Venezuela em foco: a democracia sob o olhar seletivo da geopolítica

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Por ALEXANDRE CRUZ*

No último domingo, a Venezuela foi palco de um evento que continua a dividir opiniões em todo o mundo: a reeleição de Nicolás Maduro. Enquanto as urnas confirmaram a continuidade do governo de Maduro, duas figuras do cenário político gaúcho, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, expressaram suas preocupações e questionaram o resultado eleitoral venezuelano.

É curioso observar que esses mesmos mandatários, tão ávidos em criticar a legitimidade do processo eleitoral na Venezuela, mantiveram um silêncio eloquente frente às atrocidades cometidas por Israel na Faixa de Gaza. Será que a indignação seletiva é uma nova tendência dos nossos políticos locais na política internacional? Com uma pitada de ironia, nos perguntamos: será que a democracia só é válida quando se alinha aos interesses geopolíticos do Ocidente?
Para o bloco ocidental o mais importante não é se um país é verdadeiramente democrático, mas sim se ele segue as diretrizes geopolíticas estabelecidas. A reação da mídia e de parte da comunidade internacional à reeleição de Maduro exemplifica isso. Embora haja críticas válidas à qualidade democrática da nação venezuelana, é inegável que o país possui uma oposição robusta, com mais de 100 prefeituras e quatro governadores antichavistas. No entanto, enquanto o Ocidente pinta a Venezuela como uma terrível ditadura, países como Arábia Saudita, Marrocos e Catar são tratados como respeitáveis sócios, demonstrando que os interesses geopolíticos sempre prevalecem sobre a verdadeira democracia.

As alegações de fraude eleitoral são difíceis de sustentar diante de milhares de observadores internacionais. Será que figuras respeitadas como José Luiz Zapatero, ex-presidente da Espanha, ou Celso Amorim, assessor especial de Lula, teriam ido ao território venezuelano se tivessem dúvidas sobre a lisura do processo? E não podemos esquecer a presença da Fundação Carter, do ex-presidente dos EUA, Jimmy Carter, também está na Venezuela. A narrativa de fraude torna-se ainda mais questionável quando se considera o modelo de urnas eletrônicas utilizado, aprovado internacionalmente e difícil de ser fraudado.
A geopolítica, no entanto, dita as regras.

Nicolás Maduro encontra respaldo não apenas internamente, mas também entre empresários estadunidenses que pressionam Joe Biden a levantar as sanções contra a Venezuela, visando oportunidades de investimento estáveis. Com negócios petrolíferos e de gás em jogo, além da renegociação de bônus da dívida venezuelana, os interesses econômicos sobrepõem-se à retórica política. Dada essa conjuntura, é provável que Maduro seja reconhecido como presidente pela Europa e pelos Estados Unidos, evitando os ruídos e invenções de figuras como Juan Guaidó.

Não há provas de fraude nas eleições venezuelanas, apesar das especulações. Até ontem, segunda-feira,  faltavam apurar apenas 20% das urnas, e o escrutínio segue padrões internacionais. As atas eleitorais, assinadas por representantes de todos os partidos, asseguram a validade do processo. Em muitos países, o escrutínio eleitoral leva dias sem causar polêmica, mas parece que a Venezuela é submetida a critérios diferentes pelo Ocidente.

A ironia final é que a oposição venezuelana possui mais de 50% das atas. Resta-nos refletir sobre como a geopolítica continua a influenciar percepções e ações internacionais, enquanto a verdadeira democracia permanece em segundo plano.

*Alexandre Cruz – jornalista político

Foto: Bandeira da Venezuela – Guachimán Electoral – Preguntas y respuestas del Guachimán Electoral sobre la primaria – El Guachiman Electoral

Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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