Artigo

Guerra à inteligência

Destaque

Guerra à inteligência
RED

Por CELSO JAPIASSU* A vitória da extrema direita nas eleições da Áustria, liderada pelo neonazista FPÖ, reflete o avanço de movimentos ultraconservadores na Europa, impulsionados pela frustração com a política tradicional e o crescente sentimento anti-imigração Quando o general fascista espanhol José Millán-Astray interrompeu a palestra do poeta e filósofo Miguel de Unamuno, reitor da Universidade de Salamanca, aos gritos de “abajolainteligencia, viva lamuerte”, não bradava apenas um impropério ou fazia mera provocação política. Era o princípio da sangrenta guerra civil e a frase do general enunciava uma cláusula pétrea da ideologia nazifascista e da extrema direita em geral: o culto da violência e a negação da humanidade pela adoração da morte. Essa tradicionalcrença da extrema direita perdura no seu negacionismo, nos movimentos antivacina, na recusa de adotar comportamentos de segurança, na oposição às políticas de preservação do meio ambientee na ação de líderançasneofascistas como Bolsonaro, Trump, Orbán ou Le Pen. Em várias capitais da Europa, dezenas de milhares de neofascistas, neonazistas e extremistas de direita manifestam-se desfilando suas turbas pelas ruas, numa cópia dos desfiles das SS dos tempos de Adolf Hitler. Esta semana, nas eleições da Áustria, mais uma democracia foi sitiada com a vitória sem precedentes do neonazista Partido para a Liberdade da Áustria (FPÖ, na sigla em alemão). O FPÖ, não por coincidência, foi fundado nos anos 1950 por ex-militares das SS nazistas. As eleições legislativas na Áustria foram realizadas no domingo, 29 de setembro de 2024 e marcam um perigoso momento no cenário político europeu. O FPÖ obteve aproximadamente 29% dos votos, um significativo aumento de 13 pontos percentuais em relação às eleições de 2019. Colocou o partido à frente dos conservadores do ÖVP (Partido Popular Austríaco), que ficaram em segundo lugar com 26,3% dos votos, e dos social-democratas do SPÖ, que alcançaram 21% dos votos. Um pedaço de história A vitória do FPÖ representa a primeira vez, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, que um partido de extrema-direita vence as eleições legislativas. O FPÖ, no entanto, não obteve maioria absoluta e precisará formar uma coligação para poder governar. O líder do FPÖ, Herbert Kickl, celebrou o resultado como “um pedaço de história”. O atual chanceler Karl Nehammere o líder social-democrata Andreas Bablerfizeram declarações e disseram que não formarão coligação com a extrema-direita. O sucesso eleitoral do FPÖ é atribuído à frustração dos austríacos com a política tradicional.Esse descontentamento com os partidos tradicionais tem impulsionado o apoio àextrema direita que se apresenta como alternativa. Em sua campanha o FPÖ capitalizou as preocupações com a imigração, propondo medidas como a “reemigraçãode estrangeiros não convidados”. A crise econômica, a inflação alta e as dificuldades econômicas da classe média têm alimentado o sentimento anti-establishment. A Áustria é o país europeu que tem recebido mais refugiados per capita e desenvolveu um sentimento anti-islã e anti-imigração. Durante a pandemia de Covid 19, a oposição às medidas sanitáriastambém ajudou no fortalecimento dos partidos da extrema direita. Alguns eventos recentes, como a ameaça de um atentado terrorista em Viena, reforçaram o discurso de segurança do FPÖ. Veja Também:  Trilhões, bilhões, juros e o pente fino O cenário europeu A vitória do FPÖ na Áustria se insere em um contexto da ascensão da extrema-direita na Europa. Partidos similares vêm ganhandoforça em países como Itália, Hungria e Países Baixos, fenômeno que refletea tendência de polarização política e desafio aos partidos tradicionais. A nova situação na Áustria levanta questões sobre a formação do próximo governo e o futuro político do país. A possibilidade de uma coligação entre conservadores e extrema-direita, ou uma aliança mais ampla excluindo o FPÖ, são cenários em discussão, mas, independentemente do desfecho, o crescimento do FPÖ sinaliza uma mudança no panorama político austríaco e reforça a necessidade de atenção às dinâmicas que têm impulsionado movimentos similares em toda a Europa. Na Alemanha Em Berlim, um ajuntamento de 18 mil pessoas, segundo contagem da polícia, autodenominou-se “festival de liberdade e paz”, liderada pelos “pensadores livres”, ativistas antivacina, partidários de teorias de conspiração e simpatizantes do neonazismo em geral. Atiraram pedras e garrafas contra a polícia. Sentaram-se no chão e gritaram “resistência” ou “nós somos o povo”, slogan de extrema direita que está em uso atualmente. Depois da manifestação, militantes tentaram invadir o Palácio do Reichstag, onde funciona a câmara baixa do Parlamento alemão. O presidente Frak-Walter Stanmeier condenou o ataque. “Bandeiras nazis e obscenidades de extrema direita frente ao Bundestag alemão são um ataque insuportável ao coração da nossa democracia. Nunca o aceitaremos”, disse ele. O partido neonazista AlternativefürDeutscheland (Alternativa para a Alemanha) acaba de serbem-sucedidonas eleições dos estados da Turíngia e da Saxônia. A extrema direita tem feito crescer sua influência no cenário político europeu. Encontra-se no governo, atualmente, na Hungria, Itália, Países Baixos (Holanda), Finlândia, República Checa e Croácia. E aproxima-se de outros. Os temas Os temas que os diversos partidos europeus de extrema direita têm em comum entre siem busca do apoio dos eleitores são a Imigração;Identidade nacional (oposição ao multiculturalismo);Economia e custo de vida; Críticas e oposição à União Europeia (euroceticismo), Segurança;Críticas às políticas ambientais (rotuladas de “terrorismo climático”); Desconfiança nos partidos tradicionais; Críticas aos direitos das mulheres, aborto e educação nas escolas e universidades;Críticas à mídia tradicional e utilização das redes sociais; Apelo aos jovensenfatizando questões como moradia e saúde. *Poeta, articulista, jornalista e publicitário Imagem em destaque: Garry Knight Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

Artigo

HIPERCONECTADOS EM PERIGO

Destaque

HIPERCONECTADOS EM PERIGO
RED

Por LÉA MARIA AARÃO REIS* Best-seller internacional, o livro A Geração Ansiosa chegou ao Brasil como um tsunami, um fenômeno editorial que vem repercutindo com força entre educadores, pesquisadores, psicólogos, psicanalistas e psiquiatras, pedagogos e pais e mães de crianças e adolescentes. Nesse livro do psicólogo, professor e pesquisador norte-americano Jonathan Haidt, uma frase do autor explica a curiosidade pelo seu trabalho e pode resumir, à maneira de uma apresentação, o quanto é importante o tema levantado por ele: “A superproteção e o uso excessivo de dispositivos digitais estão criando uma geração mais vulnerável emocionalmente e menos preparada para os desafios da vida adulta”, escreve Haidt. Essa geração mais vulnerável emocionalmente, submetida ao uso indiscriminado das telas e alvo do livro The Anxious Generation, é a Geração Z, dos nascidos a partir de 1995, que cresceram inteiramente imersos na era digital. Antes deles, os Millennials vieram ao mundo entre 1981 e 1994 e chegaram a testemunhar a transição da era analógica para a digital. Já a Geração X, nascida entre 1965 e 1980, só começou a abraçar a tecnologia da informação no fim da década de 80. Eram crianças que ainda brincavam de boneca e jogavam bola na rua e não em áreas de enormes condomínios fechados, ainda raros na época. Hoje, já adultos, dão importância ao significado das relações e interações pessoais e físicas. Precedendo essas gerações, se alinham os Baby Boomers, nascidos entre 1946 e 1964, aqueles que chegaram durante a era distendida do pós-guerra. As gerações Millennial e Z são consideradas as mais ansiosas nessa história, e os gatilhos principais e mais devastadores para jovens e adultos desses grupos têm relação com as fortes mudanças climáticas atuais, com uma polarização política agressiva, com o racismo expresso sem cerimônias, a falta de segurança nas cidades grandes, médias e pequenas e a instabilidade financeira. Um índice elevado de desemprego e recorrentes mudanças no rumo da economia também são apontados por psicólogos e psicanalistas em recente entrevista da BBC Brasil como principais fatores para o alto número de indivíduos com transtornos de ansiedade, que trazem medo, preocupação e angústia. Isso sem contar os quatro últimos anos de excepcionalidade das rotinas diárias e de convívio físico mais restrito, desde 2020, quando se iniciou a pandemia de covid-19 até hoje, com pequenos picos de contaminação massificada, exigindo cuidados permanentes. Para muitas crianças, foram anos de estresse contínuo, quando deviam cumprir as tarefas escolares em casa, isoladas umas das outras, e deixaram marcas. Uma delas, o hábito – ou vício – de permanecerem muitas horas diárias na frente de uma tela. Esse quadro ficou ainda mais em destaque no último mês, com dois episódios de grande repercussão relacionados às tecnologias digitais. Um deles, o projeto de lei que está sendo preparado pelo Ministério da Educação e deve ser baixado em outubro, prevendo interditar o uso dos celulares dos alunos e alunas nas escolas públicas e particulares, nas salas de aula e, em alguns casos, nos horários de recreio, o que ainda está sendo discutido. O segundo evento, trágico, foi o ataque terrorista no Líbano, com milhares de dispositivos pessoais, pagers e walkie-talkies que explodiram ao mesmo tempo nas mãos, nos bolsos e nas bolsas de populações em diferentes regiões daquele país, matando e mutilando mais de mil pessoas, entre elas crianças e adolescentes. Também recente é o estudo do Canadian Journal of Psychiatry comprovando que, quanto maior o uso diário de telas, mais alto é o nível de ansiedade. Dentro desse quadro geral inquietante, ficou constatado nas pesquisas que as crianças são mais vulneráveis, e em especial as meninas, mais ainda do que os meninos. Pré-adolescentes e adolescentes aparecem na liderança dos diagnósticos de transtornos de ansiedade no Brasil, país com o maior índice no mundo de pessoas com esse distúrbio, segundo a Organização Mundial da Saúde. Aqui, 18,6 milhões de indivíduos convivem com transtorno de ansiedade. São seguidos pelas populações do Paraguai, Noruega, Nova Zelândia e Austrália. O livro de Jonathan Haidt, como se vê, é mais do que oportuno para esclarecer e discutir desarranjos psíquicos originados por ansiedade em crianças hiperconectadas. Dividido em quatro partes, ele demonstra como a infância foi reconfigurada e o desenvolvimento humano se transformou com o advento da internet. Um exemplo oferecido pelo autor: na rede, a maioridade da criança é de 13 anos, idade em que ela pode acessar praticamente toda a rede sem o conhecimento ou a autorização dos pais. Até mesmo se inscreverem em uma próxima futura viagem a Marte, escreve Haidt, sem que seus pais ou responsáveis tenham conhecimento do eventual contrato que os filhos e as filhas podem assinar com a empresa que se apresenta com a proposta inacreditável de conduzir crianças em uma viagem até Marte. Veja Também:  Moradores do litoral de Cuba atenuam os efeitos da mudança climática Na sua primeira parte, o livro mostra o aumento repentino do sentimento de sofrimento na infância e na pré-adolescência, desde o começo dos anos 2000. Na segunda parte, o tema geral é o declínio da infância baseada em brincadeiras, no hábito de brincar. Em seguida, as ações coletivas que poderiam e poderão garantir uma infância mais saudável, e, por fim, o que as escolas e os pais podem fazer nesse sentido. A conclusão de Jonathan Haidt é a de que “a infância pode ser trazida de volta à Terra”, partindo da frase irônica que abre o seu livro: “Crescendo em Marte”. Ele argumenta que a base da infância migrou da brincadeira offline corporificada para aquela conectada e sem corpo físico. Mudança que, segundo o autor, leva a quatro prejuízos: privação social, privação de sono, fragmentação da atenção e dependência. Corroborando com Haidt, professor na Universidade de Nova Iorque, que lecionou durante 16 anos na Universidade da Virgínia e pesquisa Psicologia nas áreas da Moral e da Política, o brasileiro Gerardo Maria de Araújo, por sua vez professor no Departamento de Ciências Neurológicas, Psiquiatria e Psicologia Médica da Faculdade de Medicina de Rio Preto, a Famerp, também acredita que o uso excessivo de computadores e smartphones explica a alta incidência de ansiedade no Brasil. “As redes sociais geram uma série de cobranças às pessoas e, muitas vezes, os usuários começam a desejar se tornarem magros, por exemplo, ou desportistas, como é o influenciador que eles seguem”. “Para as meninas”, escreve Haidt, “em geral há uma relação maior e mais consistente com a Internet. Quanto mais tempo uma menina passa nas redes, maiores as suas chances de serem atingidas por depressão. Meninas que dizem passar cinco horas ou mais por dia nas redes têm a probabilidade três vezes maior de depressão que aquelas que dizem não usar redes sociais”. Já em relação aos meninos, a curva de depressão observada por pesquisadores do Millennium Cohort Study, da Grã-Bretanha, começa a subir quando eles se declaram usuários assíduos que passam mais de duas horas por dia conectados. A Geração Ansiosa está longe de ser um manual de autoajuda. É resultado de cerca de 20 anos de pesquisas de uma equipe de especialistas e colegas de Haidt, e de entrevistas com crianças, pré-adolescentes e adolescentes. Fechando o volume de cerca de 500 páginas, nada menos que 26 são de registros de fontes consultadas. Trata-se de uma leitura a fazer com calma, sem… ansiedade. É um trabalho sério, desenvolvido em linguagem objetiva, bem-humorada, destinada a “leigos”, sem os academicismos para elites restritas. Por isso o seu sucesso. “Novas tecnologias vão desorganizar nossa vida mais rapidamente a cada ano. Junte-se a mim no After Babel para estudar o que está acontecendo, o que estão fazendo conosco e como permitir que as crianças floresçam em meio a essa confusão”, conclui o autor. E ele ainda arrisca algumas sugestões para os pais: “Permitir a criação de perfis dos filhos nas redes sociais apenas aos 16 anos de idade; para crianças entre 6 e 12 anos não se recomenda mais do que duas horas de atividades diárias recreativas em tela. Após as aulas, é hora do brincar, livre. Procurar tornar o bairro (o condomínio ou a praça) onde vive a família mais ‘amigável’ para as crianças e suas brincadeiras; estimular um contato maior com a natureza e incluir as crianças nas tarefas domésticas da casa — muitos daqueles que pertencem à Geração Z e foram entrevistados, às vezes dizem que têm o sentimento de serem inúteis”. E, por fim: “Junte-se a outros pais que valorizam a infância baseada no brincar”, sugere Jonathan Haidt.   *Jornalista Foto: Divulgação Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.    

Cultura

Programas – de 5 a 11 de outubro

Destaque

Programas – de 5 a 11 de outubro
RED

Por LÉA MARIA AARÃO REIS* *O programa é votar. Voto presencial, voto eletrônico, em qualquer circunstância; mas não deixar de votar em candidatos que apresentam propostas concretas e factíveis e não queiram fazer da política mais uma forma de conseguir emprego fácil, às nossas custas. Projetos básicos relativos à saúde, educação, habitação, segurança e, também como prioridade, o meio ambiente. Não à oposição neofascista e aos candidatos malandros e de ocasião. *O programa é refletir sobre um mundo que se encontra em transição há mais de dez anos; pensar nas sombrias apostas que nos cercam atualmente e nas palavras do renomado jornalista paquistanês Tarik Ali, autor de diversos livros publicados em português: “Nasrallah entendeu Israel melhor do que a maioria. Seu sucessor terá que aprender rápido. Para matar Hassan Nasrallah, um dos líderes mais populares da resistência (e não apenas entre os xiitas), as Forças Armadas de Israel teve que destruir vários prédios, lançar ataques terroristas por meio de dispositivos de mensagens e, mais uma vez, matar centenas de inocentes, lançando pelo menos quinze bombas fabricadas nos EUA.” *Um dos editores da New Left Review, Tarik Ali conclui: “Benjamin Netanyahu deu a ordem para imolar os prédios no sul de Beirute enquanto estava nos Estados Unidos para discursar na Assembleia Geral da ONU. Só para esfregar na cara. O verdadeiro ‘relacionamento especial’ é sagrado e eterno. Hassan Nasrallah não descansará em paz.” *O programa é ler o que dizem os correspondentes da BBC News em Jerusalém, Yolande Knell e Toby Luckhurst, esta semana: “A aldeia palestina de Battir, Patrimônio Mundial da Unesco, onde antigos terraços de vinhedos e jardins de oliveiras são irrigados por uma fonte natural e a vida segue inalterada há séculos, é o mais novo ponto de discórdia sobre os assentamentos israelenses na Cisjordânia ocupada. Israel aprovou a formação de um novo assentamento judeu no local, desapropriando terras privadas para a construção de novas casas de colonos.” (…) “Eles estão roubando nossas terras para construir seus sonhos sobre a nossa catástrofe”, diz Ghassan Olyan, dono de uma das propriedades confiscadas. (…) “Todos os assentamentos na Cisjordânia são considerados ilegais com base no Direito Internacional, mas Israel não está de acordo”, relembra a BBC. *Uma moção do Conselho Universitário da Unicamp repudia atos de violência contra populações civis no Oriente Médio e condena brutais atrocidades na Faixa de Gaza. A moção exige um urgente cessar-fogo a fim de que seja estancada a “barbárie genocida na região”. Outra moção, esta do Conselho Universitário da Unirio, de dias atrás, se declara contra o genocídio do povo palestino “praticado diante de câmeras e televisionado para todo o mundo”. *A escritora, poeta e jornalista Dora Incontri lembra o aniversário, comemorado dia 02 de outubro, Dia Internacional da Não-Violência, de Mahatma Gandhi, líder da não-violência. Trecho do seu texto, A Sombra das Guerras, no site GGN: “Pouco aprendemos com ele até agora. Que Gandhi e outros mártires da paz nos inspirem caminhos de saída para a humanidade.” Dora é autora de cerca de 30 livros sobre educação, espiritualidade, filosofia e espiritismo das editoras Comenius, Ática e Scipione. A data de 02 de outubro é celebrada como Dia Internacional da Não-Violência. *Informação que a mídia praticamente despreza: a agência Moody’s rebaixou a classificação de crédito de Israel para A2, embora ainda dentro do grau de investimento. A agência se mostra preocupada com os gastos do país em conflitos e com o aumento dos riscos estatais, e já alertou que novos rebaixamentos podem ocorrer se as tensões com o Hezbollah escalarem para um conflito em grande escala. *Dia 16, inauguração do Centro de Estudos Palestinos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e da Cepal, às 17h30, no auditório Nicolau Sevcenko. Na ocasião será lançado o livro/diário de Atef Abu Saif, escritor e sobrevivente do genocídio em Gaza, com título Quero estar acordado quando morrer. O autor foi ministro da Cultura da Autoridade Nacional Palestina, mora em Ramallah, na Cisjordânia, e se encontrava trabalhando em Gaza, no dia 7 de outubro de 2023. Estarão presentes na reunião, Milton Hatoum, Francisco Rezek e Paulo Sergio Pinheiro. (Ed. Elefante). *O arador das águas é o livro da professora, jornalista e tradutora libanesa Hoda Barakat, que vive em Paris desde 1852. O tema: a protagonista, Niqula, herda do pai não apenas uma loja de tecidos, mas uma espécie de código têxtil, uma lente pela qual ele pode compreender o mundo. Entre os escombros de uma Beirute devastada, no porão de sua loja, Niqula reconstruirá, pela lembrança, as sagas da sua família. (Ed. Tabla). *A personagem Mafalda completou 60 anos domingo passado. Foi criada pelo desenhista argentino Quino e ambientada em Buenos Aires, no caso, um símbolo do universo. Mafalda é um contraponto para expor, discutir, denunciar, reclamar, ou também enaltecer, através do humor e da ironia, temas que envolvem feminismo, moralismo, autoritarismo, educação, cultura, poder, repressão, censura, dominação, exploração. Veja Também:  A guerra à inteligência *Em 2023, a Cinemateca Brasileira organizou a primeira edição da mostra itinerante A Cinemateca é Brasileira. A programação percorreu o país levando filmes que perpassam diferentes momentos históricos ao longo de mais de 120 anos de história e uma seleção de 19 títulos que foi exibida em 15 cidades brasileiras. Agora, a Cinemateca realiza a segunda edição da A Cinemateca é Brasileira – Resistências Cinematográficas, desde o início deste mês até julho de 2025, com filmes sobre a vocação democrática do país e sua resistência a retrocessos autoritários; em especial o regime civil-militar com início há 60 anos. *Este ano, os filmes da Cinemateca serão mostrados no Festival do Rio (3/13 de outubro), no Cineteatro São Luiz, em Fortaleza (12/26 de outubro), e no Cine Bangüê, em João Pessoa (13/22 de outubro). Para o próximo ano estão confirmadas temporadas em Curitiba, Recife, Belém, Porto Velho, Brasília, Manaus, Porto Alegre e Garanhuns (PE). Alguns dos filmes: O que é isso companheiro, Cidadão Boilensen, Opinião Pública, Prafrente Brasil, ABC da Greve, Eles não usam Black tie. *Dia 11 de outubro, último dia da Feira do Livro de Porto Alegre, o professor Hildebrando Pereira, da cidade de Canoas, lança seu romance policial, A Passarela da Cabeça, que se passa na cidade-irmã de Porto Alegre a partir de um fato real, em 1976. O escritor deixa com seus personagens a tarefa de elucidar o crime e recria com cuidado Canoas e Porto Alegre na época em que o assassinato foi cometido. (Ed. BesouroBox). *Silviano Santiago chegando aos 88 anos e festejado pela Biblioteca Virtual do Pensamento Social, a BVPS, com o lançamento de uma edição especial com fragmentos do segundo caderno de O grande relógio do mundo, ainda em produção. Nele, o crítico e romancista mineiro arrisca desconstruir o eurocentrismo em uma comparação inédita entre Marcel Proust e Machado de Assis. Na última segunda-feira, dia 30/09, Silviano lançou, na Travessa Ipanema, no Rio de Janeiro, o primeiro caderno da série de O grande relógio: A que hora o mundo recomeça (Editora Nós). *A cantora e compositora moçambicana Lenna Bahule faz show de lançamento do seu mais recente trabalho, o EP (de duração de 4/6 minutos) Nadawi, segundo capítulo da trilogia sonora Kumlango. O público paulistano poderá ouvir ao vivo essas novas canções em espetáculo do Sesc Bom Retiro, hoje (04/10) e amanhã (05/10). *Importante: A Ministra da Cultura Margareth Menezes e o diretor de assuntos europeus e internacionais do CNC, Centre National du Cinéma et de L’image Animée, Jérémie Kessler, assinaram ontem (03/10) um acordo de cooperação audiovisual inédito entre Brasil e França. Solenidade no Armazém da Utopia, sede do Festival do Rio e do RioMarket, o evento de mercado do festival. Trata-se de uma das iniciativas do Ano França-Brasil 2025 para promover obras brasileiras em território francês e vice-versa, e trocar experiências e conhecimentos relacionados à educação no campo cinematográfico e audiovisual relacionados a políticas públicas e ações para preservação, conservação, restauração e divulgação de obras audiovisuais. *O Capital no Antropoceno: qual a relação entre capitalismo, sociedade e natureza? Nesse livro, o filósofo japonês Kohei Saito procura interpretar estudos de Marx diante dos problemas ambientais do século XXI. A mensagem central da obra é esta: o sistema capitalista dominante, de alta financeirização e de busca ilimitada do lucro, está destruindo o planeta. Apenas um novo sistema, com a produção social e a partilha da riqueza como objetivos centrais, é capaz de reparar os danos que foram causados até aqui. O Capital no Antropoceno é best-seller com mais de 500 mil exemplares vendidos no Japão, e publicado na Espanha, China, Coreia do Sul, Alemanha, França, Taiwan, Reino Unido e Estados Unidos. (Ed. Boitempo). *Na semana passada, o brasileiro Baby recebeu o prêmio Abraço, concedido ao melhor filme do Festival de Biarritz. Na mesma semana, o diretor Marcelo Caetano recebeu outro prêmio, de melhor filme queer latino no Encontro de Festivais LGBTQIA+ Ibero-Americanos. Baby estreia no Rio de Janeiro, dia 07, no cinema Estação Net Gávea. *Poucas semanas depois de estrear nos cinemas Motel Destino, o diretor Karim Aïnouz deu início às filmagens de Rosebush Pruning, seu segundo longa-metragem internacional, rodado na Espanha, após Firebrand de 2023. “Estou muito animado para dar vida a esse roteiro audacioso e instigante que desafia nossas noções de família tradicional e de patriarcado”, comemora o cineasta, filho de mãe brasileira e pai argelino. Aïnouz é também o autor do clássico Madame Satã. *Jornalista Foto: Divulgação Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.    

Artigo

A REVOLUÇÃO QUE GANHAMOS E NÃO COMEMORAMOS

Destaque

A REVOLUÇÃO QUE GANHAMOS E NÃO COMEMORAMOS
RED

Por GIOVANNI MESQUITA* Entre as tantas coisas sem fundamento que ouvimos, tem aquela “O gaúchos são o único povo que comemoram uma guerra que perderam”. Não atentam, os apressurados detratores dos méritos do nosso povo, para o que fazem os paulistas em todos os seus nove de julho? E no dia 21 de abril, em que o país inteiro comemora aquela guerra que não deu nem para a saída? Se, com um pouco de propriedade, quisessem apontar no nosso povo alguma incoerência, inédita e incompreensível, eles diriam: O POVO GAÚCHO É O ÚNICO QUE NÃO COMEMORA UMA REVOLUÇÃO QUE VENCEU! E dessa vez teríamos que ficar de bico fechado. Pois, eis o fato, acabamos com uma dominação oligárquica centralista, herdeira saudosa da monarquia escravista, e simplesmente não falamos no assunto. Fingimos que não é com a gente. Recordamos que foi aqui, no pago, que se travou a mais sangrenta das guerras contra a restauração da coroa de Pedro, a Guerra de 1893. Essa longa peleia teve direito até marinheiros da armada, comandados pelo próprio Saldanha da Gama, lutando nas coxilhas contra nosso republicanismo. Foram dizimados quando pateticamente tentavam se equilibrar nas selas. Como diria o adágio gauchesco: ovelha não é pra mato! E mesmo que depois tenham sido convocados nossos melhores degoladores para dar fim de Canudos, em nome da dita república, nosso estado foi altivamente escanteado. Outro tratamento tiveram os cafeicultores, amigos até a última hora de Pedro, que desfilavam seu glamour nos salões da Paulista ou no castelo da Ilha Fiscal. Mas, os republicanos gaúchos, herdeiro dos farroupilhas, souberam se preservar, e aplicar no estado seu programa. Nas mãos desses jovens positivistas, o Rio Grande do Sul se tornou um estado moderno. Com alguns princípios que cuidamos ainda hoje: transparência, laicidade, previsibilidade, legalidade, moralidade e eficiência. A ideia de um estado emulador do desenvolvimento técnico e social. Isso, tudo, é claro, sem democracia. Eles defendiam a ditadura, sim a chamada ditadura das classes esclarecidas. Não se apressem a julgar, em nenhum lugar do Brasil havia a tal da democracia. Os nossos ditadores só se distinguiam dos restantes pelo sincericídio. As elites brasileiras só proclamaram seus primeiros e apaixonados ardores e frêmitos pela democracia, quando o Movimento de 1930 lhes apeou do governo. Como sabemos, em 1929, Getúlio Vargas entrou com uma candidatura alternativa, tendo como vice na chapa o João Pessoa, presidente do pequeno, mas corajoso, estado da Paraíba. Tomou pau. Mas, naquele tempo todos sabiam que o voto não era confiável, que havia grandes roubos. Na época o sistema era impresso e não secreto. E nós tínhamos expertise no caso, tanto é que tivemos um presidente de estado por 25 anos, utilizando esse sistema. Por um acaso, conveniente do destino, João Pessoa foi morto. Essa morte abriu a janela de oportunidade para um povo que estava pronto para governar e não tinha medo de briga, muito pelo contrário. No dia 03 de outubro, foi possível ver, em plena rua dos Andradas, metralhadoras serem colocadas nas torres da igreja das Dores. De lá, eles pipocaram as tropas leais ao governo central, acantonadas no então Quartel General do Exército, na esquina da mesma com a Davi Canabarro. O quartel foi invadido no estilo antigo, as tropas revolucionárias armadas de fuzis e espadas entraram pela porta principal e levaram os legalistas de roldão. Getúlio chamou a turma da campanha e das cidades e encerrou, o então predileto, esporte do estado: o de matarmo-nos mutuamente. Pegou as bandeiras, que trazíamos nos pescoços, como fala a milonga Sabe Moço, de Francisco Alves, e amarrou a vermelha na branca. Aquele nó se tornou o símbolo da união de gregos e troianos, de ximangos, libertadores e maragatos. Aí, ficou difícil de segurar... Zilhares de tropas embarcam em trens, milhares de gaúchos atravessam, a cavalo, as três divisas estaduais em direção a São Paulo e Rio. Ao saber que a cavalaria rio-grandense estava a caminho a elite, paulista e carioca, sentiu o pelo da nuca arrepiar, porque quem tem, tem medo.... Duas poderosas massas de homens armados se encontrarem em Itararé. Preteou o olho da gateada. Mas, não houve luta. A famosa lábia de Getúlio, que já tinha a coisa muito bem encilhada, deu conta do assunto, sem que, praticamente, houvesse entreveiro. Dessa forma se colocou fim na supremacia inquestionada da política do café com leite. Os derrotados foram aqueles, que ainda vemos por aí, que amavam o mercado externo e tinham um profundo nojo, do nosso país e do nosso povo. Eles queriam, e ainda querem, um país que fosse um eterno fazendão. O velho GG, para governar o país, deu uma aperfeiçoada na prática político/administrativa, que aprendera com Júlio de Castilhos e Borges de Medeiro. Começou a criar instituições nacionais, onde só havia o exército e a Igreja. Lançou as bases para a prospecção da matéria prima, que iria constituir a indústria brasileira, gerou uma série de direitos sociais que impulsionaram o aumento de um mercado interno consumidor. A lista é extensa, de transformações que deveriam ter acontecido em 1889, ou talvez em 1845. Tchau VIVA A REVOLUÇÃO DE TRINTA, AQUELA QUE VENCEMOS.   *Historiador e Museólogo Foto: Divulgação Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.      

Justiça

Bolsonaro zomba da Justiça, posa de “vítima” e faz campanha livremente

Destaque

Bolsonaro zomba da Justiça, posa de “vítima” e faz campanha livremente
RED

Por BENEDITO TADEU CÉSAR* O papel do Procurador-Geral da República e do STF na postergação dos inquéritos de Bolsonaro e seus aliados: impactos nas eleições e a impunidade dos articuladores do golpe de 8 de janeiro Nos últimos meses, o cenário político brasileiro tem sido marcado por um jogo de manobras que favorece, deliberadamente ou não, Jair Bolsonaro e seus aliados. A atuação do Procurador-Geral da República (PGR) e do Supremo Tribunal Federal (STF) na condução dos inquéritos que investigam os crimes do ex-presidente tem gerado indignação. A ampliação repetida dos prazos para a conclusão dessas investigações não apenas favorece Bolsonaro e os políticos, empresários e militares a ele vinculados, mas também levanta suspeitas sobre a conivência ou a leniência dessas instituições diante de atos graves que ameaçaram a democracia. Enquanto manifestantes que participaram da invasão de 8 de janeiro são rapidamente punidos, os articuladores e beneficiários desse golpe fracassado, incluindo Bolsonaro e seus filhos, continuam blindados pela morosidade do sistema judicial. Inquéritos contra Jair Bolsonaro: um ciclo de adiamentos Desde que deixou a presidência, Jair Bolsonaro está no centro de uma série de investigações que, em qualquer sistema de Justiça minimamente célere e eficaz, já deveriam ter resultado em sanções contundentes. No entanto, o que se vê é uma verdadeira "dança dos prazos", na qual a Justiça parece trabalhar para proteger o ex-presidente e seus asseclas. O Inquérito das Fake News (INQ 4781), por exemplo, que apura a participação de Bolsonaro em um esquema coordenado de desinformação e ataques às instituições democráticas, se arrasta sem fim. Esse inquérito, que deveria ter como objetivo expor e punir os responsáveis pela radicalização do eleitorado bolsonarista e pelos ataques às bases democráticas, tornou-se mais um exemplo do descaso com a Justiça, marcado por sucessivas prorrogações que apenas reforçam a impunidade. Além disso, outros inquéritos, como o Inquérito 4878, que investiga a gestão desastrosa da pandemia de Covid-19, e a investigação sobre as joias sauditas, envolvendo militares e aliados próximos, estão paralisados pela mesma letargia. A conclusão do inquérito da Polícia Federal que apura uma possível articulação do ex-presidente Jair Bolsonaro para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022 foi adiada. Inicialmente prevista para setembro, a investigação foi postergada e segue em curso. Informações atribuídas pela imprensa à assessores da PGR, dão conta de que o Procurador Geral teria decidido não apresentar denúncia antes das eleições municipais para "não politizar" a decisão. Contrariamente ao alegado, caso a informação seja verdadeira, ela revela uma postura essencialmente politizada do próprio Procurador Geral da República. Enquanto isso, o ex-presidente, que deveria estar respondendo por sua irresponsabilidade, continua atuando politicamente, influindo nas eleições de 2024 e preparando-se para as eleições de 2026, como se nada tivesse acontecido. De forma zombeteira e provocativa, Bolsonaro ousou afirmar, em vídeo em apoio ao seu candidato na cidade do Rio de Janeiro, divulgado dias antes da eleição: "Eu acho que eles não querem nem me prender mais. Reunir com traficantes tudo bem, mas reunir com embaixadores é criminoso". Mesmo afrontada, a Justiça Eleitoral não impôs, até agora, qualquer medida punitiva. A impunidade para os organizadores e beneficiários do golpe de 8 de janeiro A disparidade no tratamento entre os que executaram diretamente a invasão de 8 de janeiro e os que arquitetaram o golpe é um retrato da seletividade da Justiça brasileira. Centenas de manifestantes, muitos dos quais foram manipulados por uma campanha de desinformação, foram rapidamente condenados. No entanto, os organizadores, incitadores e principais beneficiários do golpe – Jair Bolsonaro, seus filhos, empresários e militares aliados – permanecem imunes à responsabilização. Efeitos catastróficos para a democracia A ampliação dos prazos dos inquéritos não é apenas uma questão jurídica, mas uma questão profundamente política, com consequências devastadoras para o futuro da democracia brasileira. Ao permitir que Bolsonaro e seus aliados escapem da Justiça, ainda que temporariamente, as instituições estão reforçando uma percepção perigosa: a de que as principais lideranças da extrema-direita no país estão acima da lei. O efeito disso é triplo. Enquanto os inquéritos não são concluídos, a Procuradoria Geral da União não se manifesta oficialmente, o que gera uma espécie de limbo jurídico-político, que beneficia enormemente a atuação política de Bolsonaro e seu clã, pois Bolsonaro nem se torna réu nem é inocentado. Apresentando-se como perseguido e zombando da atuação da Justiça, Bolsonaro e seu clã atuam fortemente durante todo o período eleitoral de 2024, apoiando integrantes do seu campo político para as Prefeituras e Câmaras Municipais, o que lhes dará maior poder político e beneficiará enormemente sua atuação nas eleições de 2026, para os governos estaduais e federal. Por fim, a impunidade prolongada de Bolsonaro e seu clã alimenta a descrença nas instituições democráticas, dando força ao discurso antissistema que eles mesmos propagam. Se as instituições não agirem com rapidez e rigor, o Brasil corre o risco de consolidar um estado de impunidade permanente, no qual líderes políticos como Bolsonaro se fortalecem à custa da fragilidade democrática. *Benedito Tadeu César é cientista político e professor universitário e integrante das coordenações do Comitê em Defesa da Democracia e do Estado Democrático de Direito e da Rede Estação Democracia RED. Foto da capa: Bolsonaro em campanha 2024, no Ginásio do Guarani FC, 29/09/2024 - Crédito: Leonardo Vieira/Sampi Campinas Leia também o texto de Lênio Streck – O tempo que conspira a favor de Bolsonaro Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

Artigo

TCE/RS – UM TRIBUNAL CONSTRANGIDO?

Destaque

TCE/RS – UM TRIBUNAL CONSTRANGIDO?
RED

Por ARILSON WUNSCH* Ao longo de todo o processo de privatização — ou doação, para ser mais assertivo — da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) pelo governo Eduardo Leite, o Sindiágua/RS travou uma batalha hercúlea para mostrar à sociedade gaúcha e aos tribunais a verdadeira destruição do patrimônio público em curso e o encaminhamento de um mau "negócio" para os cofres do Estado. Após os subsídios relevantes repassados pelo Sindicato às autoridades, somados a uma análise criteriosa do Ministério Público de Contas (MPC/RS), a 1ª Câmara do Tribunal de Contas do Estado (TCE/RS) anulou todo o certame do leilão que visava sacramentar a privatização da Corsan. O revés para o governador Eduardo Leite veio em forma de um voto muito bem fundamentado pela conselheira relatora, que apontou diversas irregularidades na formatação dos cálculos e possíveis prejuízos ao erário. Porém, a assinatura do contrato entre a AEGEA, única empresa participante do leilão, e o Governo do Estado foi autorizada por uma decisão monocrática da presidência do TCE/RS, usufruindo de uma prerrogativa nunca vista na história do Tribunal. Passados quase 500 dias da assinatura do contrato autorizada por essa “liminar artificial”, o Pleno da Corte, que deveria ser célere na análise do voto da relatora do processo, validando ou não o leilão, até hoje não se posicionou. O que ainda estaria sendo analisado para que a sociedade gaúcha não tenha uma resposta clara e convincente sobre a lisura do processo de privatização? Além dos riscos de se renunciar a autonomia na gestão da água, o Sindiágua/RS sempre apontou a absurda subvalorização da Corsan promovida pelo governo Eduardo Leite. Em comparação, recentemente a Companhia de Saneamento de Sergipe (DESO) foi vendida para o Grupo Iguá, do qual vários atores da privatização da Corsan fazem parte, por R$ 4,5 bilhões. Trata-se de uma concessão parcial, abrangendo apenas 37 municípios do Estado de Sergipe, com ágio de 122%. Já a Corsan foi vendida em sua totalidade, com 317 municípios, por R$ 4,151 bilhões, com um ágio insignificante de 1,15%. Essa é mais uma prova de que o Sindicato sempre esteve certo, de que o voto da relatora da 1ª Câmara do TCE/RS foi preciso na defesa dos interesses do Estado e de que o Ministério Público de Contas fez o seu papel ao alertar que o leilão, da forma como foi encaminhado, não poderia se concretizar. Uma nota dissonante em todo esse processo dos órgãos fiscalizadores é o silêncio ensurdecedor do Pleno do TCE/RS, que em breve completará 500 dias. Talvez seja possível pensar que os integrantes da Corte estejam constrangidos em colocar suas digitais nesse “negócio nebuloso”. A história tratará de cobrar essa conta.   *Presidente do Sindiágua/RS Foto: divulgação/TCE-RS Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.  

Mostrando 6 de 4909 resultados
Carregar mais