Opinião
Bento Gonçalves e o uso do trabalho escravo
Bento Gonçalves e o uso do trabalho escravo
De ROGÉRIO PORTO*
No último sábado foi publicada manifestação sobre a utilização de trabalho escravo por parte de vinícolas e uma cooperativa vitivinícola, de Bento Gonçalves.
O fato em si é profundamente lamentável (e criminoso), mas a forma como foi feita a manifestação envolve toda a comunidade de Bento Gonçalves, toda a colonização italiana e todo o agronegócio, ao vincular o vereador, que fez uma declaração injustificável, com este setor.
A colonização italiana se consolidou a partir de 1874 no estado, e a vitivinicultura foi adquirindo tamanha importância na economia do Rio Grande do Sul que, já em 1899, importou 20.000 bacelos do Uruguai e criou o 1º Laboratório Enológico Riograndense. Este vinculado à 1ª Estação Agronômica Experimental do Rio Grande do Sul, criada no ano anterior, para o qual foram importados bacelos da Itália, distribuídos para vários municípios, incluindo Caxias do Sul e Bento Gonçalves.
A produção vitivinícola continuou atendendo os mercados local, nacional e internacional, até entrar em violenta crise ao final dos anos 70, início dos anos 80.
A atividade se recupera a partir das iniciativas de Cooperativas e vinícolas familiares, hoje de nível industrial, da
região da Serra Nordeste, especialmente de Bento Gonçalves, Garibaldi e Farroupilha.
Bento Gonçalves, desde os primórdios, e graças a oferta abundante de madeira de lei e de araucárias da Mata Atlântica, se transformou no maior polo moveleiro do Rio Grande do Sul e, em determinado momento, talvez do Brasil.
Caxias é o nosso maior polo metal-mecânico.
Além disso, Bento criou um polo de turismo apoiado na cultura italiana, graças ao apoio do Hotel Dall’Onder e às iniciativas do Tarcísio Michelon, e na vitivinicultura, também em função dos já citados e do empreendedorismo de inúmeros empresários do setor, do que o Vale dos Vinhedos é um belo exemplo, recebendo mais de 500.000 visitantes-ano.
O empreendedorismo da região é tão fantástico que ao final dos anos 90, início dos anos 2000, foi desenvolvido um projeto de desenvolvimento do agro turismo, numa iniciativa da Associação de Turismo da Serra Nordeste (ATUASERRA) com o apoio do Sebrae, que aportou, na época, U$ 1.380.000 (um milhão e trezentos e oitenta mil dólares), representado o maior investimento da instituição em todo o Brasil num único projeto. Ao final de dois
anos, tinham sido criadas 1.400 novas empresas vinculadas ao agro turismo, passando a representar o menor investimento por empresa criada, apoiado pelo SEBRAE em todo o Brasil.
Finalmente, vincular uma declaração injustificável de um vereador de Bento ao agronegócio, como ele tivesse feito essa manifestação em nome do setor, é inaceitável e desconhece a contribuição do mesmo ao Rio Grande do Sul e ao Brasil.
O agronegócio representa em torno de 40% do PIB do Estado e muito mais que isso no volume de recursos aportados, desde o exterior, para a nossa economia, através de suas exportações.
A dinâmica de toda a demanda de bens e serviços urbanos depende, em grande parte, do comportamento do agronegócio.
Em suma, esse setor não pode ser espezinhado e menosprezado pelo posicionamento ideológico de alguns de seus membros.
*Geólogo, professor universitário e consultor.
Imagem em Pixabay.
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