Crônica

Sempre vale ouvir Churchill

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Sempre vale ouvir Churchill
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Por LÉA MARIA AARÃO REIS* Consta que brain rot, expressão usada pela primeira vez no século 19 por Henry Thoreau, foi eleita pelo dicionário Oxford como a expressão do ano de 2024. Define o cérebro embrutecido, o cérebro apodrecido ou podridão cerebral, em bom português. A palavra do ano define também ‘’dano mental causado pelo consumo excessivo de conteúdos superficiais e de baixa qualidade na internet, dificuldade de concentração e perda de criatividade’’. O uso do termo cresceu 230%, entre 2023 e 2024, e designa quem usa e assiste conteúdos viciantes apresentados nas redes sociais. A série de quatro episódios, Churchill em guerra, atualmente incluída à rede de estreias no streaming para assistir durante o recesso das férias de fim de ano, parece ser dirigida se não aos brain rots no seu geral, mas aos mais jovens e aos mais viciados em consumo de internet. Apesar de conter algumas informações interessantes, produzida por Sara Enright e dirigida pelo fotógrafo inglês Malcolm Venville, de 62 anos, pretende apresentar o legado deixado por Churchill relativo às suas ações decisivas durante a Segunda Guerra Mundial. Sua energia, a formidável auto – confiança de Churchill, a inteligência, intuição e a percepção afiada da sua alma postas à prova duramente durante a tempestade desferida pelo ataque de Hitler à Europa continental. Nessa série, a blitzkrieg - como ficou conhecida a guerra-relâmpago aérea desfechada pelos alemães sobre a Grã-Bretanha; uma blitz - é um dos principais temas. Assim como a ênfase na liderança do primeiro ministro britânico acompanhando e encorajando a resistência do seu povo. O trabalho se vale da inteligência artificial, de restaurações digitais e de colorizações de imagens históricas, de época, e originalmente em preto-branco, para atualizar e atrair em particular os espectadores jovens e mais suscetíveis ao embrutecimento cerebral. Há quem ache que, com a restauração, ‘’tudo parece mais assustador, próximo e humano, como se o passado recebesse uma injeção de vida’’. Tenho dúvidas quanto a esse resultado. Inclusive porque as sequências em que foi usado um ator medíocre fazendo o papel de Churchill não são boas. Não funcionam. Na sua essência, os arquivos selecionados para o seriado não contêm muito de novo. Mas há registros curiosos comentando a trajetória e a notável ação de Winston Churchill a partir da entrada da Grã-Bretanha na guerra de defesa contra Hitler. Por exemplo: a sua convivência, necessária e sem alternativa, com Franklin Delano Roosevelt e, em seguida, com Joseph Stalin. Três egos gigantescos em aliança, Harry Truman aí incluído, embora menos, após a morte de Roosevelt. Uma das grandes e conhecidas habilidades de Churchill é reforçada nessa série. A sua descontração e naturalidade no contato com o povo, o talento notável como negociador político, e os traços do retrato do grande e autêntico líder que se sentia inteiramente à vontade no meio das multidões, falando e incentivando as massas. “Política’’, dizia o primeiro ministro britânico, um autor de frases históricas, ‘’ é quase tão excitante quanto a guerra, e quase tão perigosa. Na guerra você é morto uma vez; em política, várias vezes.” Vê-se Churchill se mantendo reservado e concentrado nas reuniões tête à tête, cara a cara e olho no olho com o companheiro Roosevelt arredio, que hesitava entrar na guerra, sempre preocupado com os formidáveis custos financeiros que pesariam sobre o seu país caso os Estados Unidos se aliassem aos ingleses na Segunda Guerra Mundial. Um Churchill desconfiado, mas educado e cerimonioso, acompanhado do seu sempiterno charuto e se referindo às habituais doses de bebida alcoólica que consumia, quando encontrava com a águia comunista, Stalin. Este, perscrutando e avaliando com cuidado como seria o futuro da União Soviética no caso de vitória que vislumbrava para o seu campo, ao término do conflito. Mas Churchill at war não detalha e apenas menciona, por exemplo, a importante derrocada dos ingleses na costa de Calais, em Dunquerque. Silencia sobre a vitória dos russos no sangrento confronto da cidade de Stalingrado sitiada, fundamental para mudar o rumo da guerra, em 1942/43. E não tem uma palavra sobre a entrada do exército soviético em Berlim e a rendição dos nazistas aos exércitos russos. Pior: tem o mau gosto de trazer depoimentos e observações (!) do ex-presidente George Bush e do ex - primeiro ministro britânico Boris Johnson, personagens pequenos que nada têm a ver com os três brilhantes protagonistas históricos. A série, produzida por Ron Howard e Brian Grazer, autores dos premiados Apollo 13 e Uma Mente Brilhante, repetimos, parece se propor atingir as gerações formadas diante das telas de computadores, tablets, telefones celulares e dispositivos desse tipo. Mas mesmo assim vale a pena assisti-la. Os quatro episódios de Churchill em guerra são esses, uma hora de duração cada um : A aproximação da tempestade, A sua hora mais gloriosa, O dia do destino e Depois da tempestade. São o pano de fundo para a era do fim do Império Britânico e começo da era nuclear. Em resumo, vale a pena ouvir, mais uma vez, o apelo de Churchill aos seus conterrâneos para resistirem aos nazistas. Embora só pudesse oferecer-lhes naquele momento, ‘sangue, suor e lágrimas’’ Cada um deles com uma hora de Sara mais gloriosa.       *Léa Maria Aarão Reis é jornalista. Ilustração de capa: Divulgação/ Netflix Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.    

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Nós, os “faMELOnários”

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Nós, os “faMELOnários”
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Por FABIO DAL MOLIN* “O líder carismático obsceno é, portanto, o “retorno do reprimido” do conhecimento especializado que pretende agir sem apoio numa figura do mestre: o Mestre reprimido (a autoridade que personifica a Lei) retorna em sua forma (quase, não exatamente) psicótica, como um Mestre obsceno sem lei. O Mestre está aqui “superpresente”: não se reduz à sua dignidade simbólica, representa a autoridade com todas as suas idiossincrasias. E o que acontece com o conhecimento com a ascensão do Mestre obsceno? Como podemos ver abundantemente, o conhecimento especializado neutro é transformado no seu oposto (imanente), o conhecimento “especial” das teorias da conspiração acessíveis apenas aos iniciados (o aquecimento global é uma farsa, a pandemia da covid-19 foi inventada por aparelhos estatais e corporações médicas…).’ Zizek, Slavoj. Mais-gozar: Um guia para os não perplexos (Portuguese Edition) (p. 329). Editora Vozes. Edição do Kindle. O filósofo esloveno Slavoj Zizek. em seu último livro publicado “Mais Gozar”, que trata da potência libidinal e fantasistica daquilo que nossa sociedade constrói e chama de “realidade”. A partir de Marx, Hegel, Freud e Lacan, Zizek produz importantes insights sobre as noções de existência e crença como organizadores da vida psíquica, e entre elas está a ideia de Significante Mestre, de Lacan, que é uma espécie de substância organizadora que permeia e dá anteparo a nossa segurança ontológica. São importantes suportes de segurança ontológica noções abstratas, mas quase tangíveis, de verdade, ciência, saber, lei, ou mesmo a própria ideia de existência. Certa vez um paciente que se dizia muito religioso por frequentar sistematicamente uma igreja, mas que eu desconfiava não ter muita fé me perguntou “você acredita em Deus”? Assim, de relance, no suporte da transferência, respondi como bom freudiano que sou, chistosamente, “eu acho que Deus existe, mas não acredito nele”. O chiste me rendeu boas reflexões sobre o Grande Outro que, ao mesmo tempo que nos organiza, permite uma certa transgressão deslizante. Em seu livro Zizek analisa Ragnar Lothbrock, o icônico personagem histórico da série “Vikings”, que, mesmo sendo o grande líder de uma nação totalmente imbuída de uma crença quase real nos seus deuses, sem a qual jamais empreenderiam suas batalhas e viagens suicidas, se confessa ateu. Para o filósofo, essa lacuna, contrariamente ao senso comum, é o que faz lastro para a realidade, como quando vamos ao cinema , apesar de sabermos que tudo ali são montagens e efeitos especiais, nos emocionamos, ficamos com asco, raiva ou aceitamos o fato de um super-herói voar ou ser invulnerável. Assim como a realidade do cinema precisa de uma tela de enquadramento, nossa realidade psíquica também necessita de contornos permeáveis, do contrário não saberíamos a diferença entre o sonho e a realidade, ou acreditaríamos que podemos voar como os super-heróis. Bem, é claro que esse delicado sistema de anteparo pode entrar em colapso quando esse Grande Outro perde sua força, e muitos signatários da psicanálise acreditam que nossa sociedade contemporânea complexa, heterogênea e em decadência esteja passando por aquilo que é chamado de “declínio da função paterna”. È importante fazer aqui a observação de que tal expressão guarda resquícios da velha psicanálise surgida em um período em que a ciência era totalmente amalgamada com a sociedade patriarcal. Maas sem dúvida, abrindo mão da ideia de “pai”, podemos manter a potência analítica a ideia de princípios organizadores que nos ajudam a não sucumbir a loucura e ao caos social que hoje realmente estejam em falta especialmente no mundo digital pós 2014, o que já chamei em outros textos de “O mundo de 2020”, onde enormes contingentes humanos acreditam que a Terra é plana ou não escutaram os apelos da ciência em uma das maiores crises sanitárias dos últimos séculos simplesmente por receberem informações de múltiplas realidades paralelas e coexistentes que, dentro do caos da internet e do declínio neoliberal de instituições como a escola, a ciência ou o próprio estatuto da verdade (que é questionada pela filosofia mas sob critérios sólidos). Zizek usa o exemplo da série islandesa “Katla” (Netflix). O roteiro da série se passa em uma comunidade isolada pela erupção de um vulcão dentro de uma geleira, e os poucos remanescentes vivem em um ambiente degradado e sem esperança. Repentinamente a cidade começa a receber a visita de alguns de seus moradores, alguns já mortos há algum tempo, outros como versões distintas de si mesmos. A série tem como referência a obra de ficção científica “Solaris” de Stanislaw Lem filmada por Tarkowsky. Dentro do vulcão há um meteoro cuja radioatividade torna materiais as fantasias dos habitantes expostos a ela. Segundo Zizek, o argumento da série trata dessa ascensão de um Mestre obsceno, que converte as fantasias íntimas e inconfessáveis dos moradores não mais em anteparos simbólicos e sim em figuras reais de gozo possível ( o gozo, neste paradigma, representa nossa própria fruição com a realidade, que é sempre parcial ou impossível).A fratura produzida pelo vulcão (que sempre esteve ali, não é uma anomalia) transforma a fantasia em percepção, a realidade sem anteparo da psicose. Pois todos sabemos que o mundo, especialmente o Brasil, e especificamente a cidade de Porto Alegre, de certa forma experimentou na última década a explosão de uma realidade bifurcada e em 2024 o estado do RS e minha cidade passaram por um período de erupção do vulcão ontológico, e dois sintomas tragicômicos emergiram no primeiro dia de 2025. O primeiro fato aconteceu logo após saírem o resultado da Mega-Sena da virada, cujo prêmio pagou mais de 600 milhões de reais. O plantão das enfermeiras de um hospital na região metropolitana de Porto Alegre foi interrompido pela notícia de que uma delas havia acertado as seis dezenas do concurso. Uma das médicas do plantão filmou o momento exato da festa, que viralizou na internet porque a suposta ganhadora, que abandonou o plantão e foi para casa planejar os próximos dias de sua vida de milionária (que, segundo ela mesma, começaria com uma viagem para Paris) recebeu a notícia do irmão que tudo não passou de um engano, pois ela conferira os resultados como um bingo, e as seis dezenas que supostamente acertara estavam distribuídas em cartões diferentes. Confesso que ri sadicamente da tragédia alheia, mas também masoquisticamente porque eu mesmo já depositei uma gorda soma de dinheiro na conta de um golpista do whatsapp que se fez passar pelo meu irmão, e tive que suportar a vergonha de cair em um golpe ridículo. Mesmo tendo achado engraçado eu tive pena da pobre mulher que (junto com suas colegas ) entrou momentaneamente em uma realidade onde não mais faria plantões cansativos e venderia sua força de trabalho por um salário injusto, viajaria para Paris e não calcularia a cotação do Euro ou veria o preço do Menu dos restaurantes. E isso nos leva a Porto Alegre, cidade suja e destruída por uma sequência de administrações sujeitas a exploração comercial e imobiliária, que chegou a sua erupção vulcânica na enchente de 2024 e entrou na mesma realidade bifurcada da enfermeira ao rejeitar Maria do Rosário e reeleger com folga Sebastião Melo. Pois a prefeitura celebraria no dia 01 dois eventos: a reeleição de Melo e a reabertura da Usina do Gasômetro, antigo e emblemático espaço cultural da cidade agora “revitalizado” e que será mantido por “parceirizações” com empresas que, como sempre financiaram a campanha eleitoral . Sebastião Melo circula na administração popular há 20 anos e em seu discurso de posse diz que no primeiro mandato estava apenas aprendendo. Por mais uma ironia cósmica do destino, a “máquina id” de Solaris e Katla, o planeta pulsante ou a erupção vulcânica radioativa, a posse do prefeito foi marcada por mais um alagamento com falta de luz que provocou seu cancelamento. Na posse da nova legislatura da Câmara de vereadores Melo produziu a sua própria realidade bifurcada típica dos seus apoiadores bolsonaristas. Na iminência de mais uma tragédia ambiental um discurso fora de contexto onde defendeu o direito de liberdade de expressão para defender a ditadura. Junto com a posse da fascista Comandante Nádia como presidente da Câmara depois de demonstração de compra de sentença judicial ( a vereadora cometeu crime eleitoral na campanha em um processo onde o próprio governador Leite foi testemunha o discurso de Melo é um aceno de agradecimento a seus chefes e principais apoiadores políticos, e também um sintoma tragicômico de que o discurso do Mestre Obsceno invadiu Porto Alegre, onde o lixo, as ruas alagadas, a proliferação de moradores de rua e a degradação ambiental quase o elegeram em primeiro turno. E aí meus amigos do Facebook que não moram aqui exclamam “ bem feito para os idiotas que votaram nele”. Isso me lembrou duas cenas. A primeira é do filme da Marvel “Guardiões da Galáxia” onde o personagem Rocket, diante da vitória iminente do vilão pergunta “quem se importa com essa maldita galáxia, ela que se dane”, e Star Lord responde “eu me importo porque eu sou um dos idiotas que vive nela”. A outra é do famoso livro de Freud “Os chistes e sua relação com o inconsciente”, a famosa anedota em que o personagem pobre se encontra com o ricaço e relata: “Rothschild me tratou como um igual, de modo bem 'familionário'". Aqui vale a máxima de Freud de que o chiste nos salva da realidade alucinatória cruel. Aqui estamos nós, moradores de Porto Alegre, alagados, falidos, sem luz e comemorando, verdadeiros “FaMELOnários”.       *Fabio Dal Molin é psicólogo, psicanalista, doutor em sociologia, professor da FURG e pós-doutorando do Programa de Pós-graduação em Psicanálise, Clínica e Cultura da UFRGS. Foto de capa: Divulgação/ César Lopes Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.      

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Nota de repúdio às declarações antidemocráticas do prefeito Sebastião Melo

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Nota de repúdio às declarações antidemocráticas do prefeito Sebastião Melo
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O Comitê em Defesa da Democracia e do Estado Democrático de Direito manifesta seu mais veemente repúdio às declarações antidemocráticas do prefeito Sebastião Melo durante a cerimônia de posse, no dia 1º de janeiro. O prefeito cai em clara contradição ao considerar que a defesa da ditadura deve ser aceita em nome do princípio da “liberdade de expressão”, pois eliminá-la é exatamente um princípio básico da ditadura. Ao contrário, para garantir a liberdade de expressão, a democracia jamais pode permitir o pretenso direito daqueles que pregam sua eliminação. Ao apoiar a liberdade de defesa da ditadura, o prefeito também ignora toda a repressão social e política e os horrores de um regime que violou de forma criminosa direitos humanos em nosso país. Tais declarações antidemocráticas são ainda mais graves por ocorrerem no momento em que o Brasil se aproxima do aniversário de um dos episódios mais sombrios de sua história recente: os ataques aos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023. Ao banalizar atos antidemocráticos e minimizar a violência política de forças de extrema-direita que defendem a ditadura, o prefeito incentiva o desrespeito ao estado democrático de direito, enviando um perigoso recado à sociedade e cometendo crime, que deve ser punido nos termos da legislação vigente. O Comitê em Defesa da Democracia e do Estado Democrático de Direito reafirma seu compromisso inabalável com os valores democráticos e conclama todas as lideranças sociais e políticas a rejeitarem discursos que flertem com o autoritarismo ou que justifiquem atos que atentem contra as instituições democráticas. Porto Alegre, 2 de janeiro de 2025 Comitê em Defesa da Democracia e do Estado Democrático de Direito

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Desperdícios II

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Desperdícios II
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Por ADELI SELL* Sou obrigado, neste inicio de 2025, voltar novamente minha indignação com respeito ao desperdício, em especial de alimentos. No mundo ainda passam fome 733 milhões de seres humanos. Este número assustador se mantém há anos. No Brasil, mesmo com uma diminuição de quase 7% ainda há 14 milhões de famintos. O desperdicio de alimentos é um elemento fomentador da insegurança alimentar no mundo e talvez os dados reais do Brasil sejam mais alarmantes. Não se trata apenas dos casos que citei no primeiro artigo, como os grãos perdidos da lavoura até seu destino. A comida que é jogada no lixo nas casas e nos restaurantes, é uma série de outras questões como olhar o alimento pela aparência, deixar de ir com mais frequência ao mercado, cuidar da validade, não aproveitar promoções. O reaproveitamento das sobras poderia gerar novas receitas, quem negaria um bom bolinho de arroz, com algum condimento a mais? Lembrando que dois pratos nossos como a feijoada e o mocotó são feitos do que se riam "restos". No Rio Grande do Sul tudo é pior, pois desde os tempos de prear gado, se aproveitava o couro e o resto era alimento para os corvos. Quem faz compostagem? Quem usa para adubar? Alimentar animais? Mais fácil é ir tudo para o lixão. Neste sentido, os catadores por sua vez na busca pelos resíduos sólidos cumprem uma função que não acontece com o lixo orgânico. Eu já disse e repito: quanto tempo vsmos conviver com isso? E lembrei que nas eleições este tema não frequentou a plataforma dos candidatos. Mais um recado dado, agora vamos aos leitores.     Leia também Desperdícios. *Adeli Sell é professor, escritor e bacharel em Direito. Foto de capa: Reprodução/Instituto Cidade Amiga    Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.      

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Cenários para a disputa de 2026 ao Palácio Piratini

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Cenários para a disputa de 2026 ao Palácio Piratini
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Por CARLOS EDUARDO BELLINI BORENSTEIN* Faltando mais de um ano e meio para as eleições ao Palácio Piratini, temos hoje três campos estabelecidos no tabuleiro: 1) o centro, que será representado pelo candidato do governo Eduardo Leite (PSDB); 2) o bolsonarismo; e 3) a esquerda, que será liderada pelo PT. Reeleito em 2022, o governador Eduardo Leite (PSDB) tem seu futuro político indefinido. Embora seu nome continue sendo ventilado como um potencial pré-candidato ao Palácio do Planalto, a possibilidade de Leite viabilizar uma candidatura presidencial é complexa. Outra opção seria Eduardo Leite concorrer ao Senado. No entanto, o governador ainda não dá sinais se buscará um mandato de senador. Leite também poderá não concorrer a nenhum cargo público nas eleições de 2026. Do futuro de Eduardo Leite dependerá o destino da aliança PSDB e MDB, construída em 2022 em torno de Leite e do vice-governador Gabriel Souza (MDB). Embora Gabriel desponte como um pré-candidato ao Palácio Piratini, o MDB está dividido. A reeleição do prefeito de Porto Alegre (RS), Sebastião Melo (MDB), com mais de 61% dos votos válidos, fortaleceu os segmentos mais à direita do MDB gaúcho. Mesmo que Melo tenha prometido que será prefeito nos próximos quatro anos, uma eventual renúncia para concorrer a governador não deve ser descartada. Vale recordar que Tarso Genro (PT), em 2002; e José Fogaça (PMDB), em 2010 renunciaram ao comando da capital gaúcha para disputar o Palácio Piratini. Porém, para se viabilizar no MDB, Sebastião Melo teria que enfrentar internamente Gabriel Souza. Outra incógnita envolve o PSDB. Comandando o Piratini desde 2019, e sendo o Rio Grande do Sul (RS) um dos poucos estados onde os tucanos tiveram um resultado positivo nas últimas eleições, poderá levar o partido a não abrir mão da candidatura própria. Caso este seja o caminho, o nome mais forte seria o da prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas (PSDB). Neste complexo jogo também poderá entrar na agenda uma eventual fusão do PSDB com outras legendas, assim como uma mudança de partido por parte de Eduardo Leite. Uma ida, por exemplo, ao PSD não deve ser descartada. Caso isso ocorra, haveria impactos importantes na política gaúcha. O cenário também é marcado por indefinições no bolsonarismo. O forte crescimento do PL nas eleições municipais – o partido elegeu 37 prefeitos, avançando nos grandes centros urbanos do Estado, faz com que o PL seja novamente protagonista em 2026. No pleito de 2022, o ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL) chegou ao segundo turno, mas foi derrotado por Eduardo Leite. Hoje, além de Onyx, o deputado federal Luciano Zucco (PL) também aparece como uma possível alternativa. Também não devemos descartar uma eventual troca de Sebastião Melo do MDB pelo PL para concorrer a governador, embora essa possibilidade seja improvável neste momento. Outra indefinição envolve o PP. No pleito de 2022, o partido teve candidatura própria, com o senador Luiz Carlos Heinze. O que fará o PP em 2026? Terá uma aliança com o candidato de Leite? Uma composição com o bolsonarismo? Ou a apostará novamente em uma candidatura própria? No campo da esquerda, também há dúvidas. O mais provável hoje é que o presidente da Conab, Edegar Pretto (PT) concorra novamente ao Palácio Piratini, com o ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta (PT), disputando o Senado. Porém, uma eventual candidatura de Pimenta a governador não deve ser descartada. Outra incógnita é a capacidade do PT gaúcho em construir alianças para além do PCdoB e PSOL. Embora o PSB deva apoiar a candidatura petista em 2026, um acordo com o PDT parece improvável. Basta recordar que PT e PDT nunca estiveram juntos já no primeiro turno nos pleitos para governador. Partidos mais ao centro como o PSD e o União Brasil também estão distantes de uma aliança formal com o PT neste momento. Nas últimas duas eleições ao Palácio Piratini, o PT não conseguiu chegar ao segundo turno, sendo precocemente derrotado no primeiro turno. Os resultados de 2018 e 2022 mostraram uma alteração no padrão de competição entre um campo de esquerda/centro-esquerda contra outro de direita/centro-direita. Caso PSDB e MDB estejam unidos em 2026 e o PT continue isolado à esquerda, sem construir alianças ao centro, uma nova derrota em primeiro turno poderá acontecer, com o segundo turno sendo disputado entre uma alternativa que represente o governo Leite contra o bolsonarismo, repetindo o que ocorreu em 2022. Porém, caso Sebastião Melo seja o candidato do MDB ao Piratini, haveria uma reconfiguração do cenário da disputa. Nessa hipotética situação, Melo ocuparia o centro do espectro político, atrairia o bolsonarismo e parte expressiva da direita gaúcha, construindo uma robusta aliança de centro-direita, similar ao que ocorreu na disputa de outubro em Porto Alegre. Já se Sebastião Melo migrar para o PL para ser candidato a governador ou então a direita bolsonarista lançar uma candidatura própria, teríamos a repetição da disputa em três campos de 2022. Hoje o mais provável é que Melo somente faça o movimento de ser candidato a governador se isso for possível dentro do MDB. Por quê? Para ter candidato ao Piratini, Melo precisaria renunciar à Prefeitura de Porto Alegre, o que já traria desgaste. Se Melo também trocar de partido para concorrer a governador, isso significaria um duplo desgaste. Por outro lado, se a base de Eduardo Leite se fragmentar, com a aliança PSDB e MDB não sendo reeditada, o segundo turno poderá ser disputado entre o PT contra o bolsonarismo, espelhando o que se desenha no quadro nacional. Conforme podemos observar, a disputa de 2026 ao Palácio Piratini está em aberto e com muitas indefinições, tornando o pleito bastante complexo.     *Carlos Eduardo Bellini Borenstein, Doutorando em Ciência Política na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Bacharel em Ciência política (ULBRA-RS). Especialista em Ciência Política (UFRGS). Tem MBA em Marketing Político (Universidade Cândido Mendes). Analista político da Arko Advice pesquisas. Foto de capa: Gustavo Mansur/Palacio Piratini Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.  

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Sobre a prisão de Bolsonaro

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Sobre a prisão de Bolsonaro
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  Por LISZT VIEIRA* O inquérito da Polícia Federal sobre a insurreição de 8/1/2023 já reuniu provas suficientes para que o STF decrete a prisão preventiva de Bolsonaro. No entanto, o Ministro Alexandre de Moraes preferiu não decretar a prisão preventiva. Ao que consta, ele preferiu esperar a apresentação de provas irrefutáveis e esmagadoras para impedir ou pelo menos contrabalançar eventuais manifestações de rua dos bolsonaristas em apoio de seu líder. Se isso for mesmo verdade, temos pela frente um problema. É que o tempo corre a favor de Bolsonaro e contra todos nós. Ninguém sabe bem o que Trump vai fazer. Tudo é possível, mas não podemos ignorar os cenários mais pessimistas. Preocupado com a Guerra da Ucrânia, que prometeu acabar, e com a guerra de Israel no Oriente Médio, que prometeu apoiar ainda mais, Trump pode ignorar o Brasil e a América Latina durante um bom tempo. Mas pode também, desde logo, apoiar tentativas de golpe militar na região. Isso é apenas uma hipótese, mas uma hipótese que não pode ser abandonada a priori. Todos sabemos que o golpe militar no Brasil estava preparado e só não foi consumado porque o Alto Comando não apoiou. E não apoiou principalmente porque o presidente Biden enviou diversos diplomatas ao Brasil para dar recado aos militares: Nada de golpe! Ele não tinha interesse em ver como ditador do Brasil um aliado de Trump, seu adversário. Assim, se o novo governo americano decidir apoiar as tentativas de golpe na América Latina – o que não seria nenhuma novidade – pode também ameaçar o Brasil se Bolsonaro vier a ser preso. Há quem diga que isso é improvável. Admito. Improvável, mas não impossível. Trump é imprevisível. Assim, quanto antes Bolsonaro vier a ser preso, melhor. Sua prisão contribuirá para inibir eventuais tentativas futuras de golpe militar, uma espada de Dâmocles sempre pendente sobre a democracia no Brasil. Como disse acima, o tempo corre contra nós.     *Ļiszt Vieira é integrante da Coordenação Política e Conselho Editorial do Fórum 21 e do Conselho Consultivo da Associação Alternativa Terrazul. Foi Coordenador do Fórum Global da Conferência Rio 92, secretário de Meio Ambiente do Estado do Rio de Janeiro (2002) e presidente do Jardim Botânico fluminense (2003 a 2013). É sociólogo e professor aposentado pela PUC-RIO.   Foto de capa: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia

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