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BRICS: como chegar a uma nova moeda de reserva internacional?

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BRICS: como chegar a uma nova moeda de reserva internacional?
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Por PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.* Os BRICS vêm discutindo há algum tempo a possibilidade de construir arranjos alternativos ao dólar norte-americano e ao sistema de pagamentos ocidentais. A atual ordem – mais correto seria dizer desordem – monetária e financeira internacional, dominada pelos Estados Unidos e seus aliados, se mostra crescentemente disfuncional e insegura. O sistema foi transformado em arma geopolítica para aplicação de sanções, punições e confiscos. Nas últimas semanas, estive em Moscou e participei de três debates  sobre essa temática, em eventos precursores da cúpula dos líderes dos BRICS, que ocorrerá em Kazan, na Rússia, de 22 a 24 de outubro. Tento fazer aqui um resumo das conclusões a que cheguei. O desafio para os BRICS é, antes de tudo, político. Os americanos sempre foram apegados ao que De Gaulle, nos anos 1960, chamava de "privilégio exorbitante" dos Estados Unidos – entendido, em resumo, como a capacidade de pagar suas contas e dívidas simplesmente emitindo moeda. Os EUA  não hesitam em acionar os aliados e clientes que possuem em outros países para minar iniciativas desse tipo. China, Rússia e Irã não são provavelmente muito vulneráveis a esse tipo de pressão. Mas o mesmo não pode ser dito de outros países dos BRICS. Até Beijing pode hesitar em comprar essa briga com Washington. O desafio também é técnico. Construir um sistema monetário e financeiro alternativo requer trabalho árduo e especializado, bem como negociações prolongadas e difíceis. Somos capazes de realizar isso? Acredito que sim. Mas será que fizemos progresso desde que o assunto ganhou as manchetes? Algum progresso foi feito, mas menos do que se poderia esperar. Sob a presidência russa dos BRICS, em 2024, houve tentativas parcialmente bem-sucedidas de avançar. Por exemplo, foi criado um grupo de especialistas independentes, do qual faço parte, que discutiu a reforma do sistema monetário internacional e a possibilidade de uma moeda dos BRICS. O conhecido economista americano Jeffrey Sachs é parte desse grupo.  Mais importante do que isso: a Rússia preparou uma proposta detalhada para um sistema alternativo de pagamentos transfronteiriços baseado em moedas nacionais – um passo importante na direção de um novo arranjo monetário e financeiro internacional. Até agora, no entanto, poucos avanços foram feitos no que diz respeito à questão mais fundamental, que seria criação de uma nova moeda como alternativa ao dólar. E mesmo a discussão da proposta russa de um novo sistema de pagamentos ainda é incipiente. O Brasil exercerá a próxima presidência dos BRICS em 2025 e terá a oportunidade de coordenar a discussão, aprofundar a proposta da Rússia e preparar novos passos.   Limites às transações em moedas nacionais e sistemas de pagamento alternativos O sistema de pagamentos SWIFT, controlado pelos EUA e aliados, é usado sistematicamente como instrumento para punir e ameaçar países e entidades vistas como hostis ou pouco amigáveis. Bancos desses países são sumariamente excluídos do sistema, como aconteceu com a Rússia. Mesmo outros países podem sofrer sanções secundárias, quando procuram transacionar com países ou entidades sancionadas. Por isso, o progresso feito durante a presidência russa na elaboração de alternativas ao SWIFT é, sem dúvida, uma iniciativa muito bem-vinda, que avança na direção de nos livrar da dependência excessiva das moedas e dos sistemas de pagamento ocidentais. Também vêm avançando as transações bilaterais em moedas nacionais entre os BRICS e entre os BRICS e outros países. Crescem, além disso, os swaps bilaterais em moedas nacionais entre bancos centrais, primordialmente com o banco central da China. Contudo, deve-se reconhecer que transações em moedas nacionais e as alternativas ao SWIFT têm suas limitações. A questão essencial, nem sempre bem compreendida, é que a existência de uma moeda de reserva alternativa constitui, em última análise, uma pré-condição para que a desdolarização funcione plenamente. A razão reside no fato de que apenas acidentalmente haverá um equilíbrio nas transações bilaterais em moedas nacionais. Uma moeda de reserva internacional alternativa é necessária para permitir que os países registrem superávits e déficits ao longo do tempo. Na ausência disso, os países têm que recorrer a esquemas custosos equivalentes a escambo – ou então voltar ao dólar americano e outras moedas tradicionais, o que derrotaria todo o propósito do exercício. Um exemplo. A Rússia tem um superávit substancial com a Índia. O comércio e outras transações são realizados principalmente em moeda nacional. Portanto, a Rússia vem acumulando grandes estoques de rúpias. O banco central russo pode não querer manter essa moeda permanentemente em suas reservas, talvez porque a rúpia não seja totalmente conversível e haja dúvidas sobre sua estabilidade. Quais são as suas opções? A Rússia pode tentar dispor desses excedentes em rúpias buscando oportunidades de investimento na Índia ou fazendo um esforço adicional para comprar bens e serviços indianos. Mas isso pode ser difícil e demorado. Ela também pode usar essas rúpias em terceiros países que tenham interesse em obter moeda indiana devido a proximidade econômica com a Índia. Mas isso também pode ser difícil, levando a vendas de rúpias com desconto. Essas alternativas são claramente second-best ou third-best e remetem ao sistema antiquado de escambo, no qual os agentes econômicos trocavam bens e serviços bilateralmente e saíam à cata de terceiros para se desfazer de mercadorias indesejadas e obter em troca mercadorias desejadas. Foi precisamente para evitar esse sistema ineficiente que o dinheiro foi criado para servir como meio de pagamento, padrão comum de valor e instrumento para manutenção de reservas. Pelas mesmas razões, os BRICS precisam de uma nova moeda de reserva como alternativa ao dólar dos EUA e outras moedas tradicionais de reserva.   Uma nova moeda de reserva – a NMR Como poderia ser essa nova moeda? Existem várias possibilidades. Vou tentar apresentar, de maneira sintética, um caminho que me parece promissor. Para uma explicação um pouco mais completa, remeto ao trabalho que preparei para um dos eventos em Moscou (“BRICS:  Geopolitics and monetary initiatives in a multipolar world – how could a new international reserve currency look like?”, 23 de setembro de 2024,  (https://www.nogueirabatista.com.br/). Vamos chamar essa nova moeda de NMR, sigla para "nova moeda de reserva". Um nome anterior interessante era R5, proposto por economistas russos quando eram cinco os países membros dos BRICS e todas as suas moedas começavam com a letra R. No entanto, esse nome ficou prejudicado, pois alguns dos quatro novos membros possuem moedas cujos nomes não começam com a letra R. Não é algo tão importante, claro. Poderíamos chamá-la então de moeda BRICS ou BRICS+? Infelizmente, não. E esse ponto é importante: alguns dos países dos BRICS parecem se opor à ideia, sendo a Índia um exemplo notável. Isso representa uma grande barreira, mas pode ser contornada, como veremos mais adiante. A NMR poderia ter as seguintes características. Não seria uma moeda única, que substituiria as moedas nacionais dos países participantes. Não seria, portanto, uma moeda semelhante ao euro, emitida por um banco central comum. Seria uma moeda paralela, projetada para transações internacionais. As moedas nacionais e os bancos centrais continuariam a existir em seus formatos atuais. Não haveria perda de soberania e nem mesmo necessidade de coordenar as políticas monetárias. A NMR não teria existência física na forma de papel-moeda ou moeda metálica. Seria uma moeda digital, análoga às MDBCs (moedas digitais de bancos centrais – CDBCs em inglês) que estão sendo criadas em vários países. Vale notar, de passagem, que o formato digital substitui em grande parte o papel tradicional dos bancos como intermediários e criadores de meios de pagamento. As MDBCs e a NMR reduziriam o papel dos bancos, desde que não se estabeleça que seu uso ficaria vinculado à posse de uma conta bancária. Os países participantes poderiam constituir um banco emissor – vamos chamá-lo de NAMR, a Nova Autoridade Monetária de Reserva – que seria responsável por criar NMRs e também por emitir títulos – podemos chamá-los de NTRs, novos títulos de reserva – nos quais a nova moeda seria livremente conversível. Os NTRs seriam por sua vez integralmente garantidos pelos Tesouros nacionais dos participantes. Um primeiro passo na direção da NMR poderia ser a criação de uma unidade de conta na forma de  uma cesta de moedas em que o peso das moedas dos países participantes corresponderia  à sua participação no PIB do grupo. O renminbi da China teria o maior peso na cesta, digamos 40%; Brasil, Rússia e Índia, 10% cada; e os 30% restantes poderiam ser divididos entre a África do Sul, Egito, Etiópia, Irã e Emirados Árabes Unidos – admitindo-se que todos os BRICS venham a participar. Essa nova unidade de conta seria uma ponte para a nova moeda. Bem, esse passo relativamente simples, aventado há muitos anos por economistas russos, já poderia ter sido dado. A razão para o lento progresso parece ser a falta de consenso. Há relatos de que a Índia e a África do Sul, presumivelmente por razões políticas, são contra a ideia. A Índia – e isso é apenas uma conjectura – pode não querer desagradar aos EUA em uma questão tão crucial. Talvez porque sinta que pode precisar do apoio americano caso haja uma deterioração nas já tensas relações com a China. O Brasil, ressalto de passagem, também não é invulnerável a dificuldades análogas. Na sociedade brasileira, inclusive dentro do governo Lula, há muitos que se identificam com os EUA e têm laços com círculos empresariais e governamentais americanos. Espero que essas vulnerabilidades e as tensões entre China e Índia sejam superadas. Enquanto isso, cabe perguntar se não poderíamos avançar com base em uma coalizão de países aptos e dispostos. A  NMR poderia perfeitamente ser criada por um subconjunto dos BRICS. Os outros se juntariam mais tarde. Isso é recomendável, na minha opinião, mas esbarra na arraigada tradição de consenso dos BRICS, que marca a atuação do grupo desde o seu início em 2008. No entanto, se nos apegarmos a essa tradição, o meu receio é que não se chegue a lugar algum. A alternativa a algo como a NMR seria a substituição gradual do dólar americano pelo renminbi chinês, a moeda da potência emergente. Isso já está acontecendo, em certa medida. Mas parece duvidoso que se possa avançar muito por essa via. Não se deve perder de vista que a potência emergente é um país de renda média. Tem vulnerabilidades e preocupações não necessariamente presentes nos EUA e em outras nações de alta renda. O que quero dizer é que, no caso da China, o “privilégio exorbitante” poderia se tornar um “fardo exorbitante”. Em outras palavras, ela teria provavelmente dificuldade de atender certos pré-requisitos para que o renminbi possa se estabelecer  como moeda internacional em grande escala. A China estaria disposta, por exemplo, a tornar o renminbi plenamente conversível? Consideraria abandonar as restrições à conta de capital e os controles cambiais que protegem a economia chinesa da instabilidade das finanças internacionais? Aceitaria a apreciação cambial decorrente do aumento da demanda por renminbi como ativo internacional? Essa apreciação não prejudicaria a competitividade internacional e o dinamismo da economia chinesa? É  claro que a  tendência à apreciação poderia ser contida pela venda de renminbi e acumulação de reservas internacionais adicionais. Mas onde a China aplicaria essas reservas adicionais? Em ativos denominados em dólar, euro ou iene? De volta à estaca zero. Portanto, os BRICS. ou um subconjunto de países dos BRICS, devem se preparar para criar uma nova moeda de reserva, que poderia ser um divisor de águas nos assuntos monetários e financeiros globais. Paralelamente, deveriam continuar com a expansão das transações internacionais em moedas nacionais e iniciar a construção de um sistema de pagamento alternativo ao SWIFT. Os BRICS causarão decepção em todo o Sul Global se permanecerem no reino dos discursos, comunicados e proclamações sem avançar em iniciativas práticas inovadoras.   Uma versão resumida deste texto foi publicada na revista Carta Capital.   * O autor é economista, foi vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, estabelecido pelos BRICS em Xangai, de 2015 a 2017, e diretor executivo no FMI pelo Brasil e mais dez países em Washington, de 2007 a 2015. Publicou pela editora LeYa o livro O Brasil não cabe no quintal de ninguém, segunda edição, 2021. E-mail: paulonbjr@hotmail.com Canal YouTube. Foto: Brics/Divulgação Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.    

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12 de outubro, feriado nacional: por quê mesmo?

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12 de outubro, feriado nacional: por quê mesmo?
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Por EMERSON GIUMBELLI* Muita gente acha que 12 de outubro é um feriado por conta do Dia das Crianças. Na verdade, reserva-se a data “para culto público e oficial a Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil”, segundo os termos da lei nº 6.802, de 1980. Ou seja, o feriado não tem tanto tempo assim, do mesmo modo como é recente a inscrição “Deus seja louvado” em cédulas de nossa moeda nacional – uma consequência de decisão do presidente José Sarney em 1986. No caso de Nossa Senhora Aparecida, o militar da ocasião, presidente João Figueiredo, promulgou a lei no exato dia da chegada de João Paulo II no Brasil. Foi a primeira visita de um papa a nosso país. Outro papa, Pio XI, é que consagrou, em 1930, Nossa Senhora Aparecida como padroeira do Brasil. Mas a data de 12 outubro só se estabeleceu nos anos 50, por decisão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), então recém-criada. Anteriormente, a data das celebrações oscilou entre vários dias nos meses de maio, setembro e dezembro. Em 1939, uma decisão oficial da Igreja Católica definiu o sete de setembro, criando uma sobreposição com a comemoração da independência nacional. Afinal, decidiu-se que era melhor uma data específica, embora relacionada com a “Descoberta da América”. O principal santuário dedicado a Nossa Senhora Aparecida fica no estado de São Paulo. A Basílica é um dos maiores templos do mundo e abriga a imagem da Virgem Maria encontrada por pescadores no século 18. No último dia 12, mais de cem mil pessoas visitaram o santuário. Nossa Senhora Aparecida merece um feriado? Um Estado laico pode estabelecer “culto público e oficial” a uma devoção religiosa? Aliás, em nome desse princípio, já houve tentativas de alteração e mesmo revogação da lei. Mas há aspectos que vão além da laicidade. Em 1980, quando a lei foi promulgada, o censo do IBGE constatou que quase 90% dos brasileiros identificavam-se como católicos. Em umas das estimativas mais recentes, esse número decresceu para 51% (Instituto DataFolha, 2022). Em algumas faixas etárias e regiões, o catolicismo já se aproxima de apenas 40% nas respostas. São dados que apontam para um fenômeno que extrapola o domínio religioso: a diversificação da população brasileira. E isso tem – ou deveria ter – um impacto no modo como feriados são estabelecidos. Tradicionalmente, feriados estão associados com celebrações cívicas. Supõe-se que são datas que mobilizam toda uma população e que, em vez do trabalho, o que cabe é festejar ou fazer outra coisa que corresponde à data. No entanto, muitos de nossos antigos feriados não religiosos carecem de adesão quando se trata de celebrá-los massivamente: 21 de Abril, 15 de Novembro, 1º. de Maio... O Sete de Setembro levanta mais dissensos do que confraternizações. A exceção é o carnaval... (que, aliás, não é feriado oficialmente, e sim ponto facultativo). A partir de 2024, temos um novo feriado nacional, 20 de Novembro, Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra – o que corresponde a uma demanda histórica que reforça a necessidade de ações e reflexões sobre o racismo. Voltemos, por ora, aos feriados religiosos. Dois deles mobilizam significativa adesão, Natal e Finados. Mas o Natal nutre-se de motivações não apenas religiosas – reunir a família e trocar presentes podem ganhar precedência. De Finados pode-se dizer o mesmo, pois a homenagem aos mortos nem sempre vem acompanhada de compromissos religiosos. Resta a Sexta-Feira Santa. O comentário sobre essa data aplica-se também a Corpus Christi, feriado em muitas legislações municipais no Brasil. Enquanto rituais religiosos, mobilizam apenas uma minoria da população. A maior parte das pessoas tomam as datas como mais uma folga. Que fique claro: nada contra as folgas. Temos mesmo que encontrar boas soluções para trabalharmos menos. E os feriados alimentam a economia do turismo, compensando, em alguma medida, o que se deixa de trabalhar. Minha questão é outra: por que temos de folgar todos no mesmo dia? A resposta, seguindo a lógica tradicional dos feriados, é que uma motivação comum nos animaria. Uma sociedade não deve abrir mão de tais ocasiões. Nesse sentido, o 20 de Novembro oferece uma oportunidade para aprofundarmos, como coletividade, o compromisso com o antirracismo. Conseguiríamos reanimar algumas das outras datas não religiosas? No caso dos feriados religiosos, seria interessante pensarmos em alternativas. Localmente, há festas que mobilizam parcela considerável da população, justificando-se a folga. Em Porto Alegre, é o caso do “Dia de Nossa Senhora de Navegantes e Iemanjá” (sim, este, desde 2023, é o nome oficial do feriado instaurado em 1949 – tema para outro artigo). Portanto, nada contra as devoções e sua importância social e cultural. Mas é necessário reconhecer nossas diversidades. Um feriado dedicado a Nossa Senhora Aparecida faz sentido em algumas localidades. E para as demais? É verdade que há devotos de Aparecida que se deslocam, às vezes de muito longe, para visitar a basílica paulista. Mas, nesse caso, seria uma situação individual que poderia ser acomodada com a rotina de trabalho – como indico a seguir. Talvez o ideal para o estabelecimento de feriados oficiais fosse o seguinte: um equilíbrio entre datas nacionais e datas locais, considerando a real ou potencial mobilização das pessoas. Em uma sociedade que se diversifica em suas devoções, a religião tende a corresponder às datas locais. Ao lado dos feriados, por que não concebermos, dentro de certos limites, a possibilidade de folgas que atendam a situações específicas? Isso já ocorre, por exemplo em licenças em caso de nascimento e adoção. Questões religiosas não contempladas em feriados municipais poderiam ser acomodadas nesse arranjo. São apenas ideias, lançadas aqui como provocações. De todo modo: as sociedades estão sempre em mudança. Há momentos em que certas mudanças precisam ser reconhecidas e consolidadas. Por que os símbolos – incluindo os feriados – não estariam sujeitos a esse processo?   *Emerson Giumbelli é professor do Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Foto:  Rovena Rosa/Agência Brasil Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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CORREIO POLÍTICO | Aproximação com evangélicos é pela economia

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CORREIO POLÍTICO | Aproximação com evangélicos é pela economia
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Por RUDOLFO LAGO* do Correio da Manhã Brasília O deputado Otoni de Paula (MDB-RJ) puxou a oração. Com as mãos levantadas, como fazem nas situações de louvor, os evangélicos presentes oraram, com Lula, de olhos fechados, bem no meio da roda. A solenidade de sanção da lei que cria o Dia Nacional da Música Gospel é o primeiro ato político concreto desde que, no início do ano, o governo fez mudanças na sua estratégia de comunicação para se aproximar do mundo evangélico. Na ocasião, mudou o slogan do governo para "Fé no Brasil", e a aproximação se iniciou. Um dos grandes articuladores desse movimento é o advogado-geral da União, Jorge Messias, que é da Igreja Batista. Messias é um dos responsáveis pela aproximação com Otoni de Paula. Boa vontade Otoni de Paula ainda não se declara da base do governo. Mas foi mais do que nítida a boa vontade demonstrada por Otoni de Paula agora com Lula. Que já tinha ficado sinalizada quando declarou no Rio de Janeiro apoio à reeleição de Eduardo Paes, do PSD. Senha Na solenidade, Otoni deu a senha de por onde o governo pretende se aproximar da comunidade evangélica, especialmente daquela mais carente, que vive nas periferias. Será pela economia. Por uma forte estratégia que traduza os avanços para a rotina das pessoas. Avanços para os "mais pobres e necessitados" Evangélicos são maioria entre os mais pobres | Foto: Igreja Evangélica Deus das Nações De acordo com uma pesquisa feita pelo Datafolha em 2020, o percentual de evangélicos na população que ganha até dois salários mínimos é maior que a daqueles que se declaram católicos. Segundo o dado, 48% dos que vivem nessa faixa de renda pertencem a alguma igreja evangélica. É, portanto, exatamente por aí que Otoni de Paula deu a senha. "A maioria dos evangélicos não votou no senhor. E o senhor sabe disso. Mas talvez estejamos entre os brasileiros mais contemplados pelos programas sociais do seu governo, já que os mais pobres e necessitados (...) formam a maioria esmagadora dos nossos irmãos", disse o deputado. Tradução A ideia agora é fazer um grande esforço para transformar números em coisas palpáveis que a população consiga enxergar e entender os benefícios. Pouco adianta dizer simplesmente que o PIB subiu ou somente índices de inflação. Encontrar um discurso é o desafio. Briga Se vai conseguir, é algo difícil ainda de dizer. Mas Lula está disposto a comprar a briga com setores de esquerda para frear um pouco o discurso identidário, que não é bem compreendido pelos evangélicos de baixa renda. A ideia é retomar mais as pautas sociais. Família Algumas avaliações que têm sido feitas no governo buscam demonstrar que a ideia de família tradicional adotada pelos evangélicos é, de certa forma, um mecanismo de proteção. Os mais pobres são muito pressionados e vivem uma grande situação de risco cotidiano. Crime É claro que famílias estruturadas não precisam ser somente as formadas por pai homem, mãe mulher e seus filhos. Mas é esse o discurso feito. E ele faz sentido para uma população que vive onde o crime tenta se beneficiar de famílias desestruturadas para aliciar pessoas.   *Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congresso em Foco e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade Artigo originalmente publicado no Correio da Manhã / Brasília Foto: Ricardo Stuckert/PR Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.  

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“Reina grande expectativa com a próxima Feira do Livro”, festeja ex-presidente

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“Reina grande expectativa com a próxima Feira do Livro”, festeja ex-presidente
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  Por JOSÉ ANTÔNIO VIEIRA DA CUNHA* NOVA COONLINE 50, com Flávio Ledur Vem Feira do Livro aí, e esta edição de 2024 será extraordinária, com mais de 800 lançamentos e incontáveis sessões de autógrafos. “Estamos cheios de esperança este ano”, disse o escritor, livreiro e professor Paulo Flávio Ledur em uma conversa com o grupo virtual Nova Coonline, formado por veteranos jornalistas gaúchos que se reúnem semanalmente e cujos encontros são publicados no YouTube. Ledur revelou que tradicionalmente a venda é extraordinária durante a feira, na contramão do que ocorre no mercado, que está em um mau momento. “Faltam leitores no Brasil, em função de nosso modelo de educação, que abriu mão do livro”, afirmou o convidado. “Se tivéssemos uma educação eficiente, teríamos também mais leitores, e portanto mais compradores. Este é um círculo vicioso do qual temos de sair.” Presidente da Feira do Livro de Porto Alegre em três oportunidades, Flávio Ledur lamentou que o programa de compra de livros por parte do governo federal, embora significativo, se limite ao universo das grandes empresas do país e a autores consagrados. Novos autores e editoras de pequeno porte são praticamente ignorados, e se isso mudar, o panorama do setor também melhora, acredita o escritor. Outro problema sério que persiste no Brasil é a insuficiente oferta de livrarias. Lembrou que, segundo a Unesco, o ideal é que haja uma livraria para cada grupo de 10 mil habitantes, índice que o país está muito longe de atingir. Dentro deste critério, Porto Alegre, por exemplo, deveria ter 150 livrarias, mas não apresenta nem um terço disso. “Talvez um novo modelo, com a volta das pequenas livrarias de bairro, seja uma alternativa” para alterar este desequilíbrio, disse Ledur. A tiragem padrão de livros era até o início do século de 2 mil exemplares, número que foi sendo reduzido para mil ou menos, e há autores que pedem apenas 100 exemplares. Com isso, a escala industrial para produção de livros mudou bastante, o que contribuiu para encarecer muito o valor do exemplar. O sistema de distribuição do livro também ajuda para isso, pois é muito caro no Brasil devido a suas grandes distâncias geográficas. O custo de envio de um livro de Curitiba para Fortaleza, no exemplo dele, aumenta em cerca de 30% o valor do livro. Outro ponto abordado por Ledur é a redução do interesse dos grandes veículos em instalar estruturas próprias para o trabalho de suas equipes durante a feira na Praça da Alfândega, que é considerada a maior da América Latina em ambiente aberto. O desinteresse pode ter explicação na programação da feira, que talvez não ofereça atrações suficientes para motivar empresas de comunicação a instalar estúdios lá, cogita Ledur. Por isso, ele disse aplaudir o projeto de instalação de um estúdio coletivo, ideia apresentada pela ARI (Associação Riograndense de Imprensa) como um embrião no esforço para levar os veículos a cobrir a Feira do Livro de Porto Alegre com mais atenção. O escritor também manifestou uma forte inconformidade com os exageros que certas situações provocam em relação ao idioma pátria. Lamentou que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) publicou nas eleições passadas uma relação de 40 palavras que não deveriam ser usadas pelos funcionários do órgão devido a seu “potencial teor racista”. Entre elas estava o verbo esclarecer: “Isso mostra o nível do exagero das coisas, eu jamais imaginaria que a palavra esclarecer tivesse a possiblidade de ter um teor racista”. A conversa pode ser conferida na íntegra no canal do grupo Nova Coonline, que está publica aqui: https://youtu.be/EFnJl95oJyc?si=4iSgtbkqtCzRufbk *Jornalista Foto: Divulgação Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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A colocação dos generais entre os 1% mais ricos do Brasil: salário equivalente ao de 42 soldados, com 75% de repúdio nas redes sociais

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A colocação dos generais entre os 1% mais ricos do Brasil: salário equivalente ao de 42 soldados, com 75% de repúdio nas redes sociais
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Generais como Tomás Miné e Richard recebem salários que equivalem a pelotões inteiros de militares e estão entra a parcela dos 1% mais ricos da sociedade O tema das discrepâncias salariais entre os diferentes escalões das Forças Armadas brasileiras voltou a ganhar destaque recentemente, tanto na imprensa quanto nas redes sociais. O artigo publicado pela Revista Sociedade Militar, apontando a desproporção gritante entre os soldos de generais e os de praças, gerou uma onda de comentários, particularmente nas redes sociais da Revista Sociedade Militar e do perfil Militar Audaz no Instagram. Os debates mostram um forte descontentamento com a realidade salarial no âmbito militar, evidenciando uma divisão interna que afeta o moral da tropa. A disparidade salarial entre generais e o restante da tropa De acordo com o artigo, enquanto um soldado recém Ingresso nas Forças Armadas brasileiras recebe um salário em torno de R$ 1,3 mil, um general no topo da hierarquia pode ganhar até mais que R$ 36 mil mensais. Essa diferença de 27 vezes entre os postos mais baixos e mais altos da carreira militar tem provocado indignação entre a tropa, especialmente quando comparada com outras forças, como a Polícia Rodoviária Federal, onde a diferença entre o menor e o maior salário é significativamente menor. Além disso tudo, alguns generais no último posto da carreira dos militares, como o General de Exército Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, chegam a receber adicionais que elevam seus salários a valores acima de R$ 55 mil, o quer torna seu ganho bruto mensal equivalente ao salário de 42 soldados.   A indignação é palpável e impressiona nas redes sociais, com muitos usuários criticando o que veem como uma falta de vontade de conceder melhores condições de vida para os militares de patentes mais baixas. Um dos comentários mais curtidos no Instagram reflete esse sentimento: “Ficaram à vontade para praticamente triplicar o salário deles!!! Enquanto o praça se arrebenta com migalhas!!” — criticou @beto77castilho. A visão da tropa: insatisfação crescente A análise dos comentários postados nas redes sociais da Revista Sociedade Militar e do canal Militar Audaz revela um sentimento predominante de insatisfação com a estrutura salarial atual das Forças Armadas. Dos comentários analisados, aproximadamente 75% dos usuários expressaram desaprovação com a disparidade entre os soldos de generais e praças, classificando os salários dos generais como “desproporcionais” ou “absurdos” em relação à realidade do restante da tropa. Um dos comentários mais representativos dessa insatisfação foi postado por @edilson25belog: “A tropa está abandonada, mentem quando falam em coesão e camaradagem, infelizmente foram 31 anos ouvindo essas mentiras.” O comentário reflete um sentimento recorrente de abandono, que se repete em outras falas. Um seguidor, identificado como @vcguimaraesjr, expressou sua frustração de forma contundente: “Será que um dia, essa discrepância covarde será corrigida?… estamos abandonados e sem visibilidade.” Além disso, os comentários postados mostram que a insatisfação transcende o fator financeiro e toca também na questão da valorização moral e ética. Muitos usuários veem a diferença salarial como um reflexo de um problema estrutural mais profundo. Percentual pequeno defende os altos salários dos generais Apesar da ampla maioria expressar insatisfação com a disparidade salarial, uma minoria de aproximadamente 15% dos comentários nas redes sociais defendeu, ao menos em parte, os altos salários dos oficiais generais. O argumento principal dessa parcela é que os oficiais generais da Marinha, Exército e Força Aérea ocupam posições de extrema responsabilidade e que, portanto, seus salários são justificáveis. @cunhacelso, por exemplo, afirmou que “não é o salário dos comandantes que é alto, e sim o dos soldados que é baixo”, sugerindo que o foco deveria estar no aumento dos salários da base. Outros argumentaram que todos ingressam nas Forças Armadas cientes das diferenças salariais e da progressão de carreira. “Todos entram sabendo quanto ganha, qual a perspectiva de salário e qual cargo poderá chegar, insatisfação vai existir em toda carreira, é só ler o edital”, comentou @xxxxxxxxco. Comparações internacionais e a realidade brasileira Outro ponto levantado tanto no artigo quanto nos comentários nas redes sociais é a comparação com forças armadas de outros países, como os Estados Unidos, apresentado no artigo inicial com um infográfico. Lá, um soldado recém – ingresso na carreira militar recebe cerca de 2 mil dólares mensais (10 mil reais) , enquanto um general de última patente ganha em torno de 18 mil dólares (90 mil reais). Isso significa que, no Exército dos Estados Unidos, a diferença salarial entre a base e a cúpula é de nove vezes, bem menor do que no Brasil. A comparação com a Polícia Rodoviária Federal e as forças de segurança estaduais no Brasil também reforça a sensação de injustiça. Vários comentários, como o de @dduartemoreira, mencionaram a migração de militares das Forças Armadas para outras carreiras de segurança, como a Polícia Militar do Rio de Janeiro, onde os salários são mais atrativos para os postos de entrada. Um estudo divulgado pelo G1 em abril de 2024 mostra que a parcela mais rica dos brasileiros, que equivale a 1% da população, recebe mais que 20.664 reais mensais, todos os oficiais generais do Exército, Marinha e Aeronáutica estão incluídos nesse grupo. Soluções e perspectivas para o futuro propostas pelos próprios militares nos comentários O debate sobre a disparidade salarial nas Forças Armadas brasileiras aparentemente está longe de acabar. O atual ministro da Defesa, José Mucio Monteiro, tem defendido a visão da cúpula das Forças Armadas sobre a questão salarial.  O aumento da visibilidade do tema, especialmente nas redes sociais, onde a questão militar já está em alta há vários anos e se soma com as questões políticas, está ampliando a pressão sobre as autoridades para reverem a política de remuneração dos militares. Entretanto, as movimentações, quando ocorrem, são mais perceptíveis no poder legislativo. Algumas sugestões foram propostas pelos próprios militares nos comentários, como a inversão do escalonamento salarial, onde os maiores reajustes seriam aplicados às patentes mais baixas. Essa ideia foi defendida por @drjoanirdossantos: “Por que não inverter essa situação, invertendo o escalonamento vertical da tabela de soldos?” Por outro lado, há quem veja pouca esperança de mudanças significativas no curto prazo. “Não há horizonte de uma melhora salarial decente, a quem não mais interessar a carreira que busque o melhor, boa sorte!”, comentou @pedrxxxxxxx, refletindo o ceticismo de parte da tropa em relação a uma possível solução para o problema. Revista Sociedade Militar Referências principais: Transparência do Governo Federal   Publicado originalmente em Revista Sociedade Militar Foto: Infográfico: SALÁRIO DOS MEMBROS DA CÚPULA EM COMPARAÇÃO COM SALÁRIOS DA BASE – Revista Sociedade Militar Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. 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Alguns apontamentos para uma avaliação

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Alguns apontamentos para uma avaliação
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Por ALBERTO CANTALICE, no "X"* O PT foi criado para ser uma ferramenta dos Trabalhadores. Ao longo do tempo as relações de produção no interior no mundo do trabalho mudaram significativamente: robotização, uberização e precarização. Concomitante a essas mudanças houve o garroteamento do Movimento Sindical - em grande parte burocratizado e dependente do Imposto Sindical. Perdeu potência. Somando-se a esse processo de transformação, a exclusão social que já era imensa aumentou imensamente. O PT também foi se transmudando ao longo dos tempos. De Partido dos Trabalhadores, em Partido dos Pobres. Os setores incluídos da sociedade em parte não digeriram essa opção. Sentindo-se órfãs de quem os defenda. A disseminação da cultura do individualismo faz com que parte da população vejam os beneficiários de Programas governamentais como um "fardo" para quem "paga impostos. Historicamente crítico ao Sistema Capitalista e ao clientelismo, patrimonialismo o que o diferenciava do "status quo", o Partido ao vencer 5 eleições presidenciais e ser a partir de 2013 foco das perseguições midiático-judiciais, passou a ser visto pela imensa maioria como parte do "Sistema". Por "tornar-se comum, houve um descolamento entre os eleitores de Lula das demais candidaturas petistas. Sem um horizonte estratégico de longo prazo, passou-se a dependência única e exclusivamente do prestígio de Lula. É pouco! [caption id="attachment_16087" align="aligncenter" width="575"] Do "X" do autor[/caption] O dia a dia das populações: a segurança pública, a mobilidade urbana e a pauta ambiental foram substituídas por pautas de identidade: que civilizatórias e fundamentais, não dialogam com as necessidades prementes da imensa maioria dos trabalhadores. As duras condições de vida dos mais pobres: a desestruturação familiar, a busca por aceitação e pertencimento aliados a às tragédias provocadas pelo álcool e pelas drogas e a necessidade de um escape das agruras, levaram milhões de pessoas aos templos religiosos fundamentalistas. Ou o PT começa a se ligar nessas transformações, ou estará eleição pós eleição procurando um divã. Estamos no 2° turno em 4 capitais e mais 9 grandes cidades. Em outros tantos temos aliados que precisam ser eleitos. Portanto, as avaliações mais aprofundadas ficam para depois dos pleitos. *Alberto Cantalice foi presidente do Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores do Rio de Janeiro por dois mandatos. De 2003 a 2015 esteve à frente da coordenação nacional das redes sociais do partido. Atuou desde 2015 como Secretário Nacional de Comunicação do PT, integrando todo o movimento de comunicação institucional desenvolvido pelo partido. Atualmente, é vice-presidente e Adjunto da Secretaria Nacional de Comunicação @albertocantalic

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