Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
As equipes que agora negociarão com o governo dos Estados Unidos, aqui sob o comando do vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, não têm ilusões. As conversas, avaliam, não serão nada fáceis. Mas, pelo menos, essas conversas acontecerão, o que já é classificado como uma grande vitória. Após a reunião entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump no domingo (26), qualquer dúvida sobre algo que o Correio da Manhã aqui já antecipara dissipou-se: o ex-presidente Jair Bolsonaro foi inicialmente colocado na mesa por Trump como pretexto. Trump, disse um integrante dessas equipes, é “um homem de negócios”. Sempre foi um empresário que arrisca e negocia alto.
Bode
É como na clássica história do “bode na sala”. Coloca-se ali um animal grande e malcheiroso. Quando se tira o animal, a sensação de alívio é imediata. Embora nada de concreto tenha avançado para o que havia antes. É caso. O tarifaço, por enquanto, continua.
Pauta
No domingo, Lula entregou a Trump uma pauta com os pontos que o Brasil deseja negociar. Segundo os demais interlocutores, Trump leu o documento e pareceu mesmo dar atenção a ele. Mas Trump mesmo não entregou pauta alguma em troca.
O que presidente dos EUA vai querer em troca?

Alckmin comandará as negociações econômicas | Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
A avaliação que os negociadores do governo fazem é de que, ao menos, o ambiente distensionou-se. Abrindo espaço para que Brasil e Estados Unidos voltem a ter relações bilaterais. Algo que parecia impensável há três meses quando Trump impôs a sobretaxação de 50% sobre os produtos brasileiros em carta que iniciava mencionando a situação de Bolsonaro. Agora, Bolsonaro estará fora da pauta dos negociadores de cada lado. Temas políticos, os dois presidentes deixaram claro, serão tratados somente por eles. Sobre o que especificamente girarão as negociações, as equipes ainda não têm clareza, a não ser de forma genérica
Vence sempre
Trump não admite derrota. Qualquer que seja o resultado, para ele é ele sempre quem vence. Um ponto, porém, que impressionou quem assistiu à conversa foi como Trump tratou de buscar pontos de conexão com a história de Lula, não com a de Bolsonaro.
Processo legal
Embora quisesse evitar que as agruras do ex-presidente dominassem a reunião, foi Lula quem primeiro puxou o assunto. Disse que Bolsonaro teve julgamento que respeitou o devido processo legal e que, inclusive, encontrou-se um plano de assassinato do próprio Lula.
“Cara legal”
Segundo versão dos interlocutores brasileiros, Trump disse que achava Bolsonaro um “cara legal”. Mas também não se aprofundou muito na defesa do ex-presidente. Disse que tinha essa boa impressão, mas que, na verdade, não conhecia Bolsonaro muito bem.
Prisão
E, aí, impressionou como buscou pontos de conexão com Lula. Quis saber detalhes sobre o tempo de prisão. Impressionou-se quando soube que foram mais de 500 dias. E disse considerar que ambos, ele e Lula, seriam “vítimas do sistema”. Por aí se iniciou a conversa.
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congreso e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade.
Publicado originalmente no Correio da Manhã.
Foto de capa: Negociadores sabem que não terão vida fácil | Ricardo Stuckert/PR





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Aguardando sequência…