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Gauche-Lepenismo?

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Por Martin Barnay Os impressionantes sucessos eleitorais do Rassemblement national da França no mês passado naturalmente provocaram muita reflexão sobre as fontes desse avanço histórico para a extrema direita do país no pós-guerra. O RN ganhou 30 de 81 assentos nas eleições da UE em junho: a maior delegação parlamentar de todos os partidos na Europa, obtendo mais do que o dobro da parcela de votos do bloco de Emmanuel Macron. No primeiro turno das eleições antecipadas subsequentes para a Assembleia Nacional, o RN garantiu 33% do voto popular. O Nouveau Front populaire – uma ampla aliança de esquerda que inclui os socialistas, La France insoumise, os verdes e os comunistas – ficou atrás com 28%, com o Ensemble de Macron com apenas 20%. As pesquisas estão prevendo que o RN, no entanto, ficará aquém de uma maioria viável no segundo turno no domingo, bloqueado por uma "Frente Republicana" abrangendo o centro e partes da esquerda. Um total de 221 candidatos do NFP e do Conjunto de Macron se retiraram da corrida para evitar a divisão dos votos, embora a distribuição seja desigual: 132 candidatos do NFP ficaram de lado em comparação com 83 macronistas, e os candidatos anti-RN ainda estão se enfrentando em disputas de três vias em quase 100 distritos eleitorais. Isso reflete a relutância do centro em colaborar com o LFI de Jean-Luc Mélenchon, que muitos deles veem como tão perigoso quanto a extrema direita, se não mais. Alguns especularam que, no caso de um parlamento suspenso, Macron renunciará e usará uma interpretação controversa da constituição para concorrer a outro mandato presidencial. Mas tal golpe de estado seria extremamente arriscado. É mais provável que ele tente nomear um primeiro-ministro "moderado" que possa montar um governo composto por figuras como François Hollande, que tem trabalhado duro para lavar sua reputação, o ex-ministro da Saúde de Macron, Aurélien Rousseau, um candidato do NFP, e até mesmo o dissidente do LFI, François Ruffin. Essa formação então abriria caminho para um candidato de unidade anti-Mélenchon na eleição presidencial de 2027, reconsolidando o centro e excluindo os "extremos". Mesmo que o RN seja impedido de formar um governo desta vez, o partido provavelmente estará em uma posição forte para se autodenominar a única oposição do país e esperar até a próxima votação. Quais regiões e fatores estão impulsionando o aumento impressionante no apoio ao RN? Até agora, houve pouca discussão sobre as fortes exibições do RN em partes do país até então resistentes à extrema direita. Nas eleições da UE, a lista do RN ficou no topo em todas as categorias sociodemográficas analisadas pelos pesquisadores, incluindo famílias no quartil de renda mais alto. Entre as ocupações intermediárias, como empregos administrativos e de vendas, o voto do RN saltou de 19% para 29%. O salto foi ainda maior entre aqueles com dois anos ou mais de ensino superior: de 16% para 29%. O partido também está avançando entre gerentes e aposentados. Agora está em 20% entre os primeiros, em pé de igualdade com o Partido Socialista (e acima dos 13% em 2019); entre os últimos, o RN detém uma liderança considerável: 29% dos aposentados, em comparação com 23% para a lista de Macron. Sintomático da normalização do voto no RN, nas eleições europeias as listas de extrema direita saíram vitoriosas no rico 16º arrondissement de Paris, um bastião histórico da direita liberal. Tudo isso exige alguma reconsideração da composição do eleitorado lepéniste. A visão dominante, implacavelmente expressa pela grande mídia e líderes partidários, tem sido que o voto do RN é um grito do coração do "povo esquecido" da França — aqueles negligenciados pela Europa, pela globalização, pelas elites e, acima de tudo, pela esquerda. De acordo com essa perspectiva, comunidades da classe trabalhadora anteriormente comunistas se desviaram para a extrema direita, impulsionadas pelas sucessivas traições da social-democracia e dos movimentos progressistas. Os especialistas repetem a noção de que o RN — o principal partido dos trabalhadores da França nas pesquisas — é herdeiro dos valores conservadores e voltados para a família que caracterizaram o antigo PCF. Geograficamente, seu voto é percebido como enraizado em "La France périphérique", para usar a frase popularizada por Christophe Guilluy: áreas rurais deprimidas, longe dos principais centros de transporte e centros dinâmicos de emprego. Essa tese dita "gauche-lepéniste" constitui o pano de fundo do Retour à Reims (2009), de Didier Eribon, no qual Eribon relata a trajetória política de sua família operária do nordeste, do PCF à Frente Nacional, antecessora da RN. É certamente verdade que a FN há muito tempo faz esforços para estabelecer uma presença no norte e nordeste – mais emblemático o paraquedismo de Marine Le Pen em 2012 e sua eleição nas eleições legislativas de 2017 em Hénin-Beaumont, o coração da antiga área de mineração de Hauts-de-France. No entanto, localizar a base da FN/RN em áreas desindustrializadas e antigos eleitores do PCF é muito simplista. Uma abundância de literatura de ciências sociais destaca a natureza proteica de seu voto, enquanto os dados mostram que a abstenção continua sendo de longe a opção mais comum entre aqueles que antes teriam votado no PCF. Embora os padrões de votação mostrem regularmente a FN/RN na liderança entre os trabalhadores de colarinho azul, é importante notar que a classificação do INSEE inclui pequenos comerciantes, um estrato que sempre foi atraído para a direita. Pense nos 'petits métiers' dos romances naturalistas do século XIX, cuja ambivalência em relação aos chefes e às ideias revolucionárias é evocada em L'Assommoir, de Zola. Hoje, essas ocupações — açougueiros, jardineiros, motoristas de caminhão, mecânicos de garagem e construtores — são estatisticamente as mais numerosas entre a classe trabalhadora. Esses são empregos que não podem ser facilmente terceirizados. Ao contrário do trabalho fabril, que vem diminuindo desde a década de 1980, eles foram relativamente poupados pela globalização. Uma versão mais sutil da tese "gauche-lepéniste" requer uma compreensão mais clara da política evolutiva e muitas vezes contraditória do próprio partido. Muitos argumentam que o RN (e o FN antes dele) são "bifrons", ou duas caras - apelando tanto para a direita quanto para a esquerda. Isso também pode ser exagerado. A inclinação "social" do RN foi promovida em particular pelo antigo braço direito de Marine Le Pen, Florian Philippot, um ex-chevènementiste que encorajou o partido a se apresentar como o campeão daqueles presos entre os grandes que monopolizam tudo e os pequenos - os imigrantes desempregados e ociosos - que não produzem nada. A plataforma de 2017 do RN incluiu uma série de medidas, como reduzir a idade de aposentadoria para 60 anos e aumentar os salários, o que posicionou o partido à esquerda do liberalismo identitário da direita de Sarkozy. Ao mesmo tempo, particularmente no sudeste, a RN continuou a se alinhar aos valores da direita tradicional – aqueles dos pequenos proprietários, hostis à tributação e apegados à lei e à ordem. No entanto, essa orientação, que tem raízes profundas na FN e é descendente do Poujado-Reaganismo de Le Pen pai, tornou-se hegemônica mais uma vez após o relativo fracasso do partido nas eleições legislativas de 2017 e a expulsão de Philippot da liderança. Os elementos "sociais" do programa de 2017 foram descartados da plataforma de 2022, considerados incompatíveis com o objetivo de unir forças com a ala direita de Les Républicains. Essa mudança de guarda reorientou o partido para suas terras centrais, longe do norte desindustrializado: Provença e o interior de Nice. Após as eleições de 2022, um em cada dois parlamentares na Provença-Alpes-Côte d'Azur (PACA) era da RN. Esta região abriga uma grande concentração de repatriados pied-noir da Argélia e seus descendentes, cujo imaginário coletivo foi formado pela era colonial. O apoio à FN aqui era de uma peça com a rejeição dos Acordos de Evian e a hostilidade para com os "bradeurs de l'Empire", como a direita gaullista foi rotulada por Jean-Louis Tixier-Vignancour, candidato presidencial de extrema direita em 1965. Jean-Marie Le Pen sucedeu Tixier como chefe deste movimento nebuloso, que englobava ex-militantes da OEA e vários grupos neofascistas, bem como monarquistas e católicos tradicionalistas. Mitterrand, adversário político de de Gaulle, cultivou relações com esses ultras ao longo de sua carreira política, culminando em uma anistia presidencial para os generais que encenaram o putsch de Argel em abril de 1961. Desde então, esse eleitorado marginal abandonou os socialistas e retornou ao seu lar político natural: o RN. No entanto, isso dificilmente é um movimento da esquerda para a direita, como é frequentemente retratado. O racismo que caracterizava as relações sociais nas colônias era, portanto, parte do DNA da FN. Foi originalmente exacerbado pelo fato de que os repatriados eram eles próprios vítimas de xenofobia quando chegaram à França. Ondas subsequentes de imigração, portanto, ofereceram a eles a oportunidade de se juntar ao grupo majoritário, distinguindo-se das novas minorias. A imigração tem sido uma constante do discurso da FN/RN, embora seu significado tenha mudado: o imigrante não é mais figurado como a pessoa que rouba empregos, mas sim como o beneficiário da assistência social que rouba dinheiro. Isso tem sido parte de um realinhamento demográfico que viu o partido passar de um voto predominantemente urbano na década de 1980 — as primeiras grandes campanhas de Jean-Marie Le Pen foram motivadas pela hostilidade em relação aos imigrantes em proximidade física — para um voto rural e suburbano, atingindo seu pico em áreas onde a imigração é virtualmente ausente. Como Félicien Faury aponta em seu livro sobre os apoiadores do Lepéniste na região do PACA, as dimensões culturais do voto FN/RN tendem a ser negligenciadas em favor de interpretações economicistas. No livro recente de Thomas Piketty e Julia Cagé, por exemplo, uma visão geral abrangente das forças motrizes por trás da votação na França desde 1789, o comportamento eleitoral é explicado principalmente por meio de desigualdades de renda. No entanto, o núcleo do eleitorado da FN sempre foi o eleitorado da classe média, aqueles que podem se dar ao luxo de colocar "un peu d'argent de côté" no jargão dos pesquisadores. Se os temas de Jean-Marie Le Pen apelaram a certas frações das classes populares, foi porque a propriedade privada havia se tornado uma pedra angular da identidade da classe trabalhadora. Como Violaine Girard nos lembra, o outro lado da desindustrialização foi o acesso massivo por meio de subvenções à propriedade individual em pequena escala. Embora as pesquisas mostrem que o voto do RN, assim como o voto do LFI, está concentrado na extremidade inferior da escala de renda, o peso dessa variável é qualificado pelo fato de que os apoiadores do RN tendem a estar baseados em áreas onde o custo de vida é menor. E, ao contrário das perspectivas centradas na desigualdade de riqueza, o nível de educação prova ser um determinante maior. A retórica lepéniste é mais eficaz em lugares onde o sucesso social não é associado à realização educacional. Nesses ambientes, a identificação com os interesses do chefe — geralmente um amigo que controla as oportunidades de emprego — é predominante. Isso foi reforçado pelo desaparecimento de retransmissores tradicionais de perspectivas de esquerda. Conforme relatado pelo sociólogo Benoît Coquard, autor de uma etnografia de longo prazo da vida social em áreas rurais, muitos professores, que muitas vezes também eram treinadores do clube esportivo e antes eram considerados notáveis ​​locais em suas aldeias, partiram e se mudaram para as cidades. O ethos do pequeno empresário trabalhador – o empreendedor que não conta suas horas – é mantido como um modelo, enquanto votar à esquerda se tornou estigmatizado como a escolha dos preguiçosos. A ambivalência nessas áreas em relação ao movimento gilet jaunes testemunha essa tendência. Coquard mostrou que o apoio inicial desapareceu à medida que o movimento se urbanizou, com a cobertura da mídia mudando de bloqueios de rotatórias e pedágios para manifestações de rua. Por fim, enquanto o discurso da "França periférica" ​​se concentrou na realocação industrial e na concentração econômica nas metrópoles, para os eleitores do RN a principal preocupação parece ser menos emprego do que onde vivem. No PACA, o setor de turismo responde por 13% da economia, em comparação com 8% nacionalmente. Nesse aspecto, a globalização tem sido uma bênção para a região, mas a desvantagem tem sido um influxo de burgueses do norte e do exterior. A "grande substituição" da classe média local reflete uma desvalorização geográfica e não profissional - as "beaux coins" onde as pessoas planejavam se aposentar tornaram-se inacessíveis, prendendo pequenos empresários e funcionários de classe média nos subúrbios em declínio. Esse ressentimento alimenta uma consciência social "triangular" - tanto antielite quanto anti-beneficiário do bem-estar social - em contraste com o dicotômico "nós e eles" do discurso de esquerda. Tal interpretação parece ser confirmada pelo avanço da RN no oeste do país, onde as restrições anti-Covid e o trabalho remoto atraíram trabalhadores de colarinho branco para a orla marítima. Enquanto esses transfugos ocupam as charmosas cabanas do estuário do Gironde, os pescadores independentes são relegados ao interior, com seu poder de compra minado pela explosão dos preços dos combustíveis. A ascensão da RN na Bretanha é simbólica. Esta região relativamente privilegiada se beneficia de uma taxa de criação de empregos superior à média nacional. Mas, como no resto do país, seu dinamismo econômico é baseado principalmente no setor terciário. Historicamente uma terra de agricultura e indústria – têxteis, automóveis, metalurgia, borracha – hoje o número de segundas residências e acomodações sazonais está disparando, levando à desertificação de vilas no inverno e ao fenômeno dos "volets fermés". A tese da "França periférica" ​​descreve uma polarização territorial inexorável, mas pesquisas revelam antagonismos dentro dessas áreas: entre as regiões cênicas que atraem as classes médias altas educadas e os lugares negligenciados - os "endroits moches" - onde o RN tem o vento em suas velas. Quais são as chances de uma mudança para a esquerda entre esse eleitorado? Alguns comentaristas insistem que conquistar a base do RN é uma causa perdida, e que a esquerda faria melhor se concentrasse em áreas com maioria macronista. No entanto, as pesquisas mostram um amplo consenso a favor de medidas progressivas em nível nacional: um aumento no salário mínimo, ao qual o grupo parlamentar do RN se opôs em 2022, e uma legislação mais rígida sobre padrões de segurança no local de trabalho, uma questão importante para estratos frequentemente empregados em empregos de alto risco. As pessoas que vivem nos subúrbios estão apegadas a serviços e instalações públicas, como ilustrado pelos protestos em vilas e cidades contra o fechamento de escolas. Estabelecer limites para a especulação imobiliária — o verdadeiro combustível para o voto do RN em áreas onde o partido está crescendo rapidamente — enviaria um sinal poderoso. A vacilação do RN sobre a idade de aposentadoria e o salário mínimo, e a recusa em reduzir o IVA sobre as necessidades básicas, enquanto isso, parecem apresentar oportunidades. O partido está do lado do pequeno artesão, sufocado pelos altos preços da energia, ou do lado do capital, que se beneficiou amplamente da crise inflacionária? Essas são as contradições que a esquerda deveria colocar em relevo. Continue lendo: Serge Halimi, 'Condição da França' , NLR 144 - *Serge Halimi é um jornalista que trabalha no Le Monde diplomatique desde 1992. Em março de 2008, ele se tornou o diretor editorial. Foto: Cartazes de candidatos da Nova Frente Popular, aliança de esquerda.  Foto: Emmanuel Dunand/AFP Traduzido automaticamente da NEW LEFT REVIEW, 6 MEARD ST, LONDON - New Left Review: https://newleftreview.org/sidecar/posts/gaucho-lepenism?pc=1615 Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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O Militar e a Fé Religiosa

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O Militar e a Fé Religiosa
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Manuel Domingos Neto* Um vídeo circulou essa semana mostrando um auditório repleto de militares numa celebração religiosa falsamente apresentada como neopentecostal. Na verdade, tratava-se de rotineira celebração da Páscoa dos militares que, desde a Segunda Guerra Mundial, ocorre à margem do calendário da Igreja Católica. A postagem maldosa inquietou brasileiros preocupados com as ameaças à democracia: de instituições militares e policiais contaminadas por fundamentalismos religiosos só cabe esperar aberrações sem limites. Até a recente invasão da Faixa de Gaza, eu recorria à descrição da tomada de Jerusalém do bispo francês Raymond d’Agile para exemplificar a santificação do derramamento de sangue: “Coisas admiráveis são vistas... Nas ruas e nas praças da cidade, pedaços de cabeça, de mãos, de pés. Os homens e os cavaleiros marcham por todos os lados através de cadáveres... No Templo e no Pórtico, ia-se a cavalo com o sangue até a brida. Justo e admirável o julgamento de Deus que quis que esse lugar recebesse o sangue dos blasfemos que o haviam emporcalhado. Espetáculos celestes... Na Igreja e por toda a cidade o povo rendia graças ao Eterno”. Sabemos dos estragos do fanatismo religioso na política: falseia o escrutínio da representação popular e explode a institucionalidade. Sabemos também que a composição do Congresso Nacional não representa o espectro político-ideológico brasileiro. O que não sabemos é a profundidade da penetração do discurso neopentecostal nos instrumentos de força do Estado. Apenas temos consciência de que existe e tem potencial nefasto. Como um Estado proclamado laico deve lidar com o ativismo religioso em suas entranhas? Eis um problema permanente da modernidade, que se exprime de forma aguda no quartel. A entidade que justifica a guerra entre civilizados é a nação, também designada pátria. Ao destacar os cenotáfios (túmulos sem restos mortais) na construção desse ente, Benedict Anderson demonstrou como sua legitimação deriva da religiosidade: remete ao passado longínquo e à eternidade. O encarregado de sustentar a nação pelas armas é, sem escapatória, envolvido por sua sacralidade. O combatente contemporâneo se veste de mandatário do “bem” em luta sagrada contra o “mal”. Presta juramento e reverencia a bandeira nacional feito um cruzado medieval diante da cruz. Não desatualiza a mordacidade de Voltaire: “o maravilhoso, nesta empresa infernal (a guerra), é que todos os chefes de assassinos fazem benzer as bandeiras e invocam solenemente Deus antes de exterminar o próximo”. Guerreiros, em qualquer tempo e lugar, são levados a cultivar a “bela morte”: amam a vida, gostam de facilidades materiais e projeção social, mas perseguem a glória, algo além daquilo que a existência terrena pode oferecer. Heróis de guerra são reverenciados em todas as sociedades. Fascinam, galvanizam multidões e estimulam processos sociais. A disposição do moderno de ver a guerra como algo excepcional demanda cortes arbitrários como os estabelecidos entre o “religioso”, o “político”, o “econômico”, o “científico”, o “diplomático” e o “militar”. A rigor, nenhum desses domínios pode ser compreendido como desconexo. As distinções arbitrárias, bem como os sempre frustrados acordos de desarmamento, as tentativas fracassadas de classificar e regulamentar o comportamento de combatentes de vida e morte ou ainda as quiméricas neutralidades nos conflitos entre Estados nacionais, camuflam o mal-estar provocado pela eliminação dos semelhantes. Se o Estado laico não pode interditar atividades religiosas no quartel, é fundamental que estabeleça limites. Isso requer garantia da plena liberdade de crença, incompatível com a prevalência formal da Igreja Católica, e a contenção do fanatismo. É hora de rever a chamada capelania: missionários não podem ser admitidos como funcionários remunerados. Cabe assegurar a presença, no quartel, do mosaico de crenças da sociedade brasileira. Aos comandos, cumpre observar o estrito respeito à diversidade religiosa. Quanto à pessoa que apresentou falsamente o vídeo sobre a celebração da Páscoa dos militares, saiba que conseguiu angustiar os que gostam da democracia e irritar em vão os que, no quartel, buscavam o agasalho de Cristo. Que tal arranjar outra coisa para fazer? *Professor da Universidade Federal do Ceará e professor associado da Universidade Federal Fluminense, foi também vice-presidente do CNPq e presidente da Associação Brasileira de Estudos de Defesa (ABED). Foto: Base de Administração e Apoio do Comando Militar do Oeste, culto ecumênico. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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PROGRAMAS – DE 04 A 12 DE JULHO

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PROGRAMAS – DE 04 A 12 DE JULHO
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Por Léa Maria Aarão Reis* *O programa continua sendo o de refletir e denunciar o que se passa na guerra genocida na Palestina. Torna-se quase “impossível”, lamentou Louise Wateridge, da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina, continuar fornecendo “suprimentos de ajuda” para quem está lutando para sobreviver “devido ao cerco imposto por Israel”. Motivos: a presente falta de combustível e as dificuldades para o pessoal que trabalha na UNRWA. *Esta semana, no dia 4, data do aniversário da Independência dos EUA, houve mais uma maciça mobilização popular em Nova Iorque para registrar os nove meses de manifestações em ruas da cidade em prol da libertação de Gaza, do cessar fogo imediato e da instituição de um estado livre da “colonização”, dizem os que protestam. *Em São Paulo houve movimentos de rua pró-Palestina e de reivindicação ao embargo militar a Israel. Na calçada da ALESP, defronte do Comando Militar do Sudeste, no bairro de Paraíso. *O médico Abu Salmiya, detido em um comboio humanitário que transportava pessoas feridas, em Gaza, após ser libertado da prisão na qual se encontrava em Israel, denunciou as condições “trágicas” nas prisões israelenses onde os palestinos são privados de comida, água e medicamentos, regularmente, e sofrem constantes “insultos”. Palestinos diabéticos tiveram os pés amputados, segundo ele, ao invés de tratarem a doença. *Sugestão de leitura: O naufrágio das civilizações, do escritor líbano-francês Amin Maalouf, da Academia Francesa, ocupante da cadeira que foi de Claude Lévi-Strauss. Fazendo alusão à tragédia do Titanic, que em 1912 sucumbiu diante de um iceberg imperceptível, Maalouf antevê a possibilidade de a humanidade perecer em face do que ele considera as três chagas que hoje afligem o convulsionado mundo moderno: os conflitos identitários e nacionalistas, o islamismo radical e o ultraliberalismo (Editora Vestígio). *Grande programa: assistir no Canal Curta e ouvir a série de oito episódios de Na Trilha do Som escrita pelo jornalista e crítico de cinema Marcelo Janot. Documentário com a trajetória de estrelas de diversas gerações produtores de trilhas sonoras onde cada compositor é o foco de um episódio. Uma “experiência cinematográfica plena que passa também por ouvir o filme, qualquer que seja o seu gênero”, anota a apresentação do Canal Curta onde a série está sendo apresentada. Próximos dias 06, 07, 08, 09 e 10. Imperdível. *Depois da estreia de Motel Destino na mostra oficial do Festival de Cannes, em maio deste ano, Karim Aïnouz já tem data para mostrar o seu mais recente longa-metragem no Brasil. Dia 9 de agosto, o thriller erótico estrelado por Fabio Assunção, Iago Xavier e Nataly Rocha abrirá o Festival de Gramado e dia 22 desse mês estreia no circuito cinematográfico. O oitavo filme de ficção do cineasta cearense chega a Gramado após Firebrand, seu primeiro projeto em língua inglesa, ano passado. *As Polacas, longa-metragem de João Jardim, livremente inspirado nos livros El Infierno Prometido, de Elsa Drucaroff, e La Polaca, de Myrtha Schalom, traz a dramática história de mulheres judias europeias, em sua maioria de origem polonesa, enganadas com promessas de uma vida melhor em países distantes, e levadas a trabalhar em prostíbulos. No filme, a protagonista Rebeca, judia que chega ao Brasil fugindo da guerra na Polônia, em 1917, com o filho pequeno Joseph, no Rio de Janeiro se torna alvo de Tzvi (Caco), dono de um bordel. Uma grande história que chega aos cinemas ainda este ano, em novembro. *Lançamentos cariocas: no Rio de Janeiro, na livraria Argumento, O primeiro golpe do Brasil, livro de Ricardo Lessa. E Cinema pelo Caminho, importante conjunto de filmes curtas de Roberval Duarte foi apresentado no cinema Estação Botafogo. *Outro lançamento que merece toda atenção: o álbum 60 anos de MPB comemorando seis décadas de carreira e sucessos de público e crítica, gravado quase todo no último verão, no estúdio da Biscoito Fino, no Rio de Janeiro. Participações de Alceu Valença, Chico Buarque, Dori Caymmi, Edu Lobo, Francis Hime, Guinga, Ivan Lins, João Bosco, Kleiton & Kledir, Milton Nascimento, Paulinho da Viola e Toquinho. Apenas as vozes de Alceu Valença, Milton Nascimento e Toquinho foram gravadas em outros estúdios. Veja Também:  Extrema-direita brasileira freia a regulamentação das redes digitais *O ator Al Pacino está sendo homenageado com a Mostra Pacino, no Centro Cultural Banco do Brasil, São Paulo, até 18 de agosto. A Mostra também será realizada no CCBB de Brasília. Na programação, 24 filmes e debate com Maria Fernanda Vomero, jornalista e doutora em Artes Cênicas e Vanderlei Bernardino, ator e mestre em Meios e Processos Audiovisuais. *Na mesma Mostra, um curso sobre a história da atuação no cinema, com duração de 6 horas, sobre o método moderno de interpretação nos Estados Unidos, e filmes clássicos de Al Pacino: Perfume de Mulher, Oscar em 1993, a trilogia O Poderoso Chefão, O Informante e Um Dia de Cão, deSidney Lumet e Serpico, entre outros. *No Clube de Leitura deste mês da Editora Tabla, um dos trabalhos escolhidos é o vencedor do Prêmio Turjuman 2021, Onze astros, do poeta palestino Mahmud Darwich, traduzido diretamente do árabe para o português pelo também poeta e professor de língua e literatura árabe Michel Sleiman. Para se inscrever, basta acessar o formulário disponível. *Lançado em junho, Miséria da Informação – dilemas éticos da era digital, do sociólogo e professor da UFRJ, Arthur Coelho Bezerra, levanta “questões sobre destruição das esferas digitais quase públicas pela desinformação e ações delituosas de difamação com a contraposição entre um futuro algorítmico projetado pelas Big Tech e os efeitos disruptivos da matriz energética em que se amparam”, apresentação do livro pela Editora Garamond. *Esta semana, a plataforma Sesc Digital traz dois documentários brasileiros e mais um longa francês interessante. A Batalha de Solferino é ficção e é o primeiro filme dirigido pela cineasta Justine Triet. Ele acompanha o disputado segundo turno das eleições francesas de 2012 através do dia da protagonista Laetitia, jornalista, mãe de duas bebês e divorciada, que trabalha na cobertura da apuração eleitoral na Rua Solferino, endereço da sede do Partido Socialista. Dez anos depois, com Anatomia de uma Queda, Justine ganhou a Palma de Ouro em Cannes. *Atenção: semana passada foi realizadamais uma mobilização de indígenas com o acampamento, em Brasília, do Levante pela Terra, cobrando do governo mais demarcações (que estão “travadas”, dizem os participantes) e com denúncias de favorecimento do agro por meio do Plano Safra. *O Teatro do Pequeno Gesto, do Rio de Janeiro, acaba de comemorar seus 33 anos de existência no Espaço Cultural Sergio Porto com o espetáculo AntígonaCreonte, de Sófocles, e com Nenhum de nós mente ou finge, livre adaptação de Thomas Bernhard, ambos direção de Antonio Guedes. Também está programado o lançamento de novas publicações sobre artes cênicas da Edições Virtuais com download gratuito. Acesse pequenogesto.com.br. *Grande a expectativa com a estreia do filme A Flor do Buriti, de Renée Nader Messora e João Salaviza, exibido em mais de 100 festivais e vencedor de catorze prêmios, entre eles o prêmio coletivo para Melhor Elenco na mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes. A assistir. *Não esquecer: a extrema direita engolirá a quem a ela se juntar – é o lembrete de grupos de militantes das esquerdas à direita cheirosa da Faria Lime, em São Paulo, e do seu reduto no Leblon, no Rio de Janeiro. *O jornalista e escritor Moisés Mendes, a propósito, lembra: “A velha direita engolida pela extrema-direita fica desconfortável ao ver que Lula não envelhece, nem mental nem fisicamente. Eles achavam que Lula sairia da cadeia para fazer jardinagem com Janja”. À jardinagem, jovens de 70/80 anos. *Ainda em relação à campanha etarismo-mal-intencionado que ao que parece vem por aí, Moisés Mendes arremata: “(…) Castro teme os idosos que continuam ativos e dignos e não se dobram aos fascistas de todas as idades. Assuma seus 76 anos e pare de babar para a extrema direita, Ruy Castro”. *Jornalista Ilustração: Marcos Diniz

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Na América Latina Democracia Entra Pelas Frestas

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Na América Latina Democracia Entra Pelas Frestas
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Por Léa Maria Aarão Reis* Complemento ao filme Utopia Tropical, esta resenha é mais sobre uma entrevista do seu diretor, João Amorim, do que propriamente do documentário citado que foi exibido nos cinemas no verão passado, rapidamente, e voltou a ser apresentado em uma única sessão no Canal Brasil, na última semana. Incompreensível a ausência de Utopia Tropical, de 2023, duração de 77 minutos, em telas e telonas, premiado como Melhor Documentário no Caribbean Sea International Film Festival, na Venezuela, e no Portugal Indie Film. Trata-se de uma conversa importante entre dois amigos, o filósofo, sociólogo e ativista americano Noam Chomsky e o ex – chanceler e ex-ministro da Defesa Celso Amorim, atualmente assessor especial para assuntos internacionais do governo Lula. O doc é o resultado de dois encontros de Chomsky e Amorim, um em 2018 e o segundo em 2022, na casa do primeiro, durante os quais ambos dissecam os golpes políticos sofridos pelos governos do Brasil nos últimos 50 anos, a ascensão e queda das esquerdas na América Latina, e relembram os conhecidos refrões – “América Latina, quintal dos Estados Unidos” e “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”. Cuba é mencionada como a “porta de entrada para o quintal” e abertura da primeira transição (golpe), nos anos 70. Na entrevista ao blog Tutaméia, o diretor João Amorim concorda com os entrevistadores sobre a necessidade de mostrar Utopia Tropical em sessões nas universidades, nos institutos de educação, cursos técnicos, movimentos de comunidades e de favelas, e em classes de ensino fundamental. A estrutura do documentário se firma com intervenções de pílulas de animações de César Coelho, fundador do Anima Mundi, músicas de Caetano Veloso, Chico Buarque e Gilberto Gil e imagens de arquivo meticulosamente apuradas para reforçar a compreensão do pensamento dos interlocutores. A linguagem usada por Chomsky e Amorim é didática, de fácil entendimento e sem os traços de economês; atinge aqueles que se encontram fora das bolhas intelectuais. Alguns pontos de certa divergência entre os dois amigos conversando são observados pelo diretor do filme. Por um lado, o ponto de vista estadunidense de Chomsky ao comentar o planejamento detalhado por parte dos governos dos Estados Unidos nos golpes desfechados aqui, e o favorecimento do governo de Washington sempre avalista das corporações do país, dos democratas e dos republicanos. O diplomata brasileiro por sua vez ressalta o poder e a grande força nas intervenções das elites econômicas locais, no caso as brasileiras, e sua participação nos acontecimentos golpistas. Outros pontos de interesse especial do momento atual e abordados nas conversas Chomsky-Amorim são a ascensão e a queda das esquerdas na América Latina e o conservadorismo da Suprema Corte dos Estados Unidos que coloca em cheque uma democracia de dois partidos. Assim como a formação e organização da religião evangélica ocupando a política no continente do norte, e aqui, no Brasil. Chomsky tem um olhar mais crítico e menos otimista que o de Amorim a respeito do movimento religioso que foi trazido dos EUA, se instalou e se firmou na América Latina. Veja Também:  Programas - de 04 a 12 de julho Outros momentos da conversa versam sobre as manobras diversionistas das extremas direitas brasileiras fazendo “a boiada passar”, seus líderes entretendo o público espectador, os eleitores, com gafes, grosserias e aparições públicas calculadamente infames para empolgar as classes esquecidas, como se dirigem aos apoiadores, nas manifestações. O novo fascismo explora sentimentos das classes populares, dizem. E também distraem o público com projetos apresentados por suas bancadas em Brasília, e com sessões caóticas e votações ruidosas de grandes temas de costumes: posse de armas, porte de drogas, aborto, interferências em currículos escolares, escolha da sexualidade, trabalho infantil. “A História não se repete, mas às vezes rima”, Celso Amorim diz. A frase se consolidou como subtítulo do filme e a conclusão é dos dois companheiros: “Precisamos estar sempre atentos e apontando para a transformação da sociedade porque a direita está trabalhando no mundo todo, e cada vez que surge um governo mais progressista acontece um golpe”. “A democracia entra pelas frestas” é outra imagem referente à política latino-americana. O Chile suscita reminiscências: “Lá, o brasileiro Paulo Guedes trabalhou na equipe econômica da ditadura, e Milton Friedman destruiu a economia do país”. “Nosso golpe foi planejado ainda durante o governo Obama”, prossegue a conversa. “Com as festas elegantes da época oferecidas pelo governo de Washington e com o mantra celebrando um “mundo baseado em regras e na ordem internacional”. Manipulação de juros, o FMI intervindo “para ajudar”, a “década gloriosa de 2003 a 2013” e o governo Dilma, com o feroz confronto e violento aumento de juros, e a mídia embarcando em conhecidas manobras são outros temas do encontro, assim como o nascimento dos BRICS, este ilustrado com a divertida animação da Rússia e da China batendo na porta pedindo para entrar na sala. O conceito desenvolvido durante os anos 50, 60 e 70 é o da “segurança interna”, do inimigo dentro do próprio país, da época da repressão “brutal”. Na última fase do encontro que estimamos seja bem mais divulgado, são comentados “o novo fascismo explorando sentimentos das classes populares” ao som de Cálice – cale-se – de Chico Buarque. *A íntegra da entrevista de João Jobim está no youtube (clique aqui) e trechos da conversa entre Noam Chomsky e Celso Amorim. https://youtu.be/T8Qd3RmLOik *Jornalista

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A Europa sombria

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A Europa sombria
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Por Celso Japiassú* O crescimento da extrema-direita na Europa é um fenômeno que vem se espalhando pelo continente nos últimos anos. Diversos partidos de extrema-direita e ultraconservadores têm conquistado cada vez mais espaço político, ameaçando o equilíbrio democrático em todos os países. Por Celso Japiassu Há um futuro cheio de sombras, ameaças de uma distopia onde serão esquecidas as ideias acalentadas desde o Iluminismo e as revoluções que acreditaram e defenderam os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Estaria a Europa mais uma vez na senda de um extremo nacionalismo, racismo, anticomunismo, antiliberalismo e na busca por um domínio totalitário da sociedade, como era a crença que dominava o ideário nazifascista? Apenas três países continuam sem a presença da extrema direita em seus parlamentos - Malta, Irlanda e Luxemburgo. Na Espanha, o fascista Vox é a terceira maior força política do país. Em alguns países a direita com tonalidades fascistas governa ou está próxima do poder na Polónia, Hungria, República Checa, Áustria, Letónia, Eslováquia, Bulgária, Itália e Finlândia. Na Alemanha, o neonazista Alternativa para a Alemanha (Alternative für Deutschland) é a terceira maior força política no parlamento. Sem contar a França, onde o Rassamblement National é hoje um sucesso eleitoral. O crescimento da extrema-direita na Europa é um fenômeno que vem se espalhando pelo continente nos últimos anos. Diversos partidos de extrema-direita e ultraconservadores têm conquistado cada vez mais espaço político, ameaçando o equilíbrio democrático em todos os países. O partido Alternativa para a Alemanha (AfD) elegeu 15 deputados para o Parlamento Europeu e ficou em segundo lugar. O AfD foi expulso do grupo Identidade e Democracia (ID) semanas antes das eleições devido a uma série de escândalos envolvendo seus membros. Vai, por isso, ocupar as 15 cadeiras de forma independente. Na Itália, a coalizão de extrema-direita liderada por Giorgia Meloni, do partido Irmãos da Itália, chegou ao poder. Outros países como Espanha, Áustria e Suécia também testemunharam o fortalecimento de partidos com agendas eurocéticas, anti-imigração e socialmente conservadoras. Esse crescimento da extrema-direita é visto como um sinal de alerta pelos governos democráticos, que precisam responder às demandas reais da população para conter o avanço desses grupos. Há o risco de que esses partidos perturbem o equilíbrio político e afetem a estabilidade da União Europeia. As lideranças políticas buscam adotar medidas eficazes para lidar com as causas que alimentam o apoio a esses movimentos, como a insegurança econômica, a frustração com a imigração e a desconfiança nas instituições democráticas. Os partidos Os principais partidos de extrema-direita que têm conquistado cada vez mais espaço político são: Alemanha: Alternativa para a Alemanha (AfD). Itália: Irmãos da Itália, liderado por Giorgia Meloni, que chefia o governo do país. França: União Nacional (RN) do casal Jordan Bardella/Marine Le Pen, que foi o grande vencedor no primeiro turno das eleições antecipadas, com cerca do dobro da votação do partido de Emmanuel Macron. Áustria: Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ) Hungria: Fidesz, do primeiro-ministro Viktor Orbán, embora tenha sofrido enfraquecimento recente nas últimas eleições no país. Suíça: Partido Popular Suíço (SVP), que tem o maior número de assentos no Parlamento e dois postos no governo. Lega na Itália, um dos principais partidos de extrema-direita, juntamente com o Fratelli d'Italia. Vox, de Santiago Abascal, cada vez mais relevante na política da Espanha. Bélgica: Vlaams Belang São esses os partidos mais estabelecidos, porém surgiram novos grupos de extrema-direita em outros países, como o Reconquête na França, o Danish Democrats na Dinamarca, o Latvia First na Letônia, o Chega em Portugal e o AUR na Romênia. O RN liderado por Jordan Bardella na França obteve 34% dos votos no primeiro turno das eleições legislativas. A coligação de esquerda Nova Frente Popular ficou em segundo lugar com 28,5% e o partido de Macron em terceiro com 22 por cento. Liderado por Victor Orbán, o líder neofascista da Hungria, acaba de surgir um novo grupo autointitulado "Patriotas da Europa", que junta direita radical e extrema-direita. Pretende ser o maior no Parlamento Europeu. De imediato já conta com a adesão do FPÖ da Áustria e do ANO2011, que venceu as eleições na República Checa. Os três somam 24 deputados e Orbán lançou um apelo para que outros partidos venham se unir a esse novo grupo. Imigração A extrema-direita tem exercido uma influência crescente sobre as políticas de imigração na Europa. Alguns dos principais partidos de extrema-direita que têm pautado o debate sobre imigração são o Partido Popular Suíço (SVP), que é o maior partido no Parlamento nacional e tem dois ministros no governo; o Rassemblement National (RN) na França; a Lega na Itália, a Alternativa para a Alemanha (AfD), o Fidesz na Hungria, o Vlaams Belang na Bélgica. Esses partidos têm colocado o combate à imigração como uma de suas principais bandeiras, pressionando os governos a adotarem políticas mais duras contra os imigrantes. Isso tem levado a uma "vitória ideológica" da extrema-direita, mesmo quando os governos não adotam exatamente o que esses partidos propõem. Além disso, a ênfase na imigração por parte dos partidos de direita tradicional também acaba por "diluir a fronteira ideológica" entre eles e a extrema-direita. O endurecimento das políticas de imigração na Europa tem tido várias consequências. Há o risco de a extrema-direita ganhar essa batalha ideológica se os governos alimentarem o discurso de ódio e adotarem medidas que, na prática, não resolvem os problemas, mas servem para alimentar o ódio aos imigrantes. As novas leis de imigração mais restritivas, como as recentemente aprovadas na França, são criticadas por especialistas que afirmam que elas não resolvem os problemas reais, mas apenas atendem aos argumentos da extrema-direita. Há preocupação com o endurecimento das políticas migratórias, que podem levar a abusos contra refugiados e migrantes como tem acontecido: maus-tratos, tortura, violência sexual e condições desumanas de detenção. *Poeta, articulista, jornalista e publicitário. Ilustração: Pinterest Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

Justiça

Bolsonaro é indiciado pela PF

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Bolsonaro é indiciado pela PF
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Com informações da Folha de São Paulo e de O Globo Bolsonaro foi indiciado pela Polícia Federal sob suspeita de crimes de associação criminosa (com previsão de pena de reclusão de 1 a 3 anos, lavagem de dinheiro (3 a 10 anos) e peculato/apropriação de bem público (2 a 12 anos). Se condenado em todos os processos, a pena pode variar entre 6 e 25 anos. Segundo juristas, ainda que Bolsonaro seja réu primário, em caso de condenação haverá agravantes, como a prática de "associação criminosa", entre outros delitos, o dificilmente acarretará a imputação de pena mínima. O relatório da PF agora vai para a análise da Procuradoria Geral da República que pode pedir mais diligências ou já apresentar denúncia (acusação formal). Só depois dessa etapa a Justiça avaliará se os suspeitos se tornarão réus. Segundo informações obtidas junto a aulxiliares da PGR, para que não haja acusação de politização, dificilmente haverá manifestação formal daquele órgão antes das eleições de agosto deste ano. Além de Bolsonaro, outras dez pessoas também foram indiciadas pela PF sob suspeita de associação criminosa, como Mauro Cid, Fábio Waingarten e Frederick Wassef, o general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, pai de Mauro Cid, e o ex-assessor Osmar Crivelatti. O ex-presidente já havia sido indiciado em março pela PF no inquérito envolvendo falsificação de certificados de vacinas contra a Covid19. Além desses dois casos, Bolsonaro é alvo de outras investigações, como as que apuram os crimes de tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado democrático de Direito, incluindo os ataques de 8 de janeiro de 2023. Caso seja processado e condenado em todos esses processos, Bolsonaro poderá pegar uma pena superior a 20 anos e ficar inelegível por mais de 30 anos.  

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