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O Pampa não pode ficar só na memória

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O Pampa não pode ficar só na memória
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Por SÍLVIA MARCUZZO* Qual é a paisagem que vem a sua mente quando pensa em Rio Grande do Sul? Para mim, que nasci no meio do Estado, logo me lembro das coxilhas, daquele cheirinho de carqueja invadindo minhas narinas. Daquelas paisagens com diferentes tonalidades de verde e um horizonte a perder de vista. Meu recanto sagrado de carregar as baterias por muito tempo foi no encontro de duas coxilhas, numa matinha ciliar onde uma pequena queda d’água proporciona uma espécie de altar de contemplação à natureza. A água nasce a poucos metros de onde ela cai. Remeto minha memória para esse cenário quando preciso dar uma equilibrada. Todo mundo que tem experiências em lugares como esse pode não saber conscientemente do seu poder simbólico no nosso imaginário. Essa identificação com o campo é tão forte, que talvez seja isso que mova tantos gaúchos e seus descendentes a transformarem ambientes naturais do Cerrado e da Amazônia em campo para criar gado ou plantar. É uma suspeita. Afinal, boa parte dos desmatadores tem origem sulista. Também pode ser que seja essa aura pampeana que faça tanta gente achar que a cultura do ginete, do tiro de laço, das cavalgadas, entre outras atividades, seja uma tradição que mereça ser cultivada em outros pagos. Há muitas possibilidades que merecem ser pesquisadas para entendermos a nossa relação com esse ambiente que se traduz de diversas formas na nossa cultura. No dia 17 de dezembro, comemora-se o Dia Nacional do Pampa. Pois esse dia foi escolhido por ser a data de nascimento de José Lutzenberger. O Lutz também comemorava essa data com festa de aniversário no Rincão Gaia. Lembro que fui algumas vezes com o inesquecível Augusto Carneiro à celebração. Aquele espaço era um desbunde no tempo em que o Lutz era vivo. Tinha uma coleção de espécies de cactos, suculentas e plantas carnívoras de deixar muito apreciador de jardim botânico de queixo caído. Ainda hoje é um lugar maravilhoso para se conhecer. A área do Rincão fica em Rio Pardo, a 120km da Capital. Lá dá para sentir o vento, enxergar o horizonte e as coxilhas desse estimado bioma, que nós, gaúchos, temos o privilégio de desfrutar com exclusividade no Brasil. Só que, apesar de ser o cenário de tantas histórias, de costumes e da cultura perpetuada principalmente em Centros de Tradição Gaúcha (CTGs), o Pampa vem sendo muito mal tratado. Nosso querido e tão aclamado bioma, cantado em versos em tantas músicas e poemas, tem deixado cientistas preocupados. Como ele é formado por ecossistemas distintos, em um Estado densamente ocupado por etnias de vários lugares, onde os descendentes de europeus se acham os descobridores, boa parte do nosso Pampa foi destruído antes mesmo de ser estudado. E a cada ano, novas descobertas são realizadas. No dia 17, o Laboratório de Estudos em Vegetação Campestre da UFRGS divulgou um estudo que aponta um dado inédito: em um metro quadrado de campo nativo em Jaguarão foram encontradas 64 espécies de plantas. Esse número é algo impressionante, pois em nenhum outro bioma (no Brasil são seis: Amazônia, Cerrado, Pantanal, Caatinga, Mata Atlântica e Pampa) se encontrou tamanha diversidade! Antes, já tinham encontrado 50 espécies diferentes e já era um achado. Tudo isso denota o quanto ainda precisamos pesquisar, estudar e valorizar esse ambiente que é o menos protegido do Brasil. Mais especificamente por porções de terras protegidas chamadas tecnicamente de Unidades de Conservação (UCs). Não temos um parque nacional, um parque público aberto à visitação com um mínimo de infraestrutura para cumprir suas funções de pesquisa, educação ambiental e entretenimento no Estado. Creio que a maior parte do pessoal que mora no Pampa não tem a menor noção do que a situação dele significa. Pior: acha que pode fazer qualquer coisa, já que “não há desmatamento” e dá para plantar qualquer coisa, de árvore a braquiária. O correto, pela Ciência, é se referir à destruição desse tipo de ambiente como supressão da vegetação campestre. Perdas para todos, ganhos para quem? A porção brasileira do Pampa já perdeu 28% da sua vegetação nativa entre 1985 e 2023, de acordo com os dados mais recentes da Coleção 4 do MapBiomas Pampa Trinacional. O trabalho monitora o uso e a cobertura da terra do bioma no Brasil, Argentina e Uruguai (bem onde se configura a formação da cultura gaudéria). Foi a maior taxa de perda de biodiversidade na comparação entre os três países nesse período.  Proporcionalmente ao seu tamanho, o Pampa brasileiro também foi o que mais perdeu vegetação nativa entre todos os biomas brasileiros desde 1985. A conversão foi impulsionada principalmente pela expansão do cultivo de soja e pelo crescimento da silvicultura, leia-se, cultivo de pinus e eucalipto, principalmente. O impacto ambiental da silvicultura é maior justamente nas regiões com campos nativos: no bioma Pampa e nos Campos de Altitude, um ecossistema associado à Mata Atlântica. Leia a reportagem que fiz sobre a flexibilização da legislação. Isso sem considerar as milhares de viagens de carretas que transitam com toras de madeira diariamente nas famigeradas estradas gaúchas. O crescimento exponencial das áreas de silvicultura aumentou 1600% em 39 anos, passando de 44 mil hectares em 1985 para 773 mil hectares em 2023. Nos últimos dez anos, a perda da vegetação nativa do Pampa tem aumentado muito e deverá continuar ainda mais com a ampliação da produção de celulose da CMPC. Há vários fatores que podem estar nos influenciando no distanciamento dessa riqueza, inclusive de valor intangível, de tudo que o Pampa representa. Arrisco escrever algumas: muitas narrativas mentirosas têm sido espalhadas para que o mercado faça o que bem quiser para exportar matérias-primas produzidas no Pampa (aliás, nem só nesse bioma, né?); a ausência de governança e estratégias de desenvolvimento sobre o uso da água, no manejo do solo etc.; a ideia de que campo é menos importante que floresta; o aumento do preço pago a culturas de curto prazo, como a soja, que vai virar algum insumo para alimentar bichos; a desvalorização da vida no campo etc. Enfim, há muitas outras hipóteses. Para ter uma ideia do quanto estamos descuidando do nosso ambiente, o Rio Grande do Sul, que já foi berço da legislação de proteção ambiental, onde foi criado o primeiro comitê de bacia hidrográfica do País, hoje é o estado mais atrasado na condução do Cadastro Ambiental Rural e dos Programas de Regularização Ambiental.  Será que isso tem a ver com a vontade política do governo do Estado? Saiba mais O Pampa dispõe de 10 sistemas ecológicos (tipos diferentes de paisagens regionais com variações na vegetação nativa), sendo nove campestres e um florestal. A Rede de Campos Sulinos tem feito um trabalho de conscientização sobre a necessidade de preservação do campo nativo. Clique aqui para conferir um dos meus primeiros textos aqui na Sler que foi justamente sobre a Coalizão pelo Pampa, em 2022.  Publicado originalmente em  Sler. *Sílvia Marcuzzo é Jornalista e artivista. Foto de capa: Fabio Olmos. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia. 

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Só um escândalo pode parar farra orçamentária

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Só um escândalo pode parar farra orçamentária
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Por RUDOLFO LAGO* do Correio da Manhã Brasília Ao final deste ano, o governo terá liberado algo em torno de R$ 50 bilhões em emendas parlamentares ao orçamento. Tentativas de segurar essa farra orçamentária foram contidas. O Congresso desidratou a regra que permitiria ao governo fazer bloqueio de parte dessas emendas no ano que vem. Boa parte das restrições que o Supremo Tribunal Federal (STF) impunha foram ignoradas nas liberações feitas nos últimos dias para aprovar o pacote de corte de gastos: mais de R$ 7 bilhões. A tendência é que o ano de 2025 acabe com uma liberação de emendas ainda mais alta que a deste ano. A única coisa que talvez consiga segurar esse guloso apetite dos parlamentares pelo dinheiro público que repassam com emendas é um grande escândalo. Overclean É o que já se vê no curso da Operação Overclean, da Polícia Federal. Diversas irregularidades em repasses para o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). A partir de emendas parlamentares. Em vários estados do país, mas especialmente na Bahia. União Uma possibilidade que se ensaia é que detalhes apareçam como resultado da grossa briga no União Brasil. Este ano, ela foi parar nas páginas policiais, após um incêndio na casa do presidente do partido, Antônio Rueda, que ele atribuiu ao antigo presidente, Luciano Bivar. Bivar diz que escândalo envolve a cúpula do União Luciano Bivar detona a cúpula do União Brasil | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil   Bivar não se conforma com a forma como foi defenestrado da presidência do União Brasil. O partido é resultado da fusão do PSL, ex-partido de Jair Bolsonaro, que ele presidia, com o DEM. Bivar inicialmente ficou presidindo a nova sigla. Até a articulação que colocou no comando Rueda, apoiada por nomes como o ex-prefeito de Salvador ACM Neto. Agora, Bivar afirma que a nova cúpula do União está totalmente vinculada ao escândalo. Que envolve também um empresário, Marcos Moura, conhecido pelo no mínimo curioso epíteto de "Rei do Lixo". O neto de Antonio Carlos Magalhães nega qualquer envolvimento. Outros casos O escândalo agora investigado não é o único envolvendo emendas. Um caso, inclusive, envolve um ministro, Juscelino Filho, que já foi, inclusive, indiciado. Outro envolve os deputados - Josimar Maranhãozinho (PL-MA), Pastor Gil (PL-MA) e Bosco Costa (PL-SE). Crime Pelo menos, em contrapartida, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou, em caráter terminativo, na quarta-feira (18), projeto do senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO), que aumenta a pena por desvios de recursos na saúde, educação e seguridade. Covid "Como eu acompanhei na pandemia de covid-19, foram bilhões e bilhões desviados na área de saúde", afirma Vanderlan. "Toda área é prioritária, mas principalmente saúde, educação e assistência social é onde o pessoal mais age, aqueles que cometem esses crimes". Desvios Segundo o Instituto Ética Saúde, cerca de R$ 15 bilhões foram desviados na saúde pública nos últimos anos. Boa parte desses recursos oriundos de emendas. Escondidas. Nada transparentes. E liberadas em valores cada vez mais altos. Numa escala perigosa.   *Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congresso em Foco e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade Publicado originalmente publicado no Correio da Manhã Foto de capa: Recursos foram desviados do DNOCS |  Governo federal necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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Programas – de 19 a 27 de dezembro

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Programas – de 19 a 27 de dezembro
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Por LÉA MARIA AARÃO REIS* O ex-Ministro da Defesa de Israel, Moshe Ya’alon, denunciando o primeiro ministro Benjamin Netanyahu de praticar limpeza étnica na Faixa de Gaza e cometer crimes de guerra na região. Ya’alon reforça a decisão do Tribunal Penal Internacional de punir o governante de Israel e seu ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant, e afirmou em entrevista à mídia israelense que a linha dura do gabinete de extrema-direita de Netanyahu tenta expulsar os palestinos do norte de Gaza para ali restabelecer assentamentos judaicos. ”Sou obrigado a alertar sobre o que está acontecendo lá e que está sendo escondido de nós”, disse Ya’alon à emissora pública Kan, domingo passado. “No final das contas, crimes de guerra estão sendo cometidos”. Sábado, dia 21, grande manifestação convocada para as 14 horas, na Times Square – Rua 42 e Broadway com o grito de Palestina Livre! Embargo de Armas Agora! Leitura para feriadão: A música do fim do mundo, de Maurício Ayer, analisando o cinema de Marguerite Duras, tem como subtítulo, Orquestrações de Literatura, Teatro e Cinema. Trata-se de “uma das mais inovadoras e enigmáticas obras de Marguerite Duras, India Song, analisada em detalhes”, explica a apresentação da obra. Os temas: “O amor e o desejo levados ao paroxismo da loucura; a múltipla e voraz sexualidade feminina; a morte e o crime e seus inabordáveis sentidos; a podridão do poder colonial e a decadência do Ocidente e a inegável morte de um mundo sem que outro pareça despontar no horizonte”. O autor foi curador da mostra de cinema Marguerite Duras: escrever imagens, no Rio de Janeiro, em 2009, e co-organizador de A música do fim do mundo, Colóquio Internacional Centenário de Marguerite Duras, em São Paulo, de 2014. (Ed. Alameda) Mais uma vez candidato a receber prêmio internacional importante, Ainda Estou Aqui acaba de ser indicado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas da Espanha aos Prêmios Goya, a maior premiação do cinema espanhol. Detalhe: se fosse vivo, no próximo dia 26, Rubens Paiva, ex-deputado cassado e morto durante sessão de tortura dentro de um quartel do exército, no centro do bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, faria 94 anos. Imagens do Exílio: Fragmentos de Memória é como se intitula a original exposição de 41 fotos que o cineasta Silvio Tendler, então com 20 anos de idade, produziu no Chile de Allende. No Sesc Copacabana, até o fim de fevereiro, com entrada gratuita, ela é comentada pelos atores Beth Goulart, Eduardo Tornaghi e Júlia Lemmertz. Acompanhando a viagem através das imagens, há música de fundo, poesia, efeitos sonoros e trechos de lembranças de Tendler e de outros exilados, discursos e entrevistas concedidos por Salvador Allende, reportagens de época e documentos da Casa Branca. Na última semana, outra comemoração: a do aniversário de 40 anos da realização do documentário de Tendler, Jango, na Casa de Rui Barbosa. Na mesma ocasião, foi festejado o aniversário do saxofonista Nivaldo Ornellas e os 80 anos de Wagner Tiso. A Academia Brasileira de Cinema abriu inscrições para o Premio Grande Otelo 2025. Vale apresentar séries e filmes lançados entre 01 de janeiro de 2023 e 30 de abril de 2024, até o próximo dia 28 de fevereiro. A premiação se estende por 30 longas-metragens, curtas, séries e melhor filme escolhido por Júri Popular. Regulamento para inscrições no email mailto:producaogp@academiabrasileiradecinema.com.br. Volume comparando a ação política coletiva da França e do Brasil, e uma chave para entender o destino desses dois países tão diversos. O título do livro é Mundialização neoliberal – Mudanças Políticas e Contestações Sociais. Os organizadores são Paul Bouffartigue e Armando Boito, e Sophie Beroud e Andreia Galvão. (Ed. Alameda) Bom programa de fim de semana. Assistir (ou rever) O Processo, excelente documentário de Maria Augusta Ramos que relembra a crise política de 2016, o golpe de impeachment armado contra a Presidente Dilma Rousseff e o consequente colapso das instituições democráticas do Brasil, na época. A presidente foi afastada no dia 31 de agosto daquele ano, três meses depois do processo para derrubá-la começar a tramitar no Senado. Lembrando que o resultado da votação em plenário foi de 61 votos de ilustres senadores a favor do afastamento da Presidente. Vinte foram contra. Religião, política e economia não se misturam? Indaga o texto de apresentação do livro O Partido da Fé Capitalista – Imperialismo Religioso e Dominação de Classe no Brasil, do historiador Rodrigo de Sá Netto. A obra, da DaVinci Livros, acaba de ser lançada em noite de debates do historiador com a colega Virgínia Fontes, também historiadora, na livraria DaVinci, no Rio. Atualmente, Sá Netto pesquisa o imperialismo estadunidense e suas conexões com organizações religiosas conservadoras daquele país; “uma história vastamente documentada sobre as organizações, as estratégias e as ideias que legitimam a dominação de classe através da religião”. Livro Ecossocialismo: para que e porquê acaba de ser lançado na livraria Cirkula, em Porto Alegre. Organizado pela jornalista e socióloga Naia Oliveira, do grupo Rede Brasileira de Ecossocialistas, e com textos de dez militantes, acadêmicos e lideranças políticas, desenvolve temas como racismo ambiental, eco-feminismo, impactos do agronegócio e urbanismo e democracia. O prefácio é do engenheiro e cientista social Cesar Luciano Filomena. Depois de 16 anos do filme O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, de Cao Hamburguer, ser indicado para Melhor Filme Internacional do Oscar, Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, entrou para a lista oficial de semifinalistas divulgada esta semana. Concorre com 14 filmes pré-selecionados. Autor do livro O Oráculo da Noite, (Cia das Letras, 2019) e cofundador do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, neurocientista Sidarta Ribeiro, é personagem de destaque especial neste fim de ano, como principal âncora da série de cinco episódios, A História de uma Planta, iniciada domingo passado e em exibição do GNT. Nesse documentário, o tema é o debate cada vez mais frequente sobre o uso do canabidiol, medicamento anti-inflamatório, ansiolítico, anticonvulsivante e antitumoral, entre outras funções, originado da cannabis e sem qualquer relação com os efeitos recreativos originados pelo THC (tetra-hidrocanabinol), a substância responsável pelo ‘barato’ da planta. O CBD já é comercializado em várias formas: óleos, extratos, cápsulas, adesivos e outros modos de preparação para uso na pele. Lembrar que o Brasil se destaca na pesquisa com psicodélicos, atrás apenas dos EUA e do Reino Unido. Em 2025, o Dia de Martin Luther King será 20 de janeiro – a terceira segunda-feira desse mês. Grandes manifestações populares estão agendadas para defender direitos civis, como de costume, mas também direitos LGBTQ, direitos de imigrantes, de professores, acesso à saúde e fortalecimento de sindicatos. Uma frente se forma para resistir à administração Trump a se iniciar naquele dia, declaram os trabalhadores, com seus direitos sob ataque. Justiça, dignidade e igualdade para todos, é o seu lema. Concentração às 13 horas no Washington Park, de Nova Iorque. Expectativa: chega às telonas, dia 16 de janeiro, o documentário Luiz Melodia – No Coração do Brasil, de Alessandra Dorgan. Conhecido como o “poeta do Estácio”, os versos de suas canções se inserem na poesia informal dos anos 70. O programa para domingo, dia 22, é assistir, na TV Cultura, o excelente filme A Última Floresta, com Davi Kopenawa Yanomami. Às 22h45. Em 12 de janeiro, entra em cartaz nos cinemas o filme representante da Coreia do Sul no Oscar 2025. Chama-se 12.12: O Dia, retrata o golpe militar de 1979 naquele país e faz pensar a recente Lei Marcial decretada (e logo cancelada) há menos de um mês pelo presidente coreano e a tentativa de autogolpe em Seul. *Léa Maria Aarão Reis é jornalista. Ilustração de capa: Marcos Diniz Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.      

Comunicação e Mídia

O começo do fim da realidade

Curtas

O começo do fim da realidade
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Por HERTON ESCOBAR* Se você curte imagens de gatinhos, passarinhos e outros bichinhos fofinhos nas redes sociais, deve ter visto um vídeo que viralizou recentemente no Instagram (e possivelmente em outras plataformas), de uma mamãe papagaio fazendo uma “cabaninha” com as asas para proteger seus filhotes da chuva. Coisa mais linda desse mundo! O vídeo foi replicado amplamente e recebeu milhões de visualizações em vários perfis da plataforma. “O amor de uma mãe não tem limites”, diz a legenda de uma das postagens. Só tem um problema: o vídeo é uma mentira, criada 100% por inteligência artificial (IA) e totalmente desconectada da realidade. A mamãe papagaio é de uma espécie que não existe, os filhotes são de algum tipo de gavião que provavelmente não existe, também, e o ninho parece ser de um beija-flor (não de papagaio nem de gavião). Aliás, papagaios não constroem ninhos; eles nidificam em ocos de árvores e outras cavidades naturais. E essa postura de proteger os filhotes da chuva com as asas não existe na natureza, segundo o especialista Luís Fábio Silveira, curador de ornitologia do Museu de Zoologia da USP, com quem conversei antes de escrever esse texto. “Tá tudo errado nessa porcaria”, resumiu ele. Seria menos mal se a imagem estivesse claramente identificada como IA. Algumas postagens até tinham uma notinha de rodapé, mas a maioria, não. (O Instagram tem um botão que permite adicionar um “rótulo de IA” na hora de postar; mas é algo muito discreto, e não é obrigatório.) Aposto que a maioria das pessoas que viram esse vídeo achou que ele era verdadeiro. “Mas e daí? É só uma imagem fofinha que vai alegrar o dia das pessoas. Que mal isso pode causar?” Se fosse apenas esse vídeo, tudo bem. O problema é que esse é apenas um entre milhões de vídeos, fotos, áudios, textos e outros conteúdos falsos que estão inundando as redes sociais em uma escala cada vez maior e com uma qualidade cada vez melhor — ou seja, cada vez mais difíceis de serem identificados como falsos. O meu Instagram está repleto deles, incluindo dezenas de variações desse vídeo da mamãe papagaio protegendo os filhotes da chuva, além de muitos vídeos de monstros marinhos que não existem, de polvos e peixes gigantes que não existem, de filhotes de urso polar subindo a bordo de embarcações para abraçar as pessoas como se fossem cachorros, de robôs humanoides fazendo coisas impressionantes que ainda não são capazes de fazer, e por aí vai. Um vídeo postado recentemente por um perfil de ativismo contra a poluição plástica mostra um pinguim com um anel plástico enroscado no pescoço sendo resgatado por um moço sorridente, que se aproxima dele com um peixe na mão e retira o anel. A cena termina com o pinguim pulando de alegria e acenando para as câmeras ao lado do homem como se estivesse num show de circo. Bonitinho, mas mentiroso. Não há qualquer aviso na imagem ou na legenda de que se trata de um vídeo gerado por IA. O problema da poluição plástica é real, e gravíssimo (como descrevo neste podcast), mas o comportamento do pinguim é totalmente irreal. Vários usuários criticaram o uso não identificado da IA na postagem, mas o perfil rebateu dizendo que os fins justificam os meios, porque o objetivo é chamar atenção para o impacto dos plásticos na biodiversidade. Eu discordo. No médio e longo prazo, o uso de imagens falsas para tratar de problemas reais pode ser um tiro pela culatra, à medida que vai dessensibilizar as pessoas para a real natureza do problema que se deseja enfrentar. Depois de ver milhares de vídeos fofinhos de animais sendo resgatados ou fazendo coisas incríveis nas redes sociais, será que as pessoas ainda vão se sensibilizar com imagens do mundo real, que tendem a ser menos espetaculares do que aquelas produzidas por IA? Pior ainda: será que as pessoas vão acreditar nas imagens reais? Afinal de contas, se todas aquelas outras imagens foram criadas por IA, quem garante que essa também não foi? A realidade vai parecer tão sem graça, comparada ao que se vê nas redes sociais, que ninguém mais se interessar com ela. O ponto crítico é que a linha que separa a realidade da ficção no mundo digital está sendo completamente borrada pela IA. Já escrevi sobre isso aqui antes, mas a velocidade com que essas tecnologias estão avançando e se popularizando é realmente assustadora. Estamos próximos — se é que já não chegamos lá — de um ponto em que vai se tornar quase impossível saber se uma imagem é real ou não. Tão perigoso quanto acreditar em mentiras é deixar de acreditar na verdade. Se o papagaio daquele vídeo não existe, quem garante que aquela imagem da Amazônia em chamas também não é falsa? Quem garante que aquela geleira está realmente derretendo? Que aquele político realmente pegou aquela mala de dinheiro? E por aí vai. Nesse novo estado de esquizofrenia digital coletiva, toda e qualquer realidade de torna questionável. Isso abre brechas enormes para a propagação de mentiras e teorias conspiratórias; e é claro que muita gente vai se aproveitar dessa confusão. Quando Kamala Harris se lançou candidata à presidência nos Estados Unidos e começou a atrair multidões para os seus comícios, por exemplo, Donald Trump alegou que as imagens dos eventos eram geradas por IA. Lógico que era mentira, mas muita gente acreditou. Quem garante que não? Vou dar um outro exemplo preocupante. No início deste ano a Samsung lançou um novo modelo de IA integrado aos seus dispositivos, chamado Galaxy AI, que permite fazer uma série de coisas — entre elas, edição de imagens — com extrema facilidade. O comercial de lançamento mostra uma mãe utilizando a tecnologia para “editar” (adulterar, seria o termo mais correto) uma foto do seu filho em uma peça de teatro na escola. Ela move as duas crianças que estavam mais à frente do palco para as laterais e puxa o seu filho para o primeiro plano, deixando-o isolado como protagonista no centro da cena. Assim como no caso dos passarinhos, tudo muito fofo e aparentemente inofensivo. Mas imagine só o seguinte: quando essas crianças da “geração IA” ficarem mais velhas e olharem para suas fotos de infância, como vão saber se aquelas imagens são reais ou não? Como vão saber o que realmente aconteceu? Em que lugar do palco elas realmente estavam? Imagine a dissonância cognitiva que vai se formar entre as memórias biológicas e as lembranças digitais adulteradas da história de vida das pessoas. Agora imagine essas tecnologias de edição de imagem, cada vez mais sofisticadas e acessíveis, sendo usadas em larga escala para adulterar a realidade de milhões de fotos e vídeos que são publicados todos os dias nas redes sociais, que é onde a maior parte das pessoas convive e se relaciona com o mundo atualmente. Quando você olhar o perfil de alguém no Instagram, no TikTok ou seja lá onde for, como vai saber se aquelas imagens são reais? Se aquela pessoa realmente foi àqueles lugares que diz que foi e fez aquelas coisas que diz que fez? Em resumo: como vamos saber quem as pessoas realmente são? Como vamos saber o que realmente está acontecendo? O que aconteceu no passado? Se aquele bicho realmente existe? Se aquele problema é realmente tão grave quanto parece? Podemos pensar no consumo de IA via redes sociais como equivalente ao consumo de alimentos ultraprocessados na nossa dieta: tudo bem comer um pouco de vez em quando, mas não exagere, para não prejudicar sua saúde (mental, nesse caso). O ponto fundamental é a rotulagem: as pessoas precisam saber o que estão consumindo. Não importa quão nobre seja a intenção — combater a poluição plástica ou gerar empatia pela biodiversidade —, esconder o fato de que um conteúdo foi gerado por IA é desonestidade. É uma mentira contada na forma de imagem. *Herton Escobar é jornalista especializado em Ciência e Meio Ambiente e repórter especial do “Jornal da USP” Publicado originalmente no Jornal da USP Foto da capa: Imagem postada no Tik Tok https://www.tiktok.com/@mark_jerwin..velasco/video/7431385527972056328

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Conservadores dominam anúncios pagos na Meta e gastam 3,3 vezes mais que progressistas, diz estudo

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Conservadores dominam anúncios pagos na Meta e gastam 3,3 vezes mais que progressistas, diz estudo
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Brasil Paralelo lidera ranking de conteúdos impulsionados no Facebook e Instagram, segundo levantamento Matéria assinada por Joelmir Tavares, na Folha de São Paulo, informa que a Brasil Paralelo, produtora de conteúdo com foco na direita, ocupa o topo do ranking de maiores anunciantes no Facebook e Instagram, de acordo com um levantamento realizado pelo projeto Brief, ligado à Quid, organização da sociedade civil. A pesquisa analisou os dados disponibilizados pela Meta, empresa dona das duas plataformas, entre agosto de 2020 e agosto de 2024, revelando uma disparidade significativa nos investimentos publicitários entre grupos ideológicos no Brasil. O estudo mostra que os 20 maiores anunciantes conservadores investiram 3,3 vezes mais recursos do que os progressistas no período analisado. O gasto total dos conservadores foi de R$ 33,8 milhões, enquanto os progressistas aplicaram R$ 10,3 milhões. As páginas de centro, por sua vez, gastaram R$ 1,8 milhão. O Brasil Paralelo, com R$ 26,6 milhões e 75.391 anúncios, foi o maior investidor individual, superando até grandes empresas como a Ambev e a Secretaria de Comunicação Social do Governo Federal, que ocuparam a segunda e terceira posições no ranking geral, respectivamente. A Revista Oeste, também com uma linha conservadora, ficou em segundo lugar entre os maiores anunciantes do setor, com R$ 4,3 milhões em anúncios. O levantamento revela que, enquanto os anunciantes conservadores tendem a impulsionar um grande número de conteúdos com pequenas variações para testar e otimizar os resultados, os grupos progressistas tendem a concentrar seus anúncios em temas específicos, o que pode limitar seu impacto em comparação com os adversários ideológicos. A pesquisa foi coordenada pelo cientista social Ricardo Borges Martins, que destaca a maior sofisticação das estratégias adotadas pelos conservadores. Segundo ele, eles têm demonstrado maior compreensão da dinâmica das redes sociais, aproveitando os algoritmos de maneira eficaz para maximizar a visibilidade de seus conteúdos. Entre os 20 maiores anunciantes, destacam-se ainda organizações como o Greenpeace Brasil, que ficou em terceiro lugar com R$ 4,1 milhões, e o Instituto Conhecimento Liberta (ICL), com R$ 1,8 milhão. O levantamento não incluiu partidos políticos e governos, focando apenas em páginas de "sociedade", como ONGs e veículos de mídia. A Brasil Paralelo, em resposta ao estudo, defendeu sua atuação, enfatizando que seu conteúdo se baseia na defesa da democracia, da verdade e de um debate aberto. A empresa rechaçou as acusações de promover uma visão extremista e criticou a ideologia do projeto Brief, que, segundo eles, busca exercer uma "tese de poder" a partir de uma perspectiva progressista. Maiores anunciantes na biblioteca de anúncios da Meta (2020-2024): 1º - Brasil Paralelo - R$ 26,6 milhões - 75.391 anúncios 2º - Revista Oeste - R$ 4,3 milhões - 2.194 anúncios 3º - Greenpeace Brasil - R$ 4,1 milhões - 5.879 anúncios 4º - Instituto Conhecimento Liberta (ICL) - R$ 1,8 milhão - 6.109 anúncios 5º - Ranking dos Políticos - R$ 1,3 milhão - 1.324 anúncios 6º - Paulo Guedes - R$ 789,7 mil - 212 anúncios 7º - Vai Lá e Vota - R$ 769,8 mil - 71 anúncios 8º - Oxfam Brasil - R$ 759,2 mil - 4.106 anúncios 9º - Safernet Brasil - R$ 754,4 mil - 114 anúncios 10º - Todos pela Educação - R$ 694,2 mil - 379 anúncios Divisão de gastos entre os 20 maiores anunciantes: R$ 33,8 milhões: conservadores R$ 10,3 milhões: progressistas R$ 1,8 milhão: centro Fonte: Dados da biblioteca de anúncios da Meta (ago. 2020 a ago. 2024) tabulados pelo projeto Brief. Leia a notícia completa na Folha de São Paulo Foto: Cena de documentário sobre aborto da Brasil Paralelo intitulado 'Duas Vidas' - Reprodução/Site Brasil Paralelo

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Feliz ano novo

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Feliz ano novo
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Por VICENTE RAUBER* O ano de 2025 está batendo em nossa porta. É comum as pessoas, ao findar um ano,  desejar aos seus amigos e entes queridos mil felicidades para o ano novo. É importante renovar as esperanças. Uma dose de realismo também cabe nesta ocasião, faz bem! Também é usual no fim do ano a realização de balanços do ano findante. É bom! Vamos olhar para 2024 e tentar vislumbrar temas relevantes para 2025. Vamos iniciar pelo mais essencial. A recuperação do planeta e a nossa própria sobrevivência. Exagero? Em 2024, a temperatura planetária, que no ano anterior já havia ultrapassado o limite estabelecido no Acordo de Paris de 2015, de 1,5% acima da média pré-industrial, era para ser atingida somente em 2040, continuou subindo. Para os cientistas o aumento acima deste valor de 1,5%, deve acelerar inundações e secas, podendo provocar falta de água e alimentos. O que acontece? Continuamos emitindo gases de efeito estufa – GEEs – em demasia e que aumentam a camada de ozônio, a 30 km acima, na atmosfera, necessária para reter o calor, essencial à vida terrestre. Este aumento da camada significa um aumento da temperatura acima do equilíbrio da natureza. E, neste caso, esqueçam o que dizem os pseudo-cientistas de que isto ocorre em períodos históricos. Temos que negar os negacionistas; o que ocorre hoje ultrapassa qualquer limite e frequência. A natureza está completamente desequilibrada, gerando catástrofes climáticas. Há anos a natureza vem alertando sobre a necessidade de sua recuperação. Diante da pouca importância dada, neste ano precisou gritar: eventos alarmantes em todo o planeta. Na Amazônia no segundo ano seguido tivemos a maior seca da história em plena maior reserva de água doce do Mundo e pulmão do planeta. Na Amazônia e no Cerrado ocorre o maior número de queimadas de toda história. No RS a maior inundação de todos os tempos, após dois eventos extraordinários ocorridos no ano passado. A quem cabe reverter esta situação, necessária à sobrevivência do Planeta? Aos países ricos, maiores geradores de GEEs; porém a nós Brasil, cabe cumprir o dever de casa, até porque, nosso país está entre os 10 países maiores emissores GEEs. E quem gera os GEEs? No planeta, aproximadamente em dois terços, estão vinculados aos combustíveis fósseis, petróleo e carvão, tanto no transporte como na geração de energia elétrica. No Brasil temos uma situação diversa, aproximadamente com os seguintes percentuais: 45% estão vinculados às queimadas e derrubadas e degradação de nossos biomas; 25% aos processos agropastoris; 20% ao uso de combustíveis fósseis e 10% aos processos industriais e demais atividades. Com certeza, na COP-30, em Belém/Pa estaremos desafiados a mostrar nossa capacidade de resolver este quadro. É difícil reverter esta situação? Com certeza, em função de nossa mentalidade e métodos de produção historicamente entranhados. No entanto, é possível produzir mais e melhor, de forma sustentável ambiental e econômica. Não é necessário ampliar a fronteira agrícola com a derrubada de florestas e a ocorrência de queimadas, provocadas ou não. A mineração pode ser feita onde é possível, com amplas possibilidades. A preservação da Amazônia e dos outros biomas é uma questão de segurança nacional e assim deve ser tratada. Na produção agropastoril devem ser aplicadas as medidas do Plano ABC – Agricultura de Baixo Carbono -, definidas na COP-15, em 2009, em Copenhague/Dinamarca e ainda muito pouco efetivadas. Os combustíveis fósseis tem na energia elétrica a melhor possibilidade de sua substituição. Os motores elétricos são em torno de três vezes mais eficientes que os motores a combustão. Em seu uso a energia elétrica praticamente não apresenta poluição. Já imaginaste a tua cidade sem ruídos de veículos e sem os nocivos gases expelidos pelos canos de descarga. Registrem: será uma das marcas de nosso tempo. Em 2023, 93% de toda a energia elétrica produzida no Brasil teve como origem fontes renováveis: quedas d’água, ventos, sol e bagaço de cana. Estas alternativas continuam crescendo. Nos chamados países de maior PIB a energia elétrica ainda tem como principal fonte primária os combustíveis fósseis. Mais um motivo para pressioná-los a substituírem seus combustíveis fósseis. As poderosas empresas de petróleo irão falir no decorrer dos anos? Com certeza, não. A maioria delas está transformando-se em empresas de energia. Além disto, o petróleo tem outros usos e possibilidades de uso, além da simples queima como combustíveis. O carvão mineral também possui outros usos mais relevantes, como a geração de matérias primas para adubos. A produção de biocombustíveis também possui grande relevância. Deve ser compatibilizada com a produção de alimentos. O hidrogênio verde pode ser um extraordinário combustível no futuro, inclusive no uso dos veículos elétricos, substituindo as baterias. Tem como desafios a redução de seu preço de obtenção e o seu transporte. A transição energética consiste na substituição dos combustíveis fósseis e na captação de GEEs, não permitindo que cheguem à camada de ozônio. Deve ser realizada no contexto da melhoria das condições ambientais. Aos estados compete participar e promover ativamente as ações da transição energética. Em especial devem instituir e fazer funcionar os Comitês de Bacias Hidrográficas em seus cursos d’água internos e realizar a gestão das áreas metropolitanas. Novos eventos climáticos devem ocorrer a seguir. Prevenir é o melhor remédio. Precisamos nos preparar muito melhor com previsões e medidas preventivas em todas as dimensões, ao mesmo tempo em que  viabilizamos os temas acima citados. Aos municípios, que iniciam uma nova gestão a partir de 2025, devemos dar um destaque especial, é onde a vida acontece e onde significativas mudanças podem ser realizadas. Cada município possui diferentes fontes de emissões de GEEs, dependendo da sua localização e configuração. No caso de grandes centros urbanos a queima de combustíveis fósseis representa aproximadamente dois terços da emissão de GEEs. O saneamento básico também tem participação nesta emissão, porém, juntamente com a gestão ambiental, pode realizar significativa captação dos GEEs, amenizando o clima local, promovendo qualidade de vida e cooperando com o planeta. Portanto, nestes centros, cabe uma atuação fundamental em relação aos transportes urbanos e à combinação das atividades de saneamento/meio ambiente. Os transportes devem ser racionalizados, ter o transporte coletivo como preferencial e valorização da introdução de veículos elétricos. O saneamento – água tratada, coleta e tratamento de esgotos, coleta e tratamento de resíduos sólidos, drenagem urbana e proteção contra cheias – são considerados pela Constituição Federal temas locais e definidos no Marco Civil do Saneamento como de responsabilidade dos municípios. No entanto, a ampla maioria dos municípios não possui nem finanças e nem estrutura para realizar todas estas atividades adequadamente. A área de drenagem urbana e proteção contra inundações geralmente não possui um órgão devidamente estruturado. Por toda a sua relevância os municípios devem constituir áreas responsáveis pelas atividades do saneamento. Diante destas dificuldades, a União e os estados precisam auxiliar os municípios, inclusive criando órgãos para esta finalidade. Não basta os municípios possuírem obras e ações nesta área, é necessário que as mesmas tenham manutenção permanente, para ser capazes de cumprir com suas funções quando solicitadas. Citamos algumas atividades municipais de saneamento e meio ambiente, entre outras, diretamente relacionadas com a segurança e a qualidade de vida e a recuperação ambiental do planeta: - Implantar e/ou manter adequadamente sistemas de drenagem urbana e proteção contra inundações; - Cuidados especiais com os lixos, o seu reuso e reciclagem, a compostagem e o tratamento final; - Implantar o conceito de “Cidade Esponja”, ou seja um conjunto de ações para reter o excesso das águas nas chuvas maiores; - Ampliação das áreas verdes em todo o município, especialmente junto às águas correntes e nas áreas risco, com populações reassentadas. Medellin/Colômbia transformou completamente o seu clima com suas dezenas de corredores verdes; - Ações especiais para a recuperação de córregos e outras águas, essenciais à drenagem e ambiente urbano; - A população precisa participar, equipes de Educação Ambiental são essenciais. Para que isto e tudo mais possa ocorrer bem, evoluindo,  é necessário que nossa democracia seja aperfeiçoada. Os que atentaram contra o Estado brasileiro com um golpe, inclusive na tentativa de eliminar autoridades nacionais, precisam ser devidamente investigados, julgados e exemplarmente punidos. Os ódios e preconceitos precisam ser superados, as diferenças não só toleradas como serem motivo do contraditório necessário à nossa evolução. Que os(as) brasileiros(as) possam continuar evoluindo nas oportunidades de trabalho e renda, entendendo esta com os recursos financeiros e também o acesso a serviços essenciais de qualidade como saúde, educação, segurança, energias e demais. Enfim, que possamos ser mais dignos e felizes! Feliz ano novo!   *Vicente Rauber é engenheiro especialista em Planejamento Energético e Ambiental e ex-diretor do DEP (Departamento de Esgotos Pluviais), DEMHAB (Departamento Municipal de Habitação), CEEE, Petrobras/Refap e Banrisul Foto de capa: Reprodução Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.  

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