POR ALEXANDRE CRUZ

O que estamos vivendo e vimos ontem é uma constatação que o golpismo da extrema direita é a maior ameaça contra a democracia liberal. Os golpes de Estado sempre vem de setores e poderes do Estado. Aliás, é uma obviedade para qualquer cientista social . Um desafio à ordem institucional desde fora das instituições se define como uma revolução, enquanto o desafio desde dentro estamos diante de um golpe. O campo da ultra direita não faz revolução e sim que utilizam seus efetivos de Estado (militares, juízes, policiais, altos funcionários…) e o poder econômico para organizar os desafios institucionais. Mais uma obviedade que acontece e quase ocorreu no Brasil na tarde deste domingo passado.
Nos tempos atuais, os poderes midiáticos são o poder golpista por excelência. O crescimento político da extrema direita é basicamente o resultado da ação ideológica que normalizou a mentira como instrumentos políticos. Assim ocorre no Brasil, nos Estados Unidos e em todas as partes. Os fascistas mais perigosos não são os que levam pistola e sim os que dirigem programas de televisão.

O fascismo deve combater com o código penal e reprimir, mas somente isso não basta. A defesa da democracia é principalmente um combate ideológico que carrega dispositivos ideológicos e culturais. Se os democratas não se rearmam com instrumentos da mídia, o antifascismo será derrotado. Este é um papel desafiador para o Ministro da Secom, Paulo Pimenta junto com a Ministra da Cultura, Margareth Menezes.

Sobre ontem à tarde, com depredações nos Palácios dos Três Poderes é importante revisar os erros, mas o mote ou o que importa são as consequências. Uma das consequências do, então, governo Bolsonaro foi unificar o campo democrático. Senão o total, parcial. Isso é fato. Tanto é que o Lula venceu a eleição. Qual vai ser outra consequência? Os atos de domingo, dia oito de janeiro, irão fortalecer as instituições. E a terceira consequência é no campo do jornalismo. Me refiro aos jornalistas sério que estão entendendo que não há nenhuma simetria ou medida que possa realizar uma equivalência entre o Bolsonaro e o Lula. Não há a menor possibilidade. São posturas totalmente opostas.
Quanto ao criticado Flávio Dino, ele agiu dentro dos limites da sua competência legal. O STF, através do Alexandre de Moraes, afastou o Ibaneis Rocha, governador do Distrito Federal. Obviamente amparado por seus pares e provavelmente articulado entre o Parlamento e o Executivo. Tenho plena certeza que a democracia brasileira será fortalecida através da depuração aliado aos dispositivos ideológicos e culturais.