COP30 tem início em Belém com apelo de Lula por responsabilidade global diante da crise climática

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Curupira, mascote da COP30. Parque da Cidade – Belém (PA)

Foto: Ricardo Stuckert / PR

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30) começou nesta segunda-feira (10 de novembro) em Belém (PA), reunindo mais de 70 chefes de Estado e representantes de cerca de 200 países. É a primeira vez que o encontro ocorre na Amazônia, região que concentra parte essencial das florestas tropicais do planeta e que simboliza tanto a urgência quanto as contradições do debate climático mundial.

Na abertura da cúpula, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que a conferência seja “a COP da verdade”, pedindo que os países assumam com seriedade os alertas da ciência e as responsabilidades diante da emergência climática.

“A hora de levar a sério os alertas da ciência é agora”, afirmou Lula. “Não é possível enfrentar a crise climática sem justiça social e sem o compromisso efetivo dos países que mais poluem.”

Brasil busca liderança no debate global

O governo brasileiro tenta usar o protagonismo da COP30 para reafirmar o papel do país como mediador entre o Norte e o Sul globais. Na fala de abertura, Lula destacou a necessidade de financiamento climático consistente e de transferência tecnológica para que nações em desenvolvimento possam reduzir emissões e adaptar-se aos impactos ambientais.

Segundo o presidente, os países ricos “não podem continuar empurrando a conta para os mais pobres”. Ele cobrou a ampliação dos fundos de compensação e o cumprimento das promessas de financiamento de US$ 100 bilhões anuais, compromisso assumido há mais de uma década e ainda longe de ser efetivado.

“Os países em desenvolvimento não querem esmolas, querem condições justas para continuar vivos e sustentáveis”, disse Lula, sob aplausos.

Belém, capital simbólica da Amazônia

A realização da COP30 em Belém tem um significado histórico. Pela primeira vez, as negociações climáticas ocorrem no coração de uma das regiões mais afetadas pelo desmatamento e pela pressão econômica sobre recursos naturais.

A cidade recebeu delegações de governos, cientistas, lideranças indígenas, ambientalistas e movimentos sociais de todo o mundo. Nos espaços paralelos à cúpula principal, as vozes da Amazônia têm destacado a importância de reconhecer os povos originários e comunidades tradicionais como protagonistas da proteção ambiental.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou que sediar o evento na Amazônia “é um gesto de reparação e reconhecimento”. Segundo ela, “a floresta não é um problema a ser resolvido, mas uma solução a ser fortalecida”.

Mais de 70 líderes mundiais chegam ao Brasil

De acordo com o Itamaraty, mais de 70 presidentes, primeiros-ministros e autoridades internacionais participam da conferência, incluindo representantes da União Europeia, da China, dos Estados Unidos, da União Africana e da Organização das Nações Unidas.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, elogiou o papel do Brasil na defesa da Amazônia e alertou que o mundo está “perigosamente próximo do ponto de não retorno”. “A destruição das florestas tropicais é um suicídio coletivo. Se a Amazônia morrer, o planeta mudará para sempre”, afirmou.

A COP da urgência

A COP30 ocorre em um momento de agravamento da crise climática. Segundo a Organização Meteorológica Mundial, os últimos 12 meses foram os mais quentes já registrados, com eventos extremos cada vez mais frequentes — das enchentes no Sul do Brasil às ondas de calor na Europa e incêndios em larga escala no Canadá e na África.

O debate sobre financiamento climático, transição energética justa e preservação das florestas tropicais deve dominar a agenda das próximas semanas. O Brasil pretende lançar, durante a conferência, o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (Tropical Forests Forever), proposta que prevê remuneração contínua a países que mantêm suas florestas em pé.

Desafios e contradições

Apesar da relevância do evento, o Brasil também enfrenta críticas de organizações socioambientais que cobram coerência entre o discurso do governo e suas ações. A liberação de estudos para exploração de petróleo na Margem Equatorial, região que inclui áreas da Amazônia, é vista como um contraponto ao discurso de transição ecológica.

Além disso, os altos custos de hospedagem e a escassez de estrutura em Belém têm dificultado a participação de organizações da sociedade civil e de delegações de países mais pobres, o que reacende o debate sobre acessibilidade e representatividade nas COPs.

O futuro em jogo

Nos próximos dias, as negociações devem avançar sobre temas centrais como:

  • Metas de redução de emissões até 2035;
  • Financiamento climático de longo prazo;
  • Proteção e recuperação de florestas tropicais;
  • Adaptação e justiça climática, com foco em populações vulneráveis.

A COP30 será uma prova de fogo para o Brasil e para a diplomacia climática global. Entre as expectativas e as cobranças, Belém se torna, por duas semanas, o epicentro de uma disputa que vai muito além da Amazônia — trata-se do futuro climático e social do planeta.


Imagem destacada: Ricardo Stuckert

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