Por EDELBERTO BEHS*
Por que os post e vídeos com mensagens vinculadas à extrema-direita geram mais engajamento do que as postagens de cunho progressista? O psicólogo William Brady e a neurocientista Molly Crockett descobriram que termos moral-emotivos, que a extrema-direita religiosa adora divulgar, atraiem a atenção das pessoas quase independentemente do seu contexto. Quanto mais termos moral-emotivos em uma postagem, mais tiques nervosos de atenção ela ganhava.
Termos moral-emotivos, aborda o jornalista Max Fischer no seu livro “A Máquina do Caos”, transmitem sentimentos como repulsa, vergonha ou gratidão, tipo “as opiniões daquele político são repugnantes”, e impulsionam várias vezes o alcance do tuíte.
Ao mesmo tempo, viram, postagens com conteúdos como verdade, apelos ao bem maior, tolerância, perdem a disputa para postagens violentas e agressivas. Como expressaram funcionários do Facebook, pós eleições estadunidenses de 2016, “falar merda é o que mais engaja”.
As plataformas, concluíram Brady e Crockett ,“estavam remodelando não só o comportamento na internet, mas impulsos sociais subjacentes, e não apenas do ponto de vista individual, mas em termos coletivos, modificando potencialmente a natureza do ‘engajamento cívico e do ativismo, da polarização política, da propaganda política e da desinformação’”.
A verdade ou a mentira, avalia Fischer, “têm pouca importância na recepção de uma postagem, exceto no aspecto de que uma pessoa mentirosa tem mais liberdade para alterar os fatos que se conformem a uma narrativa provocadora. O que importa é se a postagem pode desencadear uma reação forte, geralmente de indignação”.
O que conhecemos muito bem no Brasil com a campanha agressiva e repleta de desinformação que o candidato Bolsonaro trouxe dos Estados Unidos e aplicou por aqui. Quem não se lembra do kit gay e da mamadeira de piroca? E em 2022, quantos ataques às urnas e ao Judiciário? Ou as teorias de conspiração que associavam Lula ao tráfico internacional de drogas, ao PCC, ao Marcola e às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia? E quantos eleitores petistas não foram aconselhados a ir para a Venezuela?
Nessa parada em que a verdade perde para a mentira cabe, talvez, o fenômeno de que pouca coisa cola em Bolsonaro, como numa panela teflon, embora seja acusado de contrabandear joias, ter impedido a compra em tempo hábil de vacinas de combate à covid, de comandar o golpe de 8 de janeiro…!
A radicalização, aponta Fischer, é um processo obsessivo. Essa obsessão vira identidade, as plataformas sociais se transformam no centro do seu cotidiano. Como diz uma projetista de pesquisa que chegou a trabalhar no Vale do Silício: “Criamos uma máquina da indignação na qual as pessoas participam impulsionando o conteúdo”. O que tanto agrada Facebook, Twitter, YouTube, pois quanto maior o engajamento, maior a conta bancária.
Nos Estados Unidos – também no Brasil – a extrema direita entendeu que as redes sociais tinham cultivado o que ela até então não conseguira: “um público grande e disponível para o nacionalismo branco na juventude norte-americana”, segundo Fischer. No Twitter, o Breitbart se tornou a fonte das notícias mais compartilhadas entre apoiadores de Donald Trump na eleição de 2016, concluiu estudo de Harvard.
Brady constatou que a indignação é um coquetel emocional simples: raiva mais nojo, que se transformou num instinto social. O Vale do Silício sonhava com a liberdade das leis e das hierarquias, o que se tornou, na internet, também a libertação dos códigos sociais e morais. As mídias sociais, incrementadas com algoritmos que ninguém sabe como funcionam, mas que podem ser desligados, se transformaram na maior máquina de indignação da história. Como denunciou DiResta: “Os algoritmos estão influenciando medidas políticas!”
*Edelberto Behs é Jornalista, Coordenador do Curso de Jornalismo da Unisinos durante o período de 2003 a 2020. Foi editor assistente de Geral no Diário do Sul, de Porto Alegre, assessor de imprensa da IECLB, assessor de imprensa do Consulado Geral da República Federal da Alemanha, em Porto Alegre, e editor do serviço em português da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC).
Foto de capa: Reprodução





Uma resposta
Informaçôes interessantes. Elas me dizem que vivemos a constante tentação de ver encanto na mentira quando ela se apresenta no vestido da verdade..