Peronismo reage na Argentina

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De PAULO TIMM*

O cenário eleitoral na Argentina está mudando. De favorito, nas pesquisas e entre analistas, o ultra direitista, defensor do regime militar na Argentina, fortemente rechaçado pela população, Milei começa a perder terreno depois que ficou em segundo lugar na primeira rodada. Isso, apesar do apoio que a terceira colocada no pleito, Patrícia Bullrich, de direita “moderada”, aliada do ex Presidente Macri, o apoiou, viajando, a seguir para Paris. Modelito Ciro Gomes em 2018…

Massa superaria, hoje, segundo Pesquisa da “Proyección”, facilmente os 50% necessários para vencer. Ele estaria somando aos seus 36% do primeiro turno cerca de 4% do segmento mais á esquerda que não o apoiou originalmente, mas que teme o avanço da extrema direita no país e uma boa parte dos eleitores de Bullrich, indignados com o apoio dela ao que consideram um fascista. É o caso do antigo Partido Radical, ao qual pertencia o ex Presidente Alfonsin, primeiro presidente eleito depois da ditadura e responsável pela condenação dos militares.

Lembremo-nos que alguns deles ainda mofam em cadeias e o mais notório, Vidella, lá pagou seus crimes. Hoje ainda respondem em juízo a 15 crimes de lesa humanidade. Este cenário é muito diferente do Brasil, onde a transição à democracia se deu através da mediação dos militares no Projeto de “lenta, segura e gradual” redemocratização do então Presidente General Geisel – 74/79 – e que culminou na Anistia “recíproca” , assinada já pelo Presidente Figueiredo, no início de seu longo mandato de seis anos, em 1979.

Na Argentina, a ditatura não só foi cruel com número considerável de seus ditos inimigos, como, também, resultou na liquidação dos setores econômicos mais dinâmicos do país em razão de uma apressada liberalização da economia nacional. Com isso a Argentina nunca completou o processo de substituição de importações para o qual estava mais preparada no final da II Guerra Mundial, quando ainda à frente do Brasil, graças ao petróleo, trigo e carne. Culminou, ao final, no desastre das Malvinas que acabou com o que restava da imagem dos militares por lá.

Pois bem, é este cenário do regime militar que Milei, direitista, defende e é isso que o está levando ao fracasso. Diriam os católicos: Graças a Deus! Na Argentina, aliás, o neopentecolismo não avançou tanto como no Brasil e a ameaça de Milei de romper com o Vaticano deve estar colaborando, também, para sua derrocada. Na verdade, tudo, ainda, graças a uma particularidade política da Argentina frente a outras vivências nacional-desenvolvimentistas como México, Peru e mesmo Brasil: Lá houve uma continuidade política entre o antes e depois da ditadura militar. 0 peronismo, principal vertente popular do período anterior comprometeu-se a fundo no combate aos militares, recorrendo, inclusive, à luta armada. Isso, no Brasil, não ocorreu. A tentativa de Brizola, ainda em 1964, de resistir em nome do regime deposto, frustrou-se e as ondas de contestação, tanto armada, quanto política, via MDB, responderam à outra dinâmica e inspiração.

Na Argentina, enfim, não se rompeu o “Fio da História” e isso se expressa no vigor ainda vigente do peronismo, apesar de suas divergências internas. O resultado, enfim, parece apontar, não tanto para a vitória de MASSA, mas pelo rechaço dos Hermanos à volta ao passado. E talvez aprendam, como aqui, que o liberalismo oportunista sempre acaba de mãos dadas com o extremismo de direita. As “Mães da Plaza de Mayo” à cata de seus filhos sequestrados por torturadores, ainda pesa na consciência daquele país. Bom para a Argentina, bom para o Brasil, bom para a América Latina. Viva a democracia!


*Economista.

Imagem em Pixabay.

Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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