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Especialistas alertam que incêndios em vegetação são, em geral, intencionais.

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Especialistas alertam que incêndios em vegetação são, em geral, intencionais.
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Embora a seca intensifique os incêndios, a principal causa são queimadas intencionais para limpar áreas desmatadas Especialistas ressaltam que, embora o clima esteja extremamente propício à propagação do fogo, é necessária uma ação intencional para iniciar os incêndios. Mesmo em condições de seca e calor intensos, fontes acidentais, como bitucas de cigarro, cacos de vidro ou latas, têm impacto insignificante nas queimadas que destroem a fauna, a flora e afetam todo o Brasil. Christian Berlinck, especialista em ecologia do fogo do ICMBio, explica que para iniciar um incêndio é necessário um calor de aproximadamente 300°C. No entanto, medições indicam que cigarros raramente ultrapassam 150°C, e a maioria não chega a 100°C. Estudos conduzidos pelo grupo de Berlinck revelam que apenas um em cada 100 cigarros atinge uma temperatura suficiente para iniciar um pequeno foco de fogo. O mesmo ocorre com cacos de vidro e reflexos de latas, que em experimentos não ultrapassaram 100°C. Na Amazônia, os incêndios geralmente ocorrem em áreas desmatadas que foram "limpas" de troncos e galhos para grilagem ou expansão ilegal de propriedades rurais. Além disso, há casos em que o fogo é utilizado para evitar a fiscalização da extração ilegal de madeira. Em outros biomas, quando os incêndios não são ilegais, são moralmente questionáveis. Historicamente, o fogo tem sido utilizado para manejo de plantações, pastagens e queima de lixo, sendo a forma mais simples e econômica. No entanto, com o clima cada vez mais adverso, cientistas alertam há anos, sem sucesso, que essas práticas são inviáveis durante os períodos de seca, quando o fogo rapidamente se descontrola. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Amazônia e o Cerrado registraram aumentos de 98% e 100%, respectivamente, nos focos de calor em comparação ao ano passado. Na Mata Atlântica, o aumento foi de 124%. No entanto, o Pantanal apresentou um crescimento explosivo de 1.946%. Não é surpreendente que o Mato Grosso do Sul tenha o maior aumento percentual entre os estados brasileiros, com um crescimento de 669% em relação ao acumulado até este período de 2023. A Amazônia, por sua vez, tem a maior área queimada, com aproximadamente 5,7 milhões de hectares.   Irá cabar com tudo? Karla Longo destaca que, embora o problema esteja mais evidente e frequente agora, a poluição causada pela queimada de vegetação natural é uma questão que persiste há décadas. Nesta época do ano, a poluição nas cidades brasileiras está mais associada aos restos carbonizados de florestas, campos e pantanais do que às emissões de veículos e indústrias. Ela ressalta também que os danos à saúde causados pelo fogo são suportados pela população em todo o país.   Com informações de O Globo Foto: Agência Brasil/Marcelo Camargo      

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O presidente em seu labirinto

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O presidente em seu labirinto
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Por JEAN MARC VOM DER WEID* Introdução: Ao começar a escrever este artigo fui me dando conta de que o foco indicado no título estava errado ou, pelo menos, não devia ser prioritário neste momento. Queria, inicialmente, avaliar os problemas do presidente Lula na sua relação com o Congresso, mas a questão é mais ampla do que a crise permanente entre os dois poderes da República, neste governo. O problema não é conjuntural, embora existam agravantes específicos na relação entre Lula e, simbolicamente, Lira e Pacheco. O que está em jogo, e isto foi se instaurando paulatinamente, é a relação entre o Executivo e o Legislativo, permeada ainda pela relação deste último com o Judiciário. O que temos no presente é uma deformação estrutural no equilíbrio desejável entre os três poderes, em especial a apropriação indébita das funções do Executivo pelo Legislativo. Como chegamos a isso? Uma história tenebrosa. Olhando para a história das instituições, o poder Executivo sempre foi predominante no nosso presidencialismo hipertrofiado. Em particular, o Executivo sempre teve a responsabilidade de definir o Orçamento Federal. O predomínio do Executivo exacerbou-se durante os 21 anos de ditadura, que manteve sob controle os outros dois poderes, eventualmente intervindo na composição e na forma de atuação destes últimos. Esta extrema centralização do poder gerou na sociedade a necessidade de reequilibrar as forças, que se traduziu em uma forte redução do poder do Executivo na Constituinte de 1988. Não vou entrar nos detalhes da legislação então promulgada, mas apenas registrar que o Congresso passou a interferir pesadamente na definição do orçamento proposto pelo Executivo. Soma-se a esta nova distribuição de poderes um dado marcante na redemocratização: a pulverização dos partidos, fruto de anos de redução artificial da representação política em um bipartidarismo forçado, e a própria anulação do fazer político. Ao se tirar a tampa da panela de pressão com a revogação do Ato Institucional número dois, surgiram agremiações em profusão, em sua quase totalidade sem identidade programática e respondendo a composições de forças políticas locais que se somavam em partidos nacionais que eram pouco mais do que aglomerados oportunistas. Três exceções marcaram este período de reorganização partidária: o Partido dos Trabalhadores (PT), o Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB) e o Partido Democrático Trabalhista (PDT). Este último carregou uma mistura de adesões sem princípios, com definições programáticas de caráter nacionalista, muito centrado na figura de seu criador e líder carismático, Leonel Brizola. Os dois primeiros eram partidos com definições programáticas mais abrangentes, o primeiro mais à esquerda, exprimindo posições voltadas, sem muita precisão, à construção de um país socialista e o segundo mais voltado a um desenvolvimento econômico de caráter liberal, muito embora tivesse, inicialmente, pelo menos, posições reformistas do ponto de vista social. Não por acaso, o PSDB e o PT foram protagônicos ao longo de um largo período, de 1993 a 2016, disputando todas as eleições presidenciais. Também não por acaso, ambos os partidos não conseguiram eleger bancadas na Câmara e no Senado que dessem suporte coerente à execução dos programas de seus eleitos para a presidência da República. A fragmentação partidária não se manifestava apenas pelo número de partidos, mas também pelas inúmeras divisões internas em cada um. O maior deles, o PMDB, aglutinou antigos opositores ao regime militar oriundos de tudo quanto é nuance política, da direita (o clã Barbalho) ao centro-esquerda (Miguel Arraes), passando por políticos do centro democrático (Pedro Simon) e um grande número de fisiológicos que aderiram ao partido quando este foi para o governo Sarney. O sistema eleitoral herdado do regime militar e não alterado pela Constituinte privilegiou os políticos que se elegiam pelos chamados “rincões”. Em pequenos ou mais atrasados Estados, sobretudo do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, mas também em áreas rurais de outras regiões, o controle do eleitorado por oligarquias locais seguia vigente, como já fora antes no regime militar. E nestes Estados, o número de eleitores por deputado eleito era muito menor do que nos Estados mais populosos e desenvolvidos do Sudeste e do Sul. Este casuísmo eleitoral permitiu a dominância de políticos paroquiais, com “currais eleitorais” nos rincões. Nada disso faciliatava a formação de partidos com identidade política e programática nacionais. Nos seus 8 anos de governo, o presidente Fernando Henrique Cardoso teve que depender de alianças de partidos para poder governar com o apoio do Congresso. Isto gerou, entre os estudiosos da política, o conceito de “presidencialismo de coalizão”. FHC governou com um forte apoio de partidos menos definidos programaticamente, mas ideologicamente conservadores e identificados com o liberalismo, como o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e o Partido Frente Liberal (PFL). Estes partidos (e outros de menor expressão) não davam seu apoio a um programa do PSDB, mas buscavam um lugar ao sol nas benesses do poder. A distribuição de cargos e nomeações de parentes e apaniguados de deputados e senadores foi a moeda de troca para o apoio. O caso mais notório, porque exigia maioria de 2/3 do Congresso para aprovar um Projeto de Emenda Constitucional, foi a instituição da reeleição para cargos executivos. A compra de votos para assegurar a reeleição de FHC só não resultou em um processo judicial porque o controle dos instrumentos pelo executivo era forte. O PT, o PSB e o PDT ficaram clamando no deserto, denunciando a patifaria. Mas o mais importante é que se estabeleceu um precedente e os políticos fisiológicos de todos os lados começaram a lamber os beiços e afiar as garras. A eleição de Lula colocou o PT e os partidos que o apoiaram no segundo turno, PSB, PDT e PCdoB no governo, mas claramente não no poder. A maioria da Câmara e do Senado era de oposição conservadora, muito embora a vertente mais importante era a fisiológica e muitos estavam prontos a aderir; por um preço, é claro. A posteriori soube-se que o “primeiro-ministro” de Lula, José Dirceu, propôs a solução tucana para governar, chamando o PMDB e alguns partidos de centro direita para o governo, mas que Lula e o PT não toparam esta “compra de votos” no atacado. Esta proposta de frente de governo fazia sentido do ponto de vista pragmático, até porque o PT e o presidente Lula já tinham abandonado as propostas mais ousadas do programa da campanha antes mesmo da eleição, com o manifesto que ficou conhecido como “Carta aos brasileiros” e que poderia ser melhor intitulada como “Carta aos banqueiros”. A nomeação de Palocci (inspirador e provável autor da carta) como ministro da Fazenda e de alguns ministros ligados a setores econômicos fortes com apoio de bancadas importantes como Roberto Rodrigues e Luiz Fernando Furlan, vinculados ao agronegócio, mostravam uma intenção de buscar conciliar interesses de setores da classe dominante. Foi uma manobra mal concebida, pois mesmo com barretadas seguidas a estes setores, o reflexo no Congresso não era automático, faltava a mediação política. O governo Lula não teve dificuldades em aprovar seu primeiro projeto parlamentar importante, a Reforma da Previdência, já que o seu caráter de retrocesso de direitos era visto com simpatia pelo empresariado, pela mídia e pela maioria dos parlamentares. Para os setores mais à esquerda do PT, o choque foi grande e levou ao racha que criou o PSOL, mas o impacto foi mais aparente do que de fundo. O PT, inclusive várias de suas alas mais esquerdistas, entubou a crise, engoliu em seco e seguiu no governo, aceitando que era o preço a pagar para avançar com os programas sociais. Daí para frente foi preciso fazer mais para garantir os votos necessários ao governo. Foi quando surgiram os pagamentos dirigidos a alguns partidos e à deputados individualmente, que ficaram conhecidos como “mensalão”. Como o próprio presidente Lula admitiu mais tarde, o governo fez “o que todos fizeram antes”, ou seja, pagamentos a um “caixa dois”. Considerado um crime menor, esta forma de corrupção dos parlamentares, feita com recursos públicos, acabou gerando a primeira grande crise dos governos petistas, com direito a julgamento pelo Supremo Tribunal Federal, que condenou um punhado de deputados e, sobretudo, três personagens importantes do PT: José Dirceu, José Genoíno e o tesoureiro Delúbio Soares. A eleição de Dilma Roussef não foi acompanhada por uma melhoria na força parlamentar dos partidos de esquerda, que continuaram amplamente minoritários. O problema de governar em minoria parlamentar continuou presente e o modelo de compra de apoios manteve-se semelhante, só que em escala maior. Recursos da Petrobras e outras empresas estatais foram desviados em larga escala para comprar, não mais no varejo, mas no atacado, envolvendo partidos fisiológicos que abundavam no Congresso. A moeda de troca eram contratos das estatais com empreiteiras poderosas que, é claro, ganhavam, através de superfaturamentos de projetos, muito mais do que pagavam a partidos e congressistas individuais. Tudo isso explodiu no inquérito chamado de Lava Jato, amplamente explorado pela mídia para destruir o governo Dilma, que estava fortemente hostilizado pelo empresariado por suas orientações heterodoxas na economia. Apesar disto, Dilma se reelegeu (batendo o tucano Aécio Neves no fotochart) e teria completado o seu segundo mandato não fosse o rompimento com o personagem chave do fisiologismo, o presidente da Câmara Eduardo Cunha. Os parlamentares beneficiários da distribuição de benesses não teriam dado ouvidos ao clamor da mídia incensadora do nefando Sérgio Moro, se não tivesse havido o impasse entre Cunha e o PT e a decisão do primeiro de aderir ao golpe. Casuísmos legais (as chamadas “pedaladas fiscais”) e as articulações do vice- presidente Michel Temer, somados aos movimentos de massa da direita renascida nas manifestações de 2013 e a gritaria cínica da mídia (que não fez nada nem de longe parecido nos escândalos anteriores do Banrisul e outros) criaram o clima para a defenestração de Dilma. Os fisiológicos no Congresso farejaram o fim da era petista e completaram o quadro do impeachment da nossa primeira presidente. Dilma ainda tentou deter a debandada, cedendo à ofensiva parlamentar para ampliar o controle da execução do orçamento, tornando obrigatórias as emendas individuais e de bancada. Mas foi muito tarde. Não discuto aqui o cinismo de todos estes personagens, a começar pelo Moro, explorando e extrapolando um caso real de corrupção. Outros casos existiram antes sem este estardalhaço e desenlace, mas a composição das forças políticas e econômicas era outra e ignorou as manobras escusas de Sarney e FHC. Também foi outro o quadro político no impeachment de Collor, já que este não tinha oposição política nem ideológica nas classes dominantes ou na mídia. Collor cai por soberba, por tentar ser mais do que podia e sem fazer as concessões necessárias ao fisiologismo. Tentou pressionar o Congresso, apelando para o “povo”, mas não tinha base para tanto. Jânio Quadros já tinha pagado com o seu mandato uma jogada semelhante, mas a renúncia o livrou de um impeachment. Temer governou, no seu interregno, de acordo com banqueiros e empresários e fez um estrago nos direitos sindicais e trabalhistas e não teve problemas em arregimentar os partidos de direita para ter apoio no Congresso. Como ex-presidente da Câmara, ele era versado na arte de distribuir benesses. Apesar de flagrado em negociações de corrupção com o dono da JBS, ele livrou-se de qualquer percalço até deixar a presidência. O trauma do impeachment (o segundo em 15 anos) deu mais fôlego ao Congresso, em um movimento de empoderamento que foi num crescendo no governo do energúmeno, Jair Bolsonaro. Apesar de ter uma bancada de seguidores surpreendentemente forte nas eleições de 2018 embora espalhados em várias legendas. Bolsonaro não tinha um partido forte que o apoiasse e tentou governar através de alianças com grupos de interesse e ignorou os partidos. Queria governar com as bancadas BBB (Boi, Bala e Bíblia), suprapartidárias, mas estas só se uniam em seus interesses específicos. Tentou pressionar o Congresso, apelando diretamente a seus seguidores, mas teve mais derrotas que vitórias, fora a Reforma da Previdência. Com a queda vertiginosa de apoio na mídia convencional e uma crescente oposição à sua postura na pandemia, Bolsonaro acabou se entregando nas mãos de Artur Lira para não ser impichado e o empoderamento do Legislativo frente ao Executivo acelerou-se. Bolsonaro, apesar da forte e sinistra base parlamentar que dispunha, não encontrou eco para suas manobras golpistas. O instinto dos ratos deve ter acometido os fisiológicos que puderam sentir o cheiro de queimado. Entregar o poder ao candidato a ditador era dar um tiro no pé, deve ter calculado a maioria. Melhor um Lula enfraquecido no governo, passível de ser chantageado pela maioria parlamentar, do que um Bolsonaro com apoio militar e miliciano, disposto a assumir o poder total. E assim chegamos ao labirinto no seu formato atual. A que ponto chegamos! As emendas individuais dos parlamentares não são uma novidade, mas as regras da sua definição e liberação vêm sendo modificadas ao longo dos últimos 10 anos. Inicialmente os valores eram relativamente pequenos, condicionados a negociações com ministérios para definir escopo e prioridades e sujeitos à vontade do Executivo para serem liberados. E viraram moeda de troca para votações no Congresso. As emendas individuais, hoje, aumentaram muito em valor, tornaram-se impositivas e não passam mais por negociações sobre conteúdo e prioridades com o Executivo. Esta mudança, aparentemente, é de caráter democrático, já que igualava o acesso a todos os parlamentares, com os mesmos valores, anulando o balcão de negócios do executivo na sua relação com o Congresso. Na prática, no entanto, o efeito desta modalidade de peça orçamentária foi nefasto para o país. Não se trata mais do Congresso alterar a Lei Orçamentária Anual, direito assegurado na Constituição. O projeto orçamentário do Executivo responde a uma lógica macroeconômica e social inspirada em uma estratégia de desenvolvimento e um diagnóstico das carências maiores da população. As alterações introduzidas pelo congresso tem sido, frequentemente, uma série de casuísmos para privilegiar setores da economia e da população, pervertendo a matriz de programação oferecida pelo Executivo. Apesar disso, o escopo da LOA se mantém, mais ou menos aleijado, nacional. As emendas individuais (e as outras que analisaremos adiante) ferem o espírito do funcionamento do Executivo nacional, com uma crescente apropriação de recursos para projetos pulverizados, dirigidos para aplicação nas bases eleitorais de cada parlamentar, em temas e públicos escolhidos por eles. Os congressistas argumentam que eles conhecem melhor do que o executivo as necessidades do povo, mas a lógica dos projetos nas emendas sempre foi a visibilidade e sua conseguente apropriação eleitoral. E, não esqueçamos, a lógica de facilitar o financiamento de empresas executoras próximas aos proponentes. Alguns chamaram este desvio de “municipalização do orçamento”, mas o epíteto me parece incorreto. Um orçamento municipal trabalha, ou deveria trabalhar, em um escopo abrangendo a totalidade dos problemas da população que nele vive. Se elaborado com participação da vereança, ele traduz uma visão de diferentes setores que se expressam politicamente nas eleições locais. As emendas individuais não têm nada a ver com o orçamento municipal, mas com o interesse dos parlamentares que as definem. É uma extrema pulverização da utilização dos recursos. Por outro lado, a emenda individual tornou-se um poderoso instrumento de manipulação das eleições, com vantagens cada vez maiores para os que buscam reeleição em comparação com os outros candidatos. Estamos em pleno processo de formação de “currais eleitorais” de novo tipo e os parlamentares de hoje assumem o posto dos antigos “coronéis”, oligarcas que controlavam uma base de eleitores com a distribuição de prendas em cada pleito. Finalmente, mas não por último, este tipo de emendas, com recursos dirigidos a prefeituras ou, mais frequentemente, a organizações não governamentais controladas ou próximas dos parlamentares que as formularam, tornaram-se instrumentos de corrupção direta, com desvio de recursos, superfaturamentos, favorecimento de empresas executoras. Uma supermáquina de apropriação indébita de recursos públicos, corrupção diluida em milhares de emendas ao longo dos anos. As emendas individuais foram seguidas pelas emendas de Bancada e de Comissão (forma de organização temática do Congresso). supostamente, estas emendas deveriam aprovar projetos de caráter nacional ou regional, com temas que aparecem nas LOAs ou não. De fato, estas emendas acabaram servindo para novas pulverizações de recursos, desta vez em negociações internas em cada partido ou em cada comissão parlamentar, sem qualquer referência quer às prioridades definidas nas LOAs, quer a qualquer outra lógica estratégica para o país. Elas serviram para reforçar o poder dos dirigentes de Bancadas e de Comissões, em balcões de negócios para garantir apoios aos chefes. Logo a emenda de Bancada tornou-se também impositiva, retirando qualquer capacidade de negociação do executivo entorno a suas prioridades orçamentárias. Não contentes com este formato e buscando despistar possíveis investigações do Tribunal de Contas da União, os parlamentares criaram as emendas de Relator (também conhecidas como emendas secretas) e as emendas “PIX”. Nestas não há qualquer transparência: não se sabe quem fez a proposta, quem recebeu o dinheiro, qual a natureza do projeto nem quem o executa. É mole ou querem mais? Tem mais. As emendas de Relator, estão totalmente sob o controle do relator da LOA, hoje sob as asas dos presidentes da Câmara e do Senado. Trata-se de um espetacular instrumento de controle político das casas parlamentares por seus presidentes, dando a Lira e Pacheco o poder de pressionar o executivo como nunca no passado. No frigir destes ovos, acabamos por chegar ao descalabro atual, quando os parlamentares controlam um orçamento (pulverizado em valores e em foco) de 50 bilhões de reais por ano, enquanto o governo federal tem apenas 70 bilhões para investimentos não carimbados constitucionalmente ou por alguma legislação. Enquanto isso, a Reforma Tributária proposta pelo governo federal foi profundamente deformada pelos parlamentares, para isentar setores da economia com os quais tem relações ou apoio financeiro. Com isso, a fonte de recursos, já bem minguados pelas emendas, fica ainda mais precária, já que os parlamentares decidiram privilegiar, por exemplo, o agronegócio, com amplas isenções de impostos. Por um lado o Congresso asfixia o executivo enquanto, por outrol lado,suga seus recursos sem dó nem piedade. Como escrevi no começo deste artigo, isto não é apenas um problema do Lula ou do governo petista. Será o problema de qualquer governo que pretenda cumprir o seu papel constitucional. Estamos no pior dos mundos com este legislativo que se locupleta com os recursos públicos e, sem qualquer constrangimento, cria dificuldades para o executivo governar. E denuncia qualquer limitação na ação do governo, como se não tivesse nada a ver com ela. Não estamos em um regime parlamentarista, onde um primeiro-ministro escolhido pelo Congresso apresenta um projeto orçamentário cuja responsabilidade é do próprio parlamento. Em um regime parlamentarista, esta mixórdia orçamentária seria claramente de responsabilidade do Congresso e os eleitores saberiam de quem cobrar as desgraças. No nosso regime presidencialista atrofiado, os eleitores cobram as desgraças do executivo, sem noção de que o legislativo é o grande responsável por elas. Para escapar deste labirinto vai ser preciso um tsunami eleitoral capaz de criar uma base parlamentar que decida se empenhar em uma reforma política profunda, redefinindo as relações de força entre os poderes da República. A eliminação de todas estas emendas casuísticas seria um passo fundamental para reestabelecer a capacidade do Executivo governar, mas outras questões teriam que vir à baila e todas elas espinhosas por derrubar privilégios parlamentares acumulados ao longo do tempo. Seria preciso, por exemplo, redefinir quantos deputados teria cada Estado, seguindo a lógica republicana de termos um só coeficiente eleitoral em todo o país, ou seja, cada deputado seria eleito pelo mesmo número de eleitores. Se adotada esta norma, e mantido o número atual de deputados, o rateio significaria diminuir o número de deputados em Estados menos populosos e aumentá-lo naqueles com mais eleitores. Imaginem a gritaria! A alternativa seria ampliar o número total de deputados, em uma Câmara que já é muito numerosa (e dispendiosa). Outras regras de difícil aprovação teriam que ser aprovadas, como cláusulas de barreira mais restritivas para diminuir a fragmentação partidária. Ou a redefinição do processo eleitoral, adotando sistemas mais racionais como o sistema proporcional misto, com voto em listas partidárias e em candidatos individuais. A lista das reformas a serem discutidas e implementadas para aperfeiçoar o nosso sistema político e eleitoral é enorme e esbarra sempre na contradição de fundo: quem teria que cortar na carne são os próprios congressistas, eleitos neste sistema viciado de hoje. No meio deste caos, é importante ressaltar o papel desejável do Judiciário, em particular do Supremo Tribunal Federal. O STF, por iniciativa do ministro Flávio Dino, suspendeu as emendas, primeiro as de Relator e Pix e, depois mesmo as individuais e de bancada. Aposição foi endossada pelo plenário, com o argumento da falta de transparência e falta de critério na definição dos abjetivos, temas e escopo das emendas. No entanto, o STF não se debruçou na entorse aplicada na legislação constitucional que dá ao executivo o direito de definir o ordenamento orçamentário, gantindo-se a apreciação das duas casas na votação da LOA. O “acordo” para normalizar e regulamentar as emendas, após negociações entre os três poderes, restringiu-se a discutir a necessidade de critérios “técnicos” e regras de transparência, mas nada foi feito para evitar a presente diluição dos gastos orçamentários, que quase igualam os do executivo, em projetos paroquiais. A retaliação do Legislativo contra o Judiciário aparece em vários projetos de lei que vão desde a roubar o papel do STF como árbitro final do que é ou não legal no país até controlar a liberação de verbas pedidas pelo judiciário. Noves fora propostas de impeachment contra ministros que não agradam os parlamentares. A luta de foice do legislativo para ampliar o seu poder de mando no país e dominar o executivo e o judiciário não tem prazo para terminar e o que está em jogo é algo mais profundo: qual o regime político que devemos adotar? Na prática, estamos longe do que define a Constituição e aquilo que mais de um referendo confirmou. O nosso regime é presidencialista, ou deveria ser. Estamos vivendo um crescente processo paulatino de nos tornarmos um regime parlamentarista bastardo, onde o legislativo tem todos os bonus e nenhum dos ônus. E não há reação do STF em relação a isto. Dar a volta neste rumo é difícil de realizar, mas algo terá que ser feito ou a crise institucional que atrofia o executivo nos levará para um buraco ainda maior do que aquele onde estamos.   *Ex-presidente da UNE, entre 1969 e 1971; Fundador da ONG Agricultura Familiar e Agroecologia (AS-PTA) em 1983; E Membro do CONDRAF/MDA entre 2004 e 2016 Milit   Foto: Freepik Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.    

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Guerra e revolução

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Por CELSO JAPIASSÚ* Alguns historiadores costumam afirmar, num aparente paradoxo, que o Século XX foi o mais breve da História porque começou em 1918 e encerrou-se em 1989. São realmente duas datas simbólicas e marcantes. Pois 1918 assinala o término da Primeira Guerra Mundial, que destruiu e reconstruiu a Europa existente até então. Em 1989 houve a derrubada do muro de Berlim e o fim da União Soviética, refazendo mais uma vez a configuração do mundo. Mas é indiscutível que a Revolução Comunista, que ocorrera em 1917, foi o mais importante marco do século que se iniciava, pois exerceu forte influência sobre todos os países, especialmente os da Europa. Foi quando começou realmente o Século XX e as suas transformações políticas sob as quais até hoje estamos vivendo. Foi um século à sombra de duas guerras mundiais e de uma angustiante e ameaçadora Guerra Fria. E foi a presença soviética – e reconhecido sacrifício - que garantiu a vitória dos Aliados na Segunda Guerra. Os partidos comunistas nacionais tiveram importante participação na resistência ao nazismo, durante a Segunda Guerra, e fortaleceram-se na luta operária que se seguiu. As reformas no aparato das leis do capitalismo, que o teriam “humanizado” em benefício dos trabalhadores, foram feitas diante da pressão dos partidos comunistas e da ameaça de revoluções operárias inspiradas na Revolução Russa. A debacle da União Soviética, que alguns, referenciando-se em Hegel e num artigo do estadunidense Francis Fukuyama, viram como “o fim da história”, afetou profundamente os partidos comunistas europeus. Alguns desapareceram na onda do anticomunismo ou reformularam-se profundamente, outros mudaram seus nomes. Muitos, como o fizeram durante a agressão nazista, passaram para a resistência, desta vez sem precisarem se refugiar na clandestinidade. Um complô O PCI-Partido Comunista Italiano surgiu em 1943, sucedendo o Partido Comunista da Itália, e durou até 1991. Foi tido como o maior partido comunista do Ocidente. Chegou a obter 35 por cento dos votos nas eleições de 1976. A partir daí negociou um pacto com a Democracia Cristã para uma coligação que se vislumbrava imbatível. Seria a primeira participação do PCI no governo italiano se não tivesse sido derrotado antecipadamente por um complô que, hoje se conhece em pormenores, foi planejado e executado pela Agência Central de Inteligência americana, a CIA. Agentes infiltrados nas Brigadas Vermelhas planejaram e executaram o sequestro e o assassinato de Aldo Moro, líder da Democracia Cristã, que patrocinava os entendimentos com o PCI. O crime traumatizou o país e inviabilizou o acordo. Era o objetivo da CIA com o sequestro de Moro. O PCI foi dissolvido em 1991 para dele surgir o Partido Democrata de Esquerda-Partito Democratico della Sinistra-PDS, que depois adotou o nome de Democratas de Esquerda-Democratici di Sinistra-DS. Adotou os pressupostos da Democracia Cristã depois de realizar a fusão com outros partidos de centro esquerda e passar a chamar-se Partido Democrático-PD. Tem internamente diversas alas e diferentes tendências ideológicas. Um “partido pega-tudo”, como dizem os italianos. A dissolução do PCI deu ainda origem a outros dois outros partidos que se autodenominam seus legítimos continuadores: o Partido da Refundação Comunista (PRC) e o Partido dos Comunistas Italianos (PdCI). PCF, o declínio O PCF foi um dos grandes partidos franceses. Seu prestígio e influência vieram da luta contra a invasão nazista, pois foi ele quem liderou toda a luta clandestina de resistência. Nas primeiras eleições após a guerra teve mais de 26 por cento dos votos. Passou a participar dos governos da França, mas, com a Guerra Fria e a fundação da OTAN, foi alijado do poder pelos socialistas e democratas-cristãos. As campanhas anticomunistas o mantiveram afastado do governo embora tenha mantido sempre forte influência na política francesa. Voltou a participar do poder nos primeiros anos da presidência de François Miterrand, mas esta coligação com o Partido Socialista veio, no entanto, a esvaziá-lo eleitoralmente. Os socialistas ocuparam o seu espaço. A crise pela qual passou o Partido Comunista Francês e o seu aparente declínio foram parcialmente recuperados com a criação da Frente de Esquerda – Front de Gauche em 2008 e as campanhas de Jean Luc Mélenchon, mas o partido ainda procura situar-se para recuperar a sua tradicional importância no palco político do país. PCP, a resistência em Portugal Fundado em 1921 e curtido na ilegalidade durante toda a ditadura salazarista, que durou de 1932 até a Revolução dos Cravos, em 1974, o Partido Comunista Português-PCP é um dos mais antigos da Europa. Nunca abandonou uma ativa militância mesmo quando seus líderes se encontravam exilados ou na clandestinidade para escapar da PIDE, a sinistra polícia política, e não serem torturados ou mortos. Mantem-se marxista-leninista em seus fundamentos ideológicos e continua em intensa atividade na cena política portuguesa. Controla vários municípios, possui deputados na Assembleia da República e no Parlamento Europeu e representa considerável força eleitoral. O combativo Bloco de Esquerda (https://www.bloco.org/) tem entre seus fundadores a União Democrática Popular (marxista), o Partido Socialista Revolucionário (trotskista) e a Política XXI, todos com origem no PCP. Centenas de partidos e movimentos comunistas espalham-se pelo mundo. Alguns no poder, como é o caso da China, onde o PCC governa o país desde 1949 e o de Cuba, fundado por Fidel Castro, além do Vietnam, que venceu uma guerra contra o país mais poderoso do mundo. Outros continuam na luta em busca de maior espaço político. A queda do muro de Berlim é vista como a vitória do capitalismo com o fim da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética. Mais de 30 anos depois, no entanto, a resistência dos partidos comunistas em todo o mundo vem lembrar que ainda se canta a Internacional e a utopia continua viva. *Celso Japiassú é poeta, articulista, jornalista e publicitário. Trabalhou no Diário de Minas como repórter, na Última Hora como chefe de reportagem e no Correio de Minas como Chefe de Redação antes de se transferir para a publicidade, área em que se dedicou ao planejamento e criação de campanhas publicitárias. Colaborou com artigos em Carta Maior e atualmente em Fórum 21. Mora hoje no Porto, Portugal. Foto da capa: Lenin discursando no Congresso dos Soviéticos em novembro de 1917. Reprodução. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. 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Programas – de 13 a 20 de setembro
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Por LÉA AARÃO REIS* *Autoridades palestinas assumiram um assento oficial na Assembleia Geral da ONU. Primeira resolução em mais de 70 anos de existência da Organização das Nações Unidas, após ocuparem o posto: pedir a retirada de Israel dos territórios ocupados dentro de um prazo de seis meses. *Do professor do Instituto de Ciência Política da UnB, Luis Felipe Miguel, autor, entre outros livros, de O colapso da democracia no Brasil, da Editora Expressão Popular: “As potências ocidentais fingem que não se dão conta do que está acontecendo. Os Estados Unidos continuam financiando o genocídio. Seja o governo Biden, seja qualquer um dos dois candidatos favoritos a sucedê-lo, o que se vê é a manifestação do apoio inquebrantável aos assassinos sionistas, temperada, às vezes, somente às vezes, com declarações hipócritas e inócuas de piedade por suas vítimas.” *O professor continua: “Os países da Europa não fazem muito diferente. Numa decisão considerada muito ousada e severamente criticada pelos apoiadores mais delirantes de Israel, o Reino Unido decidiu interromper as vendas de 30 tipos de armamento para Tel Aviv. Mais de 300 outros continuam sendo enviados para contribuir no massacre. Nós nos sentimos impotentes – e, de fato, em grande medida somos – no sistema internacional tal como ele é. Mas há três coisas que podemos fazer: não esquecer, não deixar de falar da Palestina, não parar de denunciar. Boicotar as empresas que sustentam o sionismo.” *Pelo menos 40 pessoas morreram e 60 ficaram feridas em ataque israelense a um campo de refugiados na área de Al Mawasi, em Khan Yunis, sul da Faixa de Gaza, informa a emissora palestina Al-Aqsa TV. Segundo o oficial da Defesa Civil de Gaza, 20 tendas com refugiados foram destruídas como resultado da operação. *Entre os livros mais vendidos nesta semana nas livrarias do Rio de Janeiro: o clássico Marighella: O guerrilheiro que incendiou o mundo, de Mário Magalhães (Companhia das Letras), e Ainda Estou Aqui, de Marcelo Rubens Paiva (Editora Alfaguara), sobre o desaparecimento do seu pai, o deputado federal Rubens Paiva, cassado no golpe militar de 1964 e torturado e morto por militares em 1971. *Sobre o prêmio de Melhor Roteiro recebido no Festival de Cinema em Veneza e inspirado no livro de Marcelo Rubens Paiva, diz o diretor Walter Salles: “Foram sete anos de trabalho para chegar ao roteiro que filmamos. Nesse processo foram feitas mais de 15 versões do trabalho agora premiado”. *A pernambucana Marianna Brennand ganhou, com o filme Manas, também em Veneza, o Director’s Award, principal prêmio da mostra Giornate Degli Autori. *O cenário do Palácio do Soul, no bairro de Rocha Miranda, no Rio de Janeiro, foi escolhido pelo antropólogo e cineasta Emílio Domingos para o seu belo documentário Black Rio! Black Power!, em cartaz esta semana nos cinemas. O diretor tem se dedicado à cultura negra em filmes como A Batalha do Passinho, de 2012, e Deixa na Régua, de 2016. Em tempo: o Palácio do Soul começou nos anos 70, no Grêmio de Rocha Miranda, zona norte do Rio, e foi palco de uma revolução cultural que repercute até hoje em expressões artísticas como o funk, o hip-hop e o Passinho Carioca. Os bailes começaram em plena ditadura civil-militar com a resistência de jovens negros. *O programa é relembrar o clássico Zero, de autoria de Ignácio de Loyola Brandão, leitura ícone dos que resistiram de várias formas à ditadura civil-militar. Censurado e proibido pelo Ministério da Justiça do Brasil da época com o argumento de ser uma obra que afetava as instituições e… os bons costumes(!). As editoras do país se negaram a publicá-lo, e o volume só veio à luz em primeira edição na Itália, em 1974. Memória e sugestão de (re)leitura do professor Daniel Aarão Reis no programa Tempo Contemporâneo (Zero está editado pela Global). *O programa também é prestar atenção ao filme Alma do Deserto, de Mônica Taboada-Tapia, igualmente premiado no Festival de Cinema de Veneza com o Queer Lion, láurea LGBTQIA+ na mostra competitiva Giornate degli Autori. Objeto de grandes elogios, é coprodução Brasil-Colômbia, uma narrativa de resistência e símbolo de luta por justiça. Veja Também:  O Brasil de Grande Othelo *A história de Alma do Deserto é esta: Georgina, uma mulher trans da etnia indígena Wayúu, luta para obter seu direito de ter a identidade reconhecida. Após perder seus documentos em um incêndio criminoso provocado pelos próprios vizinhos, que não aceitavam sua presença, Georgina decide recuperá-los. Apenas com seus documentos recuperados ela poderá exercer direitos civis fundamentais, como o seu direito ao voto nas eleições colombianas. “Documentário poderoso, comovente e cativante, um dos filmes mais marcantes sobre a identidade queer dos últimos anos”, anunciou a respeitada International Cinephile Society sobre Alma do Deserto. *Historiadores pela democracia: o golpe de 2016 e a força do passado é de autoria de Sidney Chaloub, Luiz Felipe de Alencastro, James Green, Luiz Carlos Villalta, Kátia Gerab Baggio, Martha Abreu, Silvia Hunold Lara e Suzette Bloch, e organizado pelas historiadoras Hebe Mattos, Tânia Bessone e Beatriz G. Mamigonian. Na sua mira, o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff que colocou a democracia brasileira em risco. O livro é uma seleção de textos que compõem uma crônica dos acontecimentos, do ponto de vista histórico (Editora Alameda). *Mostra gratuita de cinema, Fantasmas da Terra: A Poética de Apichatpong Weerasethakul, de 17 a 27 deste mês, na Caixa Cultural Rio de Janeiro. Serão exibidos seis longas-metragens e 29 curtas do cineasta tailandês, um dos mais importantes do cinema contemporâneo. Apichatpong já foi Palma de Ouro e também Prêmio do Júri em Cannes. Não é pouca coisa. Haverá também um curso gratuito, intitulado Imersão Apichatpong, com emissão de certificado para aqueles que assistirem ao menos a quatro das seis aulas. Também será distribuído um livro-catálogo com textos inéditos e traduzidos sobre Apichatpong. *Ailton Krenak é o autor homenageado da segunda edição do Festival Literário Internacional de Paracatu, na última semana. Para ele, ninguém fica de fora do extrativismo determinado pela escolha do petróleo como matriz energética e presente em todos os lugares e em diversas versões. “Sabia que a capa do seu celular é feita de petróleo? Que a minha sandália é feita de petróleo? Que o seu tênis é de petróleo? Os seus óculos, o seu boné?”, ele indaga. O mais recente lançamento de Krenak é para crianças: Kuján e os meninos sabidos. Ele explica que kuján, na língua krenak, significa tamanduá. *É necessário revisar o acontecido e compará-lo com o presente. Por isto, o Portal Desacato e o Coletivo Memória, Verdade e Justiça Profa. Derlei de Luca convidam para o Seminário Ditadura e Jornalismo no Cone Sul. Os expositores(as) foram testemunhas e vítimas do Plano Condor e avaliam o ressurgimento do fascismo em suas novas versões. A professora Rita Coitinho, da Universidade Federal de Santa Catarina, fará a mediação. Dia 20 deste mês. catarse.me/ditaduraJornalismo. *Bravo mundo novo – Novas configurações da comunicação e do consumo, de Clóvis Barros Filho, Vladimir Safatle, Gisela Castro e outros, é uma sugestão de leitura marcante. A prestar atenção na sua apresentação: “Há uma percepção geral e difusa, a crença de que nossa época é um momento de ruptura e reconfiguração. Tal percepção ecoa entre aqueles que estudam as articulações entre comunicação e consumo. A de que algo de extremamente novo está em gestação, não só em comerciais ou propagandas, mas também na política ou no entretenimento”. *E segue: “Estamos no limiar de um novo mundo novo, onde nada será como antes. Mas, como analisá-lo? Para onde caminha a mídia?” Em Bravo mundo novo, os pesquisadores da CAEPM/Centro de Altos Estudos em Propaganda e Marketing abordam o assunto. “Pois se há algo que nossa época nos ensina é como economia, política e sociedade não conseguem mais se separar” (Editora Alameda). *Anarquismo e Espiritismo é o tema do encontro, na próxima segunda-feira, dia 16 deste mês, ao vivo, no Canal Anarquismo e Geografia, com a pesquisadora e professora de História da Unesp, Samantha Lodi, e com a jornalista Dora Incontri. No mesmo canal se encontram textos de Mikhail Bakunin. *O programa é mais uma vez comprovar que a mentira não tem limites. E que a megalomania é um fato nesse tal The Milei Series, From Zero to President que vem reforçar o envenenamento da blogosfera. *Léa Aarão Reis é jornalista. Ilustração da capa de Marcos Diniz Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

Cultura

‘Nau dos Insensatos’: exposição de cartunistas denuncia a dimensão política das enchentes

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‘Nau dos Insensatos’: exposição de cartunistas denuncia a dimensão política das enchentes
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Mostra com desenho gigante que retrata 'Naufrágio do Estado Mínimo' estreou na Capital antes de percorrer o RS Por MARCELO FERREIRA*/Brasil de Fato/RS Após dois meses de trabalho, cerca de 20 cartunistas da Associação de Artistas Gráficos do Rio Grande do Sul (Grafar) inauguraram em Porto Alegre a exposição “Nau dos Insensatos - O Naufrágio do Estado Mínimo”. Com o tradicional humor crítico do cartum, a mostra retrata a devastação e a dimensão política das enchentes que atingiram o estado. A exposição estreou no início deste mês, em uma curta temporada no salão de eventos da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Instituições Financeiras do Rio Grande do Sul (Fetrafi-RS). Depois, deve se tornar itinerante. São 60 cartuns em formato A3, que acompanham a obra principal, um desenho gigante e coletivo de sete metros de comprimento por três de altura. Grandeza que, segundo o cartunista e diretor da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Celso Schröder, representa o tamanho da tragédia. [caption id="attachment_15710" align="aligncenter" width="2560"] Exposição Nau dos Insensatos O fracasso do estado mínimo CUT-RS[/caption] “Nos veio à cabeça imediatamente a Guernica do Picasso, que foi feita para registrar o bombardeio na cidade de Guernica. E nós imaginamos uma espécie de Guernica da enchente”, explica. O nome “Nau dos Insensatos”, prossegue Schröder, também veio quase imediatamente. “Ela representa uma alegoria muito conhecida na história da arte, que é uma pintura do Hieronymus Bosch, que registra um barco sem comando, no meio do oceano, cheio de gente insana, descontrolada, entregues aos seus desejos privados, sem nenhuma articulação, sem nenhuma saída coletiva.” O cartunista afirma que as obras provocam questionamentos sobre elementos que estão por trás da tragédia, como o enfraquecimento da legislação ambiental e a falta de ação política. Ele pontua que a “falta do rigor” nas leis fez com que “esse canteiro de soja que o Rio Grande do Sul se transformou possibilitasse às águas descerem nessa velocidade, nessa quantidade muito superior, por exemplo, à enchente de 1941”. “É uma crítica de dirigentes eleitos para tal que apostaram, primeiro, no neoliberalismo, onde o Estado foi reduzido ao seu mínimo. Em segundo lugar, um niilismo, um negacionismo ambiental que resultou, por exemplo, num governante municipal que sequer azeitou as comportas que existiam há mais de 50 anos e que tinham funcionado até então, sequer colocou graxa nessas comportas e que manteve os disjuntores das bombas num nível abaixo da enchente”, completa Schröder. Função social do humor Os cartunistas se reúnem na Grafar desde os anos 80. Atualmente, contam com o jornal eletrônico mensal O Grifo. O grupo destaca a função social do humor, que para o cartunista Edgar Vasques, passa por “não deixar a gente enlouquecer”. “Funciona como uma válvula de escape para as frustrações, para a enorme gama de problemas que a gente vive”, prossegue. Outra finalidade é mostrar as realidades “através da linguagem sedutora e pílula dourada do humor”. “O humor promete o prazer do riso e entrega a consciência. E para chegar no riso, você tem que entender o que o cara está dizendo. Então, o papel do humorista são essas duas pontes principais”, comenta Vasques. A cartunista Fabiane Langona entende que “um artista é o reflexo do seu tempo”. Ela destaca o papel do grupo como artistas gráficos para além do registro histórico do tema tratado. “Nesse trabalho da charge é importantíssimo para que a gente traga nossas reflexões e talvez abra o olhar das pessoas para novas interpretações dos fatos, independente de aspectos, seja de mídia impressa, seja de veículos oficiais, mas acho que a arte conversa com as pessoas de uma forma mais abstrata, mais emotiva.” Entidades sindicais parceiras na exposição A exposição tem apoio de entidades sindicais e produção da Central Única dos Trabalhadores do Rio Grande do Sul (CUT-RS), que vai torná-la itinerante. A ideia é levar as denúncias a outros territórios atingidos no estado. “Nós estamos discutindo com universidades do Interior, sindicatos que tenham espaços grandes, para que a gente possa não só expor, como também levar esses cartunistas para falar com as pessoas que vão apreciar e vão, digamos assim, ao nosso ver, se engajar nessa luta”, afirma o presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci. Cartunistas e representantes de entidades apoiadoras da exposição reunidos em frente à obra principal / Foto: Katia Marko O dirigente sindical ressalta que a luta “é feita de manifestações de rua, protestos, manifestações de todo tipo, atos públicos”, e é sempre crítica. “Aqui nós estamos falando de cartunistas gaúchos que são inconformados, que são resistentes a essa ideia do planeta destruído, de um sistema que quer explorar a natureza, de uma ideia de um Estado mínimo, de desregulamentação do sistema de proteção ambiental, de exclusão, de desigualdade.” Com curadoria de Celso Schröder, a obra que arrancou uma salva de palmas ao ser revelada na inauguração em Porto Alegre é assinada por Edgar Vasques, Santiago, Bier, Hals, Kayser, Fabiane Langona, Uberti, Bruno Ortiz e Eugênio Neves. A exposição também conta com o apoio do Sindjors, Sindbancários-RS, Sintrajufe-RS, CPERS, Adufrgs Sindical, Fetrafi-RS e Grafar. Foto da capa: "Nau dos Insensatos - O Naufrágio do Estado Mínimo" tem sete metros de comprimento por três de altura / Foto: Joni Oliveira/CPERS Artigo originalmente publicado no portal Brasil de Fato RS

Economia

Carta a Sua Excelência o senhor Presidente da República Luís Inácio Lula da Silva

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Carta a Sua Excelência o senhor Presidente da República Luís Inácio Lula da Silva
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CARTA PRÓ-RS - Movimento Cívico Lançada por meio do Instituto Novos Paradigmas e reunindo intelectuais, ativistas, lideranças sociais e sindicais, Carta Dirigida ao Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, aborda a grave catástrofe ambiental que atingiu o estado do Rio Grande do Sul. Os signatários, entre os quais encontram-se também políticos e empresários de diferentes partidos políticos e ideologias políticas, unidos como cidadãos além das diferenças políticas, destacam a necessidade urgente de novas estratégias e estruturas governamentais para lidar com desastres dessa magnitude. Eles apontam a gravidade do evento, que terá consequências prolongadas, ressaltando que tragédias semelhantes têm ocorrido em outras regiões do mundo, como Nova Orleans e Indonésia. Entre as preocupações destacadas, está o risco de desilusão entre os afetados, a migração crescente de jovens e profissionais do estado, e a limitação das instituições públicas para enfrentar adequadamente essas crises. Nesse contexto, a carta sugere a criação de uma Agência Interinstitucional de Recuperação e Desenvolvimento, inspirada em modelos internacionais bem-sucedidos, como a Canterbury Earthquake Recovery Authority, para coordenar ações governamentais e não governamentais em prol da recuperação e desenvolvimento do estado. A proposta visa fortalecer o Rio Grande do Sul e transformá-lo em um exemplo de reconstrução sustentável. Por fim, os autores expressam confiança no compromisso do presidente com a causa e esperam colaboração para recriar os sonhos do povo gaúcho. https://youtu.be/G3O6JNEkfPs?si=sw27MxSX_GSr6HA2 Leia abaixo a íntegra do documento. Carta a Sua Excelência o senhor Presidente da República Luís Inácio Lula da Silva Excelentíssimo Senhor Presidente da República, A catástrofe que atingiu o Rio Grande do Sul, estado dos signatários, desta carta, é o maior desastre ambiental não só de nossa região, mas do nosso país. E uma catástrofe que seguramente vai se repetir, o que implica pensarmos em estruturas e meios de planejamento para definir fins estratégicos a serem alcançados. O senhor está ciente e sensibilizado pelo sofrimento de cada gaúcho neste momento. Nosso povo deu demonstrações comoventes de união, solidariedade e apoio mútuo. Esta carta é uma ambiciosa demonstração desse sentimento e atitude, buscando novos objetivos, novas engenharias institucionais de governo e políticas estratégicas de interesse comum. Os signatários desta carta lhe escrevem como cidadãos, para além de nossa heterogeneidade social e diferenças políticas. Neste momento duro, neutralizamos nossas divergências ideológicas, partidárias e institucionais, e nos unimos na fraternidade, pela qual compartilhamos nossa vocação democrática. Enquanto alguns de nós estavam resgatando pessoas outros tantos estavam pesquisando e elaborando meios factíveis e consistentes de recriarmos nossa história, para sairmos mais fortes dessa tragédia, que nos assolou e ainda assola. Motivam esta carta ponderações que, embora ligadas às deletérias consequências do desastre climático, precisam também ser ressaltadas. Não somos, infelizmente, a primeira comunidade a padecer de uma catástrofe climática dessas, que se tornarão cada vez mais comuns. New Orleans, Indonésia, Nova Zelândia e tantas outras são regiões que já sofreram com desastres ambientais. Nós podemos aprender com as suas duras lições. A primeira ponderação diz respeito aos afetos: a resignação, vizinha da desilusão, trazida pela catástrofe climática, pela fragmentação do processo de recuperação, caldo de cultura para o ressentimento e para a formação de atitudes em geral voltadas a busca cega de “responsáveis” e o surgimento de versões inadequadas de interesse político. A segunda, anterior aos efeitos do desastre atual, mas que está em aceleração em consequência dos efeitos econômicos, sociais e sanitários da enchente, é a dos fluxos migratórios atuais, que vêm levando para fora do Rio Grande do Sul, não só contingentes populacionais expressivos, mas parte importante de nossa juventude e de nossos melhores quadros, os quais, além disso, com frequência, saem daqui para o exterior. A terceira é a limitação das instâncias institucionais do Estado como um todo para enfrentar este tipo de tragédias, de maneira harmônica e articulada. Desastres desse tipo necessariamente abrem uma estrada dupla: ou as comunidades saem destroçadas e entram vertiginosamente em uma espiral descendente, ou elas saem mais fortalecidas do que antes. Do ponto de vista econômico, comunidades que seguiram o segundo modelo atingiram níveis 20% mais altos de desenvolvimento do que no período anterior ao desastre. Do outro lado, sociedades que padeceram cometeram erros similares umas às outras: dispersão de ações, disputas políticas, oportunismos individuais e empresariais, burocracia excessiva, gestão fragmentada e respostas de pouco fôlego estratégico. Hoje estamos passando da fase de respostas imediatas, ainda urgentes, para a fase de recuperação e há uma série de ações de diferentes órgãos governamentais e não governamentais que buscam atender aos diferentes efeitos dessa emergência. Lentamente, todavia, as demandas se acumulam e uma coordenação estrutural das ações torna-se fundamental, em especial aliada a uma visão estratégica de longo prazo. Esta avaliação e sensação são frutos não só da intuição e da impressão, mas do estudo e da experiência. As comunidades que saíram fortalecidas de desastres ambientais souberam percorrer as diferentes fases de uma emergência e conseguiram coordenar ações de modo estratégico e inteligente. E uma iniciativa compartilhada entre todas, que se tornou referência de eficiência, modernidade e competência, foi a criação de uma agência interinstitucional (também conhecida mundialmente como Authority) para a organização dessas ações. Foi o que fizeram a Nova Zelândia com a CERA (Canterbury Earthquake Recovery Authority), os Estados Unidos da Crise de 29 com a Tennessee Valley Authority e a Indonésia com a BRR (Agência de Reabilitação e Reconstrução de Aceh e Nias). Estas agências foram as responsáveis por organizar uma resposta coordenada, viabilizando a colaboração dos diferentes agentes governamentais e não governamentais, envolvendo as comunidades locais em um pacto de crescimento e garantindo a alocação eficiente e inteligente de recursos. Deste modo, com esta avaliação, apresentamos nesta carta a proposta de criação de uma Agência Interinstitucional de Recuperação e Desenvolvimento. A função da agência será a coordenação das ações desenvolvidas pela União, pelo Estado e pelos municípios e também pelo setor privado em vista da execução de um plano estratégico recuperação do desastre climático e de implementação de ações de médio e longo prazo para desenvolvimento do Estado. A Agência estará submetida a Vossa Excelência, estando em coordenação com as esferas estadual e municipal, contando com a participação significativa de membros da comunidade gaúcha e de membros solidários de outras regiões do país, para garantir uma recuperação modelar do estado que represente muito mais do que uma história de reconstrução, tornando-se um exemplo de uma construção concertada de desenvolvimento sustentável, alinhada às mais modernas concepções ambientais, econômicas, sociais, políticas e culturais do terceiro milênio. Entre as funções da Agência, citamos a captação regional, nacional e internacional de recursos, a coordenação das ações de resposta e recuperação da infraestrutura pública e privada do estado respeitadas as normas de competência da federação, o fomento à inovação e ao empreendedorismo responsável e republicano, e o planejamento estratégico do desenvolvimento do estado em todas as esferas, garantindo uma recriação histórica da comunidade gaúcha com saúde, segurança e educação de qualidade. Cientes de seu elevado espírito público e de sua já comprovada solidariedade ao povo brasileiro, aguardamos esperançosos a possibilidade de construirmos uma solução duradoura e inovadora que possa recriar os sonhos do povo gaúcho, que agradece comovidamente e tanto espera retribuir à altura a fraternidade de todo o povo brasileiro. Para ver os signatários e assinar o documento, clique aqui.  

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