Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
Em tempos de procedimentos estéticos e preocupações com a imagem, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), resolveu contratar também o “face lift” da instituição que preside. A cirurgia plástica será de responsabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGV). De acordo com o contrato, custará R$ 4,9 milhões. Segundo o texto, destina-se à “modernização da comunicação realizada por meio das mídias digitais da Câmara”. Na esteira do contrato, ele já apareceu nas redes sociais na quinta-feira (16) afirmando que vai colocar em regime de urgência um projeto do deputado Da Vitória (PP-ES) que proíbe companhias aéreas de cobrarem passageiros pela mala de mão. “A Câmara não vai aceitar esse abuso”, escreveu.
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O post já viria dessa nova orientação. Pautar temas de interesse mais popular. Se aproximar da sociedade. Motta fez essa postagem um dia depois de ser vaiado em um ato pelo Dia dos Professores no Rio de Janeiro, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Pior da história
Além da vaia, ainda amargou ouvir Lula dizer na sua cara que, na avaliação do presidente, o atual Congresso seria o de nível de qualidade mais baixo da história. E Lula ainda disse a Motta durante o evento: ele é que comandaria esse Congresso de baixa qualidade.
Faltaria a Motta dar rosto à sua gestão

PEC da Blindagem: “rasteira” de Alcolumbre | Foto: Lula Marques/Agência Brasil
A rigor, há um erro na frase de Lula. Motta comanda apenas a Câmara dos Deputados. Quem é presidente do Congresso é o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). Mas não tem sido tanto com o Senado que Lula vem tendo ultimamente problemas, ou com a condução de Alcolumbre. Os problemas maiores são com a Câmara. Então, o recado era mesmo para Motta. O Correio Político ouviu de um deputado bem mais experiente que Motta talvez esteja pagando o preço da sua juventude. Ele tem apenas 36 anos. O fato é que não estaria conseguindo estabelecer um rosto ao seu comando, cedendo a pressões.
Blindagem
Esse deputado conta uma história que envolve a votação da chamada PEC da Blindagem para exemplificar. Segundo ele, Motta o teria ligado pedindo “ajuda” para aprovar o projeto. O deputado não estava presencialmente no plenário. E Motta precisa de votos.
Senado
Inicialmente, o deputado resistiu. Tentou mesmo aconselhar Motta que a ideia de votar o projeto não era boa. Ao final, diante da insistência no pedido de “ajuda”, acabou cedendo. O projeto foi aprovado, e depois acabou derrubado por unanimidade pelo Senado.
“Rasteira”
“Ou seja, Motta tomou uma rasteira de Alcolumbre”, resume o deputado. “E nós nos desgastamos à toa para aprovar aquilo”. Estaria aí o grande problema do “face lift” de R$ 5 milhões: a Câmara é que precisa parar de tentar – e de aprovar – ações impopulares.
Gayer
Na véspera do post sobre a mala de mão, Motta colocou na pauta da Câmara, sem grande aviso prévio, resolução que suspende o andamento de processo no STF contra o deputado Gustavo Gayer (PL-GO) até o final do seu mandato. A sociedade aplaude? Caberá à FGV dizer…
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congreso e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade.
Publicado originalmente no Correio da Manhã.
Foto de capa: Ao lado de Lula, Motta foi vaiado | Tomaz Silva/Agência Brasil




