De ZORAVIA BETTIOL*
Com o pretexto de modernização e do progresso, parques, praças e jardins públicos, em muitas cidades no nosso país, têm tido suas áreas verdes diminuídas e destruídas, com os animais, insetos e aves que as habitam, prejudicados e, privando a população do contato saudável com a natureza. Claro que esta modernização e progresso não conseguem mascarar a ganância e destruição do ambiente natural que estas atitudes contêm.
Essa reflexão vem à tona pela retirada de113 árvores do Parque Harmonia com a finalidade de implantar, naquela área, uma espécie de parque temático, com roda gigante, carrossel, réplicas de casas de imigrantes e, naturalmente, uma área de comércio e alimentação, pois o lucro não pode esperar. Os dinossauros (ou gaúchossauros…) também ganharão seu espaço. O parque estará preparado para grandes eventos que, obviamente, renderão polpudos ganhos aos promotores. Interessante é a previsão de “uma passarela para pedestres entre e sobre as árvores”, certamente considerando aquelas que sobrarem da devastação que foi feita… E, claro, um grande estacionamento (bem pago), porque os carros também têm seu direito…
Essa atitude inaceitável do prefeito Sebastião Melo de entregar à Gam 3 Park, por 50 anos, o Parque da Harmonia, sem consultar a população, criou um clima de comoção, consternação e revolta dos ambientalistas e da população porto alegrense. A revitalização do Parque e seu manejo jamais poderiam deixar de lado sua função ambiental de um verdadeiro oásis verde junto à orla do Guaíba. Sua função ecológica de respiradouro da área central da cidade e de testemunha ativa do verde e da vida não poderia ser ignorada e desfeita. O lucro não substitui a vida e cabe ao Poder Público a preservação dessa função e não sua entrega ao interesse privado.
Um dia sobrevoando Paris de dia, me dei conta que havia um quantidade grande de áreas verdes, isto que essa cidade é uma das mais bonitas do mundo e com muito turismo. Nela há 2 bosques e 17 parques e 145 jardins, enquanto em Porto Alegre temos somente 11 parques. Podemos lembrar Nova Iorque, com seu Central Park, oásis do verde na grande metrópole ou o Hyde Park, em Londres, assim como tantas outras cidades importantes.
Porto Alegre tinha um ótimo Plano Diretor conseguido com a participação democrática e que foi recentemente modificado para pior. A proposta de apaziguar as pessoas é dizer que haverá por parte da prefeitura e da GAM3 para a destruição das 113 árvores uma reposição de 550 árvores, porém, este é um argumento frágil pois para repor as 113 árvores adultas por mudas de pequeno porte demorará muitos anos para que esse reposição ou equivalência se realize. Além disso, a vegetação do Parque Harmonia será uma pequena e tímida área com árvores.
Será que novamente temos de lembrar as pessoas que as árvores renovam o ar para que possamos viver, nos dão sombra, regulam o calor, nos dão frutos, flores e nos propiciam uma infinita beleza e alegria?
*Artista plástica e arte educadora e integrante do Comitê em Defesa da Democracia e do Estado Democrático de Direito.
Foto: Divulgação/Gabriel Poester.
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