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Opinião

O debate mostrou o óbvio

O debate mostrou o óbvio

Artigo por RED
18/10/2022 11:55 • Atualizado em 19/10/2022 22:26
O debate mostrou o óbvio

De LEONARDO MELGAREJO*

 

 

 

 

O debate do último domingo mostrou o óbvio: Lula é uma pessoa normal, bem intencionada, que sabe de suas responsabilidades. Ele não apenas aguentou as provocações do inominável (irreconhecível em sua personagem de cafajeste “quase normal”), como ainda se empenhou em esclarecer a população quanto as opções de futuro que se colocam ao país neste 30 de outubro. Lula cometeu alguns equívocos, é verdade. Deu espaço e tempo ao presidente que mente e também exagerou em algumas frases. Segundo avaliação preliminar de Aos Fatos,  enquanto o inominável mentiu mais de 20 vezes, Lula teria falseado a verdade em quatro pontos.

Olhando de perto cada caso, percebe-se que, enquanto o outro negava suas próprias falas e buscava se beneficiar disso, as 4 “falsidades” de Lula, embora contendo exageros não alteravam conteúdos de realidade. Vejam os casos: Segundo Lula, “nunca houve sigilo” em seu governo; o deputado “Bolsonaro nunca falou mal de meu governo”; “o Brasil é o maior produtor mundial de proteína animal” e o “o Brasil é o pais com o maior número de mortos por Covid”. Excessos, que com certeza poderiam ter sido limitados pela prudente inclusão de um “quase”, em todas aquelas frases.

Afinal, motivos de segurança nacional, patentes tecnológicas, reuniões com chefes de estado e mesmo decisões sobre taxas de juros sempre envolverão cautelas que exigirão determinados níveis de sigilo. E como o Brasil tem o maior rebanho bovino e produz grande parte da soja que alimenta os animais da Europa e da China, de fato, somos responsáveis, de forma direta e indireta, pela maior parte da produção global de proteína animal. Mas com certeza ainda não somos o maior produtor DIRETO de proteína animal. E sim, no Brasil, pais onde reside 3% população mundial, o fato de contabilizarmos 11% dos mortos por COVID, indica que aqui a mortandade foi exagerada. Indica também que, com um mínimo de respeito à ciência e às responsabilidades de um governo sério para com seu povo, mais da metade de nossos óbitos poderiam ter sido evitados. Mas ainda assim, nos EUA, onde a mesma política criminosa foi aplicada, morreram mais pessoas do que no Brasil.

Mas mesmo com seus exageros, as incorreções de Lula merecem ser contrastados com o descaramento e a má fé das mentiras do inominável. Mentiras, do pior tipo, semeadas como artimanhas ilusionistas. Distorções planejadas dos fatos, intencionadas com objetivo de iludir, obter vantagens, às custas da ignorância dos seus fiéis e outros incautos. Na pratica, o presidente que mente, embora disfarçado de pessoas normal, não deixou de ser ele mesmo. Segundo matéria já referida, mentiu em pelo menos 23 casos que –pela relevância- ilustram seu descaso para com a consciência nacional. Mentiu, inclusive negando suas próprias afirmativas, ainda que estas estejam gravadas em vídeos.

Afirmou, por exemplo, de seu sofrimento e consternada preocupação para com cada vida que se perdeu em função da COVID. Negou ter sido ele a falar que a pandemia seria uma gripezinha. Afirmou que o atraso de seu governo em reagir à pandemia ocorreu em função da inexistência de vacinas à venda no ano de 2020. Sustentou que o Brasil teria sido o pais que mais vacinou, no mundo, e que ele (o Governo Federal) seria o responsável pela compra de todas as vacinas aplicadas neste pais.

Entre outras mentiras, negou inclusive sua responsabilidade para com o orçamento secreto (proposta enviada pelo executivo ao legislativo) e reafirmou que à ele se deveria atribuir a transposição do rio São Francisco. Mentiu ao
afirmar que, naquele caso, seu governo teria herdado uma obra “abandonada há 10 anos”. Mentiu que os moradores do complexo do Alemão seriam todos criminosos e traficantes, e por isso estariam com o Lula.

Repetiu a mentira de que venezuelanos entrariam no Brasil sem gatos e cachorros, porque, fugindo da fome, devorariam seus pets ao longo do caminho. Talvez neste disparate tenha seguido o conselho de alguém do seu grupo e tentado o estabelecimento de paralelo emocional entre os migrantes venezuelanos e antigos retirantes nordestinos. Vejo ali um certo nexo com o texto de Graciliano Ramos, na descrição do drama da cachorrinha Baleia no livro Vidas Secas. Neste particular poderíamos pensar na intencionalidade de Damares ao associar uma lenda doentia da internet a seus delírios sobre tragédias impostas à crianças do Marajó.

Mas se de um lado ela terá que provar o que falou, de outro, o inominável segue faceiro. Parece acreditar que, se enganar mais alguns, por mais duas semanas, em sendo eleito escapará de tudo.

Um indicativo de frágil conexão entre a obra de Graciliano e a preocupação do inominável com retirantes se revela no fato de que, ao defrontar-se com meninas venezuelanas, o sentimento que lhe brotou foi outro. Repetia-se ali caráter já demonstrado pelo inominável em entrevista com criança orgulhosa de haver começado (a trabalhar como repórter mirim), bastante cedo.

O caso do tal clima que havia pintado, segundo suas próprias palavras, entre ele e meninas venezuelanas (que ele inclusive teria visitado em casa), por decisão do ministro Alexandre Moraes não poderia ter sido discutido no debate.
E não o foi. Mas o texto lido pelo presidente que mente, como sendo parte do despacho assinado por aquele ministro, impedindo tal veiculação, incluiu argumentos e frases que não vieram dali. Mentiria o Ministro do STF, ao forçar
a barra com tantas palavras em favor dos interesses do presidente que mente, ao repetir argumentos de seus advogados, ou mentiria o presidente mente? Ou isso não importa, porque o fato já passou?

E estes são os elementos básicos a serem comentados a partir do debate de domingo.

Como pode ser interpretado como sério e confiável um país que é liderado por alguém que, até quando fala em nome da liberdade, se nega a falar a verdade? Afinal, a liberdade, assim como a democracia e a credibilidade de uma nação
exigem respeito às instituições. Pressupõem veiculação responsável de informações sérias e bem intencionadas. Especialmente quando oficializadas por rituais constitucionais. A presidência da república, até por servir de referência à todas as demais organizações que sustentam o pacto social, representa a nação, e desta forma não pode ser desmoralizada impunemente por festival de mentiras em debate de tamanha importância.

Afinal, se trata de contribuir para a escolha do presidente da república. Como tolerar quem ali mente pretendendo enganar, fraudar, iludir. Mentiras são ou não são formas de corrupção? Quando praticadas em rede nacional, pelo presidente, as mentiras sugerem o pior. Elas indicam que, como ali se multiplicam com tanta facilidade, possivelmente às escondidas estará sendo tramado senão já realizado, o pior.

Mentirosos produzem ilusões para estimular desavenças que eliminem aproximações entre os discriminados, os desprezados, os desvalidos e todos aqueles que os vendilhões da pátria e seus associados pretendem roubar e controlar. Mentem a fim de evitar a compreensão de discriminações e frear reações que ameaçam a impunidade dos mentirosos. Mentem para induzir pobres a defenderem políticas criminosas, a corrupção do orçamento secreto, o poder das milícias e a intimidação, quando não as mortes dos que a isso se opõem.

O fato é que já sabíamos disso, e por isso debate apenas revelou o óbvio. O presidente que mente quer expandir período onde a escravidão moderna se reconstrói pelo medo e pela ignorância de mentes tuteladas.

Felizmente, como ensina a história, a negação da realidade é uma doença passageira. As mentiras têm prazo de validade e os esforços para preservação de sua sombra, no tempo e espaço, só funcionarão entre pessoas capturadas
por algum tipo de idolatria. Isso tem cura. Afinal são muitos os golpistas que hoje se posicionam contra o inominável. Existem inclusive alguns que estão entontecidos com a própria manifestação de inconfiabilidade.

Vejam a cara do Moro, aquele corrupto/corruptor que ajudou a eleger o presidente que mente, que foi seu ministro, que depois se afastou da alcateia pensando ser um tipo de macho alfa com capacidade para montar seu próprio
bando. Pois esta de volta, com o rabo entre as pernas, àquele ambiente que antes considerava eticamente inaceitável. Saiu de lá acusando o presidente que mente de desencaminhador de instituições publicas em favor de interesses familiares, e agora volta a puxar o saco do mito.

Concluindo: o último debate reforça nossas convicções: a ciência, o compromisso com a verdade, a alimentação do espírito critico e o reconhecimento à qualidade de pessoas de todos os perfis, cores, aspirações e rendas distintas, ajudarão o Brasil a escolher. O óbvio já sabíamos. Precisamos respeitar a nós mesmos. Precisamos votar em favor da cultura, do respeito coletivo, da ampliação nas possibilidades de acesso ao esclarecimento e à construção de um pais soberano, honrado, democrático e independente.

Se trata de retirar dos espaços de poder e decisão todos aqueles que subvertem as ideias de honestidade, honra, amor e lealdade, fundamentais ao desenvolvimento humano. Os que pretendem substituir aqueles conceitos pelo oportunismo, pela submissão cega e desavergonhada, ainda que constrangida, como a que se vê na cara do Moro e dos papagaios em volta do pirata que ocupa a presidência deste pais, precisam ser desmascarados e exemplarmente punidos.

Dito isso, finalizo deixando a música “O sal da Terra”, na voz de Maria Gadú, para fortalecer a alma deste país chamado Brasil.


*Engenheiro Agrônomo, mestre em Economia Rural e doutor em Engenharia de Produção. Foi representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário na CTNBio  e presidente da AGAPAN. Faz parte da coordenação do Fórum Gaúcho de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos e é colaborador da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, do Movimento Ciência Cidadã e da UCSNAL.

Imagens – reproduções da internet.

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