Na noite de 18 de janeiro de 1982, Elis Regina recebeu amigos para jantar na sua casa na Rua Melo Alves, em São Paulo, incluindo o namorado da época, o advogado Samuel McDowell. Ao longo do serão todos foram saindo, até McDowell, porque a cantora queria concentrar-se nas músicas do disco que se preparava para gravar. Horas depois, já manhã de sol, McDowell ligou para Elis. Assustou-se porque no final do telefonema ela mais balbuciava do que falava. Correu para o apartamento, arrombou duas portas e encontrou-a inanimada no quarto. Chamou uma ambulância, que a conduziu ao Hospital das Clínicas, onde chegou morta, aos 36 anos, vítima de overdose de cocaína e álcool.
Elis Regina Carvalho Costa Foi ela a primeira pessoa a inscrever a sua voz como se fosse um instrumento na Ordem dos Músicos do Brasil. A maior intérprete de samba, jazz, rock, bossa nova, de música popular brasileira de todos os tempos. Uma mulher que ia além da música. Numa época de machismo exacerbado, escolheu ter controlo pleno da sua carreira. Em plena ditadura militar – 1964-1985 – fez ferozes críticas ao regime e participou em movimentos de renovação política e cultural. Casou duas vezes, com o músico Ronaldo Bôscoli, pai do seu primeiro filho, o produtor João Marcelo Bôscoli, e com o pianista César Camargo Mariano, pai dos cantores Maria Rita e Pedro Mariano, além de ter mantido outras relações tempestuosas porque na sua vida tudo era algo tempestuoso.
Ganhou de Vinícius de Moraes a alcunha de Pimentinha por ferver em pouca água – os amigos referem-se a ela como “geniosa”, “revoltada”, “contraditória”, “agitada”, “exigente”. “Se ser geniosa e exigente e não gostar de ser passada para trás é ser mau carácter, então eu sou”, disse a própria numa entrevista. E noutra: “Viver como um kamikaze é o que me faz ficar de pé.” Ficou de pé até aquela manhã de sol de 19 de janeiro de 1982. A voz de Elis, porém, resiste. Como disse o produtor Walter Carvalho muitos anos após a sua morte, “a Elis Regina está cantando cada vez melhor”.
Dia 19 de janeiro de 1982, Morria a maior cantora do Brasil de todos os tempos.
(Trechos extraídos do Diário de Notícias online por Katharina Gurgel @kathgurgel)
Foto: Elis nos bastidores de ‘Falso Brilhante’, no antigo Teatro Bandeirantes, em foto de Bob Wolfenson publicada no livro ‘História da Música Brasileira em 100 fotografias’, da Bazar do Tempo – Bob Wolfenson/Acervo Pessoal/Divulgação