Cultura

Programas – de 5 a 11 de outubro

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Programas – de 5 a 11 de outubro
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Por LÉA MARIA AARÃO REIS* *O programa é votar. Voto presencial, voto eletrônico, em qualquer circunstância; mas não deixar de votar em candidatos que apresentam propostas concretas e factíveis e não queiram fazer da política mais uma forma de conseguir emprego fácil, às nossas custas. Projetos básicos relativos à saúde, educação, habitação, segurança e, também como prioridade, o meio ambiente. Não à oposição neofascista e aos candidatos malandros e de ocasião. *O programa é refletir sobre um mundo que se encontra em transição há mais de dez anos; pensar nas sombrias apostas que nos cercam atualmente e nas palavras do renomado jornalista paquistanês Tarik Ali, autor de diversos livros publicados em português: “Nasrallah entendeu Israel melhor do que a maioria. Seu sucessor terá que aprender rápido. Para matar Hassan Nasrallah, um dos líderes mais populares da resistência (e não apenas entre os xiitas), as Forças Armadas de Israel teve que destruir vários prédios, lançar ataques terroristas por meio de dispositivos de mensagens e, mais uma vez, matar centenas de inocentes, lançando pelo menos quinze bombas fabricadas nos EUA.” *Um dos editores da New Left Review, Tarik Ali conclui: “Benjamin Netanyahu deu a ordem para imolar os prédios no sul de Beirute enquanto estava nos Estados Unidos para discursar na Assembleia Geral da ONU. Só para esfregar na cara. O verdadeiro ‘relacionamento especial’ é sagrado e eterno. Hassan Nasrallah não descansará em paz.” *O programa é ler o que dizem os correspondentes da BBC News em Jerusalém, Yolande Knell e Toby Luckhurst, esta semana: “A aldeia palestina de Battir, Patrimônio Mundial da Unesco, onde antigos terraços de vinhedos e jardins de oliveiras são irrigados por uma fonte natural e a vida segue inalterada há séculos, é o mais novo ponto de discórdia sobre os assentamentos israelenses na Cisjordânia ocupada. Israel aprovou a formação de um novo assentamento judeu no local, desapropriando terras privadas para a construção de novas casas de colonos.” (…) “Eles estão roubando nossas terras para construir seus sonhos sobre a nossa catástrofe”, diz Ghassan Olyan, dono de uma das propriedades confiscadas. (…) “Todos os assentamentos na Cisjordânia são considerados ilegais com base no Direito Internacional, mas Israel não está de acordo”, relembra a BBC. *Uma moção do Conselho Universitário da Unicamp repudia atos de violência contra populações civis no Oriente Médio e condena brutais atrocidades na Faixa de Gaza. A moção exige um urgente cessar-fogo a fim de que seja estancada a “barbárie genocida na região”. Outra moção, esta do Conselho Universitário da Unirio, de dias atrás, se declara contra o genocídio do povo palestino “praticado diante de câmeras e televisionado para todo o mundo”. *A escritora, poeta e jornalista Dora Incontri lembra o aniversário, comemorado dia 02 de outubro, Dia Internacional da Não-Violência, de Mahatma Gandhi, líder da não-violência. Trecho do seu texto, A Sombra das Guerras, no site GGN: “Pouco aprendemos com ele até agora. Que Gandhi e outros mártires da paz nos inspirem caminhos de saída para a humanidade.” Dora é autora de cerca de 30 livros sobre educação, espiritualidade, filosofia e espiritismo das editoras Comenius, Ática e Scipione. A data de 02 de outubro é celebrada como Dia Internacional da Não-Violência. *Informação que a mídia praticamente despreza: a agência Moody’s rebaixou a classificação de crédito de Israel para A2, embora ainda dentro do grau de investimento. A agência se mostra preocupada com os gastos do país em conflitos e com o aumento dos riscos estatais, e já alertou que novos rebaixamentos podem ocorrer se as tensões com o Hezbollah escalarem para um conflito em grande escala. *Dia 16, inauguração do Centro de Estudos Palestinos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e da Cepal, às 17h30, no auditório Nicolau Sevcenko. Na ocasião será lançado o livro/diário de Atef Abu Saif, escritor e sobrevivente do genocídio em Gaza, com título Quero estar acordado quando morrer. O autor foi ministro da Cultura da Autoridade Nacional Palestina, mora em Ramallah, na Cisjordânia, e se encontrava trabalhando em Gaza, no dia 7 de outubro de 2023. Estarão presentes na reunião, Milton Hatoum, Francisco Rezek e Paulo Sergio Pinheiro. (Ed. Elefante). *O arador das águas é o livro da professora, jornalista e tradutora libanesa Hoda Barakat, que vive em Paris desde 1852. O tema: a protagonista, Niqula, herda do pai não apenas uma loja de tecidos, mas uma espécie de código têxtil, uma lente pela qual ele pode compreender o mundo. Entre os escombros de uma Beirute devastada, no porão de sua loja, Niqula reconstruirá, pela lembrança, as sagas da sua família. (Ed. Tabla). *A personagem Mafalda completou 60 anos domingo passado. Foi criada pelo desenhista argentino Quino e ambientada em Buenos Aires, no caso, um símbolo do universo. Mafalda é um contraponto para expor, discutir, denunciar, reclamar, ou também enaltecer, através do humor e da ironia, temas que envolvem feminismo, moralismo, autoritarismo, educação, cultura, poder, repressão, censura, dominação, exploração. Veja Também:  A guerra à inteligência *Em 2023, a Cinemateca Brasileira organizou a primeira edição da mostra itinerante A Cinemateca é Brasileira. A programação percorreu o país levando filmes que perpassam diferentes momentos históricos ao longo de mais de 120 anos de história e uma seleção de 19 títulos que foi exibida em 15 cidades brasileiras. Agora, a Cinemateca realiza a segunda edição da A Cinemateca é Brasileira – Resistências Cinematográficas, desde o início deste mês até julho de 2025, com filmes sobre a vocação democrática do país e sua resistência a retrocessos autoritários; em especial o regime civil-militar com início há 60 anos. *Este ano, os filmes da Cinemateca serão mostrados no Festival do Rio (3/13 de outubro), no Cineteatro São Luiz, em Fortaleza (12/26 de outubro), e no Cine Bangüê, em João Pessoa (13/22 de outubro). Para o próximo ano estão confirmadas temporadas em Curitiba, Recife, Belém, Porto Velho, Brasília, Manaus, Porto Alegre e Garanhuns (PE). Alguns dos filmes: O que é isso companheiro, Cidadão Boilensen, Opinião Pública, Prafrente Brasil, ABC da Greve, Eles não usam Black tie. *Dia 11 de outubro, último dia da Feira do Livro de Porto Alegre, o professor Hildebrando Pereira, da cidade de Canoas, lança seu romance policial, A Passarela da Cabeça, que se passa na cidade-irmã de Porto Alegre a partir de um fato real, em 1976. O escritor deixa com seus personagens a tarefa de elucidar o crime e recria com cuidado Canoas e Porto Alegre na época em que o assassinato foi cometido. (Ed. BesouroBox). *Silviano Santiago chegando aos 88 anos e festejado pela Biblioteca Virtual do Pensamento Social, a BVPS, com o lançamento de uma edição especial com fragmentos do segundo caderno de O grande relógio do mundo, ainda em produção. Nele, o crítico e romancista mineiro arrisca desconstruir o eurocentrismo em uma comparação inédita entre Marcel Proust e Machado de Assis. Na última segunda-feira, dia 30/09, Silviano lançou, na Travessa Ipanema, no Rio de Janeiro, o primeiro caderno da série de O grande relógio: A que hora o mundo recomeça (Editora Nós). *A cantora e compositora moçambicana Lenna Bahule faz show de lançamento do seu mais recente trabalho, o EP (de duração de 4/6 minutos) Nadawi, segundo capítulo da trilogia sonora Kumlango. O público paulistano poderá ouvir ao vivo essas novas canções em espetáculo do Sesc Bom Retiro, hoje (04/10) e amanhã (05/10). *Importante: A Ministra da Cultura Margareth Menezes e o diretor de assuntos europeus e internacionais do CNC, Centre National du Cinéma et de L’image Animée, Jérémie Kessler, assinaram ontem (03/10) um acordo de cooperação audiovisual inédito entre Brasil e França. Solenidade no Armazém da Utopia, sede do Festival do Rio e do RioMarket, o evento de mercado do festival. Trata-se de uma das iniciativas do Ano França-Brasil 2025 para promover obras brasileiras em território francês e vice-versa, e trocar experiências e conhecimentos relacionados à educação no campo cinematográfico e audiovisual relacionados a políticas públicas e ações para preservação, conservação, restauração e divulgação de obras audiovisuais. *O Capital no Antropoceno: qual a relação entre capitalismo, sociedade e natureza? Nesse livro, o filósofo japonês Kohei Saito procura interpretar estudos de Marx diante dos problemas ambientais do século XXI. A mensagem central da obra é esta: o sistema capitalista dominante, de alta financeirização e de busca ilimitada do lucro, está destruindo o planeta. Apenas um novo sistema, com a produção social e a partilha da riqueza como objetivos centrais, é capaz de reparar os danos que foram causados até aqui. O Capital no Antropoceno é best-seller com mais de 500 mil exemplares vendidos no Japão, e publicado na Espanha, China, Coreia do Sul, Alemanha, França, Taiwan, Reino Unido e Estados Unidos. (Ed. Boitempo). *Na semana passada, o brasileiro Baby recebeu o prêmio Abraço, concedido ao melhor filme do Festival de Biarritz. Na mesma semana, o diretor Marcelo Caetano recebeu outro prêmio, de melhor filme queer latino no Encontro de Festivais LGBTQIA+ Ibero-Americanos. Baby estreia no Rio de Janeiro, dia 07, no cinema Estação Net Gávea. *Poucas semanas depois de estrear nos cinemas Motel Destino, o diretor Karim Aïnouz deu início às filmagens de Rosebush Pruning, seu segundo longa-metragem internacional, rodado na Espanha, após Firebrand de 2023. “Estou muito animado para dar vida a esse roteiro audacioso e instigante que desafia nossas noções de família tradicional e de patriarcado”, comemora o cineasta, filho de mãe brasileira e pai argelino. Aïnouz é também o autor do clássico Madame Satã. *Jornalista Foto: Divulgação Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.    

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A REVOLUÇÃO QUE GANHAMOS E NÃO COMEMORAMOS

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A REVOLUÇÃO QUE GANHAMOS E NÃO COMEMORAMOS
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Por GIOVANNI MESQUITA* Entre as tantas coisas sem fundamento que ouvimos, tem aquela “O gaúchos são o único povo que comemoram uma guerra que perderam”. Não atentam, os apressurados detratores dos méritos do nosso povo, para o que fazem os paulistas em todos os seus nove de julho? E no dia 21 de abril, em que o país inteiro comemora aquela guerra que não deu nem para a saída? Se, com um pouco de propriedade, quisessem apontar no nosso povo alguma incoerência, inédita e incompreensível, eles diriam: O POVO GAÚCHO É O ÚNICO QUE NÃO COMEMORA UMA REVOLUÇÃO QUE VENCEU! E dessa vez teríamos que ficar de bico fechado. Pois, eis o fato, acabamos com uma dominação oligárquica centralista, herdeira saudosa da monarquia escravista, e simplesmente não falamos no assunto. Fingimos que não é com a gente. Recordamos que foi aqui, no pago, que se travou a mais sangrenta das guerras contra a restauração da coroa de Pedro, a Guerra de 1893. Essa longa peleia teve direito até marinheiros da armada, comandados pelo próprio Saldanha da Gama, lutando nas coxilhas contra nosso republicanismo. Foram dizimados quando pateticamente tentavam se equilibrar nas selas. Como diria o adágio gauchesco: ovelha não é pra mato! E mesmo que depois tenham sido convocados nossos melhores degoladores para dar fim de Canudos, em nome da dita república, nosso estado foi altivamente escanteado. Outro tratamento tiveram os cafeicultores, amigos até a última hora de Pedro, que desfilavam seu glamour nos salões da Paulista ou no castelo da Ilha Fiscal. Mas, os republicanos gaúchos, herdeiro dos farroupilhas, souberam se preservar, e aplicar no estado seu programa. Nas mãos desses jovens positivistas, o Rio Grande do Sul se tornou um estado moderno. Com alguns princípios que cuidamos ainda hoje: transparência, laicidade, previsibilidade, legalidade, moralidade e eficiência. A ideia de um estado emulador do desenvolvimento técnico e social. Isso, tudo, é claro, sem democracia. Eles defendiam a ditadura, sim a chamada ditadura das classes esclarecidas. Não se apressem a julgar, em nenhum lugar do Brasil havia a tal da democracia. Os nossos ditadores só se distinguiam dos restantes pelo sincericídio. As elites brasileiras só proclamaram seus primeiros e apaixonados ardores e frêmitos pela democracia, quando o Movimento de 1930 lhes apeou do governo. Como sabemos, em 1929, Getúlio Vargas entrou com uma candidatura alternativa, tendo como vice na chapa o João Pessoa, presidente do pequeno, mas corajoso, estado da Paraíba. Tomou pau. Mas, naquele tempo todos sabiam que o voto não era confiável, que havia grandes roubos. Na época o sistema era impresso e não secreto. E nós tínhamos expertise no caso, tanto é que tivemos um presidente de estado por 25 anos, utilizando esse sistema. Por um acaso, conveniente do destino, João Pessoa foi morto. Essa morte abriu a janela de oportunidade para um povo que estava pronto para governar e não tinha medo de briga, muito pelo contrário. No dia 03 de outubro, foi possível ver, em plena rua dos Andradas, metralhadoras serem colocadas nas torres da igreja das Dores. De lá, eles pipocaram as tropas leais ao governo central, acantonadas no então Quartel General do Exército, na esquina da mesma com a Davi Canabarro. O quartel foi invadido no estilo antigo, as tropas revolucionárias armadas de fuzis e espadas entraram pela porta principal e levaram os legalistas de roldão. Getúlio chamou a turma da campanha e das cidades e encerrou, o então predileto, esporte do estado: o de matarmo-nos mutuamente. Pegou as bandeiras, que trazíamos nos pescoços, como fala a milonga Sabe Moço, de Francisco Alves, e amarrou a vermelha na branca. Aquele nó se tornou o símbolo da união de gregos e troianos, de ximangos, libertadores e maragatos. Aí, ficou difícil de segurar... Zilhares de tropas embarcam em trens, milhares de gaúchos atravessam, a cavalo, as três divisas estaduais em direção a São Paulo e Rio. Ao saber que a cavalaria rio-grandense estava a caminho a elite, paulista e carioca, sentiu o pelo da nuca arrepiar, porque quem tem, tem medo.... Duas poderosas massas de homens armados se encontrarem em Itararé. Preteou o olho da gateada. Mas, não houve luta. A famosa lábia de Getúlio, que já tinha a coisa muito bem encilhada, deu conta do assunto, sem que, praticamente, houvesse entreveiro. Dessa forma se colocou fim na supremacia inquestionada da política do café com leite. Os derrotados foram aqueles, que ainda vemos por aí, que amavam o mercado externo e tinham um profundo nojo, do nosso país e do nosso povo. Eles queriam, e ainda querem, um país que fosse um eterno fazendão. O velho GG, para governar o país, deu uma aperfeiçoada na prática político/administrativa, que aprendera com Júlio de Castilhos e Borges de Medeiro. Começou a criar instituições nacionais, onde só havia o exército e a Igreja. Lançou as bases para a prospecção da matéria prima, que iria constituir a indústria brasileira, gerou uma série de direitos sociais que impulsionaram o aumento de um mercado interno consumidor. A lista é extensa, de transformações que deveriam ter acontecido em 1889, ou talvez em 1845. Tchau VIVA A REVOLUÇÃO DE TRINTA, AQUELA QUE VENCEMOS.   *Historiador e Museólogo Foto: Divulgação Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.      

Justiça

Bolsonaro zomba da Justiça, posa de “vítima” e faz campanha livremente

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Bolsonaro zomba da Justiça, posa de “vítima” e faz campanha livremente
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Por BENEDITO TADEU CÉSAR* O papel do Procurador-Geral da República e do STF na postergação dos inquéritos de Bolsonaro e seus aliados: impactos nas eleições e a impunidade dos articuladores do golpe de 8 de janeiro Nos últimos meses, o cenário político brasileiro tem sido marcado por um jogo de manobras que favorece, deliberadamente ou não, Jair Bolsonaro e seus aliados. A atuação do Procurador-Geral da República (PGR) e do Supremo Tribunal Federal (STF) na condução dos inquéritos que investigam os crimes do ex-presidente tem gerado indignação. A ampliação repetida dos prazos para a conclusão dessas investigações não apenas favorece Bolsonaro e os políticos, empresários e militares a ele vinculados, mas também levanta suspeitas sobre a conivência ou a leniência dessas instituições diante de atos graves que ameaçaram a democracia. Enquanto manifestantes que participaram da invasão de 8 de janeiro são rapidamente punidos, os articuladores e beneficiários desse golpe fracassado, incluindo Bolsonaro e seus filhos, continuam blindados pela morosidade do sistema judicial. Inquéritos contra Jair Bolsonaro: um ciclo de adiamentos Desde que deixou a presidência, Jair Bolsonaro está no centro de uma série de investigações que, em qualquer sistema de Justiça minimamente célere e eficaz, já deveriam ter resultado em sanções contundentes. No entanto, o que se vê é uma verdadeira "dança dos prazos", na qual a Justiça parece trabalhar para proteger o ex-presidente e seus asseclas. O Inquérito das Fake News (INQ 4781), por exemplo, que apura a participação de Bolsonaro em um esquema coordenado de desinformação e ataques às instituições democráticas, se arrasta sem fim. Esse inquérito, que deveria ter como objetivo expor e punir os responsáveis pela radicalização do eleitorado bolsonarista e pelos ataques às bases democráticas, tornou-se mais um exemplo do descaso com a Justiça, marcado por sucessivas prorrogações que apenas reforçam a impunidade. Além disso, outros inquéritos, como o Inquérito 4878, que investiga a gestão desastrosa da pandemia de Covid-19, e a investigação sobre as joias sauditas, envolvendo militares e aliados próximos, estão paralisados pela mesma letargia. A conclusão do inquérito da Polícia Federal que apura uma possível articulação do ex-presidente Jair Bolsonaro para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022 foi adiada. Inicialmente prevista para setembro, a investigação foi postergada e segue em curso. Informações atribuídas pela imprensa à assessores da PGR, dão conta de que o Procurador Geral teria decidido não apresentar denúncia antes das eleições municipais para "não politizar" a decisão. Contrariamente ao alegado, caso a informação seja verdadeira, ela revela uma postura essencialmente politizada do próprio Procurador Geral da República. Enquanto isso, o ex-presidente, que deveria estar respondendo por sua irresponsabilidade, continua atuando politicamente, influindo nas eleições de 2024 e preparando-se para as eleições de 2026, como se nada tivesse acontecido. De forma zombeteira e provocativa, Bolsonaro ousou afirmar, em vídeo em apoio ao seu candidato na cidade do Rio de Janeiro, divulgado dias antes da eleição: "Eu acho que eles não querem nem me prender mais. Reunir com traficantes tudo bem, mas reunir com embaixadores é criminoso". Mesmo afrontada, a Justiça Eleitoral não impôs, até agora, qualquer medida punitiva. A impunidade para os organizadores e beneficiários do golpe de 8 de janeiro A disparidade no tratamento entre os que executaram diretamente a invasão de 8 de janeiro e os que arquitetaram o golpe é um retrato da seletividade da Justiça brasileira. Centenas de manifestantes, muitos dos quais foram manipulados por uma campanha de desinformação, foram rapidamente condenados. No entanto, os organizadores, incitadores e principais beneficiários do golpe – Jair Bolsonaro, seus filhos, empresários e militares aliados – permanecem imunes à responsabilização. Efeitos catastróficos para a democracia A ampliação dos prazos dos inquéritos não é apenas uma questão jurídica, mas uma questão profundamente política, com consequências devastadoras para o futuro da democracia brasileira. Ao permitir que Bolsonaro e seus aliados escapem da Justiça, ainda que temporariamente, as instituições estão reforçando uma percepção perigosa: a de que as principais lideranças da extrema-direita no país estão acima da lei. O efeito disso é triplo. Enquanto os inquéritos não são concluídos, a Procuradoria Geral da União não se manifesta oficialmente, o que gera uma espécie de limbo jurídico-político, que beneficia enormemente a atuação política de Bolsonaro e seu clã, pois Bolsonaro nem se torna réu nem é inocentado. Apresentando-se como perseguido e zombando da atuação da Justiça, Bolsonaro e seu clã atuam fortemente durante todo o período eleitoral de 2024, apoiando integrantes do seu campo político para as Prefeituras e Câmaras Municipais, o que lhes dará maior poder político e beneficiará enormemente sua atuação nas eleições de 2026, para os governos estaduais e federal. Por fim, a impunidade prolongada de Bolsonaro e seu clã alimenta a descrença nas instituições democráticas, dando força ao discurso antissistema que eles mesmos propagam. Se as instituições não agirem com rapidez e rigor, o Brasil corre o risco de consolidar um estado de impunidade permanente, no qual líderes políticos como Bolsonaro se fortalecem à custa da fragilidade democrática. *Benedito Tadeu César é cientista político e professor universitário e integrante das coordenações do Comitê em Defesa da Democracia e do Estado Democrático de Direito e da Rede Estação Democracia RED. Foto da capa: Bolsonaro em campanha 2024, no Ginásio do Guarani FC, 29/09/2024 - Crédito: Leonardo Vieira/Sampi Campinas Leia também o texto de Lênio Streck – O tempo que conspira a favor de Bolsonaro Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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TCE/RS – UM TRIBUNAL CONSTRANGIDO?

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TCE/RS – UM TRIBUNAL CONSTRANGIDO?
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Por ARILSON WUNSCH* Ao longo de todo o processo de privatização — ou doação, para ser mais assertivo — da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) pelo governo Eduardo Leite, o Sindiágua/RS travou uma batalha hercúlea para mostrar à sociedade gaúcha e aos tribunais a verdadeira destruição do patrimônio público em curso e o encaminhamento de um mau "negócio" para os cofres do Estado. Após os subsídios relevantes repassados pelo Sindicato às autoridades, somados a uma análise criteriosa do Ministério Público de Contas (MPC/RS), a 1ª Câmara do Tribunal de Contas do Estado (TCE/RS) anulou todo o certame do leilão que visava sacramentar a privatização da Corsan. O revés para o governador Eduardo Leite veio em forma de um voto muito bem fundamentado pela conselheira relatora, que apontou diversas irregularidades na formatação dos cálculos e possíveis prejuízos ao erário. Porém, a assinatura do contrato entre a AEGEA, única empresa participante do leilão, e o Governo do Estado foi autorizada por uma decisão monocrática da presidência do TCE/RS, usufruindo de uma prerrogativa nunca vista na história do Tribunal. Passados quase 500 dias da assinatura do contrato autorizada por essa “liminar artificial”, o Pleno da Corte, que deveria ser célere na análise do voto da relatora do processo, validando ou não o leilão, até hoje não se posicionou. O que ainda estaria sendo analisado para que a sociedade gaúcha não tenha uma resposta clara e convincente sobre a lisura do processo de privatização? Além dos riscos de se renunciar a autonomia na gestão da água, o Sindiágua/RS sempre apontou a absurda subvalorização da Corsan promovida pelo governo Eduardo Leite. Em comparação, recentemente a Companhia de Saneamento de Sergipe (DESO) foi vendida para o Grupo Iguá, do qual vários atores da privatização da Corsan fazem parte, por R$ 4,5 bilhões. Trata-se de uma concessão parcial, abrangendo apenas 37 municípios do Estado de Sergipe, com ágio de 122%. Já a Corsan foi vendida em sua totalidade, com 317 municípios, por R$ 4,151 bilhões, com um ágio insignificante de 1,15%. Essa é mais uma prova de que o Sindicato sempre esteve certo, de que o voto da relatora da 1ª Câmara do TCE/RS foi preciso na defesa dos interesses do Estado e de que o Ministério Público de Contas fez o seu papel ao alertar que o leilão, da forma como foi encaminhado, não poderia se concretizar. Uma nota dissonante em todo esse processo dos órgãos fiscalizadores é o silêncio ensurdecedor do Pleno do TCE/RS, que em breve completará 500 dias. Talvez seja possível pensar que os integrantes da Corte estejam constrangidos em colocar suas digitais nesse “negócio nebuloso”. A história tratará de cobrar essa conta.   *Presidente do Sindiágua/RS Foto: divulgação/TCE-RS Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.  

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MAS QUE NADA…PPP PRA NÓS É OUTRA COISA

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MAS QUE NADA…PPP PRA NÓS É OUTRA COISA
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Por ALEXANDRE SARATT* Muito se fala, se discute e se compreende (?) sobre o papel vital e estratégico da Educação para a formação social e econômica de uma sociedade moderna, democrática e desenvolvida à plenitude. Cabem muitos exames, considerações e perspectivas nesse temário, através das mais distintas óticas e vieses, desde a afirmação de concepções progressistas, científicas e emancipatórias até aquelas cuja serventia e finalidade buscam assegurar manutenção e perpetuação de um sistema e estado de coisas desigual, excludente, violento e ainda assim estranhamente funcional. Nesse ínterim cabe fazer um pequeno recorte temporal, espacial e conjuntural para tratar de analisar - à guisa de conclusão - o que se procede no Estado do Rio Grande do Sul e sua educação pública, objeto de profunda, radical e contínua reforma educacional e que, no momento, se defronta com dois aspectos seminais: a gestão democrática e as parcerias público-privadas, as ditas PPPs. Para fins desse texto, vamos nos deter na última e pretendemos voltar à baila com a primeira temática em tempo hábil e oportuno. A sigla PPP que reconhecemos e damos âmbito e valor é bem diferente: nada relacionadas à ideia de privatização e mercantilização da Educação, mas pelo contrário remete àquela força-motriz que está no âmago da escola democrática, a do projeto político-pedagógico autônomo e construído histórica e socialmente. É com base nesse princípio e conquista do conjunto do movimento educacional que podemos e devemos fazer a contraposição e enfrentamento a essa excrescência civilizatória que representam as PPPs sob a direção e hegemonia do neoliberalismo. Aqui se prevê uma passagem pura e simples de estruturas s funcionamento de escolas da rede pública estadual para a gestão - leia-se exploração e lucratividade - por parte de empresas privadas. Sequer se cogita a construção de novas escolas sob algum regime especial de concessão, é entrega oura e simples de patrimônio predial e gestão funcional dos educandários. É preâmbulo de uma privatização ainda mais aguda e completa: a da docência e do modelo pedagógico, alinhando a escola, os educadores e educandos à um projeto intencionalmente pobre e precário em seus métodos, processos e objetivos, cujas finalidades se conectam à dominação e doutrinação no terreno mental e ideológico e à preparação de mão-de-obra minimamente treinada, obediente e resignada para um mundo do trabalho desregularizado, turbulento e intermitente. Sob as premissas das PPPs da mercancia a educação pública como Direito e Dever constitucionais, com os respectivos acessos, oportunidades e responsabilidades, se esvai em sangria desatada. É importante sublinhar que tal fenômeno não é algo isolado ou extemporâneo, mas sim se serve num movimento geral e concatenado envolvendo diversos entes estatais, sociais e políticos e que na conjuntura atual se articulam para confrontar as experiências e iniciativas que se fundamentam em outros propósitos e compromissos. O caso do Rio Grande do Sul do Governador Eduardo Leite, uma espécie de Átila das privatizações, está articulado com aquilo em curso em outros estados, notadamente com o Paraná de Ratinho Júnior, com São Paulo de Tarcísio ou as Minas Gerais de Zema. Portanto, não é algo fortuito, é projeto de sociedade e de poder, de presente e de futuros. Reafirmamos e reivindicamos: PPP para nós só serve a de um tipo, a que institui o primado da democracia, da cidadania, dos direitos e deveres humanos e sociais, da sustentabilidade ambiental e da promoção da razão, da ciência e da humanidade como fatores de desenvolvimento, emancipação e liberdades. Não à privatização das escolas públicas estaduais do Rio Grande do Sul, Educação não é mercadoria, Pessoas não são coisas! *Diretor do Cpers, da CNTE e da CTB Foto:  Divulgação Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.    

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NOVA COONLINE 48, COM JUCA KFOURI

Curtas

NOVA COONLINE 48, COM JUCA KFOURI
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Por JOSÉ ANTÔNIO VIEIRA DA CUNHA* Os jogos de apostas desenfreadas, os patrocínios aos clubes feitos por bets irregulares, que inclusive contaminam a mídia esportiva, mais a cartolagem corrupta, eis aí um coquetel perfeito para prejudicar o futebol brasileiro, na leitura do jornalista Juca Kfouri. Em uma rica conversa com o grupo virtual Nova Coonline, integrado por 25 jornalistas residentes em diferentes estados, o jornalista esportivo discorre também sobre o momento do jornalismo e a necessidade de regulação das mídias e das plataformas digitais. Ácido crítico da influência das casas de apostas no esporte brasileiro, o jornalista disse lamentar que 100% dos programas esportivos e 80% dos jornalistas desta área são hoje patrocinados pelas bets. Ele questiona, sem rodeios: “O Galvão Bueno precisa ser garoto propaganda de casa de apostas? O Renato Portalupi precisa ser garoto propaganda de casa de postas? Não percebem o quanto isso põe em risco a credibilidade deles?” Kfouri considera o descontrole das casas de apostas uma verdadeira farra de boi, mas não acredita que vá continuar por muito tempo. O problema maior, salienta, “é a manipulação de resultados, o que não está acontecendo só no futebol”. Colunista do UOL e da Folha de S. Paulo, Kfouri disse lamentar que, com a expulsão nos estádios dos excluídos, “não temos mais torcedores, temos clientes, e o marketing dos clubes se orgulha muito disso”. Para ele, é necessário mudar o modelo de negócio adotado pelos clubes em geral, pois “não sabem tratar, usufruir desta paixão dos torcedores e transformá-la em recursos financeiros”. Kfouri também conversou sobre a regulamentação das mídias, debate que considera estar em um estágio muito equivocado no Brasil, a ponto de classificá-lo como uma discussão absurda. “Hoje as grandes empresas de jornalismo precisam de regulação, senão o Google come pela perna, o Facebook come pela perna, o Musk come pela perna. Então, trata-se agora de uma defesa nacional, quando antes isso era considerado censura. E, no seu entender, esta regulação da mídia deve ser feita pela sociedade, não pelo governo, “pois a sociedade tem o direito de ter uma defesa contra a mentira”. Em certo momento do encontro, o profissional comenta porque não quer atuar na política e explica por que abriu mão de fazer as biografias de Pelé e do Dr. Sócrates. No enceramento da conversa com o grupo de jornalistas de origem gaúcha, Juca Kfouri fez questão de homenagear profissionais oriundos do Rio Grande do Sul “que fazem parte da minha vida”. Entre eles, citou Divino Fonseca, J. B. Scalco, Ruy Carlos Ostermann, João Saldanha, Luis Fernando Verissino, Paulo Santana e Jorge Escosteguy. https://youtu.be/8AZTyBOOvcU?si=sxrone-A-QjnKXNq Foto: Imagem de arquivo pessoal Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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