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A REVOLUÇÃO QUE GANHAMOS E NÃO COMEMORAMOS

A REVOLUÇÃO QUE GANHAMOS E NÃO COMEMORAMOS

Artigo por RED
05/10/2024 18:00 • Atualizado em 04/10/2024 13:52
A REVOLUÇÃO QUE GANHAMOS E NÃO COMEMORAMOS

Por GIOVANNI MESQUITA*

Entre as tantas coisas sem fundamento que ouvimos, tem aquela “O gaúchos são o único povo que comemoram uma guerra que perderam”. Não atentam, os apressurados detratores dos méritos do nosso povo, para o que fazem os paulistas em todos os seus nove de julho? E no dia 21 de abril, em que o país inteiro comemora aquela guerra que não deu nem para a saída?
Se, com um pouco de propriedade, quisessem apontar no nosso povo alguma incoerência, inédita e incompreensível, eles diriam: O POVO GAÚCHO É O ÚNICO QUE NÃO COMEMORA UMA REVOLUÇÃO QUE VENCEU! E dessa vez teríamos que ficar de bico fechado. Pois, eis o fato, acabamos com uma dominação oligárquica centralista, herdeira saudosa da monarquia escravista, e simplesmente não falamos no assunto. Fingimos que não é com a gente.
Recordamos que foi aqui, no pago, que se travou a mais sangrenta das guerras contra a restauração da coroa de Pedro, a Guerra de 1893. Essa longa peleia teve direito até marinheiros da armada, comandados pelo próprio Saldanha da Gama, lutando nas coxilhas contra nosso republicanismo. Foram dizimados quando pateticamente tentavam se equilibrar nas selas. Como diria o adágio gauchesco: ovelha não é pra mato! E mesmo que depois tenham sido convocados nossos melhores degoladores para dar fim de Canudos, em nome da dita república, nosso estado foi altivamente escanteado. Outro tratamento tiveram os cafeicultores, amigos até a última hora de Pedro, que desfilavam seu glamour nos salões da Paulista ou no castelo da Ilha Fiscal.
Mas, os republicanos gaúchos, herdeiro dos farroupilhas, souberam se preservar, e aplicar no estado seu programa. Nas mãos desses jovens positivistas, o Rio Grande do Sul se tornou um estado moderno. Com alguns princípios que cuidamos ainda hoje: transparência, laicidade, previsibilidade, legalidade, moralidade e eficiência. A ideia de um estado emulador do desenvolvimento técnico e social. Isso, tudo, é claro, sem democracia. Eles defendiam a ditadura, sim a chamada ditadura das classes esclarecidas. Não se apressem a julgar, em nenhum lugar do Brasil havia a tal da democracia. Os nossos ditadores só se distinguiam dos restantes pelo sincericídio. As elites brasileiras só proclamaram seus primeiros e apaixonados ardores e frêmitos pela democracia, quando o Movimento de 1930 lhes apeou do governo.
Como sabemos, em 1929, Getúlio Vargas entrou com uma candidatura alternativa, tendo como vice na chapa o João Pessoa, presidente do pequeno, mas corajoso, estado da Paraíba. Tomou pau. Mas, naquele tempo todos sabiam que o voto não era confiável, que havia grandes roubos. Na época o sistema era impresso e não secreto. E nós tínhamos expertise no caso, tanto é que tivemos um presidente de estado por 25 anos, utilizando esse sistema. Por um acaso, conveniente do destino, João Pessoa foi morto. Essa morte abriu a janela de oportunidade para um povo que estava pronto para governar e não tinha medo de briga, muito pelo contrário.
No dia 03 de outubro, foi possível ver, em plena rua dos Andradas, metralhadoras serem colocadas nas torres da igreja das Dores. De lá, eles pipocaram as tropas leais ao governo central, acantonadas no então Quartel General do Exército, na esquina da mesma com a Davi Canabarro. O quartel foi invadido no estilo antigo, as tropas revolucionárias armadas de fuzis e espadas entraram pela porta principal e levaram os legalistas de roldão.
Getúlio chamou a turma da campanha e das cidades e encerrou, o então predileto, esporte do estado: o de matarmo-nos mutuamente. Pegou as bandeiras, que trazíamos nos pescoços, como fala a milonga Sabe Moço, de Francisco Alves, e amarrou a vermelha na branca. Aquele nó se tornou o símbolo da união de gregos e troianos, de ximangos, libertadores e maragatos. Aí, ficou difícil de segurar…
Zilhares de tropas embarcam em trens, milhares de gaúchos atravessam, a cavalo, as três divisas estaduais em direção a São Paulo e Rio. Ao saber que a cavalaria rio-grandense estava a caminho a elite, paulista e carioca, sentiu o pelo da nuca arrepiar, porque quem tem, tem medo…. Duas poderosas massas de homens armados se encontrarem em Itararé. Preteou o olho da gateada. Mas, não houve luta. A famosa lábia de Getúlio, que já tinha a coisa muito bem encilhada, deu conta do assunto, sem que, praticamente, houvesse entreveiro.
Dessa forma se colocou fim na supremacia inquestionada da política do café com leite. Os derrotados foram aqueles, que ainda vemos por aí, que amavam o mercado externo e tinham um profundo nojo, do nosso país e do nosso povo. Eles queriam, e ainda querem, um país que fosse um eterno fazendão. O velho GG, para governar o país, deu uma aperfeiçoada na prática político/administrativa, que aprendera com Júlio de Castilhos e Borges de Medeiro. Começou a criar instituições nacionais, onde só
havia o exército e a Igreja. Lançou as bases para a prospecção da matéria prima, que iria constituir a indústria brasileira, gerou uma série de direitos sociais que impulsionaram o aumento de um mercado interno consumidor. A lista é extensa, de transformações que deveriam ter acontecido em 1889, ou talvez em 1845. Tchau
VIVA A REVOLUÇÃO DE TRINTA, AQUELA QUE VENCEMOS.

 

*Historiador e Museólogo

Foto: Divulgação

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