas ambientais sensíveis pela cobertura independente? Heroínas da resistência Uma das tônicas do Congresso foi ouvir a trajetória de mulheres como Kátia Brasil (fundadora da Amazônia Real), Juliana Arini (repórter com larga experiência, vem acompanhando a situação do Pantanal – confira aqui) e Maristela Crispim (criadora da Eco Nordeste e organizadora do evento), que estão fazendo uma baita diferença onde atuam. Outro aspecto que merece ser salientado é que está complicado conseguir exercer a profissão acima dos 44 graus ou abaixo de tempestades, com interrupção de energia elétrica, sem sinal de internet ou falta de condições mínimas de trabalho. Enfrentar tantas intempéries, se expor a ataques, a ambientes inóspitos são situações rotineiras pra quem cobre a área. As jornalistas socioambientais veteranas, principalmente, são heroínas do nosso tempo. Conseguir equilibrar os diversos pratos, os distintos pesos do cotidiano e acompanhar tudo que envolve esse pacote de emergência climática, é preciso uma resiliência extraordinária. Ser mãe, geralmente a cuidadora dos idosos e doentes da família, dar conta dos próprios problemas de saúde, conseguir pagar os boletos e ainda atender as incontáveis demandas é um feito e tanto. Situação da RBJA Meu lugar de fala, ops, de escrita, é de alguém que acompanha esse contexto há mais de 30 anos. Comecei a cobrir meio ambiente quando era repórter do Correio do Povo em 1993. Faço parte da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental (RBJA), fundada pelos colegas Roberto Villar (hoje professor de Jornalismo da Uniritter) e João Batista Santafé Aguiar (editor do AgirAzul), desde sua fundação em 1998. É bom lembrar que o Núcleo de Ecojornalistas do RS foi o pioneiro do Brasil, nasceu em Porto Alegre em 1990. Constatar as imensas dificuldades que estamos atravessando através dos depoimentos dos colegas é um alerta também para toda a sociedade, pois também faz parte do universo de crises em que estamos submersos. Primeiro, quem é especialista na área e vive de freelas, há poucas opções para se vender suas pautas com independência. Precisamos de espaços em veículos que não sejam apenas para nichos de convertidos. A pauta socioambiental precisa ser tratada com mais cuidado e apreço em veículos de fora das nossas bolhas. Aqui no Rio Grande do Sul, por exemplo, conheço UM veículo que paga freelas para se fazer matérias. E o tamanho é até uns 3.500 caracteres, ou seja, não dá para aprofundar. A imprensa convencional gaúcha hoje tem dado mais a versão chapa branca (de governos) ou das empresas, enquanto os lados da sociedade, do bem para a coletividade, são geralmente deixados de lado. Segundo, os grandes veículos, salvo algumas raras exceções, demitiram os/as repórteres mais experientes. O salário da categoria achatou. Hoje, todo mundo está correndo atrás de grana para sobreviver. Isso se deve a vários fatores. A imprensa como um todo está em crise, ou fase de transição (cada um tem sua opinião). Não é novidade que todos fomos impactados pelo poder das redes sociais, que estão engordando os bolsos, a barriga dos operadores dos algoritmos e dos donos das big techs. Creio que precisamos contar com a energia de novos integrantes para dar uma guinada na RBJA. Pedi um depoimento para o João Batista, confiram o que ele me respondeu: “Mantenho até hoje um site Jornalismo Ambiental, de iniciativa inicial do Roberto (Villar Belmonte), que procura abordar apenas fatos sobre jornalismo ambiental. Toda a contribuição às diversas páginas é bem-vinda. Na condição de mantenedor do grupo de discussão por email da Rede, já tentei várias vezes passar o bastão, mas não tive sucesso. Farei uma nova tentativa semana que vem. Na verdade, tinha expectativa de que o assunto fosse desenvolvido em Fortaleza, mas até o momento não soube de nada a respeito”. JB é vice-presidente da RBJA, a partir de reunião que institucionalizou o funcionamento da rede em 2016, no Congresso realizado no Rio de Janeiro. “Nunca mais houve outra eleição ou assembleia geral. Meu sonho é que a RBJA funcione como a ABRAJI – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, que mantém site, atividades, relatórios, cursos, relações com a institucionalidade brasileira. Outra entidade que deveria ser olhada com carinho é a Society of Environmental Journalists (SEJ), a entidade norte-americana dos jornalistas ambientais, também muito organizada”. “O desafio dos eventos extremos causados pelas mudanças climáticas marcou a minha participação na oitava edição do Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental (CBJA). Em uma palestra híbrida, participei de uma mesa sobre os grandes temas da cobertura ambiental, onde relatei um pouco sobre os incêndios que ainda assolam o Pantanal, o bioma mais atingido pelo fogo do Brasil. De uma Cuiabá a 44 graus e com o céu encoberto há semanas pelas queimadas, relatei um pouco sobre como o jornalismo ambiental é multidisciplinar, exigindo um olhar atento sobre os temas políticos, científicos e econômicos, algo que também se reflete na cobertura da crise climática”. Juliana Arini, jornalista, repórter, moradora de Cuiabá, assessora de imprensa do SOS Pantanal. “A realização do CBJA em Fortaleza superou as expectativas diante das dificuldades orçamentárias impostas aos organizadores. Foi um momento ímpar para escutar, analisar, trocar ideias e pensar o que fazemos todos os dias. É esse o grande desafio de um congresso de jornalismo e para isso que ele existe. Além de despertar o interesse e apresentar a área para os estudantes, ele serve para os profissionais trocar experiências, angústias e pensar em caminhos. É para isso que serve uma rede (a Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental), para termos uma troca. Nunca foi fácil ser um jornalista ambiental, mas agora estamos diante de um cenário mais duro: além de reportarmos, também somos impactados e atingidos por eventos extremos intensificados pelas mudanças climáticas. Como lidamos com a ecoansiedade? Como mantemos o nosso trabalho indispensável para tornar a sociedade mais informada sobre o assunto sem perder a nossa própria esperança e saúde mental? Eu não sei as respostas, mas sei que parte do tratamento passa pela troca entre colegas. E esse foi o assunto que permeou as conversas paralelas e algumas falas dos palestrantes”. Danielle Bragança, jornalista, moradora do Rio de Janeiro, editora do portal ((o)) eco. Esta foi a primeira edição do CBJA de que tive a oportunidade de participar – e ela aconteceu justamente na minha cidade, Fortaleza. Compareci aos três dias do evento e fiquei encantado com a diversidade dos temas e a composição das mesas. Desde as palestras até as oficinas, a organização foi atenciosa em priorizar os assuntos mais urgentes da pauta ambiental”. Também fiquei muito feliz de conhecer de perto profissionais que atuam em veículos independentes que acompanho e admiro, como a Eco Nordeste, a Amazônia Real e ((o)) eco. Como alguém que contempla a ideia de eventualmente ter seu próprio veículo jornalístico, o Congresso foi importante para me ajudar a entender mais sobre como engajar com a audiência, principalmente no ambiente online, e como garantir a viabilidade de certos modelos de negócios.  O Congresso encerrou com chave de ouro com a palestra de André Trigueiro. Sou suspeito para falar, pois sou fã do trabalho dele há anos, mas foi a forma perfeita de encerrar o evento. A fala dele, sempre tão enérgica, foi inquietante o suficiente para nos querer fazer ir além em nosso ofício, mas também cativante o bastante para nos dar esperança de que, sim, nosso trabalho faz a diferença num mundo em colapso.  Gabriel Matos, estudante do 5º período do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará (UFC), morador de Fortaleza, que integra o projeto de jornalismo ambiental Cuida Criatura.    “Organizar o 8° Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental foi bastante desafiador em diversos aspectos. O principal deles foi financeiro. Adiamos três vezes esta edição por patrocínio. Tínhamos três deles com negociações bem avançadas. Mas que na última hora não deram certo. Se não fosse o apoio financeiro que recebemos da Oak Foundation e o grande apoio logístico do Curso de Jornalismo da Unifor, não teríamos conseguido. Encerramos essa edição com a certeza de que fizemos o melhor trabalho possível. E também com um excelente feedback por parte dos participantes”.  Maristela Crispim, organizadora do evento, moradora de Fortaleza, Publisher da Eco Nordeste e professora da Unifor “A Maristela conseguiu fazer um milagre em fazer esse Congresso em Fortaleza, com pouquíssimos recursos, o primeiro no Nordeste. Com esse novo normal do país, com as mudanças climáticas, nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, onde as temperaturas estão muito acima do normal e com a seca assolando o país, menos a região Sul, o Nordeste tem muito a nos ensinar. Tem como mostrar como viver com qualidade nessa aridez. O Congresso serviu para muita troca de conhecimento, para entendermos como a Ciência do Nordeste pode ajudar o restante do país a superar as dificuldades dessa seca extrema”. Dal Marcondes, organizador do evento, jornalista, morador de Itatiba (SP), Publisher da Envolverde. *Sílvia Marcuzzo é jornalista, artivista, mestranda na Famecos/PUCRS e integrante do Grupo de Pesquisa sobre Comunicação, Crise e Cuidado. Articuladora de coletivos, repórter freelancer e editora de publicações socioambientais. Trabalha com comunicação e meio ambiente desde 1993. É consultora e assessora de organizações que atuam pelo bem da coletividade, por um mundo mais sustentável e com qualidade de vida para todos. Saiba mais em silviamarcuzzo.com.br Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.      

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IRMÃO SOL, IRMÃO LULA

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IRMÃO SOL, IRMÃO LULA
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Por PAULO TIMM* Todos conhecem a vida e obra de São Francisco de Assis, bem como sua famosa oração: Senhor, Fazei de mim um instrumento de vossa Paz. Onde houver Ódio, que eu leve o Amor, Onde houver Ofensa, que eu leve o Perdão. Onde houver Discórdia, que eu leve a União. Onde houver Dúvida, que eu leve a Fé. Onde houver Erro, que eu leve a Verdade. Onde houver Desespero, que eu leve a Esperança. Onde houver Tristeza, que eu leve a Alegria. Onde houver Trevas, que eu leve a Luz! Amém! Em 1972, Franco Zefirelli, cineasta italiano levou às telas a vida deste Santo pregador do amor à Natureza, aos Homens e aos Desesperados: “Irmão Sol, Irmã Lua”. Foi um sucesso. Francisco foi, de certa forma, o primeiro jovem da história a abandonar uma vida de conforto para conquistar a união espiritual com o mundo. Virou venerado santo. Ocorre-me, agora, ao procurar elementos para analisar o pronunciamento – os pronunciamentos – do Presidente Lula em Nova Yorque, onde abriu, seguindo o rito da sessão inaugural da Assembléia da ONU, em 1947, a Sessão desta Assembleia neste ano de 2024 que confere este privilégio ao Brasil ao Brasil. A página oficial da ONU sobre o protocolo da Assembleia Geral diz que “certas tradições emergiram ao longo do tempo”, incluindo a ordem dos dois primeiros países a falar, Brasil e Estados Unidos. A explicação usual é que os EUA falam em segundo lugar por serem o anfitrião da Assembleia, e o Brasil, em primeiro, em reconhecimento ao papel desempenhado pelo brasileiro Oswaldo Aranha (1894-1960), natural do Rio Grande do Sul, nos primórdios da Organização das Nações Unidas. Ele presidiu a Primeira Assembleia Geral Especial das Nações Unidas, realizada em 1947, e a Segunda Assembleia Geral Ordinária, no mesmo ano. Essas duas reuniões tiveram o papel histórico de determinar – por meio da resolução 181 da Assembleia Geral – a partição da Palestina entre árabes e judeus, abrindo caminho para a criação do Estado de Israel. Mas por que a invocação a São Francisco na fala de Lula? Primeiro, pelo caráter mesmo da dicção do Presidente, sobretudo neste seu terceiro mandato. Ele insiste na defesa da eliminação da miséria no mundo, na defesa do meio ambiente e na proclamação da paz. Trata, preferencialmente, de questões gerais que afligem a humanidade. Segundo, evita a linguagem revolucionária de velhos líderes que também levaram sua palavra à ONU, sem ataques a supostos responsáveis pelo não cumprimento de sua pregação. Não há acusações ao Imperialismo ou ao Colonialismo, embora se ouça, em suas palavras, o reconhecimento de falhas, seja no sistema de governança global, seja no cumprimento de Acordos como o do Clima, seja na incapacidade para a regulação dos sistemas de comunicação em Redes. Queixas... Terceiro, faz tudo isso como reiterada prece, sem entrar em detalhes sobre como levar tais tarefas a cabo. Uma verdadeira pregação. Não fala, na verdade, como um Político voltado à apresentação de propostas concretas, vindo, por isso mesmo, a ser criticado por alguns analistas. Mas, aparentemente, o faz por opção de um homem no alto de seu terceiro mandato como Presidente da República e perto de completar 80 anos que deseja deixar mais uma mensagem do que propriamente um legado. Lembremo-nos, a propósito, que no dia de sua prisão, que o retirou do pleito de 2018, ele mesmo despediu-se com estas palavras: - Eu não sou mais um nome – “Lula” -, sou uma Ideia. Com efeito, sublinha ele agora, no discurso na ONU, a mesma mensagem, não de demonstração de Força, mas de esperança na construção de um mundo melhor. Às futuras gerações, a tarefa de realizar, sem apelo ao extremismo, mas com a força da organização democrática dos povos no mundo inteiro, sua mensagem. Mensagem, como digo, franciscana... Texto publicado como editorial da Cultural FM Torres *Paulo Timm é economista, professor universitário e coordenador da Cultural FM Torres www.culturalfm875.com Foto da capa: Irmão Sol, Irmã Lua, filme de Franco Zeffirelli, 1972 - Foto Divulgação Lula abre a 79ª Assembleia Geral da ONU. Veja íntegra e principais pontos do discurso https://red.org.br/noticia/lula-abre-a-79a-assembleia-geral-da-onu-veja-integra-e-principais-pontos-do-discurso/ Lula denuncia na ONU forças de extrema-direita no Brasil e nos EUA e aponta crise democrática Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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O ESTADO MÍNIMO E OS DESASTRES CLIMÁTICOS

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O ESTADO MÍNIMO E OS DESASTRES CLIMÁTICOS
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Por J. CARLOS DE ASSIS* Parte IV É uma ironia da História que as mudanças climáticas, provocando desastres extremos em todo o planeta, tenham encontrado no mundo e no Brasil grupos de direita ou de extrema direita que vêm sustentando há décadas a ideologia neoliberal, cuja síntese é justamente a promoção do estado mínimo. De fato, em poucos momentos da História o País precisou tanto, como agora,  de um estado forte, para dar conta dos imensos custos de reconstrução e de prevenção dos danos materiais e humanos devidos às mudanças do clima. Isso se manifestou principalmente no próprio Rio Grande do Sul. Contudo, os principais dirigentes desse Estado, o governador Eduardo Leite, do PSDB, e seu aliado Sebastião Melo, prefeito da capital Porto Alegre, do MDB, têm-se destacado como próceres aliados em favor do neoliberalismo. Melo fez um verdadeiro estrago na legislação ambiental, suprimindo dela centenas de artigos e eximindo investidores de apresentar pareceres técnicos para construir empreendimentos em áreas de conservação. Melo também assumiu uma posição privatista, sob  críticas de que grandes projetos urbanísticos estavam sendo aprovados, contrariando normas ambientais. Com isso o extremismo privatista, que, nos tempos de Bolsonaro, efetivamente subordinou os interesses sociais aos interesses específicos de blocos econômicos, confronta-se agora com as consequências de sua própria ideologia, que tem tido como meta afundar o que se tornou agora seu próprio barco de salvação, o Estado. No caso dos bolsonaristas isso não é de estranhar, porque sua radicalização não tem qualquer compromisso com os interesses reais da Nação. Contudo, seus aliados na prática, PSDB e MDB, que se dizem sociais-democratas, não são menos radicais quando se trata de desestatizar. Veja-se o que fez Fernando Henrique Cardoso em seus governos. O neoliberalismo não tem sido apenas um projeto econômico de apropriação pelas classes dominantes de parte relevante da renda produzida pelas classes dominadas. É um projeto de utilização consciente da Economia como instrumento para a destruição do Estado Nacional, de forma a limitar a ação deste em favor das camadas mais vulneráveis da população e mais necessitadas de apoio estatal. É na implementação desses dois objetivos que se manifesta o jogo político que, no Brasil, tem colocado secularmente em planos opostos conservadores e progressistas. Agora os conservadores, hoje denominados neoliberais, se encontram diante de um impasse. Se insistirem na doutrina do estado mínimo estarão privando a Sociedade de seu principal suporte para se defender ou se adaptar aos desastres climáticos extremos. Não se trata de ideologia. É um princípio de realidade. Leite e Melo foram correndo atrás do Governo federal para obter recursos absolutamente necessários para que pudessem superar as tragédias climáticas que as populações que governam estão sofrendo. Um estado fraco não poderia socorrê-los. E, se negasse o socorro, o Governo federal não estaria se opondo a eles, mas ao povo gaúcho. Se há dúvidas quanto a isso, o Estado forte é fundamental principalmente para países em desenvolvimento ou emergentes, como o Brasil - onde o setor privado não tem condições de responder por todos os  investimentos de infraestrutura essenciais para o desenvolvimento sustentável. Entre esses, destacam-se agora as medidas de prevenção e as ações que devem ser adotadas para enfrentar os danos provocados pela crise climática. O setor privado não tem interesse em fazer isso, a não ser que receba compensações dadas pelo próprio Estado. É possível que se tenha de voltar até os anos 1930 do século passado para entender como nasceu e se desenvolveu a ideologia do estado mínimo no Brasil, hoje francamente dominante e, na Era dos desastres climáticos extremos, também altamente perigosa para a Sociedade. Ela representou, originalmente,  uma reação liberal por parte das oligarquias rurais à centralização do poder político no Estado Nacional centralizado, comandado justamente por um gaúcho, o presidente Getúlio Vargas, chefe da Revolução de 30 e, especialmente, autor do golpe que a consolidou com o Estado Novo em 1937. Por Vargas foram criados importantes órgãos do poder central em setores-chave da administração pública, como IBGE, DASP, Conselho Federal de Comércio Exterior, Conselho Federal de Economia, Conselho Nacional de Petróleo, Conselho de Mobilização Econômica. Tratava-se do ponto inicial da modernização do país, sob a condução do Estado, em choque direto com os oligarcas conservadores e seus asseclas, que queriam manter o sistema de poder político descentralizado através das províncias, que governavam como mandatários supremos. Getúlio iniciou paralelamente a construção da infraestrutura industrial e econômica do Brasil. Usando, com habilidade, o propósito norte-americano de nos afastar dos braços de Hitler, aceitou a oferta dos Estados Unidos de ajudar a criar a Companhia  Siderúrgica Nacional, ou CSN, em troca da construção de uma base militar contra a Alemanha, no Rio Grande do Norte. Com isso surgia a indústria siderúrgica brasileira, que seria complementada por outra significativa iniciativa do Presidente, a criação da Companhia Vale do Rio Doce. Contando com aço e com minério, e futuramente com petróleo, teríamos as bases de uma economia industrial. Diferente do movimento tenentista que o apoiou na Revolução, Vargas tinha importantes compromissos sociais, tendo sido o maior exemplo desses a criação do salário mínimo, que enfureceu ainda mais as oligarquias rurais remanescentes e o empresariado urbano. Isso, contudo, deu-lhe a marca progressista que sobreviveu por décadas.  As forças conservadoras, porém, preparavam-se para derrubá-lo em  1937. Ele foi mais rápido. Percebendo que não tinha sucessor capaz de enfrentá-las, antecipou-se e, com apoio do Exército, criou o Estado Novo. A guerra que se desenrolaria na Europa a partir de 1939 traria consequências políticas importantes para o País. O Brasil ditatorial, de forma pragmática, havia se aliado ao bloco democrático contra Hitler, e essa contradição, após a vitória dos democratas, deu margem a uma crescente mobilização política interna contra o antigo ditador, depois da democratização de 1945. A eleição para presidente do general Eurico Dutra,  ministro da Guerra de Getúlio, muito influenciado pelos Estados Unidos, representou uma virada política importante em favor dos conservadores liberais.  Dutra adotou medidas ultraconservadoras, no plano econômico, em confronto direto com o legado progressista de Vargas, inclusive esgotando as reservas externas do País acumuladas durante a Guerra. Entretanto, Getúlio voltou ao poder, pelo voto, em 1951. Os conservadores não aceitaram facilmente esse fato. Embora responsável pela maior revolução na infraestrutura econômica do País, de interesse concreto do empresariado e, sobretudo, do Brasil, temiam a possível volta a políticas sociais dele e de seu grupo, que atingiam seus interesses diretos. Disso resultou uma aliança improvável entre a UDN (União Democrática Nacional), liderada por um político extremamente carismático e de convicções democratas, como Carlos Lacerda, e as velhas oligarquias da UDN, agora urbanizadas em torno poder econômico crescente dos setores industrial e bancário. Crises políticas recorrentes, entre as quais a que levou Vargas ao suicídio, abalaram o País entre os anos 50 e 60, opondo conservadores e progressistas. Juscelino, o principal herdeiro de Getúlio, foi o último progressista a cumprir, com um notável programa de desenvolvimento, um mandato presidencial completo. Foi sucedido por Jânio e Jango, este também herdeiro de  Vargas e progressista. Porém, foi atropelado pelo golpe militar de 1964. O golpe reverteu as pautas sociais de Getúlio e sua obsessão na defesa do Estado Nacional. Manteve, porém, o objetivo de fortalecer a infraestrutura econômica do País, à custa de um elevado endividamento externo. O período que sucedeu ao golpe caracterizou, também, o início do desmonte do Estado Nacional pelos conservadores em todos os seus aspectos. É aí que a política econômica desponta como instrumento de aliança do grande capital interno e externo, com o suporte das Forças Armadas, sob o pretexto inicial de afastar o risco comunista, mas, de fato, com o objetivo por parte das oligarquias civis dominantes  de desconstrução dos mecanismos institucionais criados por Getúlio para fortalecer os trabalhadores e as classes desfavorecidas contra seus apetites desmedidos. É igualmente aí que surge o aristocrata neoliberal no Estado, conquistando postos de carreira privilegiada para destruí-lo por dentro, como fizeram, ainda no Governo Castelo Branco, seus principais ministros liberal-conservadores, Roberto Campos e Octávio Gouvêa de Bulhões. Pelo Decreto-Lei 200, da época, foram eliminadas as precauções importantes de Getúlio contra as oligarquias rurais a fim de preservar o Estado de sua apropriação por grupos de interesse, introduzindo o princípio do concurso público para acesso e progressão nas carreiras da  administração pública. O Decreto, como se sabe, passou depois a proteger apenas as carreiras superiores. Embaixo, na medida em que o processo de desmonte avançava,  permitiu-se inclusive a terceirização de serviços públicos que deveriam ser prestados exclusivamente pelo Estado, transferindo-os a concessionários privados, com a inevitável consequência do aumento de seus custos para o Estado e de degradação de sua qualidade. Entretanto, são os  programas de privatização, exigidos pelos Estados Unidos para a negociação da Dívida Externa conduzida pelo FMI, que representaram uma verdadeira expropriação do patrimônio público, construído com suor e  sangue do cidadão brasileiro, o qual, uma vez  privatizado, passou a render dividendos bilionários para particulares que não precisaram de investir previamente em sua construção um único centavo. Esses ativos seriam extremamente valiosos, hoje, como garantias do Estado para ter acesso a investimentos e créditos externos a fim de criar um programa abrangente para minimizar os efeitos e fazer a prevenção dos desastres climáticos extremos. Imagine se uma megaempresa como a Vale do Rio Doce, cujo controle foi vendido por menos de um terço do que valia, lançasse hoje, na condição de estatal, títulos verde, garantidos por seu imenso patrimônio, para absorver recursos externos e internos para o financiamento da preservação ambiental! Tudo isso tem sido parte da ação deliberada dos conservadores/neoliberais, apoiados do exterior, para enfraquecer o Estado Nacional e nos deixar à deriva no sistema internacional controlado pelas potências estrangeiras. Já o controle político da economia, dentro do País, garante a apropriação da renda nacional pelas classes dominantes internas e externas, a serviço das quais se alinham a grande mídia, a aristocracia dos servidores públicos que asseguram a si mesmos salários crescentes, e os políticos corruptos que, formando blocos como o Centrão,  fazem de seus mandatos meios para assaltar os cofres públicos através de emendas parlamentares. No plano político, antes da redemocratização que se seguiu ao fim do regime ditatorial, houve, na campanha das Diretas Já para derrubá-lo, uma breve articulação entre progressistas e conservadores, estes ainda não chamados de neoliberais, para desmontar o controle hegemônico dos militares sobre o Estado nacional.  Esses haviam atendido aos interesses das classes dominantes em dois sentidos contraditórios: primeiro, controlando os trabalhadores e as massas em suas reivindicações econômicas e socais;  segundo, complementando o processo de construção da infraestrutura econômica iniciado por Vargas e pelos presidentes progressistas que haviam assumido seu legado, Juscelino Kubistchek  e João Goulart. Na redemocratização, quando a vitória da aliança entre conservadores e progressistas deu ao PMDB, que a liderava, uma posição política hegemônica, o presidente  Sarney, inicialmente cercado por um ministério  conservador herdado do não menos conservador Tancredo Neves, que morreu antes de assumir a Presidência, ofereceu a Dilson Funaro o Ministério da Fazenda. Funaro, um empresário progressista de São Paulo, trouxe para o Governo, como seus principais assessores, Luiz Gonzaga Belluzzo e João Manoel Cardoso de Mello, destacados economistas progressistas da Unicamp. Dessa forma, com um toque político surpreendente e inesperado em sua biografia, o Presidente, que havia sido um dos próceres do PDS, partido que sucedeu à Arena da ditadura, cercou-se de um grupo de conselheiros políticos de vanguarda, que o levaram a decretar o Plano Cruzado, em 1985, a mais progressista tentativa de estabilização da economia entre as muitas que viriam depois. É verdade que o Plano Cruzado fracassou. Não por seus erros, porém. Nem pela falta de coragem de Sarney de baixá-lo, no início.  Mas por sua falta de coragem posterior em não complementá-lo com uma moratória da Dívida Externa, que era uma condição fundamental para a estabilidade interna. O Plano Cruzado determinou um ponto de inflexão entre neoliberais e progressistas nos domínios econômico, social e político. E teve efeito direto na elaboração da Carta de 1988. A linha neoliberal assumiu seu caráter político em face da linha progressista, dissimulando sua posição real por trás da concordância com os dispositivos constitucionais que asseguram amplos direitos sociais à cidadania. Contudo, no plano econômico, revelou abertamente seu caráter conservador, em especial na política fiscal-monetária e na posterior Lei de Responsabilidade Fiscal, que, desde então, amarra o desenvolvimento sustentável do Brasil. Temos de considerar que não houve concretamente controle político no Brasil por parte de progressistas, a não ser por Vargas e seus sucessores aliados, e no breve momento acima assinalado de Sarney. Mesmo com Lula, antes e agora, há uma oscilação entre medidas progressistas e conservadoras, ora sociais, ora econômicas, essas em geral dominantes, por causa da forte influência da mídia controlada pelo grande capital nas decisões políticas do Estado. Ademais, somos uma democracia e, como toda democracia, temos de nos  apoiar no voto popular. Mas o voto popular no Brasil é majoritariamente  o voto do semianalfabeto, do evangélico ingênuo, do pobre comprado a dinheiro e, em outros meios, do voto suscetível à manipulação pelos ideólogos das classes dominantes. Diante disso, a política econômica que foi introduzida no País com o golpe de 64 reflete ainda hoje as características essenciais do neoliberalismo contra os progressistas. Da forma como está inscrita na Constituição de 88, e conforme foram sendo acrescentados depois dispositivos legais coerentes com ela,  mantém, em nossa estrutura fiscal-monetária,  seus fundamentos neoliberais. Nesse ponto, ela tem grande coerência econômica, pois está sujeita à hegemonia conservadora apoiada pela grande mídia e sustentada pelo grande capital e por uma maioria parlamentar corrupta no Congresso, contra a qual os progressistas não têm força para se contrapor. A única forma de se romper esse círculo neoliberal de ferro em torno das políticas econômicas que mantêm o Brasil prisioneiro das forças conservadoras e regressivas, que impedem seu desenvolvimento sustentável a altas taxas, é alguma força externa que, por ventura, possa desafiá-lo a partir de fatos incontornáveis da realidade objetiva. Poderia ser, por exemplo, uma grande crise internacional, diante da qual teríamos de reagir a qualquer custo. Ou pode ser as crises causadas pelas mudanças climáticas, que nos colocam o desafio da própria sobrevivência, exigindo, para confrontá-las, a reconstrução do Estado Nacional nos termos de Getúlio Vargas. Entretanto, como o neoliberalismo está incrustado na consciência de grande parte das elites financeiras brasileiras, inclusive altos funcionários públicos, os quais comandam o aparelho midiático, qualquer tentativa de escapar de seu “quadrado” esbarra em terríveis resistências. Entre essas destacam-se as chantagens segundo as quais, se tentarmos  evitar as políticas  neoliberais, o Brasil enfrentaria uma corrida cambial desastrosa. Isso se aplica sobretudo à defesa da política fiscal e monetária, sobretudo dessa última, que sustenta uma moeda financeira e taxas de juros extravagantes, inexistentes em qualquer outra parte do mundo, e que garantem transferências  imensas de renda de pobres para ricos. Na verdade,  temos uma posição favorável em reservas internacionais para funcionar como garantias de empréstimos externos para investimentos internos em máquinas e equipamentos necessários para o desenvolvimento sustentável da indústria (US$ 355 bilhões), e recursos naturais abundantes para que o País possa progredir. A partir desses recursos, e com uma prévia e profunda mudança em  sua política econômica, superando divergências ideológicas, o País poderia entrar numa fase de desenvolvimento a altas taxas. Isso implicaria, na era dos desastres climáticos extremos, voltar ao  Estado máximo da era getulista para dar suporte ao que virá a ser exigido pela Sociedade a fim de garantir a  sua segurança e sobrevivência. Este texto é o quarto de uma série de cinco que estão sendo publicados sobre as mudanças na política econômica exigidas na era dos desastres climáticos extremos, e foca o imperativo de fortalecer o Estado para enfrentar os prejuízos deles decorrentes e cuidar de sua prevenção. *Jornalista, economista, doutor em Engenharia de Produção, professor de Economia Política aposentado da UEPb. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasi Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

Internacional

Entenda por que Gaza motivou os bombardeios de Israel contra o Líbano

Curtas

Entenda por que Gaza motivou os bombardeios de Israel contra o Líbano
RED

Em menos de uma semana, mais de 700 libaneses foram mortos   Lucas Pordeus León - Repórter da Agência Brasil Os bombardeios aéreos massivos de Israel contra cidades libaneses são desdobramento da campanha militar israelense na Faixa de Gaza, território palestino ocupado por Tel-Aviv. Em menos de uma semana, mais de 700 pessoas foram mortas nestes ataques ao Líbano. Não importa os sacrifícios, consequências ou possibilidades futuras, a resistência no Líbano não deixará de apoiar Gaza”, repetiu a principal liderança do grupo libanês Hezbollah, Hassan Nasrallah, em discurso televisionado após o agravamento do conflito na região. Assim como as milícias do Iêmen e do Iraque têm lançado ataques contra Israel ou aliados de Tel-Aviv em represália aos bombardeios em Gaza, a chamada resistência libanesa – coalizão de sete grupos político-militares liderados pelo Hezbollah – tem promovido ataques contra Israel desde o dia 7 de outubro, também em solidariedade à Gaza. Bruno Lima Rocha Beaklini explica que a resistência no Líbano não deixará de apoiar Gaza- Bruno Beaklini/Arquivo Pessoal “Cada vez que a população de Gaza sofre um ataque, como em 2012 e 2014, a resistência libanesa se mobiliza e tenta fazer uma linha de reforço. Esses conflitos para apoiar os palestinos sempre ocorreram, desde 1985”, explicou o jornalista, cientista político e professor de relações internacionais Bruno Lima Rocha Beaklini. As batalhas entre os militares israelenses e os grupos da resistência libanesa após o 7 de outubro de 2023 forçou o deslocamento de cerca de 120 mil israelenses do norte do país e preocupa Tel-Aviv com a possiblidade do conflito inviabilizar o Porto de Haifa, no Mar Mediterrâneo. Bruno Beaklini lembrou que o porto israelense de Eilat já está sem operar por causa do bloqueio naval que as milícias do Iêmen – solidárias à Gaza – impõem no Mar Vermelho. Além disso, avalia que Israel decidiu bombardear o Líbano em larga escala por causa do impasse criado na Faixa de Gaza. “Netanyahu tentou criar um impasse colocando a população do Líbano inteira no alvo de bombardeios e, com isso, tentar salvar o Porto de Haifa e tentar recolocar a sua população no norte da Galileia ocupada”, explicou o especialista, lembrando que o atual norte de Israel, conhecida como Galileia Histórica, não estava na divisão da Palestina originalmente proposta pelas Nações Unidas (ONU), em 1947. Para Bruno, o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu tenta ampliar a guerra porque não tem uma saída para Gaza, não consegue libertar os reféns e espera ganhar tempo para a eleição dos Estados Unidos, o principal aliado de Israel. “Aquilo que seria um apoio hipócrita do governo dos democratas [do presidente Joe Biden ou da candidata Kamala Harris], pode se tornar um apoio assumido com uma vitória de Donald Trump. Trump pode retomar a campanha dos Acordos de Abraão, tentando aliciar novamente os estados árabes, como a Arábia Saudita. Ai sim Netanyahu tem carta branca para fazer o que bem entender”, completou. Os chamados Acordos de Abrão são compromissos firmados entre Israel e alguns estados árabes e que são apontados por alguns especialistas como um dos motivos para o Hamas atacar Israel no 7 de outubro de 2023. História Apesar dos atuais bombardeios israelenses contra o Líbano serem uma consequência dos ataques à Gaza, o conflito entre a resistência libanesa e o Estado de Israel não começou com o 7 de outubro, mas sim em 1978. Nesse ano, os militares de Tel-Aviv invadiram o Líbano ao perseguir a resistência palestina, que se refugiava no país vizinho. Em 1982, Israel invade novamente o Líbano e ocupa parte de Beirute, a capital do país, obrigando os militantes da Organização pela Libertação da Palestina (OLP) a fugir da região. Israel então cria uma área tampão e permanece ocupando o sul do Líbano até o ano 2000. O grupo Hezbollah surge então como uma guerrilha – apoiada pelo Irã – que luta contra a ocupação militar de Israel no Líbano. Em 25 de maio de 2000, a resistência libanesa consegue expulsar Israel do país árabe. Houve ainda outras três campanhas militares de Israel contra o Líbano, em 2006, 2009 e 2011. A maior foi em 2006, durou cerca de 30 dias e matou mais de 10 mil civis. “As três principais razões de existir dessa força política [o Hezbollah] é proteger a população xiita mais pobre do Líbano, proteger o território Libanês e libertar a Palestina”, acrescentou o professor Bruno Lima Rocha Beaklini. O Líbano ainda disputa com Israel algumas áreas próximas às Colinas de Golã, território sírio invadido e ocupado por Israel desde 1967. As chamadas Fazendas Shebaa e as Colinas de Kfar Chouba são territórios tomados por Israel e que são reivindicados pelo Líbano. A maior comunidade de brasileiros vivendo no Oriente Médio está no Líbano. São 21 mil brasileiros que vivem no país. A imigração libanesa no Brasil também é forte. Estima-se que 3,2 milhões de libaneses ou descendentes de libaneses vivam no Brasil. Guerra em Israel e Líbano, por Arte/Agência Brasil Terrorismo O principal grupo da chamada resistência libanesa – o Hezbollah – tem tanto um braço militar quanto político, sendo o grupo com mais votos e assentos no parlamento libanês. O Hezbollah indica ministros para o governo do país árabe há três mandatos. Apesar disso, para países como Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha, o Hezbollah é um grupo terrorista. Porém, as Nações Unidas não consideram o grupo como terrorista e o Brasil só considera como terroristas as organizações classificadas dessa forma pela ONU. O cientista político Bruno Beaklini sustenta que não há provas de que o grupo libanês promova ataques contra civis desarmados. Ele argumenta que ataques contra instalações miliares e diplomáticas dos EUA na década de 1980 – apontados como atos terroristas - foram atos de guerra e que a acusação de que o grupo participou do atentando contra a Sociedade Judaica na Argentina, em 1994, não tem provas contundentes. “Não tem nada aprovado [em relação ao atentado na Argentina]. Só existe uma peça da Procuradoria Argentina e o procurador que fez a apuração se suicidou em 2015, o Alberto Nisman. Ele apareceu morto no seu apartamento, supostamente via suicídio, depois que descobriram fundos de contas secretas dele e de sua mãe nos EUA sem origem e com um valor muito acima de seus ganhos”, comentou. Foto da capa: © Reuters/Amr Ab/Abdallah Dals Publicado originalmente no portal da Agência Brasil 

Noticia

A taxa de desemprego em agosto caiu para 6,6%, o menor índice registrado para o mês

Curtas

A taxa de desemprego em agosto caiu para 6,6%, o menor índice registrado para o mês
RED

A taxa de desemprego no Brasil caiu para 6,6% no trimestre encerrado em agosto, com 7,3 milhões de pessoas desocupadas. Esse é o menor índice para o mês desde o início da série histórica em 2012. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (27.set.2024) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A taxa de desemprego diminuiu 1,2 ponto percentual em comparação ao mesmo período de 2023 (7,8%) e 0,5 ponto percentual em relação ao trimestre anterior, de março a maio. (Poder 360)   Desocupação O número de desocupados caiu para 7,3 milhões de pessoas, uma redução de 13,4% em um ano, segundo o IBGE. Este é o menor contingente de desocupados desde o trimestre encerrado em janeiro de 2015. No mesmo período, a população ocupada chegou a 102,5 milhões, atingindo um novo recorde na série histórica. Em comparação com os três meses anteriores, o número de ocupados cresceu 1,2% (1,2 milhão de pessoas a mais). No acumulado de um ano, o aumento foi de 2,9% (2,9 milhões de pessoas). O nível de ocupação, que mede o percentual de pessoas ocupadas em idade de trabalhar, ficou em 58,1%. Esse índice aumentou 0,6 ponto percentual no trimestre e 1,2 ponto percentual em um ano, sendo o maior nível para um trimestre encerrado em agosto desde 2013. Os dados fazem parte da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), que mensalmente divulga informações sobre o mercado de trabalho. Subutilização A taxa de subutilização no Brasil recuou 0,9 ponto percentual no trimestre, chegando a 16%, a menor taxa para um trimestre encerrado em agosto desde 2014. A subutilização inclui pessoas desempregadas, que trabalham menos do que poderiam ou que não buscaram emprego apesar de estarem disponíveis para trabalhar. Em comparação com o ano anterior, a taxa caiu 1,7 ponto percentual. Entre junho e agosto, havia 18,5 milhões de pessoas subutilizadas no Brasil, o menor número desde o trimestre móvel encerrado em junho de 2015 (18,2 milhões). A população subutilizada caiu 4,7% no trimestre (919 mil pessoas a menos) e 8,5% em um ano (1,7 milhão a menos). Dentro do grupo de subutilizados, os desalentados — pessoas que desistiram de procurar emprego por não acreditarem que conseguiriam uma vaga — somavam 3,1 milhões, o menor contingente desde o trimestre encerrado em maio de 2016 (3 milhões). Mercado de Trabalho O número de empregados com carteira assinada no setor privado (excluindo trabalhadores domésticos) alcançou 38,6 milhões, um aumento de 0,8% (317 mil pessoas) no trimestre e 3,8% (1,4 milhão de pessoas) em um ano. Já o número de empregados sem carteira no setor privado chegou a 14,2 milhões, crescendo 4,1% (565 mil pessoas) no trimestre e 7,9% (1 milhão de pessoas) em um ano. O total de trabalhadores por conta própria foi de 25,4 milhões, enquanto o de trabalhadores domésticos ficou em 5,8 milhões. Ambos os números permaneceram estáveis em relação ao trimestre anterior e ao mesmo período de 2023. O setor público empregou 12,7 milhões de pessoas, um aumento de 1,8% (221 mil pessoas) no trimestre e 4,3% (523 mil pessoas) em um ano. A taxa de informalidade foi de 38,8% da população ocupada (39,8 milhões de trabalhadores informais), comparada a 38,6% no trimestre anterior e 39,1% no mesmo período de 2023. Rendimento O rendimento real habitual de todos os trabalhos ficou estável no trimestre, em R$ 3.228. Em um ano, o aumento foi de 5,1%. A massa de rendimento real habitual (R$ 326,2 bilhões) cresceu 1,7% no trimestre e 8,3% em um ano.   Com informações do Poder 360. Foto: Agência Brasil

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